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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.6 UM NOVO OLHAR SOBRE O PROBLEMA

Para que a aprendizagem ocorra e, consequentemente, o número de reprovações possa ser minimizado o aluno deve predispor-se a aprender, haja vista que “nada nem ninguém pode forçar um aluno a aprender se ele mesmo não se empenhar no processo de aprendizagem”. (TARDIF, 2002, p. 132).

Um dos significados de empenhar remete a ideia de ter interesse no êxito de alguma coisa, neste caso, êxito na atividade educativa, na aprendizagem. Porém para ter êxito, é necessário comprometimento.

No Brasil os principais estudos considerando o comprometimento como um fator crucial no processo de aprendizagem foram desenvolvidos por Felicetti (2011) e Felicetti e Morosini (2008, 2010).

Mas o que seria comprometimento?

Ao consultar-se dicionários da língua portuguesa, a palavra comprometimento é definida como ato ou efeito de comprometer-(se); compromisso, envolvimento. Apesar de aparecerem como sinônimas, as palavras “comprometimento” e “compromisso” serão diferenciadas levando em consideração o esclarecimento proposto por Felicetti e Morosini (2008, p. 25):

Compromisso é entendido e relacionado a tudo aquilo que é feito, enquanto que o comprometimento refere-se a como se faz, ou seja, este último é constituído do que se faz, e como se faz. Portanto, o comprometimento é muito maior que o compromisso.

Desta forma, é necessário uma postura responsável, crítica e autônoma do aluno perante sua aprendizagem a fim de que possa obter sucesso na vida acadêmica e uma formação de qualidade. Parte desse sucesso pode ser demonstrado pelo envolvimento e interesse do aluno, ou seja, pelo seu comprometimento com a aprendizagem, que neste caso é entendida como “a relevância dada ao como aprender, isto é, a variedade e intensidade de meios utilizados para tal, como também o tempo disponibilizado para esse fim.” (FELICETTI e MOROSINI, 2008, p. 25).

Todavia, há de se considerar que o comprometimento com a aprendizagem deve ser uma preocupação de todos os envolvidos no processo educativo, ou seja, o aluno - protagonista do cenário educacional - é amparado por todos os demais envolvidos neste processo, sendo que estes têm a missão de auxiliar o aluno a obter sucesso em seu percurso acadêmico (FELICETTI, 2011).

Sendo assim, a almejada mudança na postura estudantil frente a aprendizagem deve ser estimulada por estratégias que promovam a autonomia dos mesmos. Essas estratégias devem ser propostas pelos demais envolvidos no processo educacional, de forma que permita ao aluno:

• desenvolver a capacidade de organizar e gerir o tempo de estudo, analisando suas condutas habituais, verificando as estratégias que foram eficientes ou não;

• acompanhar e controlar seu próprio processo de compreensão, questionando o professor, buscando relação entre o assunto trabalhado com outros conhecimentos;

• procurar ajuda com professores, colegas, monitores; • trabalhar em grupo de forma eficaz;

• não protelar tarefas.

Enfim, cabe à instituição dar condições aos alunos (especialmente aos ingressantes) de refletirem sobre as exigências inerentes à vida acadêmica, a fim de desenvolverem condutas exitosas. Isso implica também que os estudantes devem aproveitar as oportunidades oferecidas pela instituição (o que nem sempre ocorre de forma adequada e eficaz), cientes de que é a qualidade de sua dedicação e esforço que fará a diferença.

Alguns trabalhos trazem apontamentos curiosos relacionados à postura dos alunos frente a disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, indicando para a falta de mobilização especialmente daqueles que estão em situação de fracasso.

Um desses trabalhos, realizado em 2006 a partir de um questionário aplicado a 155 ingressantes nos cursos de engenharia da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FEG/UNESP), revelou que os alunos “dedicam-se pouco à disciplina, estudando pouco e na véspera das avaliações” (LACAZ et al., 2007, p.09).

Essa conclusão também é compartilhada em um dos trabalhos desenvolvidos por Cavasotto (2010), cujo público-alvo eram alunos de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ao traçar o perfil dos acadêmicos, o pesquisador verificou que a maioria deles eram jovens, provenientes de escolas da rede privada e com períodos de tempo disponíveis para estudo. “Esse tempo, todavia, nem sempre se revelou produtivo tendo em vista que mais da metade confessou não ter hábito de estudar ou o fazendo apenas em véspera de provas” (CAVASOTTO, 2010, p. 101). O autor ainda coloca que a falta de hábito de estudar regularmente é uma das causas dos problemas existentes na disciplina de Cálculo, segundo a visão de professores e monitores da instituição em

questão.

Direta ou indiretamente, percebe-se também que muitos acadêmicos não têm comprometimento perante as ações desenvolvidas pelas instituições. Existem relatos de não comparecimento ou pouca participação nos horários de atendimentos dos professores, nas aulas de Pré-Cálculo, nas monitorias da disciplina.

Sob esta perspectiva Cavasotto e Viali (2011) relatam que apesar dos alunos estarem cientes de suas deficiências em relação aos conhecimentos matemáticos básicos e terem disponibilidade de tempo muitos deles não frequentavam as oficinas complementares, ofertadas pela instituição para auxiliar os alunos.

Ressalta-se que essas atitudes não são características apenas dos calouros de Engenharia. Numa pesquisa desenvolvida com ingressantes no Curso de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), matriculados na disciplina em questão, uma das conclusões obtidas foi que “há pouca procura pela monitoria das disciplinas de Cálculo I e de Física I. Em geral, os alunos ingressantes buscam atendimento nas vésperas das provas.” (SANTAROSA e MOREIRA, 2011, p. 348).

Em outra pesquisa realizada na UNESP, Barrozo e Silva (2013) buscaram diagnosticar o perfil dos ingressantes no curso de Licenciatura em Química e seus hábitos de estudo em relação ao Cálculo I. As autoras afirmam não terem identificado diferenças significativas em relação ao perfil dos ingressantes, todavia, perceberam que existe a influência de hábitos de estudo adequados para um melhor desempenho na disciplina.

Sabe-se que as expectativas iniciais dos calouros geralmente são elevadas e que uma frustração pode levar ao abandono do curso e, em situações mais sérias, ao abandono precoce do Ensino Superior. Entretanto, não pode-se considerar apenas as ações de terceiros como agravantes para a reprovação, visto que na universidade o aluno deve ser um agente ativo, autônomo e responsável, contribuindo para a construção de seu próprio conhecimento, conforme mencionam Bazzo e Teixeira do Vale Pereira (2013).

Enfim, tais apontamentos apenas realçam a necessidade de investigar o comportamento dos acadêmicos frente ao Cálculo.

Deste modo, o comprometimento do aluno com sua aprendizagem é o ponto chave deste estudo. Parte-se do pressuposto que através de seu esforço individual, persistência e envolvimento acadêmico, o aluno poderá obter excelentes resultados

e uma aprendizagem mais efetiva “até porque a aprendizagem é um processo, ou seja, é uma atividade que demanda tempo, ação e dedicação, e por isso depende muito de cada indivíduo” (BAZZO e TEIXEIRA DO VALE PEREIRA, 2006, p. 18).