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3 A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL E AS POLÍTICAS

4.2 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

4.2.3 Participação Social e Controle Social

Assim como a interdisciplinaridade e a intesetorialidade, a

participação social e o controle social também podem ser consideradas

ações a serem desenvolvidas pelos assistentes sociais em todas as

políticas sociais, visando a garantia da universalidade, a participação e a

fiscalização por parte da sociedade civil na elaboração e na aplicação

dos recursos financeiros das políticas sociais.

Apesar de nas normativas do NASF aparecerem de forma mais

explícita o papel do assistente social na mobilização para a participação

social, nos grupos focais ficou evidente que a atuação dos profissionais

do NASF nesse eixo de intervenção tem sido focada apenas na

participação nas reuniões dos conselhos locais de saúde, quando

acontece. Além disso, evidenciou-se que os assistentes sociais do PAIF

através das ações cotidianas, de coletivização das demandas, por

exemplo, tem conseguido ampliar e desenvolver as ações de controle

social e de mobilização social de forma muito mais efetiva que os

profissionais da saúde.

Parte dessa situação ocorre devido à publicação da Carteira de

Serviços e da PMAPS pela SMS que restringe a participação dos

profissionais que não atuam como conselheiros nas reuniões dos CLS,

por exemplo, situação trazida pelos profissionais do NASF.

A gente tem a orientação de acompanhar somente um conselho local de saúde (ASNASF4).

Em contrapartida, essa normativa tem sido seguida de forma

diferenciada nos DS, sendo que alguns profissionais conseguem

liberação para participarem de todas as reuniões do CLS das UBS em

que atuam e outros não, gerando disparidades entre as ações

desenvolvidas em cada DS por parte dos profissionais.

[...] a minha orientação ficou a minha... se eu quisesse ir em todos eu podia ir, só que daí é fora do horário, geralmente todos são a noite [...] com compensação de horas (ASNASF2).

Mesmo com essas restrições, que afetam diretamente a atuação

do assistente social nessas ações, é claro para os profissionais a

importância da profissão nesses espaços, assim com o reconhecimento

do profissional de Serviço Social como protagonista na mobilização e

no incentivo à participação social inserido tanto no NASF.

Eu acho que a gente enquanto assistente social tem um protagonismo, mesmo, nessa mobilização né? De estar também na assessoria das lideranças comunitárias, na mobilização, na elaboração de material educativo também para trabalhar, para mobilizar. Eu também desde que entrei no NASF ajudei na reativação de vários conselhos locais, né? Então tem um protagonismo mesmo assim. Enquanto assistentes sociais a gente tem esse protagonismo, né? (ASNASF4).

No que se refere ao PAIF, os profissionais entendem o CRAS

como um espaço propício para a realização de ações de mobilização

social, seja através da coletivização das demandas e ações nos territórios

seja através dos atendimentos individuais.

E realmente, no espaço do CRAS a gente tem a possibilidade de fazer essa discussão mesmo nos atendimentos individuais, mesmo... porque é ali que a demanda chega, é ali que as pessoas vão chegar com fome, que as pessoas vão chegar com cada vez mais dificuldade de acesso né? (ASPAIF2).

Alguns profissionais, porém, apesar de entenderem a importância

das ações de mobilização e participação acreditam que não tem

conseguido desenvolvê-las da forma como gostariam, devido a inúmeros

fatores, entre eles a precarização do trabalho e a falta de recursos

humanos dos CRAS.

[...] a gente tem toda essa necessidade de estar mobilizando sim, a gente... acredito né, que todo mundo tenta mobilizar o máximo possível naquele atendimento, ouvidoria, Ministério Público, não sei o que, mas aquele trabalho do CRAS né, de mobilizar a comunidade, enfim, a gente não acaba tendo condições de fazer esse trabalho, hoje, em Florianópolis, né? (ASPAIF1).

Mas, apontam para a necessidade de mobilização da sociedade

civil e também dos próprios trabalhadores como forma de incentivo ao

controle social e enfrentamento às dificuldades apresentadas pelos

serviços e pelo contexto de crise pelo qual vem passando o país.

Eu acho que numa situação de crise a capacidade de mobilização aumenta. Mas falta para a gente um sentimento de unidade, de qual a direção política, não só enquanto profissão, mas enquanto PAIF, enquanto CRAS... (ASPAIF3).

[...] a questão da mobilização dos trabalhadores para lutar por melhores condições de trabalho [...] qual o recurso, como é que está a gestão dos recursos do município, como é que está o orçamento? Está escasso, está ok? Mas quais são as escolhas que estão sendo feitas? E como que a gente enquanto trabalhador, cada vez mais

precarizado, estamos nos organizando?

(ASPAIF2).

Foi entendimento do grupo também de que, em momentos de

crise a capacidade de mobilização tende a aumentar, e o momento que o

país tem vivenciado, de cortes de recursos para as políticas sociais, de

retrocesso em relação aos direitos conquistados pela Constituição

Federal de 1988, de não punição para a corrupção, etc, pode ser um

momento propício para o fortalecimento da classe trabalhadora, que se

encontra muito desmobilizada.

Um militante do DIEESE falou que nesses últimos dez anos teve o enfraquecimento da classe trabalhadora, porque foram dez anos de consenso ganha-ganha. Entra em greve pedindo 10, ganha

5, ambos ganham e ambos perdem, chegam a um consenso, volta a trabalhar e tudo continua. E foi isso que, segundo ele, deu uma desmobilizada geral na capacidade de organização dos trabalhadores. [...] Eu não tinha parado para pensar nisso... então de repente agora, com essa situação maior de crise a gente tenha esse sentimento de unidade maior assim. Porque a situação difícil vai continuar. Não dá para ficar nessa situação de só reclamando e num processo de adoecimento... tentando entender que direção política que vai ser essa... (ASPAIF3).

Segundo os profissionais essas discussões estão sendo incluídas

nos Seminários, Congressos, e outros eventos da categoria profissional e

da política de assistência social contribuindo para a reflexão dos

assistentes sociais acerca do cenário atual e visando contribuir para a

busca de alternativas para a mobilização e para a busca de uma maior

unidade entre a classe trabalhadora.