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3 A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL E AS POLÍTICAS

4.1 PERFIL PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS DO

Os assistentes sociais que participaram dos grupos focais

totalizam sete profissionais, todos do sexo feminino, remetendo à

realidade profissional, cuja identidade, historicamente construída, é

marcada pela presença das mulheres. Segundo Iamamoto (2004), o

perfil sócio histórico dos assistentes sociais tem traços marcantes, sendo

uma profissão com composição predominantemente feminina e, por

isso, atravessada por relações de gênero que implicam em sua imagem

na sociedade e nas expectativas sociais vigentes diante da mesma. Esse

recorte de gênero explica os traços de subalternidade que a profissão

carrega diante de outras profissões mais reconhecidas socialmente e

academicamente, podendo afetar inclusive a forma de inserção do

profissional nas políticas sociais, principalmente na área da saúde, onde

comparada com profissões como medicina, enfermagem, ocupa um

lugar de menor prestígio.

A formação profissional dos assistentes sociais foi outro item

pesquisado, demonstrando que têm formações provenientes de três

diferentes unidades educacionais: duas localizadas no Estado de Santa

Catarina, na região da Grande Florianópolis, concentrando a maioria -

cinco dos sete entrevistados – na UFSC, e um no Estado do Paraná.

Outra característica se refere à natureza das instituições onde foram

formados os assistentes sociais, apenas um dos sete teve sua formação

em instituição privada de ensino e as outras duas instituições, uma

pública federal e uma pública estadual.

O período de formação dos assistentes sociais também é um dado

relevante para a pesquisa, sendo que a maioria dos assistentes sociais –

cinco entre os sete – se formou entre os anos de 2008 e 2010, período

em que todos os serviços que são focos desse estudo já haviam sido

implantados, ou seja, a formação dos assistentes sociais ocorreu num

período em que já existia o NASF e o CRAS a nível nacional e

municipal. Os outros dois assistentes sociais que fizeram parte da

pesquisa: um teve sua formação no ano de 2005, ano em que somente a

PNAS já havia sido publicada e mesmo assim, muitos serviços ainda

não existiam a nível municipal, como por exemplo, os CRAS,

implantados somente em 2007; e o outro assistente social se formou no

ano de 1993, período que sucedeu as principais transformações

relacionadas às políticas sociais, com a aprovação da Constituição

Federal de 1988. Nesse período, a APS estava iniciando com o PSF e,

em termos da política de assistência social, foi aprovada a LOAS.

O período de formação dos assistentes sociais aponta para o fato

da maioria dos profissionais terem o seu currículo baseado no

paradigma da teoria social crítica, indicando uma ruptura com as fontes

tradicionais da profissão. Indica ainda uma formação que tem como base

um projeto ético político profissional comprometido com a autonomia, a

emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais, que tem a

liberdade como valor central e que visa garantir a conquista dos direitos

sociais (NETTO, 2007), lutando contra a lógica imposta pelo

capitalismo e pela lógica liberal que visam a precarização do trabalho e

das políticas sociais conquistadas pelos movimentos sociais e que reitera

as desigualdades.

Ainda no que tange a formação profissional, cinco dos seis

entrevistados possuem pós-graduação em nível de especialização ou

mestrado já concluído. Dos quatro assistentes sociais que atuam no

NASF, três possuem duas especializações, sendo uma em Saúde da

Família e, todos os quatro possuem especialização, sendo as mesmas,

além da área de Saúde da Família, em Gestão Social, em Gestão da

Saúde Pública, em Metodologia para enfrentamento a violência contra

crianças e adolescentes e em Administração, Gestão Pública e Políticas

Sociais. Dos assistentes sociais que atuam no PAIF, dois não possuem

pós-graduação, sendo que um profissional está cursando o curso de

Mestrado em Serviço Social e um não possui especialização por ter

interrompido a que cursava para assumir concurso público. O terceira

profissional possui especialização e mestrado concluídos e foi aprovado

na seleção para o Doutorado em Serviço Social.

Esses dados mostram uma preocupação dos profissionais pela

formação para além da graduação e, no caso específico dos assistentes

sociais da saúde, percebe-se a busca pela formação em nível de

especialização na área de atuação dos profissionais, levando a se pensar

que, pelo NASF ser um espaço sócio-ocupacional recente, ainda

prevalece uma necessidade de conhecimento acerca da própria área da

saúde da família, da APS e da necessidade de buscar respostas às

demandas e requisições postas para o profissional nessa área. Por outro

lado, esses dados apontam para o fato da maioria dos assistentes sociais

buscar formação em cursos não específicos do Serviço Social, como por

exemplo, cursos de gestão da saúde, saúde da família entre outros.

Considerando que a formação profissional é um processo

contínuo e que ocorre também por intermédio das experiências de

atuação profissional, é interessante apontar para a experiência

profissional dos assistentes sociais entrevistados nessa pesquisa. Com

exceção de dois profissionais, todos tiveram experiências profissionais

prévias ao ingresso no local atual de atuação, sendo que alguns tiveram

mais de uma experiência prévia. Entre as áreas de atuação prévia dos

profissionais, destacam-se: 1) a assistência social, seja através da

atuação em ONGs, ação social ou do setor público municipal –

principalmente em serviços da Proteção Social Especial de média

complexidade do SUAS, com atuações voltadas para o atendimento de

crianças e adolescentes vítimas de violência, idosos em situação de

violação de direitos e pessoas em situação de rua –; 2) área da saúde, em

serviços como Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades de

Pronto Atendimento (UPA) e no NASF - situação de um assistente

social que hoje atua no PAIF - ; 3) área de habitação; 4) movimentos

sociais; entre outros.

É fundamental apontar que todos os assistentes sociais que

participaram da pesquisa atualmente são profissionais efetivos,

concursados e estatutários da Prefeitura Municipal de Florianópolis

(PMF), corroborando com a afirmação da pesquisa acerca do perfil

profissional realizada pelo CFESS em 2004, que constatou que o

assistente social no Brasil é majoritariamente funcionário público, sendo

as instituições públicas municipais as que mais o absorvem, totalizando,

40,97% (CFESS, 2005). Com a descentralização das políticas sociais no

Brasil sua execução tem sido transferida aos municípios, fato que

justifica os dados encontrados e rebate na esfera da prestação direta de

serviços sociais públicos, que passa a ser assumida pelos municípios.

Com a intenção de avaliar a experiência profissional na área de

atuação atual dos assistentes sociais, questionou-se o tempo que

exercem essa função junto ao PAIF e ao NASF. Como resultado,

observou-se que os assistentes sociais do NASF trabalham, em média,

cinco anos nesse espaço sócio-ocupacional enquanto os assistentes

sociais do CRAS atuam, em média, um ano e meio. O curto período de

atuação dos assistentes sociais no PAIF pode ser justificado pelo fato da

PMF ter, por anos, priorizado contratos de trabalhos firmados através da

Associação Florianopolitana de Voluntários (AFLOV) ao invés de

concursos públicos, contribuindo para a precarização dos serviços e alta

rotatividade dos profissionais, principalmente na política de Assistência

Social. Depois de mais de dez anos sem concursos públicos para o

município, foram abertos quatro editais entre os anos de 2006 e 2016,

implicando no chamamento de aproximadamente 181 assistentes

sociais

30

. Mesmo com a abertura dos concursos públicos, a alta

rotatividade dos profissionais é fator que se observa no município,

principalmente por conta da não identificação do profissional ao espaço

assumido, fazendo com que este solicite transferência para outro serviço

e/ou política social. Mas observa-se também uma busca incessante por

parte dos profissionais por melhores condições de trabalho e

remuneração, acarretando também na alta rotatividade dos profissionais.

Em relação ao NASF, a inserção profissional foi ocorrendo de acordo

com a implantação dos mesmos, visto se tratar de um espaço sócio-

ocupacional recente para o assistente social a nível nacional e municipal.

Por fim, um último item a ser destacado é a existência de

diferença em relação à carga horária semanal de trabalho dos

profissionais, ou seja, enquanto os assistentes sociais do PAIF trabalham

30 horas semanais os do NASF tem carga horária de 40 horas semanais.

30

É importante mencionar que nem todas as assistentes sociais que foram chamadas pelo concurso assumiram o cargo e, muitas das que assumiram estão atuando na Proteção Social Especial, de média e alta complexidade.

Essa diferença justifica-se pelo fato da SMS pagar uma gratificação aos

profissionais que atuam na APS para que trabalhem 40 horas,

gratificação essa que corresponde a aproximadamente 38,55% do

salário

31

recebido pelo profissional. Apesar de ter acontecido um

movimento por parte dos profissionais para solicitar a redução da carga

horária para 30 horas baseando-se na Lei nº 12.317 de 27 de agosto de

2010 e no fato dos fisioterapeutas que atuam na APS, que possuem uma

legislação federal semelhante a do assistente social, atuarem com carga

horária de 30 horas recebendo a gratificação de forma proporcional, o

resultado não foi favorável aos assistentes sociais.

Em resumo, esses dados, apesar de não abrangerem a totalidade

dos assistentes sociais no município, remetem para a realidade atual,

onde a maioria dos assistentes sociais que atuam no município é

concursado, efetivo e estatutário, mas nem por isso, refletem a não

precarização do trabalho profissional. Em termos de carga horária, os

únicos assistentes sociais que trabalham 40 horas semanais são os

assistentes sociais que atuam na APS do município enquanto todos os

outras, da política de saúde, habitação, assistência social atuam com

regime de 30 horas semanais, implicando tanto nas condições de vida

quanto em relação à atuação do profissional, situação que será

explicitada nos próximos itens.

4.2 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO