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1. PREMISSAS DO SISTEMA ELEITORAL E DOS PARTIDOS

2.1. Partidos Políticos a suas abordagens

O Partido Político pode ser abordado por meio de uma perspectiva funcional, estrutural, e orgânica.

A abordagem funcional preocupa-se com a articulação de uma resposta à finalidade do Partido Político (MEZZAROBA, 2004, p. 107), de uma relação entre a funcionalidade do partido e às atividades partidárias, e consequências dessa atividade (CHARLOT, 1982, p. 37). Às atividades, segundo Charlot (1982, p. 39-40) ao citar os estudos de Fran Sorauf, seriam de “mobilização de homens em torno de uma organização política”, já que se apresenta como organização de reunião de indivíduos em prol do interesse comum; o “controle do Partido sobre as autoridades no exercício do Poder”, posto que se organizam em instituições representativas; e as “atividades do Partido junto ao eleitorado”. As consequências são as concernentes aos efeitos das ações dos Partidos Políticos.

Mezzaroba (2004, p. 109) explica que essa abordagem funcional tem como questão fundamental reservar ao Partido a função de “atuar como mero descongestionante da vida social e política”. Exemplificando essa abordagem, verifica-se em Luhmann (1980, p. 141) a observação segundo a qual as eleições políticas levam o conflito para dentro do sistema político, com a função de absorvê-los e sancionar o sistema politico como um todo. São, nessa perspectiva, instrumentos de legitimação do Poder (MEZZAROBA, 2004, p. 110).

A abordagem estrutural dos Partidos Políticos foi idealizada, dentre outros, por Robert Michels, na sua obra Sociologia dos Partidos Políticos, em 1911, quando analisou os partidos socialdemocratas europeus a partir da Lei de Ferro da Oligarquia. Na sua visão o Partido Político era uma estrutura oligárquica, com uma cúpula fechada de dirigentes inamovíveis, em prol dos seus próprios interesses, incapazes de realizar a Democracia, pois se tratava de um grupo de chefes que agiam sobre os outros, separando as massas e os dirigentes, o que acabaria por converter a Democracia em uma oligarquia (MICHELS, 1982, p. 23, 135- 136). Na mesma linha de pensamento, no combate aos Partidos Políticos, Moïsei Ostrogorski, critica a organização partidária, ainda em

1902, tentando demonstrar o perigo da sua existência, já que atuariam sem controle, e passariam a controlar a vontade dos cidadãos (CHARLOT, 1982, p. 128-130).

Maurice Duverger, ainda dentro da concepção estrutural, apresenta uma análise dos Partidos Políticos, na qual busca meios que possibilitem a apreciação sobre a estrutura dos partidos, entendido na sua organização como um aglutinador de indivíduos dispersos. No entanto, estruturada a organização, os indivíduos passam a secundários da vida partidária. (DUVERGER, 1987, p. 188- 194; MEZZAROBA, 2004, p. 113-114). Para Duverger (1987, p. 456) essa crença cega nos dirigente do Partido, seja pela propaganda seja pela persuasão, faz com que o espirito crítico seja recuado em favor da adoração.

Mezzaroba (2004, p. 115) destaca que esses autores, tem em comum o tratamento descritivo e estrutural dos partidos políticos, seja acompanhando a tendência liberal para combatê-los (Michels e Ostrogorski), seja para limitar-se na descrição (Duverger). De forma que, nas palavras de Mezzaroba, a visão descritiva de tais pensadores não gera nenhuma expectativa “transformadora consubstanciada na ideia de que o Partido Político poderia ser agente de mudanças de determinada realidade política, social ou econômica com objetivos revolucionários ou democratizantes”.

A última abordagem do Partido Político é a orgânica. A partir desse enfoque os Partidos Políticos são concebidos em uma perspectiva que vai além de meros organizadores e aglutinadores de forças, eles possuem um ideal para atingir seus objetivos de natureza ideológica25. Essa concepção ideológica remonta do pensamento de Marx e Engels, que com a publicação do Manifesto do Partido Comunista visavam resgatar a consciência do proletariado no seu papel diante da transformação da história. Para os pensadores, o Partido Político não agiria acima ou no lugar da classe proletariada, e sim como condutor e orientador, como meio mutável e

25

Por ideologia utiliza-se aqui o conceito de Charlot (1982, p. 35), segundo o qual ideologia é “um sistema de pensamento coerente, uma concepção [...] do mundo que constitui, para o grupo ou o indivíduo que adere, um guia”.

imperioso na consecução de um ideal (MEZZAROBA, 2004, p. 116-117). Radbruch (1979, p. 86-87), da mesma forma, via na ideologia de um Partido um meio não só de luta, mas “também um instrumento de captação de para conquista de novos adeptos”.

Engels possuía uma posição pela não burocratização dos Partidos Políticos, que adaptados a cada lugar e momento, deveriam refletir a realidade mais fidedigna possível da Sociedade. Explica Mezzaroba (2004, p. 117):

Para Engels, a Democracia, a diversidade e o debate no interior do Partido, em hipótese alguma comprometeria a sua existência enquanto Partido. São justamente esses fatores que tornariam o Partido mais sólido e aberto para as mudanças internas ou externas. Em síntese, o que constitui a forma de ser de uma Partido Político é a sua liberdade de crítica, combinada com a sua liberdade de ação, jamais a unidade interna de pensamento determinada por qualquer burocrata iluminado.

O Partido Político nessa abordagem orgânica deve canalizar aspirações, necessidades de uma universalidade e não apenas de pequenos grupos ou segmentos. O enfoque orgânico busca a adequação do programa do Partido aos seus objetivos, não apenas uma análise da sua estrutura ou organização. Veja-se que nessa perspectiva, o organismo partidário terá como fim não apenas a conquista de votos, mas, e acima de tudo, uma disposição de propor mudanças por meio dos seus programas, de forma a possibilitar uma transformação. Um programa ativo e permeável (CERRONI, 1982, p. 35-36).

Gramsci (1989, p.6) fazendo uma análise da obra de Maquiavel – O Príncipe, inserindo-o no seu tempo, retirou-lhe a pessoalidade individual, e lhe deu uma roupagem de organismo, “um elemento complexo de sociedade no qual já tenha se iniciado a concretização de uma vontade coletiva reconhecida e fundamentada parcialmente na ação”. Para Gramsci, tal organismo, visto por ele como o moderno príncipe, já estava determinado na história, como o Partido

Político, que nas palavras dele, é “a primeira célula na qual se aglomeram germes de vontade coletiva que tendem a se tornar universais e totais”.

Essa visão orgânica do Partido Político, será a utilizada neste trabalho, para a análise dos aspectos referentes às suas garantias constitucionais e consequentemente ao financiamento político-partidário.