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Penhora de imóveis

No documento Ação executiva (páginas 107-114)

14 FASE DA PENHORA

14.5 Penhora de imóveis

Antes de mais, importa sublinhar que as regras estabelecidas para a penhora de imóveis aplicam-se subsidiariamente à penhora de bens móveis e de direitos (cfr. art.ºs 772.º e 783.º).

A penhora de coisas imóveis73 efetua-se por comunicação eletrónica74

enviada pelo agente de execução e dirigida à conservatória do registo predial

72 O modelo aprovado serve para a penhora de imóveis (art.º755.º, n.º 3), móveis (766.º e 768.º, n.º 1) e

estabelecimentos comerciais (art.º 782.º, n.º 1).

73 “Art.º 204.º do Cód. Civil: 1 - São coisas imóveis os prédios rústicos e urbanos; as águas; as árvores, os arbustos e

os frutos naturais, enquanto estiverem ligados a solo; os direitos inerentes aos imóveis mencionados nas alíneas anteriores; as partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos. 2 - Entende-se por prédio rústico uma parte delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham autonomia económica e por prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que lhe sirvam de logradouro. 3 - É parte integrante toda a coisa móvel ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência.

Art.º 205.º: São móveis todas as coisas não compreendidas no artigo anterior.”

74 A comunicação eletrónica das penhoras (“Registos On Line”) encontra-se hoje disponível para os agentes de

execução (solicitadores de execução e advogados) através dos endereços www.predialonline.mj.pt (para imóveis) e www.automovelonline.mj.pt (para automóveis). Para tanto é necessário que o utilizador tenha um certificado

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competente75, valendo a comunicação como apresentação para o efeito da inscrição

no registo, ou mediante apresentação naquele serviço de declaração por ele subscrita, sem prejuízo de também poder ser feita nos termos gerais (correio ou pessoalmente – cfr. art.º 755.º, n.º 1), mediante modelo aprovado – art.º 41.º do Código de Registo Predial na redação que lhe foi dada pelo Dec. Lei 125/2013, de 30 de agosto.76

Os tribunais ou os oficiais de justiça, quando realizem diligências próprias do

agente de execução, não necessitam de utilizar o modelo aprovado por deliberação do conselho diretivo do Instituto dos Registos e Notariado, IP, quando sejam apresentados presencialmente ou por via postal (cfr. o n.º 3 do art.º 2.º da Portaria n.º 621/2008, de 18/7 – regulamenta, além do mais, os elementos que devem constar do pedido de registo predial).

O pedido de registo contém a indicação do apresentante, dos factos e prédios a que respeita, o pedido e a indicação dos documentos entregues, devendo ser assinado, levando o selo branco em uso no tribunal – art.º 3.º, 4.º e 5.º da Portaria n.º 621/2008, de 18/7 e art.º 42.º do Código do Registo Predial.

Só depois de receber da conservatória a respetiva certidão dos direitos e encargos sobre o prédio penhorado ou sua disponibilização por via eletrónica (cfr. art.ºs 755.º, n.º 2 do CPC e 110.º do Código do Registo Predial) é que o agente de execução lavra o respetivo auto de penhora e procede à afixação do edital, de modelo aprovado pela Portaria n.º 282/2013, de 29 de agosto, na porta ou noutro local visível do imóvel (cfr. n.º 3 do art.º 755.º).

O registo da penhora é considerado ato urgente (cfr. art.ºs 755.º, n.º 5 do

CPC e 75.º, n.º 3 do CRP) devendo ser pagos, em simultâneo com o pedido ou antes deste, os emolumentos ou taxas devidas.

Os tribunais, no que respeita à comunicação das ações, decisões e outros

procedimentos e providências judiciais sujeitas a registo, em que se englobam os atos de registo no âmbito da ação executiva e enquanto no exercício das funções de agente de execução, são considerados sujeitos com obrigação de registar – cfr. al. b) do n.º 1 do art.º 8.º-A e estão dispensados do pagamento dos emolumentos e

digital, possibilidade ainda não comtemplada para os oficiais de justiça. Assim, nada mais nos resta do que proceder ao envio da declaração nos termos gerais.

75 Art.º 48.º, n.º 1 do Cód. Reg. Predial (com a redação dada pelo Dec. Lei n.º 125/2013, de 30 de agosto):”Sem

prejuízo do disposto quanto às execuções fiscais, o registo da penhora é efetuado com base em comunicação eletrónica do agente de execução ou em declaração por ele subscrita.”

76 Sobre a matéria de registo predial aconselhamos a leitura do texto desta DF intitulado “Alterações ao Código do

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Manual de apoio / Ação Executiva taxas, devendo tais quantias entrar em regra de custas (cfr. art.º 151.º, n.ºs 1 e 4 do Código do Registo Predial).

Não se mostra ainda possível aos oficiais de justiça a exercer as funções da competência dos agentes de execução registar a penhora através de comunicação eletrónica, pelo que deverá o ato ser praticado pelos meios normais (correio registado ou pessoalmente), encontrando-se dispensados da obrigação do preenchimento de modelo oficial – art.º 2.º, do Código de Registo Predial.

O valor do auto de penhora é agora meramente formal, já que o momento da

sua elaboração ocorre depois de efetuada a penhora, ato este que se limita à inscrição no registo, quer a título provisório ou definitivo (cfr. art.ºs 70.º, 92.º e 101.º do CRP).

Assim, após a receção da certidão da conservatória é elaborado o auto de

penhora, devendo o agente de execução proceder, posteriormente, à afixação de um edital na porta ou noutro local visível do imóvel penhorado, adotando o modelo

aprovado pela Portaria n.º 282/2013, de 29 de agosto.

Se da certidão resultar que o registo da penhora foi efetuado provisoriamente por natureza, dado se encontrar inscrito como titular pessoa diversa do executado, o agente de execução, sem necessidade de despacho judicial, procede à citação do titular inscrito para, no prazo de 10 dias, declarar se o prédio ou direito lhe pertence.

Enquanto o registo provisório não passar a definitivo, a execução prossegue os trâmites normais, salvo decisão contrária do juiz sobre questão submetida à sua apreciação pelas partes ou pelo agente de execução, mas, em qualquer circunstância, fica impedida a adjudicação dos bens (cfr. art.º 799.º e segs.), a consignação judicial dos respetivos rendimentos (cfr. art.º 803.º e segs.) ou a venda (cfr. art.ºs 811.º e segs.).

 Depositário

Em regra, o cargo de depositário é atribuído ao agente de execução ou quando este seja oficial de justiça, o depósito é confiado a pessoa por ele designada – cfr. art.º 756.º, n.º 1.

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Manual de apoio / Ação Executiva Casos especiais de depositário:

 O próprio executado, mediante o consentimento do exequente ou quando o imóvel penhorado seja a sua casa de habitação – al.ª a);

 O arrendatário em caso de imóvel arrendado. Sendo vários os arrendatários, o agente de execução escolherá um a quem caberá, também, cobrar as rendas e depositá-las numa instituição de crédito à ordem do agente de execução ou da secretaria de execução nas execuções em que o agente de execução seja oficial de justiça – al.ª b) e n.º 2;

 O retentor relativamente a bem penhorado que seja objeto de direito de retenção derivado de incumprimento contratual judicialmente verificado – al.ª c).

 Se o agente de execução for oficial de justiça, este designa depositário uma pessoa idónea.

Posse dos bens

O depositário deve tomar posse efetiva dos bens penhorados, cuja entrega deverá constar do auto de penhora, a menos que o cargo incumba ao próprio executado, caso em que apenas se fará menção do facto no auto.

Quando for oferecida alguma resistência, o agente de execução pode (e deve)

solicitar diretamente o auxílio das autoridades policiais - art.º 757.º, n.º 2.

Pelos serviços prestados terão as referidas autoridades direito a uma

remuneração, a fixar nos termos de uma portaria conjunta dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da administração interna e da justiça, ainda não publicada, e que constitui encargo para efeito de custas processuais (art.º 757.º, n.ºs 6 e 7). Se o imóvel estiver com as portas encerradas ou quando se preveja que venha a ser oferecida alguma resistência, deve o agente de execução solicitar ao juiz que determine a requisição do auxílio de força pública, arrombando-se as portas, se necessário, e lavrando-se auto de ocorrência – art.º 757.º, n.º 3 -, diligências estas que só poderão realizar-se entre as 7 e as 21 horas, no caso de se tratar de casa habitada ou duma dependência desta.

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Direitos e deveres do depositário

Estabelece o art.º 760.º que ao depositário incumbem, além dos deveres gerais de zelo definidos nos art.ºs 1187.º e seguintes do Código Civil, o dever de administrar os bens e a obrigação de prestar contas (cfr. art.º 952.º), podendo o agente de execução socorrer-se de colaboradores para o auxiliarem no desempenho do cargo, sob a sua responsabilidade (cfr. art.º 1198.º do Cód. Civil e n.º 3 do art.º 760.º CPC).

A exploração dos bens penhorados é feita nos termos acordados entre exequente e executado, e na falta de acordo compete ao juiz decidir, depois de ouvidos o depositário e feitas outras diligências consideradas necessárias.

Obrigação de mostrar os bens – art.º 818.º

Até ao dia designado para a abertura das propostas em carta fechada, é o depositário obrigado a mostrar os bens a quem os pretender examinar, podendo esta fixar as horas em que, durante o dia, faculta a inspeção, devendo o agente de execução indicá-las no anúncio e no edital da venda. A fim de possibilitar ao depositário a indicação das horas em que faculta a inspeção dos bens penhorados, para serem divulgadas no anúncio e edital deve aquele ser previamente notificado para o efeito. Esta notificação pode ter lugar conjuntamente com a decisão do agente de execução sobre a modalidade da venda.

Incidente de remoção

O depositário que deixar de cumprir escrupulosamente os seus deveres pode ser removido pelo juiz, a requerimento de qualquer interessado, ou por iniciativa do agente de execução, (cfr. art.º 761.º).

Esta remoção não se aplica ao depositário agente de execução/solicitador de execução ou advogado, sem prejuízo do disposto no n.º 8 do art.º 720.º.

Apresentado e junto o requerimento ao processo executivo, o depositário é oficiosamente notificado pela secretaria para responder no prazo de 10 dias, após o que será o processo concluso ao juiz para prosseguimento dos trâmites normais dos incidentes de instância previstos nos art.ºs 292.º a 295º.

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A solicitação de diligências no âmbito da penhora:

Compete ao agente de execução realizar todas as diligências do processo de execução, tais como a penhora e os pagamentos, conforme dispõe o art.º 719.º n.ºs 1 e 2, 720.º do CPC e 42.º da Portaria 282/2013, de 29 de agosto.

Apenas, as diligências executivas que impliquem a deslocação para fora da área da comarca da execução cujos custos se revelem desproporcionados podem ser efetuadas, a solicitação do agente de execução e sob sua responsabilidade, por agente de execução do lugar onde deva realizar-se a diligência e na falta deste, pode ser requerido ao Juiz que o ato seja praticado por oficial de justiça – 719.º n.5 e 722.º, n.º 1, al. d).

Como é sabido, a penhora de imóveis realiza-se por comunicação eletrónica do agente de execução à Conservatória:

Assim sendo, na penhora de imóvel, o pedido de colaboração de outro agente de execução ou oficial de justiça da área onde se pretende a realização do ato, fica inviabilizada dado que a mesma se realiza através da inscrição da penhora no registo.

Quanto à elaboração do auto de penhora, tendo em atenção que o mesmo se

destina, por um lado, a tornar conhecida de forma inequívoca a situação jurídica do imóvel penhorado na data da respetiva inscrição no registo, e por outro lado a acompanhar a citação/notificação do executado, bem como as demais citações constantes do art.º 786.º, também não se torna necessária qualquer solicitação para o efeito.

A questão do depositário deve também ser abordada na mesma perspetiva, tudo sob a égide do princípio da economia processual, pelo que o mesmo pode muito bem ser notificado da sua constituição, de acordo com o comando do art.º 756.º do CPC, com cópia do auto de penhora, entretanto já elaborado, dando-lhe conhecimento dos deveres que sobre si impendem a dos direitos que lhe assistem, enquanto se mantiver em funções, sem prejuízo de poder requerer a escusa do cargo (cfr. 1187.º e segs. do C. Civil, e 760.º, 761.º e 771.º do CPC).

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Convém aqui relembrar que, no direito anterior à reforma de 2003, a penhora de imóvel era realizada por termo nos autos que o depositário tinha obrigatoriamente que assinar (art.º 838.º -n.º 3 na redação anterior ao D.L. n.º 38/2003, de 8/3).

Essa obrigatoriedade não existe hoje em dia uma vez que, como já se referiu, a penhora se realiza com a sua inscrição no registo.

Abordando agora a situação da entrega efetiva, parece-nos também que tal não constitui qualquer reserva à possibilidade de o depositário poder ser constituído através de notificação nos autos, já que, mesmo no direito anterior, ao assinar o termo, na secretaria, o depositário não tomava posse efetiva de coisa nenhuma. Para tanto, e se tal se justificar, pode o mesmo solicitar diretamente o auxílio da força pública, no caso de ser oposta alguma resistência, ou solicitando a sua determinação ao juiz, no caso de necessidade de arrombamento de portas, nos termos do disposto no art.º 757.º, n.º s 2 e 3).

Conversão do arresto em penhora

Se os bens a penhorar tiverem sido anteriormente arrestados, a penhora consiste na conversão do arresto por despacho do agente de execução, com efeitos reportados à data do arresto (cfr. art.ºs 822.º, n.º 2 do CC e 762.º do CPC). Tratando- se de bens sujeitos a registo, o agente de execução promove oficiosamente o registo da penhora junto da conservatória competente e averba a conversão no auto do arresto.

Note-se que o averbamento, no auto do arresto, deve ser sempre efetuado, ainda que se trate de bens não sujeitos a registo.

Levantamento da penhora

Além dos casos previstos no art.º 751.º n.º 6, tal como quando proceda a oposição à execução (cfr. art.º 785.º, n.º 6), a penhora pode ser levantada, pelo agente de execução, a requerimento do executado com fundamento em ato ou omissão que não seja da sua responsabilidade causadora da paragem da execução durante seis meses - cfr. n.º 1 do art.º 763.º.

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A penhora é levantada logo que decorra o prazo para a reclamação da decisão do agente de execução (10 dias – art.º 149.º) ou após o trânsito em julgado da decisão judicial que a determinou.

Qualquer credor reclamante, a partir do termo do primeiro trimestre decorrido após o início da imobilidade do exequente, pode praticar o ato deixado de praticar por este, promovendo o andamento do processo relativamente aos bens sobre os quais o credor detenha garantia real (cfr. art.º 850.º, n.º 3) até que o exequente retome a prática normal dos atos subsequentes – cfr. art.º 763.º, n.ºs 4 e 5.

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