As eleições de 1 958 representaram a primeira grande manifestação da naciona l ização da política populista. Novas lideranças foram consagradas nesse pleito, e até a UDN, sempre avessa aos apelos populares, adotou urna estratégia de ampli ação do apoio eleitoral. Nas palavras de Juraci Magalhães, a UDN tinha que ser "popular sem ser populista" ( 1 982). Naquele ano estavam em jogo 1 1 governos de estado, um terço do Senado e as 362 cadeiras da Câmara Federal e, pela primeira vez, o PTB empenhou-se na vitória de seus candidatos aos governos estaduais. As ar ticulações eleitorais começaram a ganhar fôlego nas eleições para a prefeitura de São Paulo, em março de 1 957. Nessas eleições, a direção nacional referendou o apoio a Adernar de Barros em troca do apoio do PSP, no ano seguinte, às can didaturas petebistas aos governos do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná, e à candidatura de Lutero Vargas ao Senado pelo Distrito Federal. A aliança PSP PIB, ainda que informal, dava prosseguimento à chamada Frente Populista.
No Rio Grande do Sul, Brizola opôs-se à candidatura de Loureiro da Silva, apoiada por Fernando Ferrari, e buscou até mesmo o apoio dos integralistas para sua eleição ao governo do estado. Ferrari, na ocasião, renunciou à l iderança do PIB na Câmara e converteu-se no símbolo da corrente petebista que questionava o personalismo do partido (Goulart e Brizola), exigindo defi nições programáticas. Essa pregação ideológica era, de fato, uma estratégia para a corrente anti-Jango e, se não teve êxito dentro do partido, foi vitoriosa junto à imprensa e ao eleitorado.
Nas eleições parlamentares de 1 958 Ferrari obteve o maior número de votos atri buído a um deputado federal em todo o país. De outro lado, Brizola era eleito governador.
No estado do Rio de Janeiro, ganhou expressão a figura de Roberto da Silveira, secretário-geral da Comissão Executiva Nacional do PIB e vice-governador do es tado, que alcançava agora o mandato de governador. Mas uma das mais intensas disputas dessa eleição ocorreu no Distrito Federal, opondo a UDN e o PIB . A UDN procurava se popularizar através da "caravana da liberdade" e do "caminhão do povo", técnicas eleitorais introduzidas na realização de comícios populares, cons tituindo-se em um dos principais fatores da vitória de Afonso Arinos para o Senado ( Lacerda, 1 978; e Vargas, L., 1 983, 1 985 e 1 988).
Nessas eleições o PIB conquistou finalmente cinco governos estaduais, o maior número em toda a sua história. Foi vitorioso no Piauí, elegendo Francisco Chagas Rodrigues, no Rio de Janeiro - em ambos os casos com o apoio da UDN - e ainda no Ceará, com o ex-ministro do Trabalho de Juscelino, Parsifal Barroso, no Amazonas, com Gilberto Mestrinho, e no Rio Grande do Sul, onde B rizola se elegeu com o apoio dos integralistas.
Enquanto o PIB ganhava cinco dos 1 1 governos em disputa, a UDN con quistava quatro e o PSD apenas dois. A UDN ainda ganhou na capital da República, fazendo o senador e a maior bancada para a Câmara Federal. A vitória do PIB na escolha dos governadores foi na verdade a grande novidade dessa eleição, pois até então o partido conseguira eleger apenas um governador - no Amazonas. Na Câmara e nas assembléias legislativas o crescimento do partido foi de 3% em nú mero de cadeiras, enquanto a mesma percentagem de senadores era mantida no Congresso. No geral, o crescimento eleitoral do PIB não foi significativo nessas eleições, o importante foi ter alcançado o maior número de cargos executivos de sua história. A lém do mais, o PIB que saía das eleições de 1 958, além de ser um parceiro executivo do governo federal, colocava em administrações estaduais os dois expressivos l íderes petebistas filiados então à facção de Goulart: Leonel Brizola e Roberto da Silveira. A política brasileira ficaria profundamente marcada' pela presença desses dois governadores, com nítida vantagem para o governador gaúcho, não só pela audácia de suas decisões no governo estadual, mas sobretudo devido à morte precoce do governador fluminense em 1 96 1 .
Nesse período, novos quadros foram incorporados ao PIB, refletindo a es tratégia de ampliar suas bases. San Tiago Dantas filiou-se ao partido pelas mãos de Goulart (Gomes, 1 994), que, na Paraíba, valeu-se das cisões domésticas da UDN
para promover a filiação de Argemiro Figueiredo, um poderoso chefe político do Nordeste com quem mantinha relações de amizade. 1 56 Em São Paulo, o chefe pe tebista promoveu uma aproximação com Renato Costa Lima, empresário l igado ao setor agrícola, à exportação de café e ao grupo Rockefeller no Brasil. Costa Lima foi cogitado para ser o candidato do PTB ao governo de São Paulo em 1 958 e, a partir dessa ocasião, estaria sempre próximo de Goulart e do governo, chegando a ocupar o Ministério da Agricultura em 1 962.
O recrutamento de novos quadros estimulado por Goulart recebeu críticas dos antijanguistas do Rio Grande do Sul, B ahia, São Paulo e Minas, que de
nunciaram em manifesto as distorções do PTB e a invasão de "negociatas e opor tunistas" na agremiação. Finalmente, no bojo dessas críticas, Fernando Ferrari foi escolhido líder do PTB na Câmara, numa demonstração de que Goulart controlava a estrutura do partido mas, como sempre, não as bancadas. A disj unção entre a direção e a bancada não impediu o partido de crescer. Esse cresci mento se deu pelo fato de o PTB ter-se aproximado do governo, por apresentar lideranças po pulares dispostas a defender um discurso reformista e nacionalista, e por se com portar, ainda, como pólo das críticas à timidez reformi sta do governo.
Finalmente, foi nesse ano de 1 958 que os setores reformi stas ganharam mais notoriedade, passando inclusive a ser conhecidos como Grupo Compacto. A exem plo do que ocorria no PSD, com a formação da Ala Moça, e na UDN, com a Bossa Nova, um grupo de parlamentares aparecia dentro do PTB como porta-voz de uma postura mais agressiva em termos programáticos. Em que pese à importância desse grupo em termos de forjar uma maior discussão ideológica dentro do partido, ele não representou de fato uma cisão. Suas propostas foram absorvidas pelos di rigentes, pelo menos em termos formais, e sua atuação parlamentar não foi res tringida ou censurada. O que de fato comprometia a unidade partidária era o re conhecimento da chefia de Goulart. O chefe petebista soube absorver as demandas reformistas e os que acompanharam Fernando Ferrari no cisma do MTR, poucos anos depois, o fariam não por motivações ideológicas mas principalmente por uma disputa interna de poder que atingiu limites insuportáveis para um partido com as características do PTB .
156 O discurso de Argemiro justificando sua entrada no PTB pode ser encontrado em O Estado de S. Paulo, 4-3- 1 958.
CA P íT U LO 7