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o PARTIDO E AS ELEIÇÕES DE

No documento Sindicatos, carisma & poder: o PTB de 1945-65 (páginas 116-119)

As eleições de 1 958 representaram a primeira grande manifestação da naciona­ l ização da política populista. Novas lideranças foram consagradas nesse pleito, e até a UDN, sempre avessa aos apelos populares, adotou urna estratégia de ampli ação do apoio eleitoral. Nas palavras de Juraci Magalhães, a UDN tinha que ser "popular sem ser populista" ( 1 982). Naquele ano estavam em jogo 1 1 governos de estado, um terço do Senado e as 362 cadeiras da Câmara Federal e, pela primeira vez, o PTB empenhou-se na vitória de seus candidatos aos governos estaduais. As ar­ ticulações eleitorais começaram a ganhar fôlego nas eleições para a prefeitura de São Paulo, em março de 1 957. Nessas eleições, a direção nacional referendou o apoio a Adernar de Barros em troca do apoio do PSP, no ano seguinte, às can­ didaturas petebistas aos governos do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná, e à candidatura de Lutero Vargas ao Senado pelo Distrito Federal. A aliança PSP­ PIB, ainda que informal, dava prosseguimento à chamada Frente Populista.

No Rio Grande do Sul, Brizola opôs-se à candidatura de Loureiro da Silva, apoiada por Fernando Ferrari, e buscou até mesmo o apoio dos integralistas para sua eleição ao governo do estado. Ferrari, na ocasião, renunciou à l iderança do PIB na Câmara e converteu-se no símbolo da corrente petebista que questionava o personalismo do partido (Goulart e Brizola), exigindo defi nições programáticas. Essa pregação ideológica era, de fato, uma estratégia para a corrente anti-Jango e, se não teve êxito dentro do partido, foi vitoriosa junto à imprensa e ao eleitorado.

Nas eleições parlamentares de 1 958 Ferrari obteve o maior número de votos atri­ buído a um deputado federal em todo o país. De outro lado, Brizola era eleito governador.

No estado do Rio de Janeiro, ganhou expressão a figura de Roberto da Silveira, secretário-geral da Comissão Executiva Nacional do PIB e vice-governador do es­ tado, que alcançava agora o mandato de governador. Mas uma das mais intensas disputas dessa eleição ocorreu no Distrito Federal, opondo a UDN e o PIB . A UDN procurava se popularizar através da "caravana da liberdade" e do "caminhão do povo", técnicas eleitorais introduzidas na realização de comícios populares, cons­ tituindo-se em um dos principais fatores da vitória de Afonso Arinos para o Senado ( Lacerda, 1 978; e Vargas, L., 1 983, 1 985 e 1 988).

Nessas eleições o PIB conquistou finalmente cinco governos estaduais, o maior número em toda a sua história. Foi vitorioso no Piauí, elegendo Francisco Chagas Rodrigues, no Rio de Janeiro - em ambos os casos com o apoio da UDN - e ainda no Ceará, com o ex-ministro do Trabalho de Juscelino, Parsifal Barroso, no Amazonas, com Gilberto Mestrinho, e no Rio Grande do Sul, onde B rizola se elegeu com o apoio dos integralistas.

Enquanto o PIB ganhava cinco dos 1 1 governos em disputa, a UDN con­ quistava quatro e o PSD apenas dois. A UDN ainda ganhou na capital da República, fazendo o senador e a maior bancada para a Câmara Federal. A vitória do PIB na escolha dos governadores foi na verdade a grande novidade dessa eleição, pois até então o partido conseguira eleger apenas um governador - no Amazonas. Na Câmara e nas assembléias legislativas o crescimento do partido foi de 3% em nú­ mero de cadeiras, enquanto a mesma percentagem de senadores era mantida no Congresso. No geral, o crescimento eleitoral do PIB não foi significativo nessas eleições, o importante foi ter alcançado o maior número de cargos executivos de sua história. A lém do mais, o PIB que saía das eleições de 1 958, além de ser um parceiro executivo do governo federal, colocava em administrações estaduais os dois expressivos l íderes petebistas filiados então à facção de Goulart: Leonel Brizola e Roberto da Silveira. A política brasileira ficaria profundamente marcada' pela presença desses dois governadores, com nítida vantagem para o governador gaúcho, não só pela audácia de suas decisões no governo estadual, mas sobretudo devido à morte precoce do governador fluminense em 1 96 1 .

Nesse período, novos quadros foram incorporados ao PIB, refletindo a es­ tratégia de ampliar suas bases. San Tiago Dantas filiou-se ao partido pelas mãos de Goulart (Gomes, 1 994), que, na Paraíba, valeu-se das cisões domésticas da UDN

para promover a filiação de Argemiro Figueiredo, um poderoso chefe político do Nordeste com quem mantinha relações de amizade. 1 56 Em São Paulo, o chefe pe­ tebista promoveu uma aproximação com Renato Costa Lima, empresário l igado ao setor agrícola, à exportação de café e ao grupo Rockefeller no Brasil. Costa Lima foi cogitado para ser o candidato do PTB ao governo de São Paulo em 1 958 e, a partir dessa ocasião, estaria sempre próximo de Goulart e do governo, chegando a ocupar o Ministério da Agricultura em 1 962.

O recrutamento de novos quadros estimulado por Goulart recebeu críticas dos antijanguistas do Rio Grande do Sul, B ahia, São Paulo e Minas, que de­

nunciaram em manifesto as distorções do PTB e a invasão de "negociatas e opor­ tunistas" na agremiação. Finalmente, no bojo dessas críticas, Fernando Ferrari foi escolhido líder do PTB na Câmara, numa demonstração de que Goulart controlava a estrutura do partido mas, como sempre, não as bancadas. A disj unção entre a direção e a bancada não impediu o partido de crescer. Esse cresci mento se deu pelo fato de o PTB ter-se aproximado do governo, por apresentar lideranças po­ pulares dispostas a defender um discurso reformista e nacionalista, e por se com­ portar, ainda, como pólo das críticas à timidez reformi sta do governo.

Finalmente, foi nesse ano de 1 958 que os setores reformi stas ganharam mais notoriedade, passando inclusive a ser conhecidos como Grupo Compacto. A exem­ plo do que ocorria no PSD, com a formação da Ala Moça, e na UDN, com a Bossa Nova, um grupo de parlamentares aparecia dentro do PTB como porta-voz de uma postura mais agressiva em termos programáticos. Em que pese à importância desse grupo em termos de forjar uma maior discussão ideológica dentro do partido, ele não representou de fato uma cisão. Suas propostas foram absorvidas pelos di­ rigentes, pelo menos em termos formais, e sua atuação parlamentar não foi res­ tringida ou censurada. O que de fato comprometia a unidade partidária era o re­ conhecimento da chefia de Goulart. O chefe petebista soube absorver as demandas reformistas e os que acompanharam Fernando Ferrari no cisma do MTR, poucos anos depois, o fariam não por motivações ideológicas mas principalmente por uma disputa interna de poder que atingiu limites insuportáveis para um partido com as características do PTB .

156 O discurso de Argemiro justificando sua entrada no PTB pode ser encontrado em O Estado de S. Paulo, 4-3- 1 958.

CA P íT U LO 7

DAS REFORMAS AO

GOLPE

No documento Sindicatos, carisma & poder: o PTB de 1945-65 (páginas 116-119)