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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 NOTA DA PROVA DE MATEMÁTICA DO ENEM X NOTA EM CÁLCULO I

4.2.1 Percentuais de Aprovação em Cálculo I

Inicialmente estimou-se se houve melhoras nos índices de aprovação em Cálculo I, quando comparados os períodos anteriores e posteriores à adoção de pesos diferenciados para as provas do ENEM, usando para tanto os dados apresentados na tabela 6.

Tabela 6 - Aprovação de calouros de engenharia em Cálculo I na UTFPR

Câmpus Pato Branco Câmpus Ponta Grossa

Pesos Período Alunos

Matriculados Alunos Aprovados % aprovação Alunos Matriculados Alunos Aprovados % aprovação S E M 2010/01 167 56 33,5% 122 32 26,2% 2010/02 169 27 16,0% 150 18 12,0% 2011/01 167 63 37,7% 176 81 46,0% 2011/02 166 24 14,5% 163 54 33,1% 2012/01 146 80 54,8% 125 63 50,4% 2012/02 155 37 23,9% 155 38 24,5% 2013/01 163 65 39,9% 153 44 28,7% C O M 2013/02 158 55 34,8% 152 50 32,9% 2014/01 96 48 50,0% 162 57 35,2% 2014/02 105 47 44,8% 160 42 26,2%

Em relação ao câmpus Pato Branco, no período anterior a adoção de pesos diferenciados foram contabilizados 1.133 acadêmicos matriculados e 353 aprovados, o que corresponde a um percentual de aprovação de aproximadamente 31,16%. Após a adoção de pesos distintos, foram matriculados 359 alunos sendo que destes 150 tiveram êxito na disciplina, o que representa 41,78% de aprovação.

No Câmpus Ponta Grossa, no período anterior à adoção de pesos havia 1.044 acadêmicos matriculados nos cursos sendo que 331 foram aprovados (31,70%), enquanto que após o uso de pesos 474 acadêmicos foram matriculados, sendo que 145 deles aprovaram, o que equivale a um índice de aprovação de 30,6%.

Assim, parece que no Câmpus Pato Branco existe um indicativo de leve melhora nos índices de aprovação da disciplina, entretanto não se pode afirmar que isso é consequência do uso de pesos diferenciados para as provas que compõem o ENEM. Por outro lado no câmpus Ponta Grossa, não houve melhora no número de aprovações em Cálculo Diferencial e Integral I após a adoção de pesos diferenciados para as provas do ENEM.

Dando continuidade à análise desta variável utilizou-se a inferência sobre duas proporções a fim de verificar se a diferença observada na proporção de aprovações, nos períodos descritos, pode ser considerada estatisticamente significativa.

4.2.2 Inferência Sobre Duas Proporções

A afirmativa testada, a um nível de significância de 5%, é que a taxa de aprovação em Cálculo I para alunos ingressantes no período anterior à adoção de pesos diferenciados para as provas do ENEM é menor que a taxa de aprovação para ingressantes no período posterior à adoção de pesos diferenciados.

Simbolicamente tem-se: H0: p1= p2 H1: p1< p2 (afirmação original) ⎧ ⎨ ⎪ ⎩⎪

em que p1 representa a proporção populacional de aprovados em Cálculo I no período anterior à adoção de pesos distintos e p2 representa a proporção

populacional de aprovados em Cálculo I após a adoção de pesos diferenciados, obtidas a partir dos dados presentes na tabela 7.

Tabela 7 - Desempenho dos calouros de Engenharia da UTFPR em Cálculo I segundo a forma de ingresso

Forma de Ingresso

Câmpus Pato Branco Aprovados Reprovados Matriculados Estatística de teste

ENEM Sem peso 353 780 1.133 z= -3,712 ENEM Com peso 150 209 359 Valor P=0,0001

Câmpus Ponta Grossa Aprovados Reprovados Matriculados Estatística de teste

ENEM Sem peso 331 713 1.044 z= 0,433 ENEM Com peso 145 329 474 Valor P= 0,6646

Dados unificados Aprovados Reprovados Matriculados Estatística de teste

ENEM Sem peso 684 1.493 2.177 z= -2,093 ENEM Com peso 295 538 833 Valor P=0,0182

Fonte: Autoria própria (2015)

Para o Câmpus Pato Branco, os dados amostrais apoiam a afirmativa de que a proporção de aprovados no período anterior à adoção de pesos diferenciados é menor do que a proporção de aprovados após a adoção de pesos diferenciados (α=0,05).

Em relação ao Câmpus Ponta Grossa, não há evidência suficiente para apoiar a afirmativa de que a proporção de aprovados no período anterior à adoção de pesos é menor do que a proporção de aprovados após a adoção de pesos diferenciados (α=0,05).

Os dados dos Câmpus Pato Branco e Ponta Grossa, ao serem unificados, apontam para a rejeição da hipótese nula. Ou seja, os dados amostrais apoiam a afirmativa de que taxa de aprovação dos alunos ingressantes no período anterior à adoção de pesos diferenciados para as provas do ENEM é menor que a taxa de aprovação dos ingressantes no período posterior à adoção de pesos diferenciados (α=0,05).

Pode-se inferir que a expansão dos cursos de engenharia, através da ampliação do número de vagas e criação de novos cursos em todo país, tenha contribuído para a seleção de alunos “menos preparados”. Essa preocupação já fora mencionada por Fernandes Filho (2001) no início dos anos 2000. Amparado pelos resultados de algumas pesquisas realizadas com ingressantes em cursos de

engenharia no final da década de 90, o autor sinalizava que a expansão quantitativa de cursos de engenharia ocorrida naquela época “alterou a relação do número de candidatos por vagas no vestibular, ocasionando a admissão de alunos menos preparados, e acarretou a queda no nível de desempenho nas disciplinas da área da matemática” (FERNANDES FILHO, 2001, p.17).

Quanto ao processo de seleção de novos alunos, as alterações realizadas ao longo dos anos na UTFPR abrangem desde a utilização da nota do ENEM na prova de conhecimentos gerais do exame vestibular (desde que esta não prejudicasse a nota obtida na prova do vestibular) em 2008, até a utilização da nota do ENEM como critério único de seleção a partir do primeiro semestre de 2010 sendo que, desde então, 50% das vagas ofertadas destina-se a candidatos que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas. Nessa época, o peso aplicado às provas das diferentes áreas que compunham o ENEM eram igualitários, independente do curso almejado pelo candidato.

Ao longo do tempo, analisando esse processo de entrada que fazia uso apenas da nota do ENEM, a UTFPR começou a discutir internamente e de forma intensiva junto aos coordenadores de curso possíveis alterações. O debate girava em torno do uso de pesos diferenciados para as provas do ENEM e se estes poderiam repercutir positivamente em uma melhor seleção dos alunos ingressantes. Argumentos como o elevado número de reprovações, especialmente no que competia às disciplinas do Núcleo Básico dos cursos de Engenharia, assim como certa evasão nos primeiros períodos passaram a contribuir intensamente para essas discussões, sendo que as mesmas culminaram com a decisão de adotar pesos diferenciados (conforme especificado no quadro 7) a partir do segundo semestre de 2013, com vistas à atenuar os problemas supracitados.

Ressalta-se que o principal objetivo com alteração dos pesos era aprimorar a seleção de candidatos: almejava-se selecionar os mais aptos ou com maior vocação minimizando assim problemas de reprovação e evasão. Partiu-se da premissa de que os melhores candidatos a estes cursos seriam aqueles que apresentassem maior aptidão pela área de exatas, sendo essa aptidão quantificada por meio das notas obtidas nas avaliações de Matemática, Física e Química do ENEM; hipótese que justificou a adoção de pesos maiores para as provas dessas áreas do conhecimento. Há de se mencionar ainda que, em particular, a nota da

prova de Matemática representa 45% do peso total do exame para a seleção de ingressantes nos cursos de engenharia da UTFPR.

As inferências realizadas a partir das proporções de aprovação na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I em cada um dos períodos considerados (antes e após a adoção de pesos diferenciados para as provas do ENEM) indicam que essas proporções não são iguais para o Câmpus Pato Branco e para os dados unificados dos Câmpus Pato Branco e Ponta Grossa.

Para o Câmpus Ponta Grossa talvez esta diferença não tenha sido revelada porque a concorrência neste câmpus é maior. Supõe-se que alunos com desempenhos bons ou razoáveis no ENEM mas que não conseguem vagas em instituições localizadas em grandes centros optem por permanecerem em cidades próximas aos seus locais de origem ou próximas a grandes centros, como é o caso de Ponta Grossa (localizada próximo a Curitiba).

De qualquer modo, analisando o contexto geral, acredita-se que esta medida paliativa adotada pela UTFPR em seu exame de seleção tenha algum efeito positivo no sentido de selecionar alunos com maior aptidão para a área de exatas e consequentemente possa ter contribuído para minimizar as reprovações em Cálculo I, visto que existem indicativos que a proporção de aprovados na disciplina aumentou após a adoção de pesos diferenciados para as provas do ENEM.