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A verificação e a habilitação dos créditos tanto na recuperação judicial quanto na falência consistem em procedimentos que visam o apuração do passivo do devedor, ou seja, o montante das dívidas e a especificação dos credores, para organizar o quadro geral de credores. Esses procedimentos são realizados pelo administrador judicial, consoante art. 7º, da LF, “com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e os apresentados pelos credores, podendo contar com auxílio de profissionais ou empresas especializadas” (BRASIL, 2005).

Quanto ao momento de verificação dos créditos, discorre Damian (2015, p. 235) que: “No pedido de recuperação judicial, antecede à decisão de concessão do benefício, e depois que o juiz defere o processamento do pedido, enquanto que na falência, é subsequente à sentença declaratória”. Baseado no levantamento da verificação dos créditos o administrador judicial elaborará a lista de credores, com a classificação de seus créditos e o valor, e a publicará, tendo os credores, o prazo de 15 dias, para apresentar habilitações e divergências de créditos. Importante mencionar que as habilitações apresentadas fora do prazo supracitado serão consideradas retardatárias, as quais, na recuperação judicial, os titulares, excetuados os derivados da relação de trabalho, não terão direito a deliberação da assembléia geral de credores. Na falência ocorre de igual modo, salvo se na data da assembleia geral, já

houver sido homologado o quadro geral de credores contendo o crédito retardatário (§2º, art. 10, da LF). (BRASIL, 2005).

Após o transcurso do prazo de 15 dias, das habilitações e divergências de créditos, o administrador judicial terá 45 dias para publicar a segunda lista, já contendo novos créditos porventura habilitados, devendo indicar local, dia e hora, para que, qualquer credor, o Ministério Público, o Comitê de Credores, o devedor ou seus sócios, tenham acesso aos documentos que fundamentam essa relação, os quais poderão, no prazo de 10 dias, contado da publicação, apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de crédito, ou manifestando-se legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado (artigos 7º, §2º e 8, da LF). Frisa-se que as habilitações de créditos retardatárias, se apresentadas antes da homologação do quadro-geral de credores, serão recebidas como impugnação, e se apresentadas posteriormente à homologação do quadro-geral de credores, poderão requerer a retificação do quadro geral para inclusão do respectivo crédito (§§ 5º e 6º, art.10, LF). (BRASIL, 2005).

Os credores que tiverem o seu crédito impugnado terão o prazo de 5 dias para contestar, juntando documentos e provas pertinentes (art. 11, LF). Caso não houver impugnações o juiz homologará a relação de credores (art. 14, LF). Cumpre dizer que o administrador judicial é o responsável pela consolidação do quadro-geral de credores, a ser homologado pelo juiz, conforme dispõe o art. 18, da LF. E, ainda, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência poderá o administrador judicial, qualquer credor, o comitê e o representante do Ministério Público, pedir exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, no caso de vícios ou documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da consolidação do quadro geral de credores (art. 19, caput, LF). (BRASIL, 2005).

Os credores sãohabilitados na recuperação judicial ou na falência por categoria de crédito, considerando-se sua natureza. Essa classificação serve para indicar a ordem de preferência quanto aos pagamentos dos credores do falido ou para compor os grupos de credores que deliberam sobre a aceitação do plano de recuperação apresentado pelo devedor. (DAMIAN, 2015, p. 238).Nesse sentido, a classificação desses créditos está contida no artigo 83, da Lei n. 11.101/05, sendo dividida em 8 classes, como seguem:

I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;

III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias;

IV – créditos com privilégio especial, a saber:

b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;

d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e empresas de pequeno porte de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de

dezembro de 2006

V – créditos com privilégio geral, a saber:

a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;

c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

VI – créditos quirografários, a saber:

a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;

b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento;

c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;

VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;

VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato;

b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício. (BRASIL, 2005).

“Em regra, o voto do credor será proporcional ao valor do seu crédito” (RAMOS, 2012, p. 752). Entretanto, essa regra é excepcionada na recuperação judicial, no caso previsto no art. 45, §2º, da LF, que trata sobre a votação do plano de recuperação judicial, dispondo que, na classe de credor trabalhista e acidente de trabalho, a votação será simples, ou seja, leva em conta o número de credores, e não o valor de seus créditos; da mesma forma, ocorre em relação aos credores enquadrados como microempresa e empresa de pequeno porte (RAMOS, 2012; DAMIAN, 2015).

Ainda, via de regra, só pode votar o credor habilitado, que constado quadro geral de credores, portanto, enquanto o quadro de credores não estiver pronto, podem votar os credores constantes da relação preliminar, e em qualquer caso, também pode votar os credores admitidos por decisão judicial e aqueles que determinam reserva de valor (RAMOS, 2012, p. 752).

Por outro lado, não poderá votar na recuperação judicial, aqueles credores em que, o plano de recuperação não alterou as condições originárias de pagamento do seu crédito (§3º, art. 45, da LF). Igualmente não terão direito ao voto os credores mencionados nos §§3º e 4º, do art. 49, da LF, “que basicamente são créditos bancários, decorrente de alienação fiduciária, arrendamento mercantil e adiantamento a contrato de câmbio.” Haja vista que esses créditos não se submeterão aos efeitos da recuperação judicial, permanecendo-se as condições originais (RAMOS, 2012, p. 757).

3 NOÇÕES GERAIS ACERCA DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

No presente capítulo, abordam-se aspectos a respeito do instituto da Recuperação Judicial, sua definição, requisitos para sua concessão, a organização do quadro geral de credores, a apresentação do plano de recuperação, o encerramento do processo e hipótese(s) de convolação da recuperação em falência.