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Pedagogia

No documento EVA MARIA SIQUEIRA ALVES (páginas 119-122)

2.3 As cadeiras lidas no Atheneu Sergipense

2.3.6 Pedagogia

A inclusão da cadeira de Pedagogia nas reflexões desse capítulo se deve ao fato de que esta integrava o primeiro Plano de Estudos do Atheneu Sergipense, ministrada no primeiro ano do curso Normal, contando com uma matrícula inicial de 5 alunos e tendo como lente Inácio de Souza Valadão. O interessado professor, quando da fundação do Atheneu Sergipense, esteve na Província da Bahia, por ordem do governo de Sergipe, observando os métodos de ensino lá desenvolvidos. Sugeria o referido professor os compêndios que deveriam ser adotados para essa cadeira no Atheneu Sergipense: Curso Prático de Pedagogia, de Deligault, Catecismo de Doutrina Cristã, de Fonseca Lima, Manual do Ensino Simultâneo,

traduzido por J. Portela, e o Resumo da História Sagrada do Manual enciclopédico.130 Embora

a cadeira específica de Religião venha incorporar os Planos de Estudos do Atheneu Sergipense em 1874, os títulos dos compêndios adotados na cadeira de Pedagogia indicam que conteúdos do catecismo e da doutrina cristã foram ministrados.

Na distribuição horária das aulas, a cadeira de Pedagogia esteve presente com uma carga horária de uma hora e meia, ampliando o número de alunos, que passou a 13 em 1873 e 18 em 1875. Naquele ano, a cadeira passou a denominar-se “Pedagogia, Calligraphia e

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Ministrada essa cadeira com quatro horas semanais, no 6o ano do curso de Humanidades do Atheneu Sergipense, fazia parte ainda do rol dos exames finais e de madureza do 7o ano em 1897.

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Ministrava-se Lógica no 6o ano do curso, com três horas semanais.

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Traduzido por Joaquim Pires Machado Portella e publicado pela Tipografia Universal de Recife em 1865, o

Curso Prático de Pedagogia de Deligault era destinado aos alunos das escolas normais primárias e aos

instrutores em exercício. Esta é considerada como a primeira obra de exposição metódica sobre o assunto publicada no Brasil (Tambara, 2003, p. 94).

O baiano José Joaquim da Fonseca Lima escreveu Catecismo histórico, moral e litúrgico da doutrina cristã para

uso das escolas primárias e dos fieis, e publicado em várias edições (Tambara, 2003, p.152).

O baiano, político e jornalista João Alves Portela fez na França o curso Normal, traduziu para o Português o

Legislação da Instrucção da Provincia”, evidenciando assim os conteúdos ministrados. José Carlos de Alambary Luz, diretor da Escola Normal da Província do Rio de Janeiro no período de 1868 a 1876, define a finalidade da cadeira de Pedagogia, como a “razão de ser das escolas normais” (Villela, 2002, p.98).

Se por um lado há lacunas documentais quanto aos conteúdos da cadeira Pedagogia ministrada no Atheneu Sergipense, em compensação há uma riqueza a ser explorada no conjunto das listas dos pontos dos concursos dessa cadeira para as escolas das Vilas e Povoados que definem o perfil profissional e o tipo de saberes exigidos. Destaque-se que esses concursos realizavam-se com bancas examinadoras compostas por professores do Atheneu Sergipense, que também se incubiam por definir seus conteúdos. No concurso para a cadeira de Pedagogia da Vila do Riachão, em 12 de maio de 1893, exigia-se: “Definição e seo objecto; Methodos de ensino; Educação physica; Educação moral; Educação em geral” (Ata da Congregação, 12 de maio de 1893).

No ano seguinte, com uma banca examinadora composta pelos professores Alfredo de Siqueira Montes, Francisco Teixeira de Farias e Candido Campos, ocorreu o concurso para a cadeira de Pedagogia para a Vila de São Paulo, constando dos seguintes pontos: Educação Intelectual; Educação Moral e Meios Disciplinares. A prova escrita, realizada em 25 de maio de 1894, exigia conhecimentos da Língua Nacional, de Aritmética e da História da Pedagogia. Para a prova oral, as exigências recaíam para todas as partes de cada uma das matérias do ensino primário.131

Baltazar de Araújo Góes (30/10/1853 - 13/01/1914), um dos professores da cadeira de Pedagogia da Escola Normal, trouxe a público, após longos anos de experiências no magistério, a obra Pedagogia – Apostillas de Pedagogia – precedidas de algumas noções de

Psychologia colhida de bons mestres. Após acurada leitura do trabalho, o Conselho Superior

da Instrução Pública, composto dos membros Dr. José Moreira de Magalhães, Severiano Cardoso e Francisco Monteiro de Carvalho Filho, emitiu o seguinte parecer:

Depois de acurada leitura do trabalho do Sr. Professor Baltazar Góes, APOSTILLAS DE PEDAGOGIA, o juizo unico que podemos fazer é o seguinte: É um trabalho utilissimo; e sua adopção impõem-se .

Riquissimo de proposições syntheticas, ornado de conceitos que muito revelam a erudição do auctor, é sobretudo o que se poderá chamar de um livro pratico.

Nasceu da experiência de longos annos de ensino; é talvez a razão por que o auctor, acertadamente, pensamos nós, não faz muitas referencias a trabalhos similares que há muito viram a luz da publicidade.

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Porque a Pedagogia, em rigor, não é sciencia feita, é ainda uma pesquisa, um estudo.

O mestre, o Pedagogo é como o clinico; e felizes os mestres que bem sabem aproveitar-se das experiencias accumuladas em seu nobre tirocinio.

“O mais... o mestre”, diz concisamente o auctor por todo o prefacio; o mais... o mestre, repetimos, tentando abundar no espírito do auctor, pois estamos sempre convictos que a Pedagogia não tem limites definidos; e muitas vezes nasce do instante o melhor ensinamento.

Nada mais accrescentamos a respeito do livro que examinamos.

Terminando, somos, pois, de parecer que seja o mesmo approvado e solicite-se do Governo sua adpção e impressão para o uso do ensino publico.

Com esse parecer, o Conselho Superior de Instrução aprovou por unanimidade, em 16 de maio de 1902, a obra de Baltazar Góes, que, lançada três anos depois e impressa por M. Orosco & C. do Rio de Janeiro, foi dedicada às alunas da Escola Normal e particular e aos colegas do magistério público e particular.

Defendendo a educação como o “estudo que procura os meios próprios para desenvolver e aperfeiçoar as faculdades e inclinações do homem, para tornar a vida mais fácil”, Baltazar Góes compõe sua obra de 96 páginas, dividindo-a em três partes: Educação Física; Educação Moral; Educação Intelectual – tendência tripartida dos manuais da época, conforme menciona Villela (2002, p.192) –, subdivididas em secções e capítulos, antecedidas dos “Prolegomenos – Pedagogia, Noções de Psychologia”, e acrescida com anexos de oito modelos de fichas de matriculas, cadernetas de notas e prêmios.

A Metodologia – “a parte da Educação intellectual que estuda os metodos de ensino” – proposta por Baltazar atentava-se aos vários aspectos da escola, sendo por ele dividida em Geral e Especial. Da primeira, “a que estabelece as regras ao ensino de qualquer matéria” ocupavam-se os programas, a enumeração ordenada das disciplinas, a forma, a maneira de explicar as lições, os processos, os meios empregados pelo professor para facilitar a compreensão do que explica e os modos, a maneira de organizar a escola e agrupar os alunos. Para cada matéria do programa escolar, propunha uma Metodologia Especial, um tratamento singular.

A legislação vigente do período era a do Decreto 501, de 5 de agosto de 1901. Fixava que o ensino em Sergipe, particular e público, deveria dividir-se em primário, normal e secundário. Com três anos de duração e objetivando ministrar aos aspirantes ao magistério primário as habilitações indispensáveis à sua profissão, “o ensino normal [devia ser] mais pratico de que theórico e baseado na experimentação de modo que os alumnos possam considerar a matéria por todas as suas faces”(Art.117). O Plano de Estudos do curso Normal compunha-se das cadeiras de: Gramática Nacional e Caligrafia; Aritmética; Língua Francesa;

Geografia Geral e História do Brasil, especialmente de Sergipe; Pedagogia e Metodologia; Elementos de Ciências Físicas e Naturais, Noções de Agronomia e de Higiene Doméstica; Instrução Moral e Cívica e explicação das Constituições Federal e Estadual (cf. Art. 113).

A investigação da Pedagogia de Baltazar Góes possibilitou compreender práticas educacionais de preparação de normalistas realizadas na Escola Normal de Sergipe, bem como princípios defendidos pelo autor na primeira década do século XX. Revela ainda ser ele conhecedor das questões educacionais não só oriundas da sua longa experiência de magistério, mas pelo contato, revelado pelos autores citados, que mantinha com o movimento

das idéias pedagógicas.132 Idéias essas influenciadas pela doutrina de Pestalozzi, sinalizadas

nas propostas de organização das salas, do uso do tempo pelo professor na distribuição das lições, ensinando aos aspirantes do magistério primário – alunos do Curso Normal –, que deviam partir sempre do concreto para o abstrato, do particular para o geral, de forma prática, utilitária, ressaltando a observação e a experimentação. Mostrava, pois, elementos necessários, àquela época, para um processo natural de ensino, que para um “mestre intelligente é o bastante – Ensinae com gosto e aprendereis a ensinar”.133

No documento EVA MARIA SIQUEIRA ALVES (páginas 119-122)