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PARTIDO ALTO

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3 AS ESCOLAS DE SAMBA DE JUIZ DE FORA

3.3 PARTIDO ALTO

Como dissemos anteriormente, as Escolas de Samba de Juiz de Fora não preservam a memória dos movimentos culturais e eventos carnavalescos que lhes deram origem. Uma exceção é o Partido Alto, uma afirmação dos próprios membros da Escola, como o intérprete Paulo Cezar Calichio (Coração) e José Maria Ferreira em texto produzido como parte do Projeto Memória Histórica do G.R.E.S. Partido Alto.

O G.R.E.S. Partido Alto tem seu berço e suas raízes na Rua Redentor, Largo do Cruzeiro e na Avenida Olegário Maciel, na parte alta de Juiz de Fora, local onde, desde a década dos anos 40 do século XX, com o ‘Rancho Pastorinhas do Morro’ se respirava ares de bom carnaval de rua.

O tempo passou e ao passar fez desaparecer do cenário os ‘Ranchos’, mas não o espírito carnavalesco, que logo ressurgiu nos ‘blocos de embalo’ (CALICHIO; FERREIRA, [2004?]).

Criado para o carnaval de 1963 o Bloco de Embalo dos 32 Malandros desfilava ao pé do Morro do Imperador, nos arredores do largo do Cruzeiro, onde seus componentes moravam. Percorria a rua Redentor, rua Carlota Malta, rua Solano Braga e rua Fernando Lobo. Em seguida descia a rua Santo Antônio até atingir a esquina com a rua Halfeld e entrar no Parque Halfeld para dar o ponto aos instrumentos de percussão nas fogueirinhas improvisadas. A parada era também uma estratégia para receber os componentes que, por serem proibidos de participar do carnaval, esperavam naquele ponto. Estando todos reunidos, o bloco descia a Halfeld até chegar à Praça da Estação. A proibição de sair no bloco ou mesmo de brincar o carnaval de rua para alguns componentes, conta Ferreira (2005), vinha das namoradas ou das esposas, pois o bloco era formado só por homens e mulheres de família não participavam da folia. Em alguns casos até as mães costumavam proibir a saída de seus filhos, assim sendo, a bateria descia por um lado e uma parte dos foliões por outro. Este comentário sobre a não participação feminina não encontra respaldo nas informações levantadas anteriormente sobre o carnaval de Juiz de Fora. Provavelmente a forma de participar da folia – uso de violência, provocação a outros grupos, abuso de álcool e assédio a mulheres – deve ter contribuído para esta imagem antifamília dos participantes do bloco.

A sede do bloco era o Boteco da Esquina, um dos bares que existiam na região do largo do Cruzeiro. Um de seus líderes era Nilton Cruz (Niltão), já falecido. Segundo as informações de Ferreira (2005), um dos sonhos de Niltão era formar uma Escola de Samba. Tanto que no dia 8 de novembro de 1967, no botequim que fazia as vezes de sede do bloco, foi assinada, por 15 arrojados amantes do carnaval, a ata de fundação da Escola de Samba. Naquela reunião foram tratados os principais assuntos deste tipo de reunião: nome, cores e

eleição da diretoria. Nilton Cruz sugeriu o nome, logo aceito, Partido do Alto, lembrando a localização do largo do Cruzeiro, que exige uma subida íngreme de aproximadamente 200 metros a partir do centro da cidade. As cores escolhidas foram o verde e o rosa. Embora sejam as cores da Mangueira, do Rio de Janeiro, Ferreira (2005) nega que alguém do grupo de fundadores fosse mangueirense. Sebastião Giron da Silva (2006), presidente do período 2005/2006, informou que não houve coincidência, ele afirmou que “A Mangueira foi quem batizou, veio a JF para batizar o Partido Alto. Então nós temos muito respeito pela nossa madrinha. Se for da Mangueira temos que falar com carinho, e até copiamos o seu Verde e Rosa”. A Diretoria só foi decidida na reunião seguinte: Presidente, Orlando Gonçalves (Landim); Diretor e mestre de bateria, Nilton Cruz; Diretor de Patrimônio, Nelson Pires (Papinha), que deveria manter com recursos próprios, uma bateria de percussão, doada por Sebastião (Isquerê) e um bumbo, doado por João Batista Pereira (Joãozinho da Percussão57).

A ata de fundação da Escola e outras subseqüentes perderam-se pelo desaparecimento do Livro de Atas nº 1, conforme consta da folha 01, do Livro de Atas nº 2, aberto em 14 de novembro de 1977. A Escola de Samba foi registrada em 1968 e, por questões de sonoridade e hábito, tornou-se Partido Alto, sem a partícula do.

Uma parte da trajetória da Partido Alto nos desfiles de Juiz de Fora é comentada por Ferreira (2004), que narra os sucessos da agremiação: a escola chegou aos desfiles na avenida Rio Branco em 1969, contando com ajuda do Departamento Autônomo de Turismo. No ano de 1970 ficou em terceiro lugar na disputa oficial. De início não compete com as Escolas de Samba, após ser vice-campeão em 1971, conquista o primeiro prêmio do desfile de blocos em 1972, com o enredo Festa do Divino, foi a primeira vez que um bloco apresentava um enredo nos desfiles. No ano seguinte, com Baile na Casa Grande, repetiu o título de campeã na mesma categoria. Em 1974, com Chica da Silva, a verde e rosa assinou como Grêmio

Recreativo Escola de Samba Partido Alto sua passagem pela avenida, chegando ao vice- campeonato. Mesma colocação obtida em 1975 com Origens e glórias do povo brasileiro, de Antônio Geraldo Soares, só que desta vez desfilando entre as principais Escolas de Samba da cidade. Com um desfile pior em 1976, Rio, samba e fantasia não consegue passar da quarta colocação. Conquista a terceira colocação em 1977 com Festa do Divino e volta a ser vice em 1978 com o tema A comunicação através do carnaval fantástico. Falando sobre o carnaval do Rio de Janeiro a Escola é terceira colocada em 1979: Ameno Resedá e Joãozinho 30: ontem e

hoje.

É somente em 1980, com o enredo Fernão Dias, o Caçador de Esmeraldas e samba composto por Vornei e Paulinho, que irá conquistar o primeiro título de campeã entre as Escolas de Samba de Juiz de Fora. No ano seguinte a Escola desfila o tema Natureza em

sonho e realidade, de Mamão e Carioca. Este enredo ecológico não foi suficiente para atingir o primeiro lugar, a Escola terminou empatada com a Real Grandeza, mas o quesito de desempate foi música, o que deixou a Escola com o segundo lugar. A conquista do segundo campeonato não demorou muito, foi em 1982 com o enredo Almôndegas de Ouro – Vida e

Obra do Barão de Catas Altas. Tentando repetir a conquista, a Escola escolhe como enredo para o ano de 1983 o tema Olê, olá brasiliano, de Vorney, Santos e Raimundinho do Partido Alto. O resultado foi mais um vice-campeonato. Apesar dos bons desempenhos a agremiação não desfila no concurso de 1984. A ausência não impede que ela conquiste o segundo lugar em 1985 com o tema Vôo à eternidade, de Henrique, Paulo César e PC Santos que propuseram uma discussão sobre a luta do bem contra o mal. Com o boicote das Escolas de Samba ao desfile da prefeitura o Partido Alto não entra na avenida em 1986. No ano seguinte volta a desfilar e fica em quarto lugar. Não participa do concurso de 1988 e em 1990, com o enredo Itamaracá, ilha do sol não consegue atingir as primeiras colocações.

A prefeitura de Juiz de Fora não promove os concursos das Escolas de Samba nos três anos seguintes. O Partido Alto se mostra mais desmobilizado que as demais agremiações e só retorna ao carnaval em 1996, quando obtém o terceiro lugar com Uma estória verde e

amarela, sobre a história do Brasil. Em seguida o Partido Alto veria outro título de campeã, em 1997, com o enredo E por Falar em Saudades... Onde Anda a sua Cor. Foi um período no qual a Escola começou a oscilar entre o primeiro e o segundo grupos, além de não desfilar em vários carnavais. Como diz Ferreira (2004) a Partido Alto fez um movimento de um iôiô entre o primeiro e segundo grupos. Em 1998 ela conquistou o vice-campeonato do grupo principal, mas sua ascensão foi interrompida porque os desfiles de 1999 não foram realizados, desmobilizando seus componentes. Ela também não entrou na avenida em 2000, voltando a disputar o concurso oficial a partir de 2001, no segundo grupo, ano em que conquistou o vice- campeonato com o tema Estória de pescador, lá nos mares da Bahia ninguém sabe ninguém

viu – por força do regulamento permaneceu neste grupo. Após um desfile ruim em 2002, o Partido Alto teve sucesso no ano de 2003 e com o enredo Sonho de uma Noite de Carnaval foi campeã do segundo grupo, conquistando o direito de desfilar no primeiro grupo em 2004. Naquele ano com um enredo sobre os artistas juizforanos e os espaços culturais tradicionais da cidade ela foi rebaixada. Este enredo, Exaltação às artes, foi planejado por Edson Fildelis, com samba de Jorge Dragão, Tide, Adilson e Edinel. Com o enredo Clara... Clareia...

Claridade, de Romeu Biazollo e samba de Zezé do Pandeiro, Edynel e Cléber, homenageando Clara Nunes, a Escola não conseguiu subir em 2005, ficando nas últimas colocações entre as agremiações do segundo grupo.

Com problemas internos o ano de 2006 representou uma faxina nos componentes e mudanças nas práticas de administração da Escola – um de seus principais financiadores se afastou, pessoas ligadas a outras agremiações ou que não tinham presença efetiva foram tiradas da diretoria. O enredo daquele ano foi inspirado na música A banca do destino (Billi Blanco), e a montagem do desfile envolveu um trabalho voluntário incomum para as Escolas de Samba juizforanas. Mais alto o coqueiro, maior é o tombo. Afinal, todo mundo é igual, do carnavalesco Beto Dutra e samba de Edsom de Souza e Marcelo Pacífico conquistou novamente o vice-campeonato do segundo grupo.

Um aspecto pitoresco na história do Partido Alto se refere a sua existência física, ou seja, sua sede. Por muitos anos a Escola vagou por diferentes locais na região aos pés do morro do Imperador: avenida Olegário Maciel, largo do Cruzeiro, rua Espírito Santo, rua José Saint-Clair de Carvalho. Em 1976, 30 de setembro, foi assinado pelo prefeito Saulo Moreira o Decreto nº 1804 concedendo permissão de uso de uma área em favor do Grêmio Recreativo Partido Alto, com a finalidade da Escola fazer ali seus ensaios carnavalescos. O local era um terreno de propriedade da Municipalidade com aproximadamente 3.401m2 e localizada na própria região. Como essa permissão poderia ser revogada “a qualquer tempo, independentemente de aviso, notificação ou interpelação, não fazendo o permissionário, neste caso, jus à qualquer direito indenizatório”, em pouco tempo a Escola ficou novamente sem lugar (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2007). Somente em 1985, na gestão do Prefeito Francisco Antônio de Mello Reis, a Escola conseguiu novamente uma sede própria, mas longe do seu lugar de origem. A quadra, ainda hoje ocupada pela escola fica na avenida Brasil, no Bairro Mariano Procópio, situação comentada em entrevista com o ex-prefeito Mello Reis. Desde que se localizou no Mariano Procópio, a Escola fala sobre o seu reduto fazendo duas referências: a) Por origem e fundação: Largo do Cruzeiro e bairro Paineiras; b) por localização: bairro Mariano Procópio. Marcelo Pacífico (2007), Presidente para os carnavais de 2007 e 2008 considera que, apesar da mudança para um local tão distante da região de origem, a Partido Alto não se sente prejudicada e continua contando com a participação do pessoal que mora no largo do Cruzeiro, Paineiras e no vizinho bairro Dom Bosco. Esta permanência de pessoas da antiga comunidade é fundamental para a sobrevivência da Escola, pois sua atual localização é numa área fracamente habitada.

Ficha Técnica 2006

Endereço da Quadra: avenida Brasil, 5113 Cores da Escola: Verde e Rosa

Presidente: Sebastião Giron da Silva Carnavalesco: Beto Dutra

Figurinista: Beto Dutra

Número De Componentes: 650 Componentes Da Bateria: 110

Mestres De Bateria: Aroldo dos Anjos Porta-Bandeira: Regina

Mestre-Sala: Alexandre

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