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Os acessos viários que seccionaram o parque são a estrada do Montanhão, que liga a estrada do Pedroso ao município de São Bernardo do

44 Depoimento Cristina M Santiago, op.cit.

5. Os acessos viários que seccionaram o parque são a estrada do Montanhão, que liga a estrada do Pedroso ao município de São Bernardo do

Campo e dá o acesso ao Santuário Ecológico, a estrada de Sertãozinho também chamada Mico Leão Dourado, que liga Mauá pela Avenida Papa João XXIII, a estrada do Pedroso, o principal acesso entre a Macrozona Urbana e os bairros Miami, Riviera e Recreio da Borda do Campo na área de Mananciais e, recentemente, o Rodoanel Metropolitano Mário Covas, uma estrada Intermunicipal Estadual na porção sul do parque. As consequências dessas vias foram: trânsito de caminhões de lixo para o aterro sanitário Lara, localizado em Mauá, com descarte de lixo antes que os caminhões chegassem ao aterro, supressão de vegetação do parque e das laterais das vias, invasões de áreas públicas e do parque, descarte de produtos perigosos, materiais inertes como terra, entulho, veículos roubados e desmontados, bem como, descarte de cadáveres, atropelamento de diversos animais, como por exemplo, tatu, veado catingueiro, lagarto, cobras, macacos, preguiças, gambá, cães etc., mau uso da via principalmente por veículos de outros municípios, trafegando em alta velocidade, corredor de fauna interrompido, estradas adjacentes aos lagos onde o SEMASA promove a captação de água bruta para o tratamento e abastecimento da população do município de Santo André, a qual estaria inviabilizada em caso de algum acidente com o transporte de produtos agressivos, como resíduos industriais e perigosos, rotineiramente dispostos junto ao aterro sanitário Boa Hora, em Mauá, fácil acesso de caçadores de animais silvestres, vetor de ocupação irregular e desordenada em todo o setor 29 (bairros Parque Miami e Jardim Riviera, Recreio da Borda do Campo), (Santiago, 2003).

Uma das primeiras medidas foi o estreitamento da via e a permissão apenas para veículos de passeio. E, com isso, houve a redução do atropelamento de animais silvestres. Em 2007, as vias foram interrompidas parcialmente, permitindo o acesso apenas ao trânsito da obra do Rodoanel. E em 2010, foram

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fechadas para trânsito público. Apenas o trecho da Estrada do Montanhão que dá acesso ao Santuário por São Bernardo do Campo foi mantido aberto.

O parecer técnico realizado pelo SEMASA e pela Prefeitura Municipal de Santo André para o empreendimento rodoviário denominado Rodoanel Metropolitano Mário Covas-trecho sul, no Município de Santo André, descreve as alternativas de traçados viários que foram elaboradas pela DERSA, desde 1992, sempre abrangendo a região do Parque do Pedroso.

Das três alternativas apresentadas, a primeira, altamente impactante, que se desenvolvia na região central do parque, foi rejeitada, sendo apresentados em 1998 outros estudos elaborados pela DERSA/VETEC, contemplando duas alternativas, uma ao norte e outra ao sul. A alternativa-norte, de menor impacto ao parque, seria desenvolvida por meio de extensos viadutos e túneis (cinco no total). Embora tecnicamente viável, foi demonstrada como sendo inviável economicamente pelo EIA/RIMA, envolvendo o reacentamento de aproximadamente 1.500 famílias:

“Os estudos de engenharia de traçado demonstraram que o compartilhamento dos traçados é tecnicamente possível. (...) Entretanto, em razão da tipologia do relevo e dos padrões geométricos associados a compatibilização dos traçados dos dois modais, os estudos demonstraram também que a implantação segundo o traçado da macro diretriz interna só se viabiliza através da implantação de extensos viadutos e túneis, necessários para efetivar a transposição dos morros existentes (...) em razão da magnitude das interferências diagnosticadas com áreas de elevada fragilidade potencial do relevo, da alta intensidade das ações de movimentação de terra, da elevada demanda por áreas de bota-fora (não disponíveis no subtrecho) e dos impactos sobre as áreas de usos residenciais consolidadas, tem sua viabilidade ambiental relativizada, sobretudo se considerada a existência de outras possibilidades de traçado que representem impactos ambientais de menor intensidade” (DERSA/FESPSP, EIA/RIMA, s/d:131,132).

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“A compatibilização dos dois modais” foi uma das justificativas para inviabilizar a opção ao norte. Um dos critérios de avaliação do empreendimento era o compartilhamento com o traçado do Ferroanel, que, na avaliação do EIA/RIMA, seria mais adequado, ao sul das pistas do Rodoanel no Trecho Sul. Segundo o Relatório Final da FESPSP (s/d:5), “a principal vantagem com relação ao Ferroanel ao sul é que permite, dentro da largura padrão da faixa de domínio compartilhada – 160 metros –, admitir greides diferenciados entre o Rodoanel e o Ferroanel (...)”.

O IBAMA não autorizou a antecipação da execução de alguns componentes do Ferroanel mesmo havendo ganhos ambientais, como as fundações das pontes sobre o reservatório Billings e terraplanagem “no trecho crítico de Santo André”, por razões formais, segundo o relatório, antes da conclusão final do licenciamento ambiental específico.

Figura 6. Variações de traçado do Rodoanel Metropolitano no Parque do Pedroso, Trecho Sul-Santo André. Fonte: DGA, SEMASA, s.d.

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A equipe técnica do SEMASA avaliou o traçado sul como sendo de expressivo impacto, e o traçado norte, no limite da área da Macrozona Urbana, a alternativa que apresentaria menor potencial de impactos aos meios físico, biótico e antrópico. Destacou a ausência de fundamentação técnica e científica, usual aos EIA/RIMAs de empreendimentos rodoviários e o sobrepercurso de aproximadamente quatro quilômetros com uma extensão de um quilômetro de pontes do traçado sul, quando comparado ao norte (SEMASA, 2007).

No Parecer Técnico no 25/2005, o IBAMA vetou qualquer interferência

direta do traçado no interior do Parque Municipal do Pedroso, e a contra- argumentação do EIA/RIMA (FESPSP, op.cit.) consistiu na alegação que este posicionamento fugia da jurisdição do IBAMA, “carecendo de base jurídica”, sendo que se tratava de Unidade de Conservação da esfera municipal e que a Prefeitura já havia se manifestado favoravelmente ao Traçado Sul.

O Relatório, ao mesmo tempo em que afirmava que a área do parque mais afetada seria uma região parcialmente invadida pela favela Pintassilgo, também reconhecia que o melhor traçado não era necessariamente o de menor impacto à vegetação.

Foram previstas pontes para o fluxo da fauna, (que não foram implantadas), para restabelecer o corredor natural que seria interrompido. O parecer do SEMASA indicava que a interrupção desse fluxo provocaria o isolamento do meio biótico do parque, podendo precipitar o declínio ou a extinção de populações animais.

18. Obras do trecho em ponte sobre a Represa Billings. Núcleo Pintassilgo à direita.

Fonte: DGA, SEMASA. 2009.

19. Rodoanel implantado próximo ao Bairro Recreio da Borda do Campo. Trecho anterior ao da foto ao lado.

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A avaliação ambiental foi elaborada de forma generalizada e não individualizada por município, o que resultou em um subdimensionamento dos impactos, bem como das medidas compensatórias e mitigadoras, fato considerado especialmente grave segundo o parecer. A rodovia implantada removeu do Núcleo Pintassilgo 230 famílias das 730 que invadiam a área do parque.

Os valores previstos para a compensação ambiental foram destinados para a melhoria de infraestrutura de segurança, para o cercamento dos limites do parque, educação ambiental, elaboração do plano de manejo, entre outros, não optando-se pela regularização fundiária, um dos itens fundamentais para consolidação de uma unidade de conservação.

Foram discutidas as exigências técnicas tanto no Trecho Sul quanto na Serra do Mar e em outras unidades para que a implantação do Rodoanel seguisse um padrão construtivo em superfície, por meio de pontes e túneis e não por corte e aterro,49 o que provocou um desflorestamento e uma fragmentação ainda maior do

que a que já existia.

A implantação do Traçado Sul afetou áreas públicas, reservas de áreas verdes do loteamento Recreio da Borda do Campo, com o rompimento da ligação entre o parque e a gleba denominada Três Divisas e as demais áreas vegetadas no município de Ribeirão Pires. O parecer técnico solicitou outras alternativas a fim de evitar a interrupção do fluxo gênico e o declínio ou extinção de espécies, e indicou uma área ao leste do Bairro Recreio para ser anexada ao parque (essa mesma gleba Três Divisas).

A estimativa de um total de 138.849,60 m2 em áreas desafetadas do Parque

do Pedroso coloca em pauta os problemas de áreas fragmentadas, como o “efeito de borda”, modificando o ecossistema atingido pela ação de um conjunto de pequenos efeitos, como as alterações microclimáticas. Estas, entre outras consequências decorrentes de uma fragmentação florestal, serão tratadas a seguir.

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Capítulo II