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Pensar em uma sociedade criativa

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Pensar em uma sociedade criativa

Há um notório esforço de alguns países para tornar a criatividade um elemento importante para o desenvolvimento econômico e social. O governo da Inglaterra, por exemplo, reconheceu a necessidade para desenvolver o potencial de cada jovem através da criatividade e que a prosperidade econômica britânica e a coesão social dependiam disso (Comitê Consultivo Nacional de Educação Criativa, 1999). Através de seus representantes, como a Secretaria de Estado da Educação e Emprego, o governo inglês demonstrou

preocupação em preparar os jovens para o século XXI com seus desafios emergentes, como a tecnologia, não apenas para melhorar a alfabetização e habilidades matemáticas, mas para uma preparação ampla, através de uma educação flexível e motivadora, reconhecendo os diferentes talentos de todas as crianças.

Em fevereiro de 1998 foi criado o comitê consultivo NACCCE pela Secretaria de Estado da Educação e do Emprego e Secretaria de Estado da Cultura e Desportos da

Inglaterra. A função primordial do comitê é realizar recomendações aos secretários de Estado sobre o desenvolvimento cultural e criativo através da educação formal e informal de jovens com 16 anos de idade, que ocorre ao final da escolaridade obrigatória. O objetivo é subsidiar propostas para princípios, políticas e práticas nacionais. Em 1999, o NACCCE produziu um relatório com recomendações sobre o Currículo Nacional de ensino e recomendações para uma ampla estratégia nacional objetivando o desenvolvimento da educação criativa e cultural. Na visão dos ingleses, para tornar uma sociedade criativa é necessário desenvolver políticas educacionais com abrangência nacional.

Não apenas o governo da Inglaterra, mas os 27 Estados Membros da União Europeia (EU) recentemente uniram esforços para desenvolver ações fortalecedoras da criatividade e

inovação (Neves, 2010). Assim, estabeleceram 2009 como o ano europeu da criatividade e inovação. O entendimento do grupo europeu foi no sentido de reconhecer a necessidade de todos para desenvolver sua capacidade de criação e inovação. Enfatizou-se tal necessidade por razões de natureza social e econômica e que a capacidade para inovar está intrinsecamente relacionada à criatividade, que é considerada por Alencar e Fleith (2009) o componente ideacional da inovação e que para os Estados membros da EU significa o motor da inovação. Ao instituir 2009 como o Ano Europeu da Criatividade e Inovação (AECI), a EU reconheceu a criatividade como fundamental para o desenvolvimento das competências pessoais,

profissionais, empresariais e sociais, assim como promotora de bem-estar dos indivíduos na sociedade. Além disso, também entendeu que ações como a ideia do AECI reforçam o papel das competências criativas no desenvolvimento da sociedade do conhecimento e o

reconhecimento da importância da criatividade e inovação na economia pós-industrial, além da valorização dos talentos da arte e da cultura (Neves, 2010), importantes para a economia criativa.

Os termos economia criativa e indústria criativa são considerados recentes, contando não mais que 15 anos de uso pelas pessoas. Seu surgimento ocorreu quando antigas tradições do trabalho cultural e industrial, como design, produção e decoração se uniram a outras atividades impulsionadas pela tecnologia digital: publicidade, design de roupa, desenho gráfico e mídia de imagens em movimento (Newbigin, 2010). Aquilo que é produzido pela economia criativa possui além do valor de troca (procurando atingir o preço ótimo de

mercado), o valor funcional que é determinado pela maneira como é utilizada essa produção. Produtos da economia criativa possuem uma espécie de valor expressivo, um significado cultural que pouco ou nada possuem de relação com os custos da sua produção.

Para Jowell e Hutton (2007) há uma nova classe mundial de consumidores que participam de uma espécie de co-produção daquilo que lhes são disponibilizados para

consumo. O dispositivo iPod da Apple, vídeos sob demanda, compras pela internet, roupas de grife, serviços bancários on-line são exemplos de produtos de criatividade e inovação,

reflexos de atividades da economia que responde às características da nova classe de

consumidores imersa na era digital. Essa espécie de co-produção entre consumidor e produtor ocorre através de uma tecnologia da informação interativa, em que os consumidores oferecem entradas de informações constantemente modificadas, levando à propulsão da economia do conhecimento.

A cultura da criatividade na sociedade do conhecimento altera a organização da atividade econômica e social em diversos países (Casani, Pomeda & Sánchez, 2012). A cultura no sentido lato de produções artísticas está deixando de ser um bem público destinado às elites e passando para atividade econômica submetida às regras do mercado das indústrias criativas. Além disso, as indústrias tradicionais estão incorporando aspectos do design e a criatividade em seus produtos como alternativa para diferenciação em relação à concorrência. Assim, aspectos intangíveis oriundos do pensamento criativo se tornam, fundamentais. Assim, observa-se a influência que a criatividade tem no desenvolvimento econômico da sociedade do conhecimento.

Conforme a visão de Jowell e Hutton (2007), há evidências da tendência dos seres humanos para expressarem suas emoções e sentimentos através de uma estética nas diversas expressões culturais, como na música, arte, teatro ou sites interativos. Essa característica alimenta a indústria criativa, cujo crescimento internacional possui destaque para os Estados Unidos da América e em seguida a Inglaterra, com variedade de indústrias criativas, incluindo televisão, música, publicidade, edição, software de computador, cinema, arquitetura e design. Todas as atividades da economia criativa geram produtos com valor expressivo através da geração de novas perspectivas, prazeres e experiências. Acrescentam ao conhecimento das pessoas e estimulam emoções.

No Brasil, a Secretaria da Economia Criativa (SEC), fundada no Ministério da Cultura, define a economia criativa como um complexo constituído por setores, da seguinte forma: “os setores criativos são todos aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de valor simbólico, elemento central da formação do preço, e que resulta em produção de riqueza cultural e econômica” (Brasília, 2011).

A SEC ilustra uma atividade da economia criativa com o caso de um pintor, que associa expressão artística com a técnica para pintar e que essa associação representada na tela corresponde ao elemento central do valor cultural e econômico, o que vai além dos materiais utilizados em sua produção, como telas, tintas e pincéis. Outro exemplo ocorre no caso do designer gráfico, cujo trabalho resulta em valor simbólico a partir de um processo de criação, associando habilidade técnica. Ou seja, apesar da necessidade de dispositivos físicos e softwares, essencialmente o valor do bem criativo está na capacidade humana para imaginar e criar, seja de forma individual ou coletiva.

O estado de Pernambuco vem apresentando destaque décadas mais recentes no que se refere ao ambiente criativo e inovador, que se tornou consistente através do Arranjo Produtivo de Tecnologia da Informação e Comunicação denominado Porto Digital (PD). Com a

participação de instituições, empresas, universidades e governos, surgiu o Porto Digital em julho de 2000, na cidade de Recife. Além de caracterizado como arranjo produtivo, também é um projeto de desenvolvimento econômico que agrega investimentos públicos, da iniciativa privada e das universidades, compondo um sistema local de inovação que tem, atualmente, 200 instituições entre empresas de TIC, Economia Criativa, serviços especializados e órgãos de fomento. As empresas do Porto Digital faturaram em 2010 cerca de R$ 1 bilhão, 65% dos quais originados de contratos firmados fora do Estado de Pernambuco. O PD emprega mais de 6000 pessoas e possui 500 empreendedores. A atuação deste arranjo produtivo envolve atividades intensivas de conhecimento e inovação, que são software e serviços de tecnologias

da informação e comunicação e economia criativa, com ênfase nos segmentos de games, multimídia, cine-vídeo-animação, música e design.

Em Recife, além do Porto Digital, há também o Instituto Delta Zero Para o

Desenvolvimento da Economia Criativa, que é uma associação, fundada em janeiro de 2012, composta por empresas e instituições das diversas cadeias produtivas criativas, baseada no conceito construído pela Secretaria de Economia Criativa, do Ministério da Cultura brasileiro.

O Instituto Delta Zero atualmente possui 82 empreendimentos integrantes (cerca de 250 profissionais) dos seguintes segmentos: música, cinema, jogos digitais e animação, design, multimídia, publicidade, televisão, rádio, equipamentos culturais, espaços de lazer, moda, arquitetura, fotografia, artes visuais, artes cênicas, mercado editorial, gastronomia, artesanato, turismo cultural, cultura digital, manifestações tradicionais e cultura popular, produção de conteúdo audiovisual. O principal objetivo do Instituto Delta Zero é a promoção do potencial criativo, artístico e cultural, associando suas atividades inclusive com as ações empreendedoras e empresas instaladas no Porto Digital.