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PERCEÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE AS FINALIDADES DA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO

No documento Final 18 LG (páginas 60-62)

Identificar que finalidades, os professores atribuem à EF permite a análise do estatuto da disciplina, uma vez que se situa ao nível das crenças adquiridas (Morgan & Hansen, 2008).

A maioria dos docentes elegeu como principal finalidade da EF a ‘promoção de estilos de vida ativos’, constituindo 77,1% da amostra (quadro 5). A opção de que ‘serve para libertar energias para que os alunos possam estar mais atentos nas outras disciplinas’, obteve 10,4% das respostas, logo seguida, pela “promoção de aprendizagens de técnicas desportivas”, que foi mencionada por 9,8% dos professores. A “promoção de boas condutas morais”, foi selecionada por 2,7% dos docentes, sendo a finalidade menos elegida.

Resultados semelhantes foram obtidos no estudo de Marques, (2010), relativamente à promoção de estilos de vida ativos e saudáveis (84,7%), e promoção de novas aprendizagens (6,9%). No entanto, apenas um professor mencionou o item catarse. A perceção de que a promoção de estilos de vida ativos é a finalidade essencial da EF, está em conformidade com outras investigações realizadas com estudantes de EF (Alves, 2016; Kulinna et al., 2010; Matanin & Collier, 2003). A seleção do item ‘promoção de estilos de vida ativos’ parece ser consensual, também entre os docentes, talvez por estar relacionada com aspetos relativos à saúde e fazer parte de uma consciência coletiva que a AF faz bem à saúde.

Ainda no estudo de Marques (2010), acerca da mesma questão, o autor inquiriu outros adultos, no caso, pais de alunos, num total de 898 pais, dos quais, 67,6 % elegeram também a ‘promoção de estilos de vida ativa’ como a finalidade mais importante, o item relacionado com “aprendizagem e aperfeiçoamento de técnicas desportivas’ foi selecionado por 14,6%, dos pais. As restantes finalidades não atingiram os 5% de escolhas. Analogamente, foram registados resultados semelhantes no estudo de Carreiro da Costa, Dinis, Carvalho e Onofre, (1995), no qual, 41,9% dos pais afirmaram que os objetivos da EF deveriam estar

relacionados com a promoção da saúde, como aliás, defendem diversas e reconhecidas organizações mundiais (e.g., American Cancer Society [ACS], ACSM, 2014; 2012; AHA, 2012; Center for Disease Control and Prevention [CDC], 2011; NASPE, 2009; UNESCO, 2012).

Contrariamente, no estudo de Rocha & Carreiro da Costa (1998), 54 docentes do 1º Ciclo atribuíram à EF finalidades de carácter educativo geral (e.g., atenção, comunicação, disciplina, autoconfiança). Os restantes 61 docentes conferiram à EF a aquisição de efeitos educativos específicos da EF.

Já na questão relativa à catarse, os resultados diferenciam-se relativamente ao estudo de Marques (2010), onde somente um professor assinalou o item catarse. No estudo agora realizado, este parâmetro foi selecionado por 31 docentes. Esta perceção pode advir do facto da ideia do trabalho estar associada a algo austero e pouco prazeroso e a satisfação associada ao domínio do lúdico (Wu & Rao, 2011), reflexos de uma civilização ‘escravizada, com vivências de ditadura’, e com pouco tempo livre. Por outro lado, pelo facto de a perceção sobre as finalidades da EF residir essencialmente, na criação de estilos de vida ativos e saudáveis, pode suportar a ideia de inexistência de conteúdo pedagógico, na disciplina (Evans, 2004). Isto é, a EF pode ser entendida como algo meramente necessário para a criação de um estilo de vida ativo, ou para gerar divertimento (Quennerstedt et al., 2008), desvalorizando-se assim o seu valor pedagógico (Kjønniksen, Fjørtoft & Wold, 2009;Lux & McCullick, 2011;

Nyberg & Larsson, 2014).

Por fim, o domínio da promoção das aprendizagens de técnicas desportivas, parece ser pouco significativo no estudo de Marques (2010), à semelhança dos resultados aqui obtidos. No entanto, nos estudos realizados com estudantes de EF e professores do 1º Ciclo esta finalidade foi mais valorizada (Alves, 2016; Rocha & Carreiro da Costa,1989). Este facto pode estar relacionado com o valor atribuído à disciplina, numa clara associação às experiências anteriores na EF (retomaremos este aspeto na discussão do estudo intensivo).

O facto de a aprendizagem na EF não ser reconhecida como essencial, exige por parte dos profissionais de EF uma definição clara dos objetivos de aprendizagem e do esclarecimento sobre a importância das diferentes aprendizagens do conjunto de matérias representativas das diferentes atividades físicas e do conhecimento dos seus benefícios.

Segundo os PNEF ( Bom et al., 1989), cuja visão partilhamos, o valor da disciplina não assenta exclusivamente nas questões relacionadas com a saúde. Na promoção e desenvolvimento do gosto pela prática regular das atividades físicas, e pela responsabilização

em assegurar a compreensão da sua importância como fator de saúde. Mas também, (...), por ser uma componente de cultura, na dimensão individual e social, na garantia da aprendizagem de um conjunto de matérias representativas das diferentes atividades físicas e pelo conhecimento dos seus benefícios, promovendo o desenvolvimento multilateral e harmonioso do aluno, através da prática e, por último, na promoção da formação de hábitos, atitudes e conhecimentos relativos à interpretação e participação nas estruturas sociais, no seio das quais se desenvolvem as atividades físicas (Bom et al., p.6). Aliás, em conformidade com as competências a adquirir mencionadas no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória (2017) 19 . Este conjunto de pressupostos comprovam o valor pedagógico na disciplina de EF, considerando uma perspetiva global de desenvolvimento multilateral e harmonioso do aluno. Desta forma, a situação reclama por parte dos professores de EF uma capacidade de diálogo com os colegas das outras áreas curriculares sobre o valor educativo da EF e o impacto que poderá ter na qualidade de vida dos alunos (Gomes, Ramos, Martins, Claro & Carreiro da Costa, 2016), bem como junto de todos os intervenientes da comunidade educativa (e.g., alunos, funcionários, diretor e pais) (Laureano, Konukman, Gümüşdağ, Yu & Çekin, 2014; Sheehy, 2006; Sheehy, 2011).

1.4 Perceção dos professores acerca da importância da disciplina no currículo

No documento Final 18 LG (páginas 60-62)