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O devedor pode ingressar com o pedido de recuperação judicial no juízo onde estiver localizado o seu principal estabelecimento, desde que estejam preenchidos os requisitos exigidos pela Lei de Falência (art. 48, I a IV). Essa petição inicial deve conter os elementos listados no artigo 51, LF, como seguem:

[...]

I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira;

II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial;

b) demonstração de resultados acumulados;

c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;

III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;

V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;

VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;

VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;

VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;

IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados.

[...](BRASIL, 2005).

Estando a documentação em ordem, o juizproferirá o despacho favorável aoprocessamento da recuperação judicial e, no mesmo ato, determinará as seguintes providências, conforme o que estabelece o artigo 52, LF:

I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei; II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei;

III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6o desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se

processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1o, 2o e 7odo art. 6o desta Lei e as

relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei;

IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores;

V – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.

§ 1o O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial, que

conterá:

I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recuperação judicial;

II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação de cada crédito;

III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7o, § 1o, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano de

recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei. [...] (BRASIL, 2005).

Registra-se que não cabe ao juiz fazer análise da viabilidade ou não da empresa, eis que de acordo com o artigo 52, LF, contendo toda documentação exigida, o juiz deferirá o processamento da recuperação, ou seja, não pode o juiz fazer juízo de valor concernente à viabilidade da empresa. Nesse sentido, o enunciado 46 do Conselho da Justiça Federal determina que: “Não compete ao juiz deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a extrajudicial com fundamento na análise econômico-financeira do plano de recuperação aprovado pelos credores.” Portanto, quem fará a análise da viabilidade serão os credores (BRASIL, 2005).

Destaca-se que o deferimento do processamento da recuperação judicial produz os seguintes efeitos jurídicos:a qualquer momento, os credores poderão requerer a convocação da assembleia geral de credores para constituição do Comitê de Credores, o qual não é obrigatório, e também poderão requerer a substituição de seus membros (art. 52, §2º, LF); o devedor não poderá desistir do pedido de recuperação, salvo se a assembleia geral de credores aprovar (art. 52, §4º, LF); o devedor tem o prazo improrrogável de 60 dias para apresentar o plano de recuperação judicial, sob pena de não o fazendo ter sua falência decretada (art. 53,

caput, LF). (BRASIL, 2005); credores terão o prazo de 15 dias para apresentar habilitação e

divergência, com base na primeira lista apresentada pelo devedor e que consta no edital de publicação da decisão de processamento da recuperação judicial.

Destaca-se que, a partir da publicação de referido edital, o administrador judicial assume a atribuição de elaborar o quadro geral de credores. Trata-se de documento organizado pelo administrador judicial que mostra a relação de todos os credores com os respectivos valores e classificação de crédito, segundo a ordem estabelecida no artigo 83, I a VIII, LF. Esse quadro é elaborado com base na primeira lista apresentada pelo devedor e nas informações prestadas pelos credores e baseadas nos documentos do devedor (DAMIAN, 2015).

A primeira lista de credores é apresentada pelo próprio devedor, aoingressar com o pedido de processamento de recuperação judicial, consoante artigo 51, III, LF, pelo qual o devedor deve apresentar na petição inicial a “relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito [...].” (BRASIL, 2005). A partir da publicação dessa primeira relação, os credores têm 15 dias para apresentar habilitação ou

divergência ao administrador judicial, sendo que, após esse prazo, serão considerados credores retardatários(art. 10, caput, LF), o que os torna impossibilitados do direito ao voto na deliberação da assembleia geral de credores, salvo os credores trabalhistas (art. 10, §1º, LF). (BRASIL, 2005). Depois desse prazo de cinco dias, com base nas habilitações ou divergências apresentadas, o administrador judicial tem o prazo de 45 dias para publicar em edital a segunda lista de credores (art. 7, §2º, LF). Publicada essa segunda lista, o Ministério Público, o comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios têm o prazo de 10 dias para apresentar impugnação ao juiz, “apontando ausência de crédito ou manifestando-se contra legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado”(art. 8º, LF), sendo que os credores que tiverem seu crédito impugnado têm o prazo de cinco dias para contestar (art. 11, LF).Não havendo impugnações, o juiz homologará o quadro geral de credores (art. 14, LF). (BRASIL, 2005).