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Em linhas gerais, quando protocolada a petição inicial com pedido de recuperação judicial, o juiz ao analisá-la irá verificar se foi instruída com a documentação exigida no artigo 51 da Lei n. 11.101/05, e se for o caso, determinará que se emende. Aqui, o juiz está adstrito à verificação da admissibilidade do pedido com base na documentação legal exigida, não cabendo a ele fazer prévio juízo de valor no que se refere à viabilidade ou não da empresa.Esseé o entendimento exarado no julgado da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, pelo qual não é dado ao juiz se imiscuir no aspecto da viabilidade econômica da empresa, uma vez que tal questão é de exclusiva apreciação assemblear, como segue:

DIREITO EMPRESARIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO EM ASSEMBLEIA. CONTROLE DE LEGALIDADE. VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA. CONTROLE JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. 1. Cumprida as exigências legais, o juiz deve conceder a recuperação judicial do devedor cujo planotenhasido aprovado em assembléia (art. 58, caput, da Lei n. 11.101/2005), não lhe sendo dado se imiscuir no aspecto da viabilidade econômica da empresa, uma vez que tal questão é de exclusiva apreciação assemblear. 2. O magistrado deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação judicial – no que se insere o repúdio a fraude e o abuso de direito -, mas não controle de sua viabilidade econômica. Nesse sentido, Enunciados n. 44 e 46 da I Jornada de Direito Comercial CJF/STJ. 3. Recurso especial não provido. (BRASIL, 2014).

Portanto, estando toda a documentação em ordem, o juiz exarará despacho de processamento, em outros termos, uma autorização de processamento da recuperação judicial, a partir da qual, começa a fluir o prazo de 60 dias para que a recuperandaapresente seu plano de recuperação, sob pena de não o fazendo, ter seu pedido de recuperação convolado em falência (arts. 51 e 52, LF). (BRASIL, 2005).

Apresentado o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital a fim de cientificar os credores acerca do seu recebimento e fixará prazo para, querendo, os credores manifestarem objeções (art. 53, parágrafo único, LF). (BRASIL, 2005). Se porventura no prazo estipulado nenhum credor apresentar objeção ao plano apresentado, “o silêncio dos credores é entendido como a aprovação tácita da proposta apresentada”, caso em

que o juiz homologará o plano de recuperação (art. 58, LF). (TOMAZETTE, 2017). Entretanto, se qualquer credor apresentar objeção ao plano, “o juiz deve, então, convocar a Assembleia dos Credores para discutir e votaroplano de recuperação judicial do devedor, as objeções aduzidas, bem como sugerir modificações eventuais” (COELHO, 2016, p. 235). Referida assembléia é “responsável pela aprovação ou desaprovação do plano de recuperação, em decisão, a princípio, soberana” (SIMIONATO, 2008; MAMEDE, 2008 apud. Tomazette, 2017, p. 287). A decisão da assembleia é soberana quanto ao mérito do plano, porém cabe ao juiz realizar a análise de sua legalidade, ou seja, caso o plano contenha uma cláusula contrária à norma de ordem pública, deve o juiz vetá-la.

Ressalta-se que, “terão direito de voto na assembléia os credores sujeitos à recuperação, cujas condições de seus créditos sejam alteradas no plano”, ou seja, se o plano não alterou as condições originárias de determinado crédito o titular do direito ao crédito não possui direito de voto. (TOMAZETTE, 2017,p. 287). Destaca-se queo juiz convocará a assembleia para deliberar acerca do plano quando houver objeção de qualquer credor, em data não excedente a 150 dias contados do despacho que deferiu o processamento da recuperação (art. 56, caput, e § 1º, LF).(BRASIL, 2005). Essa convocação será feita por meio de “edital publicado no órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e das filiais do devedor, com antecedência mínima de 15 dias” (art. 36, LF). Além disso, “cópia do aviso de convocação da assembleia deverá ser afixada de forma ostensiva na sede e filiais do devedor”(MAMEDE, 2017, p. 83). O edital de convocação deverá conter os seguintes elementos (art. 36, I a III, LF):

I – local, data e hora da assembléia em 1a (primeira) e em 2a (segunda) convocação,

não podendo esta ser realizada menos de 5 (cinco) dias depois da 1a (primeira);

II – a ordem do dia;

III – local onde os credores poderão, se for o caso, obter cópia do plano de

recuperação judicial a ser submetido à deliberação da assembléia. (BRASIL, 2005).

Ademais, “a assembleia será presidida pelo administrador judicial, que designará 1 (um)secretário dentre os credores presentes”(art. 37, LF), devendo a assembleia serinstalada, “em primeira convocação, com a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor, e, em segunda convocação, com qualquer número” (art. 37 § 2º, LF).(BRASIL, 2005; MAMEDE, 2017, p. 83).

4.3 APRESENTAÇÃO DE OBJEÇÕES AO PLANO PELA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES

Segundo Melo (2016, p. 101), “A objeção constitui na peça processual por meio da qual o credor manifestará as razões da discordância com os termos do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor”, podendo qualquer credor objetar ao plano, contanto que o nome dele conste na relação de credores ou no quadro geral de credores.O prazo para os credores apresentarem objeções ao plano é de 30 dias, se o plano já foi apresentado, esse prazo inicia-se do edital que conste o rol de credores, elaborado pelo administrador judicial; “caso contrário, o marco inicial é o edital próprio sobre a apresentação do plano; portanto, o prazo para objeções é contado do edital que for publicado por último”(BARROS NETO, 2012, p. 125).Fluindo referido prazo sem que os credores tenham apresentado objeções, interpreta-se a inércia como anuência tácita ao plano, caso em que, o plano será homologado pelo juiz, sendo desnecessário convocar a assembleia (arts. 55 e 58, LF).(BRASIL, 2005).

No que se refere à legitimidade para apresentar objeção ao plano, Mamede (2017, p. 166) ensina que:

É necessário haver interesse jurídico, direto ou indireto, isto é, é preciso que o plano afete direito do credor ou, no mínimo tome provável que, de sua execução, resulte prejuízo para o credor, como menor chance de ver seu crédito adimplido. Não tem legitimidade para se opor o credor que não é afetado em nada. Entender o contrário seria prestigiar a temeridade (MAMEDE, 2017, p. 165).

No mesmo vértice, defende Barros Neto (2012, p. 125) que: “não se admite que o administrador judicial ou o Ministério Público apresentem objeção; mas, se entenderem que há ilegalidades, devem se manifestar nesse sentido, por forma livre”.

A objeção é feita por meio de petição, e não necessita combater “a viabilidade econômica do plano, podendo simplesmente colocar aspectos que digam respeito exclusivamente ao credor, como a onerosidade da proposta para si e outros de sua classe [...]” (MAMEDE, 2017, p. 166). De acordo com o entendimento de Barros Neto (2012, p. 125),a objeção deve ser fundamentada pelo credor, devendo expor a razão pela qual discorda do plano, sob pena de sê-la rejeitada liminarmente pelo juiz. Destaca-se que na objeção também pode o credor expor formas alternativas de recuperação (CRUZ, 2018). Conforme o Superior Tribunal de Justiça: “admite-se que o credor desista da objeção apresentada desde que antes de convocada a assembleia.” (BARROS NETO, 2012, p. 126).

Ademais, em não havendo objeção ao plano no prazo legal, o juiz homologará o plano de recuperação; em sendo rejeitado pela assembleia geral de credores, o juiz decretará a falência do devedor (art. 56 § 4º, LF).(BRASIL, 2005).

4.4 DELIBERAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES ACERCA DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A assembleia geral de credores será dividida em quatro classes para a apuração do quórum necessário à aprovação do plano de recuperação judicial, conforme estabelece a legislação falimentar (art. 41, I a IV, LF), como segue:

Art. 41. A assembléia-geral será composta pelas seguintes classes de credores: I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho;

II – titulares de créditos com garantia real;

III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados.

IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte. (BRASIL, 2005).

Ordinariamente o plano é considerado aprovado quando:

Todas as classes anuem com ele, sendo que na classe dos credores trabalhistas e daqueles enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte bastaa maioria simples dos presentes (independentemente do valor), ao passo que nas outras duas torna-se necessária, além da aprovação da maioria simples, a concordância dos credores representativos da maior parte dos créditos (art. 45, LF). (BRASIL, 2005; LIMA FILHO, 2016, p. 84-85).

Por outro lado, caso não atinja a aprovação de todas as classes, mas tenha anuência considerável dos credores, a legislação falimentar (art. 58, § 1º, LF) prevê uma forma alternativa de aprovação, cabendo ao juiz usar de seu poder discricionário para decidir a questão, quando preenchidos os seguintes requisitos, cumulativamente:

[...] voto favorável de credores representativos de mais da metade dos créditos presentes à assembléia; aprovação de pelo menos metade das classes presentes à assembléia; voto favorável de mais de 1/3 na classe que houver rejeitado o plano; e ausência de tratamento diferenciado na classe que rejeitou o plano(art. 58, LF). (BRASIL, 2005; LIMA FILHO, 2016, p. 85).

Na assembleia geral, os credores não necessariamente irão votar favorável ou não ao plano, poderãotão só sugerir alterações, consoante a legislação falimentar (art. 56, § 3º, LF), pela qual:“Art.56 [...] § 3º. O plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações na assembléia geral, desde que haja expressa concordância do devedor e em termos que não implique diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes.” (BRASIL, 2005). Esse poder de deliberar acerca do plano “inclui a faculdade de discutir, debater e, enfim, votar. E em razão disso, a assembleia pode até ser suspensa para, assim, permitir que a análise

e a reconstrução do plano seja mais adequada, merecendo a concordância das partes: credores e devedor” (MAMEDE, 2017, p. 170).

Ademais, de acordo com Mamede (2017, p. 174), a fase de deliberação, inicia-se após a instalação da assembleia e resolução de questões de ordem, isto é, incidentes porventuraarguidos, sendo viável a realização de “votações preliminares para aferir, a cada passo, a possibilidade ou não de devedor e credores, por suas classes, chegarem a um acordo.”Portanto, essa votação inicial poderia resultar na imediata aprovação do plano, “vencendo as objeções que foram apresentadas.”Assim, “se a proposta de plano de recuperação merecer voto favorável da maioria dos credores presentes em cada uma das classes, o plano será considerado aprovado encerrando-se a assembleia” (MAMEDE, 2017, p. 174).Por outro lado, se o plano “não for aprovado nesta primeira votação, é obrigação do administrador judicial registrar o resultado na ata da assembléiageral” (MAMEDE, 2017, p. 174), inclusive para fins de concessão da recuperação judicial, como também para possibilitar negociação entre os credores e o devedor, buscando outra proposta que atenda a ambas as partes.Além disso, convém ressaltar que, obviamente, o devedor não possui direito de votar, mas dispõe de direito de voz e de manifestar-se. Ainda, no que tange às votações pela assembleia, esclarece Mamede (2017, p. 171) que:

Na medida em que novas proposições sejam feitas, outras votações podem ser realizadas, encerrando-se a assembléia, se, em qualquer delas, atingir-se o quorum de aprovação ou prosseguindo-se nos debates, sempre que possível, quando não seja alcançado. Somente o impasse, a ausência de alternativas viáveis deve conduzir a uma votação final, recusando a empresa, em definitivo a alternativa da recuperação judicial e, com isso, legando-a à falência.

Portanto, observa-se que pode haver várias votações enquanto haja alterações no plano, terminando-se a assembleia quando atingindo o quórum necessário para aprovação, ou quando não atingido, conduzirá a falência. Mamede (2017, p. 174), diz que “a assembleia geralpara deliberação sobre o plano de recuperação judicial da empresa é – e deve ser – um espaço de negociação entre o devedor e os credores”.

Segundo Barros Neto (2012), a validade da assembleia, está sujeita a observância de formalidades imprescindíveis, as quais visam a proteger os direitos das partes. Sendo a primeira delas, a assinatura da lista de presença pelos credores que se realiza no momento da instalação da assembleia, sendo que os credores atrasados ficam impedidos de participar, pois, caso contrário, os quóruns de aprovação seriam modificados a todoinstante, cada vez que um credor ingressasse na reunião. Assim, instalada a assembleia, passa-se à composição da mesa diretiva dos trabalhos, dois membros comporão a referida mesa, sendo eles o administrador

judicial, o qual presidirá; e um dos credores presentes, escolhido pelo administrador para ser o secretário. Na sequência, o presidente anuncia os pontos da pauta, dando início aos debates, em que podem ser solicitados e apresentados esclarecimentos sobre a proposta, bem como proposto plano alternativo ou alterações no plano original. Quando encerrados os debates, inicia-se a votação, devendo o presidente informar previamente qual método fora utilizado, ou seja, a forma de contagem (votos eletrônicos,por escrito, com mãos levantadas etc.) é livre, assim como a ordem em que são dados os votos (por classes, por valor, alfabética, pela lista de presença etc.).Por fim, após o cômputo das votações, o resultado será anunciado pelo secretário, momento em que o presidente declarará encerrada a assembleia e determinará a lavratura da ata (BARROS NETO, 2012).

A ata de encerramento da assembleia deve conter: o nome dos presentes e as assinaturas do presidente, do devedor, e de dois credores de cada classe. Essa lista e a ata devem ser entreguespelo administrador judicial ao juiz em 48 horas (art. 37, § 7º). (BARROS NETO, 2012). Durante a assembleia, o plano pode sofrer alterações, desde que o devedor expressamente concorde (art. 56, § 3º, LF). Pode o devedor recusar a alteração integral ou parcial do plano, e até mesmo preferir a falência a uma recuperação judicial que não atenda a seus interesses. Ademais, para ter validade, o plano não pode implicar em diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes, o que caracterizaria abuso de direito, previsto na legislação falimentar (art. 56, §3 º, LF).(MAMEDE, 2017).

4.5TIPOS DE DECISÕES JUDICIAIS AO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Os tipos de decisões judiciais acerca do plano de recuperação são duas, ou o juiz concede a recuperação judicial, ou decreta a falência.A decisão que concede a recuperação judicial, apesar de ter natureza jurídica de sentença, é recorrível via agravo de instrumento (art. 59, LF), podendo dela recorrer qualquer credor ou o Ministério Público, desde que demonstre interesse na interposição do recurso. Se a decisão proferida for pelo indeferimento da concessão do benefício, o recurso cabível é apelação, uma vez que a sentença é de extinção do processo (SILVA, 2016).

Dessarte, apresentado o plano e não havendo objeção de nenhum credor, ou caso havendo objeção, mas sendo o plano aprovado pela assembleia, o juiz irá proferir decisão concedendo a recuperação judicial (arts. 57 e 58, LF). (DAMIAN, 2015). Desse modo, não

contendo vícios ou não violando norma de ordem pública, cabe ao juiz apenas homologar o plano aprovado, já que a decisão da assembleia é soberana (SILVA, 2016).

Nesse sentido, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, pelo qual o plano aprovado por deliberação em assembleia geral de credores será judicialmente homologado, tornando-se em princípio imutável, submetendo, independentemente de discordância ou não a todos os credores, como segue:

[...] O Plano de Recuperação Judicial apresentado pela empresa-devedora deve ser submetida à apreciação da Assembleia Geral de Credores, o qual se aprovado, por deliberação que bem atenda ao quórum qualificado da lei, será judicialmente homologado e tornar-se-á, em princípio, imutável. Uma vez aprovado o plano de recuperação judicial , todos os credores a ele se submetem, independetemente de discordância ou, como in casu, de inércia do credor. (BRASIL, 2010).

Por outro lado, se após o despacho de processamento o devedor não apresentar o plano no prazo legal, ou se o plano é apresentado mas os credores não o aprovam em assembleia, o juiz proferirá decisão decretando a falência.Assim sendo, é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, pelo qual o descumprimento do plano de recuperação não impede o juiz de convolar a recuperação judicial em falência, como segue:

[...]CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA EM CASO DE DESCUMPRIMENTO DO PLANO. FATO QUE NÃO IMPEDE O JUÍZO DE CONVOLAR A RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA. AUSÊNCIA DE OFENSA AOS ARTS. 61, § 1º, 73, IV, 94, III, "G", DA LEI N. 11.101/2005. SUSPENSÃO DE AÇÕES E EXECUÇÕES CONTRA TERCEIROS GARANTIDORES DAS DÍVIDAS. NÃO CABIMENTO. AFRONTA AOS ARTS. 49, § 1º, E 59, DA LEI N. 11.101/05. NOVAÇÃO QUE NÃO SE ESTENDE AOS DEVEDORES SOLIDÁRIOS OU COOBRIGADOS EM GERAL. SÚMULA 581 DO STJ. PLANO DECOTADO NO PONTO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (SANTA CATARINA, 2019).

Ademais, a falência pode ser decretada se o devedor não cumprir o que foi estabelecido no plano de recuperação judicial, durante o prazo de dois anos, o que implica em convolação da recuperação em falência (COELHO, 2016). Se o descumprimento ocorrer depois desse prazo, ocredor poderá executar individualmente o plano ou requerer ao juiz a decretação da falência(art. 62, LF). Segundo Damian (2015, p. 245):

A sentença que concede a recuperação constitui título executivo judicial, cabendo agravo contra a decisão, que pode ser interposto por qualquer credor e pelo Ministério Público. O devedor permanece em recuperação judicial até que todas as obrigações previstas no plano sejam honradas. O descumprimento de qualquer das obrigações assumidas acarreta a convolação da recuperação em falência. Neste caso, os credores têm reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial.

Ademais, “cumpridas as obrigações vencidas no prazo legal de até dois anos depois da concessão da recuperação judicial, o juiz decreta por sentença o encerramento da

recuperação judicial”(DAMIAN, 2015, p. 245). Por outro lado, durante o processo de recuperação pode o juiz decretar a falência quando:

[...] por deliberação da assembléia geral de credores; pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação judicial no prazo legal; quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, pela assembleia geral de credores; ou por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação (Art. 73, I a IV, LF). (DAMIAN, 2015, p. 246).

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo manifestou entendimento no sentido de decretar a falência da empresa, a pedido do administrador judicial, por descumprimento de obrigações assumidas no plano de recuperação judicial durante o prazo de dois anos, não havendo necessidade de deliberação da assembleia geral de credores, como segue:

[...] Descumprimento de obrigações assumidas através do plano de recuperação judicial, durante o prazo bienal de supervisão judicial, que autoriza a decretação da quebra, mesmo exofficio. Desnecessidade, nessas circunstâncias, de prévia deliberação por parte da assembléia-geral de credores. Inteligência do art. 61, § 1º, da Lei n. 11.101/2005. Requerimento de convolação formulado pela Administradora Judicial. Regularidade. [...] (SÃO PAULO, 2015).

Destaca-se que é nula a cláusula que impossibilita a convolação da recuperação judicial em falência, conforme decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, como segue:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. HOMOLOGAÇÃO. CONTROLE JUDICIAL DE LEGALIDADE. INEXISTÊNCIA DE TRATAMENTO DIFERENCIADO PARA CREDORES DE UMA MESMA CLASSE. PRAZO DE CARÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DA EXTENSÃO DA NOVAÇÃO AOS COOBRIGADOS. NULIDADE DA CLÁUSULA QUE IMPOSSIBILITA A CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA EM CASO DE DESCUMPRIMENTO DO PLANO. 1. O objeto do presente recurso é o controle judicial da legalidade de cláusulas do plano de recuperação judicial homologado pelo Juízo a quo. 2. Cumpre salientar que cabe aos credores a análise da viabilidade econômico-financeira da recuperação judicialda empresa postulante do benefício, recaindo sobre o Poder Judiciário a realização do controle de regularidade do procedimento e de legalidade do plano de recuperação. Precedentes. 3. Assim sendo, as alegações da parte agravante quanto ao deságio, correção monetária, juros remuneratórios, inserem-se, em verdade, na averiguação da viabilidade econômico-financeira do plano, o que cabe aos credores. 4. No mesmo sentido, não há falar em tratamento diferenciado de credores da mesma classe, devendo ser respeitada a expressão legítima do interesse individual dos credores e o princípio da maioria que rege a assembleia geral de credores. 5. No entanto, assiste razão à agravante no que tange à ilegalidade da disposição no palno recuperatório que prevê a suspensão das ações movidas contra os coobrigados/garantidores e as novações de dívidas e a extinção de exigibilidade dos créditos perante os coobrigados/fiadores/avalistas . Isso porque os efeitos da novação provocada pela aprovação do plano de recuperaçãonão afetam os créditos garantidos por terceiros, por expressa previsão dos artigos 49, § 1º e 59, caput,

ambos da Lei nº 11.101/2005. 6. Outrossim, quanto à impossibilidade de convolação da recuperação judicial em falência na hipótese de descumprimento do plano, a qual vai disposta na cláusula 6.5, tem-se que tal previsão afronta o artigo 61, §1º, da Lei n. 11.101/05, devendo ser expurgada do plano. 7. O prazo de carência de dois anos para o início do pagamento dos créditos a contar do trânsito em julgado da decisão que homologar deve ser reformulado. Precedentes desta c. Câmara. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO(RIO GRANDE DO SUL, 2018).

4.6 POSSIBILIDADES DE ALTERAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL APÓS SUA APROVAÇÃO EM ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES

Ressalta-se que, após a aprovação do plano de recuperação judicial pela assembleia de credores, o plano vai à apreciação do juiz, que estando tudo em termos irá homologá-lo, momento em que esse passa a ser um título executivo judicial, ficando o devedor em recuperação sob supervisão do administrador judicial, dos credores e do judiciário pelo prazo de dois anos. Nesse período, havendo descumprimento de qualquer obrigação prevista,o juiz pode decretar a falência do devedor (art. 61, § 1º,LF). No entanto, de acordo