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A TMC e o Sócio-Construtivismo de Lev Sminovich Vygotsky

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.8 Hipercultura

2.8.3 A TMC e o Sócio-Construtivismo de Lev Sminovich Vygotsky

Vygotsky (1991) procurou desenvolver uma teoria sócio-construtivista enfatizando as funções psicológicas superiores. Seu intuito foi incluir a identificação dos mecanismos

cerebrais subjacentes a uma determinada função, ou seja, aceitar bases genéticas e fisiológicas para a psicologia humana; sua teoria incluía a explicação detalhada da história humana e do indivíduo ao longo do desenvolvimento, estabelecendo relações entre formas simples e complexas do que parecia ser o mesmo comportamento; deveria também incluir a

especificação do contexto social em que se deu o desenvolvimento do comportamento. Dessas observações, decorre que as pessoas nascem com bases biológicas comuns (anatomicamente, fisiologicamente e dotadas de processos inferiores), mas com distintos processos superiores, como controle consciente do comportamento e pensamento abstrato. Assim, os processos envolvidos nas funções superiores variam conforme o sistema de símbolos usados nas diferentes culturas, o que implica para cada indivíduo a aquisição destes instrumentos culturais através das interações sociais. Vygotsky atua com a função mediadora de

instrumentos e signos na atividade humana (Oliveira, 2010), tecendo uma analogia entre o papel dos instrumentos de trabalho na transformação e no controle da natureza, assim como também fala a respeito do papel dos signos no papel de instrumentos psicológicos,

ferramentas auxiliares no controle da atividade psicológica. Através dessa analogia com instrumentos de trabalho que os signos surgem como marcas externas, fornecendo suporte concreto para a ação do homem no mundo.

Os sistemas de representação da realidade são socialmente fornecidos e é o grupo cultural no qual o indivíduo se desenvolve que fornece formas de perceber e organizar aquilo que é real, as quais irão constituir os instrumentos psicológicos mediadores entre o indivíduo e o mundo. Esses sistemas, propõe Vygotsky, uma vez externos e que passam a ser internos, são internalizados no indivíduo através de um processo que na visão de Souza (2004) pode ocorrer através de uma operação que inicialmente representava uma atividade externa e que passa a ocorrer internamente, utilizando-se de inteligência prática, atenção voluntária e

memória. Também pode ocorrer através de um processo interpessoal que é transformado em processo intrapessoal (atenção voluntária, memória lógica e formação de conceitos).

Assim, conteúdos mentais ocupam o lugar de objetos, das situações do mundo real através de processo de representação mental.

Vygotsky exorta que a relação do homem com o mundo não é direta. Há uma mediação através de ferramentas, identificadas em dois tipos de elementos: instrumentos e signos. Estes propiciam como mediadores o desenvolvimento cognitivo. Através da interação social e seus processos, o indivíduo internaliza gradualmente o sistema de signos de uma cultura. Assim, este autor russo propôs a Zona de Desenvolvimento Proximal, a qual

representa a distância entre o nível de desenvolvimento real, que é aquele no qual o indivíduo se encontra e que o torna em condições de resolver certos problemas de modo independente e o nível de desenvolvimento potencial, que é aquele que ocorre sob intermediação de um adulto ou pessoa mais capaz. Souza (2004) traz aproximações entre a TMC e a teoria Sócio- Construtivista de Vygotsky, especialmente a Zona de Desenvolvimento Proximal, à medida que considera o papel da cultura, dos sistemas de símbolos e dos processos de

desenvolvimento e internalização de tais sistemas para o funcionamento da cognição humana.

A proposta de estruturas sócio-culturais para o desenvolvimento cognitivo, propõe que ferramentas, linguagem, práticas sociais e conceitos de uma sociedade levam a determinadas capacidades lógicas a serem construídas pelos indivíduos. A contribuição da TMC expansiva a estes conceitos, indica atribuição às estruturas sócio-culturais um papel na cognição

individual que iria além do fornecimento de contextos, lógicas e conteúdos para o

desenvolvimento. Esta perspectiva apresenta os diversos mecanismos sócio-culturais como responsáveis tanto por uma função coletiva, a qual beneficiaria os participantes enquanto grupo ou a sociedade como um todo (benefícios econômicos, políticos e educacionais, entre

outros), assim como representa uma função para cada indivíduo através da disponibilização de meios extracerebrais de processamento de informação. De forma mais específica, a TMC conduz à ideia de que as interações humanas, iniciando com aquelas ocorridas em grupos sociais simples até outras ocorridas em sociedades complexas baseadas na cultura, também funcionam como dispositivos computacionais, utilizados para atender à coletividade e a demandas dos indivíduos que dela fazem parte. Com tal explicação, decorre que a

internalização de sistemas simbólicos, ocorre não apenas através da participação social, mas além disso também por meio “da constatação da possibilidade da utilização das redes e cadeias sociais como dispositivos computacionais e também da gradual efetivação desse uso para fins pessoais” (Souza, 2004, p. 124).

A conclusão proposta na TMC a respeito de impactos da teoria de Vygotsky

identificada na Revolução Digital, é que esta demonstra mudanças na sociedade e cultura. O Sócio-Construtivismo identifica uma expectativa de mudanças nos processos de pensamento dos indivíduos. Além disso, há um maior repertório de conceitos, instrumentos e práticas sócio-culturais em decorrência daquilo que foi trazido por novas tecnologias e o que foi construído ao redor destas em aspectos humanos. Assim, resulta que essas mudanças estão associadas a processos de desenvolvimento e funcionamento cognitivo mais complexos e com maior alcance. Além do que, a TMC acrescenta ao cenário descrito, o acesso a redes de indivíduos e ferramentas mais complexas e potentes do que outras mais antigas (novos mecanismos externos de mediação), o que proporciona para as pessoas maior capacidade computacional de ferramentas ao seu favor. Assim, as mentes individuais são expandidas em comparação do que ocorria antes.