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PERCEÇÃO DE PROFESSORES ACERCA DO CONHECIMENTO SOBRE AS RECOMENDAÇÕES

No documento Final 18 LG (páginas 30-34)

(2010), para crianças e jovens e adultos

A análise deste conteúdo tem como premissa o facto das experiências anteriores na EF se traduzirem nas atitudes e, neste caso específico, no conhecimento sobre as recomendações acerca dos níveis de AF (WHO, 2010), revelando-se outro indicador fundamental para a compreensão das perceções dos docentes das outras áreas disciplinares sobre o valor da EF. Por outro lado, uma vez que é largamente reconhecido a responsabilidade da escola ao nível da criação de climas institucionais favoráveis à promoção de estilos de vida ativos, a aquisição deste saber pode e deve ser feita em contexto educativo, existindo normas de referência para a prática de AF reconhecidas e adotadas pela Comunidade Europeia (WHO, 2010) de que os alunos devem ter conhecimento.

Atualmente, relativamente às recomendações de prática de AF tendo em conta os seus benefícios para a saúde, consideram-se outros parâmetros de avaliação, para além dos níveis de AF, nomeadamente relacionados com os níveis de sono (Chaput et al., 2016), obesidade (Gotay et al., 2013) e sedentarismo (Carson et al., 2016). Atendendo ao facto de a participação regular nas atividades físicas reduzir não só o risco de contrair doenças não transmissíveis, atuando como um fator de prevenção primária, mas também por se apresentar como um fator determinante no controlo de peso e gasto energético, foram estabelecidas diretrizes relativas aos níveis de AF para que possa haver benefícios na saúde (Bandura, 2004). Isto é, recomendações globais que determinam relações entre frequência (número de vezes), duração (e.g., quanto tempo), intensidade (e.g., dispêndio energético em ordem ao tempo), tipo (e.g., resistência aeróbia e anaeróbia, força, flexibilidade) e quantidade total de AF, para todos os indivíduos (WHO, 2010).

Assim, para crianças e jovens, entre os 5 e os 17 anos, as recomendações passam por: a) prática de atividade física todos os dias, pelo menos 60 minutos; b) maioritariamente atividade aeróbia, isto é, onde o consumo de oxigénio e a necessidade do mesmo se igualam, solicita o aumento do trabalho respiratório, cardiovascular e músculo esquelético; c) actividade física para além dos 60 minutos diários que resultará em benefícios extra para a saúde; d) atividades de intensidade vigorosa realizadas, incluindo as que fortalecem os músculos e os ossos, pelo menos 3 vezes por semana.

Para os adultos, entre os 18-64 anos, a atividade deve considerar: a) 150 minutos por semana de atividade de intensidade moderada com metabolismo predominatemente aeróbio: b) ou pelo menos 75 minutos de atividade de intensidade moderada a intensa, ou combinação entre intensidade moderada e intensa; c) a atividade aeróbica deve ter uma duração de pelo menos 10 minutos; d) deve incluir atividades de fortelacimento osteo-muscular, treino de força, envolvendo o maior número de grupos musculares, pelo menos 2 vezes por semana e) para efeitos benéficos extra na saúde a atividade física por semana deve ter uma duração de 300 minutos, ou aumentos de 150 minutos de atividade aeróbia de intensidade moderada a vigorosa por semana, ou uma combinação equivalente de atividade de intensidade moderada a vigorosa. As recomendações para as pessoas adultas também se aplicam aos adultos mais idosos (≥ 65 anos), isto é, predominantemente aeróbia, ou 75 minutos por semana de atividade aeróbia de intensidade vigorosa, ou o equivalente em atividade de intensidade moderada e vigorosa, para efeitos benéficos extra na saúde a atividade física por semana deve ter uma duração de 300 minutos, ou aumentos de 150 minutos de actividade aeróbia de intensidade moderada a vigorosa por semana, ou uma combinação equivalente de actividade de intensidade moderada a vigorosa. Deve incluir atividades de fortelacimento osteo-muscular, treino de força, envolvendo o maior número de grupos musculares, pelo menos 2 vezes por semana. Na impossibilidade de cumprimento destas metas, por limitações clínicas ou crónicas, sugere-se que que sejam o mais possível fisicamente ativos (Haskell, et al., 2016; WHO, 2010).

A American College of Sports Medicine [ACSM], (2014), considera dois níveis de intensidade para classificar os níveis de AF: atividade moderada (gasto calórico entre 3,5 a 7 kcal/min – e.g., caminhar; passear o cão), e atividade vigorosa (e.g., gasto calórico de mais de 7 kcal/min - corrida; corrida com cadeiras de rodas; andar de patins). De forma mais compreensível com base numa escala de 10 pontos, em que o esforço mínimo é 0, e o máximo é 10, considera-se intensidade moderada os esforços percebidos entre 5 e 6. Os esforços inferiores a 5 são considerados leves e acima de 6, vigorosos (Escala de percepção subjectiva de esforço ou escala de Borg, [PSE], Gunnar, 2000).

Sobre o nível de conhecimento dos professores das outras áreas disciplinares acerca das recomendações relativas à AF com benefícios para a saúde, desconhecem-se estudos. Todavia, recrutamos a investigação realizada com alunos universitários de EF, isto é, candidatos a professores de EF, professores de EF e com população adulta, em geral.

A investigação revela níveis reduzidos de conhecimento sobre níveis de aptidão física relacionada com a saúde e o conhecimento acerca das recomendações de prática de AF com efeitos para a saúde, nos estudantes candidatos a professores de EF e nos professores de EF (Alves, 2016; Castelli & Williams, 2007; Keating, et al., 2009; Petersen, Byrne & Cruz 2003; Marques, 2010).

No estudo de Harris (2014), nenhum estudante, futuro professor de EF, identificou corretamente as recomendações para AF, de crianças e jovens e, somente seis, num total de sessenta e seis, acertaram parcialmente. Vinte e um alunos consideraram que AF deveria ter uma duração de trinta minutos, cinco dias por semana. Vinte e um estudantes mencionaram que os alunos deviam ser ativos duas horas por semana. E cerca de treze alunos deram respostas imprecisas (e.g., ser ativo o mais possível; muito ativo, mas não em demasia).

Castelli e Williams (2007) questionaram 73 estudantes do curso de EF sobre o seu nível de conhecimento acerca das recomendações para crianças e jovens e concluíram que 66% não identificaram adequadamente os níveis de intensidade, 47%, não souberam qual a frequência adequada, e 41% desconheciam a duração apropriada.

Num estudo realizado em Portugal com estudantes de mestrado e professores de EF, verificou-se que os alunos do 1º ano tinham melhor conhecimento acerca das recomendações para crianças e jovens (61% conheciam, 39% não sabiam), do que os do 2º ano (46% conheciam, 54% não conheciam). Relativamente aos professores de EF 9,1% conheciam as recomendações e 90,9% não identificaram (Alves, 2016).

Em Inglaterra, Craig e Shelton (2007), num inquérito realizado a 2860 adultos, analisaram o nível de conhecimento sobre as recomendações de AF, e concluíram que apenas 6% dos homens e 9% das mulheres souberam indicar o equivalente ao mínimo determinado. A maioria dos homens, 69%, e das mulheres, 68%, indicaram valores inferiores ao estabelecido nas recomendações de AF. Os mesmos autores verificaram ainda, diferenças significativas, nas variáveis género, estado civil e grau académico, concluindo que os homens são mais conhecedores das recomendações de AF, a par dos indivíduos casados e dos indivíduos cujo grau académico tende a ser mais elevado.

Nos Estados Unidos, em 2008, um estudo similar com 4281 adultos foi realizado por Kay, Carroll, Carlson e Fulton (2014). Estes autores concluíram que apenas 1% da amostra, conseguiu identificar corretamente as recomendações de AF. Posteriormente, em 2013, os mesmos autores, num estudo com 1797 adultos, concluíram que 18% dos indivíduos conheciam as recomendações, verificando-se diferenças significativas nas variáveis, género,

estado civil e grau académico.

Complementarmente, numa investigação realizada no Canadá, menos de 10% dos inquiridos, souberam mencionar as recomendações para a prática de AF (LeBlanc et al., 2015). Também Sebastião, Chodzko-Zajko e Schwingel (2015) no estudo realizado com vinte adultos do género feminino, que pretendeu identificar as perceções sobre os níveis de AF adequados e as barreiras para a prática de AF, conclui que, apesar do conhecimento sobre a duração e frequência ser satisfatório, as questões relacionadas com a intensidade não eram do domínio das participantes. Num estudo similar, Trigwell, Murphy, Cable, Stratton e Watson (2015), procuraram conhecer as perceções de pais (trinta e seis pais), sobre o índice de atividade física dos seus educandos, concluindo que a maioria desconhecia os índices de participação adequados dos seus filhos, indicando valores imprecisos de níveis de AF.

Apesar de se verificarem diferentes graus de conhecimento acerca das recomendações e destas se constituírem exclusivamente como um referencial para orientação da prescrição da AF, é essencial o conhecimento sobre esta perceção uma vez que pode apresentar-se como uma barreira (ou não) para a promoção de estilos de vida ativos na escola (Knox, Esliger, Biddle & Sherar, 2013; Valtonen, Kuusela & Ruismäkia, 2011).

Como consequência pode considerar-se que a falta de conhecimento pode originar menor envolvimento individual, ao nível da prática de AF (Craig & Shelton, 2007; Kay et al., 2014). A nível mundial, estima-se que as principais doenças não-transmissíveis estejam associadas à morte prematura de cerca de 5,3 milhões de pessoas anualmente (Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física [PNPAF], 2016). Em Portugal, e apesar dos dados se reportarem a 2008, a inatividade física foi responsável por consideráveis taxas de mortalidade, nomeadamente: cancro do cólon, 15,1%, cancro da mama,14,2%, diabetes tipo 2, 10,5%, doenças cardiovasculares, 8,4% (PNPAF 2016). Calcula-se que em Portugal, 330 milhões de dólares sejam despesas anuais diretas com doenças relacionadas com inatividade física, reforçando a importância do aumento dos níveis de AF, para os níveis recomendados.

Dados recentes do Eurobarómetro (2018), referem que a nível europeu, quase 46% da população refere nunca fazer AF, 14 % menciona praticar raramente, 40% com alguma regularidade e de entre estes, 7%, menciona praticar regularmente. Em Portugal em 2010, cerca de 33% da população mencionava praticar AF com alguma ou muita regularidade. Em 2014, diminuiu para 28% e atualmente, apenas 26% refere praticar AF. Cerca de 68% referem nunca praticar AF, e cerca de 5% mencionam praticar regularmente, isto é cinco vezes por semana (em 2010, 9% e 2014, 8%). Ainda segundo o mesmo relatório (Eurobarómetro, 2018)

os níveis de participação nas atividades físicas são menores entre aqueles que têm níveis de educação mais baixos e maiores dificuldades financeiras. São normalmente os homens entre os 15 e os 24 anos (62%) que mencionam praticar com alguma regularidade. E os que referem praticar menos são também homens acima dos 55 anos. As causas para não praticar AF estão essencialmente associadas à falta de motivação, tempo e dinheiro.

Igualmente, no Inquérito Nacional de Saúde (2014), 20% dos participantes referiu praticar AF, pelo menos três dias por semana e 39% dos participantes do género feminino indicaram praticar pelo menos duas horas por semana e pelo menos um dia, por semana. Nos participantes do género masculino a percentagem foi superior (32%). Estimando-se que 10 a 15% da amostra, do género feminino, atinge as recomendações e 20 a 25% dos participantes do sexo masculino cumpre as recomendações.

A este propósito, PNPAF, criado em 2016 a partir do documento orientador de Estratégia Nacional para a Promoção da Atividade Física, Saúde e Bem-Estar [ENPAF], tendo como base o Plano Nacional de Saúde e as orientações da Organização Mundial de Saúde, (2016-2020), considera fulcral o cumprimento das recomendações de AF, para crianças e jovens e para adultos, estabelecendo-se como um objetivo a atingir.

1.5 Perceção de professores sobre a relação entre atividade física e desporto e o

No documento Final 18 LG (páginas 30-34)