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PERCEÇÃO DOS PROFESSORES ACERCA DA IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NO CURRÍCULO

No documento Final 18 LG (páginas 62-66)

Tal como as finalidades, a perceção sobre a importância na avaliação na disciplina e a sua obrigatoriedade são outros indicadores que tornam possível a análise do estatuto da EF. De um modo geral, pode afirmar-se que os professores consideram que a EF deve ser obrigatória e com avaliação (89,2%), podendo contar ou não a sua ponderação para o cálculo da média de acesso ao Ensino Superior. Consideram que deve ser obrigatória sem avaliação 6,4% docentes e 4,4% indicam que pode ser opcional ou não têm opinião (quadro 5). Os resultados obtidos são ligeiramente superiores, quando comparados com Marques (2010).

Esta situação pode refletir o atual modelo de avaliação na disciplina. Relembramos que, à data do estudo realizado por Marques (2010), a nota de EF era ponderada para efeitos do cálculo da média de acesso ao Ensino Superior. Assim, a valorização que é atribuída à

19 Despacho n.º 6478/2017, 26 de julho

avaliação poderá estar, implicitamente, associada ao facto de a nota de EF, agora, não contar para a ponderação no cálculo da média para o acesso ao Ensino Superior. Como aliás se pode inferir pela percentagem reduzida de docentes que selecionaram este item (34,3%). Esta perceção pode residir no preconceito de que a nota de EF, pode baixar a média de acesso ao Ensino Superior e por considerar que o sucesso escolar está apenas circunscrito ao desenvolvimento das aprendizagens cognitivas (Marques, 2010).

Em seguida apresentam-se os resultados obtidos relativos à perceção dos docentes no que diz respeito à avaliação na EF e da sua ponderação no cálculo para o acesso ao Ensino Superior em função do género e departamentos disciplinares (quadro 10).

Quadro 10 - Estatuto da disciplina relativo à avaliação e cálculo para acesso ao Ensino Superior em função do género e departamentos disciplinares

Obrigatória com avaliação a contar para a média Obrigatória com avaliação sem contar para a média Obrigatória sem avaliação Opcional sem opinião Total N % N % N % N % N % Português e Línguas Estrangeiras Masculino 0 0,0% 3 100% 0 0,0% 0 0,0% 3 100% Feminino 29 34,9% 44 53,0% 5 6,0% 5 6,0% 83 100% Matemática e Ciências Masculino 5 31,3% 8 50,0% 2 12,5% 1 6,3% 16 100% Feminino 32 34,0% 54 57,4% 5 5,3% 3 3,2% 94 100% Filosofia, História,

Geografia, Psicologia Masculino 9 45,0% 10 50,0% 0 0% 1 5,0% 20 100% Feminino 12 40,0% 14 46,7% 4 13,3% 0 0,0% 30 100% Expressões Masculino 5 26,3% 10 52,6% 1 5,3% 3 15,8% 19 100% Feminino 10 31,3% 20 62,5% 2 6,3% 0 0,0% 32 100%

Consideram que a EF deve contar para a média de acesso ao ensino superior, 34,9% de professores, do género feminino, de português e línguas estrangeiras, de matemática e ciências (34%), de filosofia, geografia, psicologia e história (40%) e de expressões (31,3%). Excetuando o caso do departamento de filosofia, história, geografia e psicologia, em que os professores do género masculino (45%) são os que consideram de modo mais expressivo que

a EF deva contar para o cálculo da média de acesso ao Ensino Superior, são sempre as professoras que mais assinalam esta hipótese.

Concomitantemente, também são as professoras de português e línguas estrangeiras, (53%), de matemática e ciências, e (57,4%), e expressões (62,5%), a mencionarem o facto de a disciplina ter avaliação, mas sem contar a sua média para efeitos de cálculo para acesso ao Ensino Superior.

A opção obrigatória sem avaliação é mais selecionada pelas professoras de filosofia, história, geografia e psicologia 13,3% e expressões 6,3%. Os professores do género masculino de matemática e ciências (12,5%), são os que em maior número consideram esta opção. Nenhum professor do género masculino de português e línguas estrangeiras indicou este item.

Por último, referem que a disciplina deve ser opcional ou não têm opinião 15,8% de professores do género masculino de expressões e 6,3% de professores de matemática e ciências. No género feminino, esta opção é nomeada por 6% de professoras de línguas estrangeiras e português. Nenhuma professora de filosofia, história, geografia e psicologia ou expressões indica esta opção.

Da análise verifica-se que a maioria dos professores de português e línguas estrangeiras, e matemática e ciências consideram que a EF não deve contar para o cálculo da média de acesso ao Ensino Superior. Com a introdução de novas matrizes curriculares, passando a ser conferido às escolas maior autonomia para o reforço das disciplinas de matemática e português, estas disciplinas passaram a ter um enorme estatuto na escola, traduzindo-se não só pelo maior número de horas na componente letiva dos alunos, como também, pelo correspondente aumento de professores. Tacitamente, pode presumir-se estar na presença de um grupo de pressão, procurando manter a sua influência a nível do centro de decisões, no contexto escolar.

Por outro lado, e considerando as perceções expressas pelo grupo de expressões a justificação parece situar-se ao mesmo nível. A partir da introdução de novas matrizes curriculares, a gestão das disciplinas como a EF, educação visual, educação tecnológica, educação musical passou a ser estabelecida no seio de cada escola, através de um crédito atribuído (30 minutos). Partindo desta evidência, pode inferir-se que, implicitamente, um reposicionamento destas disciplinas, se fará através da marginalização da disciplina de EF.

Admite-se que o menor reconhecimento da EF e consequente desvalorização, condicione a perceção da sua importância. Ou seja, pelo facto da nota de EF não ser contabilizada, nem valorizada, assume-se um menor potencial formativo da disciplina,

descredibilizando o seu valor pedagógico. Eventualmente, o aumento da carga horária da disciplina e a sua ponderação para efeitos de acesso ao Ensino Superior estabelecendo um princípio de valorização e paridade entre todas as áreas do currículo, poderá reparar a menor valorização agora atribuída.

Uma vez que, a experiência passada influencia a perceção sobre as crenças dos docentes (Wrench & Garret, 2012; Morgan & Hansen 2008), foi analisado o estatuto da EF, relativamente à avaliação, na disciplina e obrigatoriedade da disciplina.

A leitura da figura 4, permite verificar que a maioria dos inquiridos, 54,9%, considera que a disciplina, apesar de não contar para a média de cálculo de acesso ao Ensino Superior, deverá ser de cariz obrigatório, independentemente da sua experiência em relação à EF. A coerência desta afirmação, por parte dos docentes, é reforçada por intermédio das respostas relativas às finalidades da EF, nomeadamente, por conferirem à disciplina de EF, essencialmente uma perspetiva de saúde.

Figura 4 - Estatuto da EF face à experiência anterior na disciplina (%).

Paralelamente, cerca de 34,2% dos inquiridos considera que a disciplina deverá ser obrigatória e contar para a média de acesso ao Ensino Superior. Analisando mais detalhadamente a informação presente na figura 4, verifica-se que há alguma influência da experiência anterior na EF, sobre o estatuto atribuído. À medida que a perceção relativamente à experiência na EF é mais favorável, tende a ser melhor o estatuto atribuído à mesma. No entanto, a relação entre a experiência anterior e o estatuto atribuído à EF, é práticamente inexistente20 .

Apesar de não se conhecer investigação nesta população específica, recrutamos para a discussão o que a literatura refere sobre as experiências dos futuros candidatos a

20 X2 (12, N=295) = 13,762, p>.316 V

professores, para prosseguir com a discussão. Embora os resultados não permitam concluir associações, reconhece-se uma reduzida tendência para, a piores experiências estar associado menor estatuto, em concordância com outros estudos (Cardinal et al., 2013; Harris, 2014; Webster et al., 2010; Ní Chróinín & Coulter, 2012; Voltonem et al., 2011).

Pelo que, garantir um conjunto de experiências de qualidade no ensino da EF, é essencial para o contínuo envolvimento dos indivíduos no domínio das atividades físicas. (Green, 2014; Martins et al., 2017). Neste contexto, o cumprimento da legislação no que se refere à oferta curricular de EEFM, no 1º CEB, apresenta-se como um fator indispensável. A par do necessário envolvimento das escolas de formação de professores e entidades de formação continua, no sentido exigir e reforçar, ao nível do domínio do conhecimento os critérios essenciais para que se estabeleça um ensino de qualidade no domínio das atividades físicas e desportivas, possibilitando a promoção e o reforço de valores, atitudes e competências associadas à prática de AF e do desporto ao longo da vida (Martins et al., 2017;

Till, Ferkins & Handcock, 2011).

1.5 Perceção de importância atribuída à disciplina e posicionamento da

No documento Final 18 LG (páginas 62-66)