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2.3 ORIENTAÇÕES DO BANCO MUNDIAL À POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA:

2.3.1 Modelos de Parcerias Público-Privadas na Política de Saúde Brasileira: Inter-relação

2.3.1.5 Projeto "Reforço à Reorganização do SUS" – REFORSUS 129

2.3.1.5.1 Projeto de Reequipamento Hospitalar 134

O Projeto de Reequipamento Hospitalar está incluso no projeto REFORSUS e tem por objetivo dotar de alta tecnologia hospitais públicos e filantrópicos da rede SUS, considerados como de referência ou voltados para ensino e/ou tratamento de câncer308 no país. Este Programa, assim como o programa de Modernização Gerencial, foi instituído pela Portaria 2432/98, de 23 de março de 1998, do Ministério da Saúde309.

Por meio do Programa de Reequipamento Hospitalar, o MS pretende aprimorar a capacidade operacional e gerencial do Sistema Único de Saúde – SUS, “[...] contribuir para a garantia da universalidade, integralidade e equidade no acesso aos bens e serviços de saúde, melhoria da qualidade e da eficiência da Rede Hospitalar integrada ao Sistema Único de Saúde – SUS”, através da “[...] recuperação física das Unidades Operacionais de Saúde existentes e da atualização tecnológica dos serviços de saúde” 310.

Está prevista na Portaria 2432/98 a inclusão dos seguintes projetos: Modernização da gerência das Unidades de Saúde; Readequação física e tecnológica da Rede Hospitalar integrada ao SUS; e Apoio à gestão do SUS. Quanto à origem dos recursos para tais empreendimentos, está previsto no art. 4º- Os recursos para a execução dos Programas serão

306

Cf. QUINHÕES & SANTOS, op. cit. 307

Cf. QUINHÕES & SANTOS, op. cit. 308 Cf. BRASIL, 2000. 309 Cf. BRASIL, 1998 (c). 310 Cf. DIREITO 2, 2006.

originários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, do orçamento do Ministério da Saúde e de outras fontes internas e externas de financiamento.

No tocante às fontes externas de financiamento, em 2000 o Senado Federal autorizou a operação de crédito externo, no valor equivalente a JPY 7.309.499.820,00 (sete bilhões, trezentos e nove milhões, quatrocentos e noventa e nove mil, oitocentos e vinte ienes japoneses), por meio de contrato assinado entre o Ministério da Saúde e o Japan Bank International Cooperation (JBIC), destinada ao financiamento parcial de contratos comerciais a serem firmados com diversos fornecedores, para a importação de bens e serviços no âmbito do Programa de Modernização Gerencial e Reequipamento Hospitalar311, representando cerca de 90% dos recursos aplicados para compra de novos equipamentos. Além do financiamento de US$ 2,5 milhões, com o Banco Alemão, Dresdner Bank AG.

Ainda referente aos financiamentos externos, em dezembro de 2006 a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal aprovou parecer favorável312 à contratação de operação de crédito externo de até US$ 3.074 milhões junto ao banco norte-americano DF Deutsche Forfait S.R.O., para este mesmo fim. Além da empresa canadense MDS Nordion, maior produtora e fornecedora mundial de material radioativo (responsável por quase 50% do suprimento mundial), utilizado em exames de cintilografia, na detecção de tumores, funções renais, problemas arteriais, pulmonares, hepáticos, entre outros, que também tem investido na aquisição dos equipamentos no Brasil.

A contrapartida dos convênios internacionais dá-se não só pelas altas taxas de juros313 (empréstimos), mas, sobretudo, pela imposição identificada na Lei 8.666/93, a qual prevê que os aparelhos abrangidos neste Programa só poderão ser adquiridos após concorrência pública internacional. Confirmando-se o que McNamara (1974), ex-presidente do BM, afirmou que “[...] uma parcela reduzida do empréstimo fica nos países em

311 Cf. BRASIL, 2000(b); BRASIL, 2006. 312 Cf. DIREITO 2, 2006. 313

Cf. RIZZOTTO, 2000, p. 233. “Durante todo o período de desenvolvimento do referido projeto (1996-2000), o Brasil pagou em 1º de maio e 1º de novembro de cada ano, juros sobre os valores desembolsados com base na taxa de captação do Banco, apurados durante os seis meses anteriores, acrescidos de 0,5%. Além disto, nos mesmos períodos e datas, paga-se também a Comissão de Compromisso, calculada com base na taxa de 0,75% ao ano sobre os saldos devedores não desembolsados (Contrato de Empréstimo, 4047 – BR, 1996). Conforme comentamos anteriormente neste trabalho, em face das exigências técnicas, até janeiro de 2000 apenas U$100 milhões dos recursos de BIRD haviam sido gastos, ou seja, pouco mais do que foi previsto para o desembolso no primeiro ano do Contrato (1997). Isto significa que estamos pagando há mais de dois anos a Comissão de Compromisso do restante dos recursos não utilizados no tempo previsto. Portanto, a previsão inicial de um custo de 7,32% já foi superada em algumas unidades. Ante os dados financeiros apresentados e o aspecto político envolvido no projeto, cabe questionar a validade deste tipo de financiamento e o conseqüente relacionamento com instituições financeiras como o Banco Mundial”.

desenvolvimento. Quase todo ele retorna rapidamente na forma de pagamento pelas mercadorias compradas nos países mais ricos” 314.

De acordo com Rizzotto (2000, p. 245), é condição do Banco Mundial que as licitações para a aquisição de materiais, equipamentos ou mesmo para a execução dos projetos sejam abertas internacionalmente. As especificações técnicas estabelecidas muitas vezes inviabilizam a participação de empresas nacionais, quer pelas questões tecnológicas, quer pelas de custo. Neste sentido, além dos recursos externos não contribuírem com a produção interna, estimulam a importação de produtos dos países centrais315. Às empresas nacionais só é permitido Concorrência Pública Nacional para valores menores ou iguais a US$ 350.000,00, configurando-lhes pouco poder de competição com as multinacionais do setor.

Conforme Kligerman (2002), foram injetados mais de US$ 100 milhões na aquisição de equipamentos nacionais e importados, instalação, treinamento e despesas com importação de 285 equipamentos de alta densidade tecnológica, como tomógrafos, ressonâncias magnéticas, mamógrafos, cineangiográficos, radiologia, radioterapia, arcos cirúrgicos, ecográficos, entre outros. Além de equipamentos de endoscopia, instrumental e de informática para 56 hospitais (municipais, estaduais, federais e filantrópicos), dos quais 15 no sistema da assistência oncológica localizados em 18 estados e no Distrito Federal316.

Com o PAC da Saúde, até 2011 o governo federal quer implantar mais 20 novas Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (UNACONs). Com essa medida está previsto que cada unidade seja capaz de oferecer cobertura assistencial para 500 mil habitantes, o que significa que ao todo serão cerca de 10 milhões de habitantes com acesso aos serviços de média e alta complexidade da atenção oncológica, como cirurgia oncológica, quimioterapia, radioterapia e hemoterapia, entre outros. Está previsto ainda a elaboração de mecanismos regulatórios para medicamentos de alto custo em oncologia e a compra de equipamentos de megavoltagem de radioterapia.

314

Cf. RIZZOTTO, op. cit., p.229-30. 315

Cf. RIZZOTTO, op. cit. 316

2.4 A RELAÇÃO DOS SETORES PÚBLICO E PRIVADO NA ATENÇÃO