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Segundo Medeiros (2006), o Brasil foi um dos países que aderiram tardiamente à criação de parques (nos moldes norte-americanos), porém houve antecedentes de proteção voltados para o controle sobre o manejo de alguns recursos, como a madeira e a água, no período Colonial e Imperial. O Regimento do Pau-Brasil, de 1605, e a Carta Régia de 1797 foram dispositivos legais visando um disciplinamento rigoroso do uso da madeira (Pau-Brasil). O primeiro foi considerado uma das primeiras leis de proteção florestal brasileira. E a Carta Régia visava o controle do corte não autorizado de madeiras nobres, como cedro, mogno entre outras, um recurso muito importante para a metrópole. O autor atenta para o fato de que a preservação nesse período visava à proteção dos recursos naturais sem necessariamente demarcar áreas ou territórios, o que caracteriza o termo “área protegida”.

Uma iniciativa inédita e histórica do Governo Imperial, por recomendação de D. Pedro II, foi a decisão de desapropriação para reflorestamento das fazendas de café que devastaram toda a serra carioca, criando em 1861 a “Floresta da Tijuca e Paineiras” para proteger os recursos hídricos do Rio de Janeiro. Segundo Medeiros (op.cit.), foi uma decisão que esboçou o que mais tarde seria disposto no Código Florestal de 1934 como “florestas protetoras”, sendo elencadas no artigo 4º como uma das suas funções a “conservação do regime das águas”.

Em sintonia com o movimento internacional de criação de parques, várias foram as manifestações no Brasil do segundo reinado em prol da criação de áreas naturais protegidas, mas só se efetivaram com a proclamação da República.

A Constituição de 1934 delegou à União e Estados a responsabilidade de proteção de bens culturais e naturais com caráter conservacionista: ”proteger as belezas naturais e monumentos de valor histórico e artístico” (Brasil, 1934 Cap.I, art. 10º).

O Parque Nacional de Itatiaia, criado em 1937, é localizado entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, a Serra dos Órgãos em 1939, no Rio de Janeiro, e o Parque Nacional Iguaçu, no Paraná, também em 1939, foram criados sob a vigência do primeiro Código Florestal de 193423 que, além da floresta protetora,

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O Código Florestal foi instituído por meio do Decreto 23.793, de 23 de janeiro de 1934. Esse código abrangeu “áreas públicas e particulares, com disposições precisas sobre a guarda e cortes de

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possuía a floresta remanescente, a floresta de rendimento e a floresta modelo como classificações para tipos de manejo.

Tabela 6: Número de Áreas protegidas Criadas por Década no Mundo e no Brasil Fonte: Reid & Miller, 1989. IBAMA, 1989 (estão incluídos parques nacionais,

reservas biológicas, estações ecológicas e áreas de proteção ambiental em nível federal somente). Diegues, Op. cit.:16.

Outros dispositivos legais acrescentaram instrumentos para a criação e consolidação das primeiras áreas protegidas, como os Códigos de Caça e Pesca (Decreto 23.672/1934), de Águas (Decreto 24.643/1934) e o Decreto de Proteção aos Animais (24.645/1934), determinando critérios para utilização controlada dos recursos naturais. O primeiro desmembrou-se anos depois em um para caça e outro para pesca, criando determinações para proteção da fauna e da flora e para criação de áreas para reprodução e refúgio. Em 1967 a Lei de Proteção dos Animais representou avanços em relação aos códigos anteriores, prevendo áreas específicas para refúgios e reservas visando a preservação com categorias como Reservas Biológicas Nacionais, onde a caça e a exploração de qualquer recurso era proibida, e Parques de Caça Federais, onde o “exercício da caça” era permitido para fins “recreativos, educativos e turísticos”. 24

O Serviço Florestal, criado em 1921, passa a ter atribuição de orientar, fiscalizar, coordenar e elaborar programas de trabalho para os Parques Nacionais em 1944. Nesse período, os objetivos de um parque nacional eram “conservar para fins científicos, educativos, estéticos ou recreativos (...) promover estudos da flora e fauna e geologia das respectivas regiões, organizar museus e herbários regionais” (Diegues, op. cit.:114).

No Mundo No Brasil Antes de 1900 37 0 1930 a 1939 251 3 1940 a 1949 119 0 1950 a 1959 319 3 1960 a 1969 573 8 1970 a 1979 1317 11 1980 a 1989 781 58

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O Parque de Paulo Afonso, criado em 1948, mostrou uma evolução lenta na instituição de parques no Brasil, que se concentraram nas regiões sudeste, sul e a partir da década de 1960 foram criados em outras regiões. Nas décadas de 1970 e 1980 houve um crescimento significativo no número de parques, refletindo o contexto mundial voltado para discussões em busca de soluções ao agravamento dos problemas ambientais.

O novo Código Florestal de 196525 substituiu as categorias anteriores por

quatro outras novas: Parque Nacional, Floresta Nacional, Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL). O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF),26 uma autarquia federal, vinculada ao Ministério

da Agricultura, criado em 1967, era responsável pela gestão de todas as áreas protegidas do país.

Na década de 1970, as questões ambientais foram amplamente discutidas internacionalmente em Conferências da Biosfera (1968) e de Estocolmo (1972). Apesar de o Brasil defender posições polêmicas em Estocolmo, aceitando empresas poluidoras no país, em nome do “crescimento” e do “desenvolvimento”, o reflexo desse momento ambientalista no Brasil foi o desenvolvimento de Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) e o surgimento da SEMA27– Secretaria

Especial do Meio Ambiente – em 1973 como resultado da Conferência de Estocolmo e do Clube de Roma.

O IBDF continuou gerindo os parques até então constituídos e a SEMA estabeleceu um programa próprio de áreas protegidas, resultando em propostas de novas categorias, como as Estações Ecológicas (ESEC), Áreas de Proteção Ambiental (APA) em 1981, Reservas Ecológicas (RESEC) e Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) em 1984. As Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) estimularam a criação voluntária de áreas protegidas. Os dois órgãos – IBDF e SEMA – possuíam as mesmas atribuições de implantação e administração de unidades de conservação, e duas propostas iniciais foram formuladas pelo IBDF e FBCN para um sistema único e integrado para as áreas protegidas, uma em 1979 e outra em 1982, constituindo as bases para a criação do SNUC (Medeiros, op. cit.).