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PARTICIPAÇÃO DO GRANDE SÃO PAULO NA RENDA NACIONAL

Fraqueza do Efeito de Dinamização do Setor Industrial

PARTICIPAÇÃO DO GRANDE SÃO PAULO NA RENDA NACIONAL

Anos Setor primário Setor secundário Setor terciário Rendimento nacional 1939 1949 1959 0,2% 0,4% 0,6% 23,0% 29,7% 31,0% 17,0% 15,0% 17,0% 12,8% 13,1% 16,0% A potência de uma cidade que produz 16 por cento do rendimento nacional e contribui para um terço do rendimento criado pelo setor secundário é notável, e vemos a dinâmica da polarização regional estudada anteriormente criar força. Para apreciar a importancia do fenômeno, lembremos que nos anos 1940 e 1950 São Paulo torna-se a cidade que mais cresce no mundo. Mahon salienta que, com um crescimento da população de 426 por cento durante o período 1940- 1970, São Paulo ultrapassa de longe as cidades que tiveram as taxas de crescimento mais elevadas:

154Joseph Mahon, Formation et situation actuelle de la classe ouvrière du Grand S. Paulo, IEDES,

Paris, 1973, p 21.

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México conheceu no decorrer deste período um aumento de 300 por cento, Tóquio 210 por cento e Buenos Aires 138 por cento.156

"O Estado de São Paulo", escreve Mahon, "representa 2,91 por cento do Brasil, mas abriga 19 por cento da população total. Produz 33,5 por cento do rendimento interno e participa em 56 por cento do valor da produção industrial... Estamos, pois, em face de um imenso país onde uma região relativamente pequena cresceu de tal modo que polariza hoje as principais atividades do país, sobretudo no plano industrial".157

Assistimos assim a um movimento simultâneo de desenvolvimento e de concentração. Isto significa que, apesar do seu nível adiantado de desenvolvimento, esta indústria não tende a espraiar-se para o interior do país para, a partir de um "pólo de desenvolvimento", dinamizar regiões cada vez mais amplas. Pelo contrário, tende a reforçar as desigualdades herdadas.

No entanto, é preciso tomar o cuidado de não pensar que este eixo dinâmico se desenvolve enquanto o interior do país estagna, com a formação de uma economia de "enclave" desligada do resto do país: o próprio desenvolvimento do eixo dinâmico implica o reforço dos laços com o resto do interior do país.

Se a produção se encontra extremamente concentrada, a rede comercial estende-se rapidamente e é a concorrência dos produtos de São Paulo que enfraquece a produção da Bahia e impede o aparecimento de indústrias noutras regiões. "O papel crescente da industrialização na vida econômica do país", escreve P. Geiger, "manifestou-se no decorrer da Segunda Guerra Mundial. É marcado pela importância que tomam as indústrias de base e de bens de consumo, sob forma de usinas destinadas a fornecer não só para o mercado local ou regional, mas para o conjunto do país; e esta evolução foi tornada possível pelo estabelecimento de uma rede de transportes, essencialmente rodoviária, destinada a cobrir e a integrar a totalidade do território nacional. Assim, o processo moderno de industrialização revela em certa medida formas contraditórias: por um lado, reforça as tendências para a regionalização; por outro lado, reforça a concentração das atividades no plano nacional".158

O conteúdo destas "formas contraditórias" é evidentemente a divisão do trabalho dentro do país, que permite à região dominante reforçar a sua rede de comercialização de produtos manufaturados, por um lado, e escoar os produtos regionais para a metrópole nacional, por outro lado.159

Reencontramos, pois, a potência a que F. Perroux chama "dinâmica da desigualdade", constituída por "encadeamentos tipicos de seqüências que admitem essencialmente a dominação crescente e irreversível de uma unidade ou de uma zona relativamente a todas as outras".160

156Ibid., p. 6.

157Joseph Mahon, op. cit., p. 6.

158 Pedro Pinhas Geiger, Les villes à fonction industrielle et la régionalisation du Brésil, CNRS,

Paris, 1971, p. 12.

159A este propósito é interessante ver os efeitos da industrialização de São Paulo e da abertura dos

eixos de comunicação para o interior do Brasil. Na região de Bragança (Pará, no extremo norte do país) a indústria local de juta (sacaria, etc.), rudimentar mas essencial para a integração econômica local, foi arruinada pelos produtos trazidos de São Paulo pelo novo eixo de comunicação. No quadro de desequilíbrio que predomina no Brasil, a abertura de estradas como a Belém-Brasília ou outras resulta não numa difusão do progresso para o interior, mas essencialmente na drenagem de mão-de-obra e de produtos locais, estes em troca dos bens manufaturados do Centro-Sul, refoçando a “especialização desigual”.

160 Francois Perroux, L'économie du XX siècle, PUF, Paris, 1961, 2ª ed., p. 36. Note-se que

Perroux, ao concluir que “as regiões de crescimento e desenvolvimento deveriam (o que não é o caso, acrescenta Perroux) ajudar as regiões menos favorecidas”, passa de uma análise correta a remédios estéreis: o problema não é ajudar, pois a ajuda seria absorvida na mesma dinâmica. Trata-se de romper o encadeamento dominância-dependência que liga as economias periféricas

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O processo de industrialização parece pois restringir, e não alargar, o seu próprio espaço de desenvolvimento, já limitado pela herança das fases precedentes e pelos efeitos da industrialização sobre a orientação do setor agricola extrovertido. Dotado de uma fraca capacidade própria de arrastamento e reforçando por outro lado a polarização interna e a orientação da agricultura, este processo não levou às transformações esperadas, e compreende-se o espanto de Hirschman: "O fato de a industrialização baseada na substituição de importações se ter acomodado com relativa facilidade ao contexto político e social existente é provavelmente responsável pela decepção generalizada com o processo. Esperava-se da industrialização que ela mudasse a ordem social e tudo o que ela fez foi fornecer manufaturas.”161

Simultaneamente tornado possível e deformado pela dinâmica das economias dominantes, este processo de industrialização não se encontra bloqueado, mas orientado num sentido que o impede de responder às necessidades fundamentais da população. É o processo histórico que constitui toda a diferença entre o crescimento e o desenvolvimento.162

Não será pois necessária nenhuma "maldade intrínseca" do imperialismo para cortar o caminho do setor "nacional" da indústria orientado em função de um mercado popular: presa entre a herança colonial da qual é fruto e as exigências técnicas de uma industrialização moderna, a indústria nacional tomará a iniciativa de liquidar a própria casa e procurará alcancar a dinâmica mais coerente do "setor moderno" ligado ao mercado sofisticado interno e ao mercado exterior.

Reconversão da Indústria Tradicional Ligada