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PERCENTUAL DE COTISTAS POR MODALIDADE UFAL 2004-

79% 21% Bacharelado Licenciatura n = 50 FONTE: NEAB, 2007. N = 983 FONTE: NEAB, 2007.

Com todos os dados coletados interessou-nos saber se o argumento dos cotistas se inseria ou não na relação raça e classes, se estava impregnado da ideologia multiculturalista e quais as influências sofridas pelo impacto das cotas. Porém, devido às dificuldades encontradas para atingir o número mínimo satisfatório para a amostragem, nosso objetivo teve de ser modificado para, de simplesmente acompanhar o processo pelo qual a política de cotas foi instituída e implementada, chegar aos alunos.

Quanto à regulamentação do sistema de cotas, sabemos que foi instituído pela Resolução nº. 09/04 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFAL, que aprovou o Programa de Políticas Afirmativas para Afrodescendentes no Ensino Superior com base no relatório da Comissão Especial instituída pela Resolução nº. 14/03 do Conselho Universitário (CONSUNI).

Esta Resolução se refere a um Programa de Políticas Afirmativas para Afrodescentes, o que implica um conjunto de ações e não apenas a política de cotas.

Dando redação nova à Resolução anterior, de nº. 20/99 – CEPE/UFAL, a referida Resolução nº. 09/04 estabelece, em seu art. 1º, “uma cota de 20% (vinte por cento) das vagas dos cursos de graduação da UFAL para a população negra, segundo a metodologia do IBGE, oriunda exclusiva e integralmente de escolas de ensino médio públicas durante dez anos consecutivos” (RESOLUÇÃO 09/04 – CEPE/UFAL), o que foi referendado pelos vestibulares que sucederam até o atual de 2008, segundo site da UFAL.

Ficou ainda estabelecida a destinação de “60% (sessenta por cento) para mulheres negras” do percentual de 20% dos cotistas e que as cotas valerão para as duas fases do Processo Seletivo Seriado (PSS), o qual será composto de dois blocos: o dos “optantes e dos não-optantes por concorrer às vagas destinadas à cota” (Idem).

É importante perceber nesta Resolução 09/04 – CEPE/UFAL a compreensão e utilização do termo afrodescendente, visto que o programa criado é intitulado Programa de Políticas Afirmativas para Afrodescendentes e apresenta, no art. 2º, os termos preto e pardo, segundo a classificação do IBGE, e no artigo anterior utiliza-se dos termos negros e negras, ou seja, nesta Resolução, afrodescendente é sinônimo de preto/a e pardo/a, negro/a, a saber:

No momento da inscrição o/a candidato/a que se autodeclarar preto/a ou pardo/a conforme a metodologia adotada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nas pesquisas do Censo Populacional e comprovar que cursou ou cursa o ensino médio exclusivamente e integralmente em escola pública pode optar por concorrer à cota de vagas

para a população negra nos termos do Art. 24 da presente Resolução (RESOLUÇÃO 09/04 – CEPE/UFAL).

De acordo com a revisão da literatura e com base na perspectiva por nós adotada, constatamos que o afrodescendente é toda a humanidade. Isso significa dizer que sendo a humanidade originária do continente africano, somos todos afrodescendentes, o que daria direito a qualquer um de nós, independentemente do tom de pele, desde que tenha estudado os últimos dez anos em escola pública, a fazer o vestibular por cotas.

Isso revela a existência de uma ambiguidade neste documento, pois, como se trata de um programa para afrodescendente, todos que descendem da África podem nele se inserir e não apenas preto/a, pardo/a, ou negro(a).

Esse, contudo, não é o foco de nosso interesse; fizemos referência a ele apenas porque os sujeitos de nossa pesquisa sentiram-se usurpados pelo fato de pessoas de pele clara serem cotistas e estarem na Universidade. Guimarães (2003) denomina isto de “carona”. Além disso, ser de escola pública é outro fator que estimula essa “carona”, pois, independentemente do tom de pele, o simples fato de ser de escola pública confere o direito às cotas.

Na próxima seção estaremos analisando as falas dos cotistas como um estudo de caso, e, como dissemos antes, sem fazer referência a suas filiações políticas, uma vez que não atingimos o universo necessário da amostragem de 10% iniciais. Optamos por utilizar os dados coletados pela riqueza destes e pela necessidade de realizar o estudo de caso já mencionado.

4.4 O que dizem os cotistas?

Nossa pesquisa de campo, como dissemos, contou com alguns cortes no projeto inicial devido à falta de tempo e de recursos financeiros para abarcar todos os objetivos propostos. Contudo, dentro das possibilidades existentes, foi possível obter resultados satisfatórios a partir da riqueza dos dados fornecidos nas entrevistas.

Desde já agradecemos a disponibilidade dos que permitiram ser entrevistados, apesar das dificuldades enfrentadas para encontrá-los. Dentre os cotistas localizados, alguns não se propuseram a conceder entrevista, por serem gravadas e/ou para não se identificarem

como cotistas. Mas vale salientar que os alunos acompanhados pelo Programa Afroatitude do NEAB não apenas concordaram com a pesquisa, como apresentaram uma autoconstrução da identidade bem consolidada.

Para as entrevistas elaboramos um conjunto de perguntas abertas e fechadas, cujo roteiro encontra-se no anexo A, voltadas para as categorias Raça e Classe, e depois abordamos as cotas especificamente. As respostas foram registradas em material digitado e impresso.

Em relação ao conceito de raça, mesmo defendendo a existência de uma única raça e adotando o termo etnia para a definição de grupos de pessoas, optamos por permanecer com o termo para ver se entre os/as cotistas estava clara esta discussão. Ou seja, não queríamos influenciar as respostas. Portanto, quando percebíamos que eles já adotavam o conceito de etnia, passávamos a utilizá-lo.

Desse modo, vimos que para a primeira pergunta do primeiro bloco foram várias as definições apresentadas, o que nos remete ao fato de que, entre os cotistas, a significação do termo raça é pouco conhecida.

Das definições coletadas no âmbito do termo raça ressaltamos as mais recorrentes com um mínimo de duas respostas iguais; agrupamos as que eram semelhantes e, ainda assim, colocamos uma resposta que foi única, dentre outras, por demonstrar a visão de que todos descendem dos negros, mas, como justificativa da miscigenação do país, não como uma conceituação de raça única. Todas as respostas foram organizadas em tabela, para facilitar a visualização, a saber:

Tabela: 01 – Raça.