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1. CARACTERÍSTICAS E CONTRADIÇÕES DO OBJETO DE PESQUISA: A LEI DE

1.4. A Lei de Acesso à Informação no Brasil

1.4.2. Participação da Sociedade Civil na Formulação e na Implementação da LAI

participação da sociedade nas atividades políticas: a democracia representativa – modelo no qual a população escolhe seus representantes, por meio do voto, para em seu nome exercer o poder - e a democracia participativa –concepção na qual os cidadãos intervém diretamente nos procedimentos de tomada de decisão e de controle do exercício do poder.

Nesse contexto, Luiz Werneck Vianna, sem minorar a relevância da democracia representativa, mas reconhecendo seus limites, se posiciona claramente a favor da ampliação

13 Fonte primária: http://www.congressonacional.leg.br/portal/veto/3454. 14 Agência Câmara de Notícias.

do poder popular e da maior participação dos cidadãos na vida política. Segundo Vianna (2003, p. 474), “devemos mobilizar a atenção para outras direções: os partidos não podem tudo, a representação não pode tudo [...] é preciso criar instituições que eduquem para o civismo”. Tais argumentos reforçam a importância da participação política e envolvem a ideia de cidadania ativa, que pressupõe cidadãos conscientes e preparados para intervir nos assuntos públicos.

A Participação da sociedade civil na formulação da Lei de Acesso à Informação foi debatida pela pesquisadora Ana Maria Barcelos Malin, durante o XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação - XIII ENANCIB 2012, ocasião em que defendeu que a LAI é uma construção da sociedade brasileira em resposta à pressão de movimentos da sociedade civil e a uma sequência de decisões e políticas de Estado. Segundo a pesquisadora, dentre os movimentos da sociedade civil, atuantes na fase de conformação da lei em âmbito governamental merece destaque: Transparência Brasil – fundado em 2000, por organizações não governamentais e entidades empresarias com foco no combate à corrupção; Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas − fundado em 2003, por cerca de 20 organizações sem vínculo partidário; Contas Abertas − fundado em 2005, como entidade da sociedade civil, com foco no monitoramento da execução orçamentária da União; Movimento Brasil Aberto – criado em 2011, em São Paulo, visando pressionar o andamento do projeto da lei, então parado no Senado; Artigo 19 – organização cujo nome tem como inspiração o Artigo 19 da Declaração Universal de Direitos Humanos, atuante em vários países, e desde 2005 no Brasil, com foco na promoção da liberdade de expressão e informação. Dessas organizações, somente a Transparência Brasil tem assento no Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção o que possibilita a comprovação formal de sua destacada atuação, mediante a leitura do extrato das atas das reuniões. Contudo, para corroborar o posicionamento da pesquisadora, em visita aos sítios das demais instituições constatei que no período em que o projeto tramitava na Câmara houve um intenso acompanhamento e mobilização a favor da aprovação da lei, com publicação de notícias, chamamento para audiências públicas e confecção de manuais explicativos da lei, facilmente obtidos na internet.

A sociedade civil também foi representada nos debates realizados pela Comissão Especial de Informações Detidas pela Administração Pública, criada no âmbito da Câmara dos Deputados para emitir parecer sobre o projeto de lei encaminhado pelo Poder Executivo Federal. Participaram de quatro audiências públicas diversas instituições públicas e privadas vinculadas à promoção da transparência e ao reconhecimento do acesso à informação como direito fundamental no Brasil, dentre as quais: Associação Nacional dos Procuradores da

República (ANPR), Associação Nacional do Ministério Público (CONAMP), Associação Nacional dos Magistrados do Brasil (AMB), Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Brasileiro de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Organização Transparência Brasil, Organização Artigo 19.

Se restou comprovada a participação da sociedade civil no processo de formulação do marco regulatório, contraditoriamente, nem o governo, nem o congresso se preocuparam em assegurar a participação da sociedade civil no controle democrático da lei. A título de exemplo, as três instâncias criadas para que o cidadão possa interpor recurso sobre eventual indeferimento ou negativa a sua demanda por informação, são formadas exclusivamente por agentes públicos (art. 16). Da mesma forma, na Comissão Permanente de Avaliação de Documentos Sigilosos (CPADS) não há representantes da sociedade civil, com vistas a garantir que as informações assim rotuladas, representam realmente risco a segurança da sociedade ou do Estado.

A centralização pelo Estado dos instrumentos de controle da LAI contraria o entendimento de Pereira (2002), segundo a qual a política pública não é resultado da ação governamental e não tem identificação exclusiva com o Estado. Seu vínculo maior é com que no latim se denomina de res publica, isto é, coisa de todos, e, por isso, compromete tanto o Estado quanto à sociedade. É, segundo a autora, “a ação pública, na qual, além do Estado, a sociedade se faz presente, ganhando representatividade, poder de decisão e condições de exercer o controle sobre a sua própria reprodução e sobre os atos e decisões do governo”. (PEREIRA, 2002, P.222).

Embora a falta de independência da Controladoria-Geral da União para funcionar como uma espécie de guardiã da lei e também como instância recursal tenha sido discutida na Câmara dos Deputados, em razão de o órgão pertencer à estrutura do Poder Executivo Federal, o que ensejaria sua substituição, a ideia de criação de um órgão central supervisor, com atuação independente, não prosperou em face das alegadas peculiaridades do Estado brasileiro, em especial a independência entre os poderes da União e a autonomia dos estados federados. Nesse contexto, resta evidente o afastamento da sociedade civil brasileira do controle democrático da implantação da lei de acesso à informação, destoando, portanto, das leis contemporâneas de acesso à informação que prevêem a existência de órgãos independentes, voltados à decisão dos recursos, formados por cidadãos de diversos segmentos da sociedade.