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O Biomapa - Mapeamento biorregional participativo, dentre os inúmeros outros instrumentos de participação comunitária em diagnósticos, elaborações e aplicação de projetos e programas - oferece a possibilidade de ser aplicado coletivamente para diversas finalidades.

A cidade de Santo André possui experiências de aplicação da técnica do Biomapa, fruto de uma “troca de experiências” propiciadas pelo Gerenciamento Participativo em Áreas de Mananciais (GEPAM) - um projeto de cooperação internacional realizado pela Prefeitura de Santo André, Universidade de São Paulo, e instituições canadenses, como a Universidade da Colúmbia Britânica (UBC) e a Agência de Cooperação Internacional Canadense (CIDA) - foi especialmente aplicado nas Áreas de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRM) do município (Santo André, 2005).

A elaboração de um biomapa é um processo de realização de uma representação gráfica, geralmente em uma superfície plana e em determinada escala das características naturais e artificiais de uma determinada localidade. Entretanto, cabe ressaltar que esse processo rompe com uma característica: da centralidade técnica determinando essa representação. Segundo Harvey (1996), a elaboração de um mapa de uma determinada localidade é um exercício de dominação. Ele também nomeia como “cartografia da resistência” 38 o exercício de

fazer tal representação pelos segmentos da sociedade que geralmente são excluídos, como mulheres, idosos e crianças.

Assim, a elaboração de um mapa de determinada região, a partir do qual são feitos inventários biofísico, social, cultural e econômico, pode servir para uma agenda de planejamento e de desenvolvimento comunitário, além de outras finalidades. Essa técnica considera o entorno, sua cultura e economia com a necessária participação da comunidade local, traduzindo-se na construção de um mapeamento biorregional participativo. Assim, o mapeamento é constituído a partir da leitura que a própria comunidade tem do local em que se encontra. Esse processo tem como base as teorias dos planejamentos comunitários e biorregional.

38 “Cartografia da resistência” é o ato de confrontação com a representação de um mesmo sítio em

percepções diferenciadas do espaço e tempo pelas populações “dominadas” como: crianças, jovens, idosos, nativos (Harvey, 1996).

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A oficina foi realizada em 21 de agosto de 2010, no Centro Educacional de Santo André (CESA Cata Preta) e aplicada pela Gerência de Educação e Mobilização Ambiental do SEMASA. Contou também com a participação de cinco educadores e quinze participantes dos bairros Recreio da Borda do Campo, do núcleo Pintassilgo, Jardim Irene, Vila Floresta e São Bernardo do Campo.

Formaram-se três grupos com a proposta de trabalharem sobre três temas: biofísico, histórico e conflitos. O resultado após o exercício de mapeamento, que foi exposto para o grupo geral, trouxe sobre o primeiro tema uma identificação dos equipamentos existentes no período em que foi implantado o parque de lazer. Houve um problema na condução deste tema por parte dos técnicos, já que a proposta era produzir um mapa de identificação dos elementos naturais do Parque. De qualquer maneira, ficou evidente que aquele grupo reconhecia a ausência dos equipamentos que já existiram no passado (teleférico, os pedalinhos e o mini- zoológico) como algo que hoje é inviável economicamente.

O tema do mapeamento no segundo grupo foi história e o foco foram as pessoas que moraram no interior do Parque, assim como os equipamentos que atendiam aqueles moradores e a população do entorno. Um bom exemplo são as pequenas escolas existentes ao longo da Estrada do Pedroso, na parte norte, próximas à divisa com a área urbana, aproximadamente no local da sede atual da Guarda Municipal.

Esse mapeamento localizou as moradias descritas no depoimento de Maria B. Pastor (2009), uma vez que ela foi uma das participantes deste grupo do biomapa.

O terceiro grupo levantou problemas referentes ao esgoto doméstico que é jogado in natura na Represa Billings, o desmatamento, o desaparecimento de nascentes, os pontos de acúmulo de lixo e os incêndios provocados. Com a perda do habitat devido ao desmatamento, muitas espécies de animais passam a procurar alimento próximo às residências, no lixo doméstico.

Os resultados mostraram que os problemas da falta de recursos para atendimento das demandas de funcionamento do Parque e os conflitos decorrentes da falta de conhecimento da importância do Parque do Pedroso precisam ser divulgados e mais informados para mostrar que o Parque é muito além de uma ‘grande churrasqueira’.

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Com o fechamento da Estrada do Montanhão (acesso à São Bernardo) a segurança melhorou, diminuíram os pontos de descarte de resíduos sólidos ao longo da estrada, além dos cadáveres que eram encontrados frequentemente.

A avaliação desse exercício pela GEMA levantou algumas deficiências metodológicas e práticas, tanto na preparação dos técnicos participantes para condução dos grupos e no tempo curto para o mapeamento, quanto na necessidade da convocação das pessoas em um prazo mais adequado, o que inviabilizou a participação de lideranças importantes dos bairros. A oficina mostrou-se uma ferramenta de atividade educativa, de diagnóstico do público participante39 e a

necessidade de continuidade da oficina,

levantando-se a possibilidade de realizá-la dentro do Parque, no Recanto Arco Íris. Para esta pesquisa, a oficina foi uma oportunidade de “escutar” um número maior de participantes de forma coletiva, ou seja, os moradores dos bairros do entorno do Parque do Pedroso que ainda não estavam representados nos depoimentos. É importante ressaltar que essa amostragem não representa a comunidade dos bairros como um todo, apenas a visão desse grupo particular.

Não seria “ambientalmente correto e socialmente justo” não abarcar a percepção e o conhecimento das pessoas no caso do Pedroso. Há os saberes de vida que os gestores públicos, técnicos e os teóricos desconhecem e deles não podem prescindir se, efetivamente, desejam compreender a complexidade das relações implícitas nas transformações da paisagem do Parque com vistas à

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GEMA. Relatório do programa Municipal de Educação Ambiental, 2010.

30.Oficina de biomapa. Fonte : DGA, SEMASA, 2010.

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criação de planos e projetos mais responsivos e processos de gestão mais democráticos no tempo e espaço.

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Considerações