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Parecer da Comissão do mercado interno e da proteção dos consumidores (CMIPC)

(CMIPC)

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Jorge Pegado Liz, então presidente do Observatório do mercado interno, na sessão plenária de 16 de Julho de 2009 do CESE.

75 Jorge Pegado Liz, então presidente do Observatório do mercado interno, na sessão plenária de 16 de

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A CMIPC dirigiu, a 11 de julho de 2013 à CAJ um parecer referente à proposta de DECCV que a Comissão apresentara76 no qual fez questão de realçar a necessidade e importância que a clareza e precisão legislativas assumem na regulação de direitos e deveres contratuais, transparecendo que, em seu entender, a proposta apresentada pela Comissão permite interpretações divergentes (precisamente o que se pretende, com ela, eliminar).

Mais claras e precisas ainda têm de ser as disposições que regulem relações de consumo, nas quais a parte mais frágil (consumidor) da relação tem de ser especialmente protegida e ser considerada a sua posição aquando da delimitação de estratégias.

E é com o intuito de tornar as disposições da proposta de regulamento da Comissão mais claras e os conceitos utilizados mais precisos, adaptando-os às definições vigentes, que a CMIPC propõe alterações àquela77.

Além de tais propósitos, as alterações propostas visam esclarecer e regular a conformidade dos conteúdos digitais, a proposta de sanação perante a resolução do contrato e a expressão “sem encargos”.

A CMIPC põe em causa a adequação da proposta apresentada pela Comissão por entender que o consumidor precisa, pela sua posição, de um nível elevado de proteção dos seus interesses para que lhe seja assegurado o exercício máximo dos seus direitos. Ora, sendo necessário estabelecer um conjunto de normas uniformes e confiáveis, aplicáveis aos consumidores em transações transfronteiriças de compra e venda (especialmente à distância), torna-se imperativo harmonizar as disposições nacionais neste domínio. Só assim parece possível alcançar, a nível europeu, um direito comum.

Para a CMIPC, a adoção de um regime de natureza facultativa ou com carácter opcional não satisfaz as exigências de defesa dos consumidores pois a sua aplicação depende da decisão e vontade das partes e, em princípio, seria o profissional (parte com maior poder e influencia na relação jurídica) a determinar a sua aplicação ou não

76 COM (2011) 635.

77 Parecer da CMIPC, dirigido à Comissão dos assuntos jurídicos COM (2011) 635 – C7-0329/2011 –

2011/0284(COD), Projeto de parecer sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho relativo a um direito europeu comum da compra e venda, cujos relatores foram Evelyne Gebhardt, Hans-Peter Mayer.

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aplicação. Ou seja, a CMIPC está convencida de que um instrumento facultativo não se adequa à prossecução dos interesses e à proteção dos consumidores.

Um DECCV facultativo acarretaria uma grande incerteza e insegurança jurídicas, pondo, até mesmo, em causa o bom funcionamento do mercado interno. Trazendo maior complexidade, um instrumento de tal natureza não favoreceria em nada a posição dos consumidores ou a sua conjuntura.

A CMIPC socorre-se do apoio de vários especialistas para sustentar a crença de que, não havendo jurisprudência, seja necessário muito tempo (vários anos) para que o TJUE decida adotar uma decisão vinculativa quanto às questões de interpretação ligadas ao DECCV. Mais, a opção por um instrumento facultativo afastar-nos-ia da harmonização que se tem tentado fazer operar nos mais variados domínios legais.

A CMIPC defende, portanto, a substituição do regulamento por uma diretiva de harmonização mínima de certos elementos do dever de assegurar e garantir a conformidade, em contratos de consumo, prestação de serviços conexos e fornecimento de conteúdos digitais. No fundo, o que a CMIPC propõe é uma ampliação do âmbito de aplicação e do objeto da Diretiva 2011/83/UE. Tendo isto em consideração, todas as questões tratadas naquela diretiva são eliminadas da proposta que se viesse agora a aprovar.

A avaliação de impacto da Comissão que alicerça e fundamenta a proposta de DECCV que divulgou é alvo de fortes críticas também pela CMIPC (tal como o fizeram outras entidades). Aquela avaliação é considerada desajustada e pouco credível na medida em que não examina78, de todo, elementos considerados essenciais e, em outros casos, não estuda corretamente outros79.

Tendo em vista o controlo de qualidade da avaliação de impacto da Comissão, a CMIPC submeteu-a a um conjunto de perguntas que acabou por revelar imperfeiçoes metodológicas que toldam os resultados da referida avaliação de impacto, de tal maneira que se torna impossível ignorá-los.

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A título de exemplo, não são considerados os efeitos da harmonização da Diretiva 2011/83/UE (adotada, à data, muito recentemente), nem a legislação relativa aos mecanismos de resolução alternativa de litígios (RAL).

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É clara, portanto, a posição da CMIPC quanto à rejeição da proposta da Comissão e ao desacordo quanto ao instrumento e método utilizados. A CMIPC reconhece a necessidade de implementação de regras europeias comuns de direito contratual de consumo e, por isso, não apoia a adoção de um DECCV de natureza facultativa antes propondo a harmonização do direito contratual europeu neste domínio (consumo) por via da continuidade do processo de conciliação de que a Diretiva 2011/83/UE foi veículo.

O âmbito do DECCV proposto é diminuído pela regulação do direito contratual de consumo que a Diretiva 2011/83/UE operou, isto é, não restam áreas significativas por legislar nesta matéria tendo em conta a abrangência daquela diretiva. O que significa que o DECCV, legislando sobre questões já tratadas na diretiva, não tem carácter inovador expressivo, que lhe assegure uma atualização ou modernização comparativamente à diretiva.

Neste sentido, a CMIPC propõe alterações essencialmente quanto à harmonização mínima de determinados aspetos da garantia. Considerando a sua proximidade com o contrato de compra e venda, também os serviços conexos deverão ser alvo de harmonização mínima. O mesmo deverá suceder quanto aos conteúdos digitais, de maneira a permitir acompanhar (e aproveitar) a franca expansão e os desenvolvimentos do comércio eletrónico.