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A Percepção do deficiente visual

No documento Camila Portella Neves.pdf (páginas 56-60)

01. REFLETINDO SOBRE A QUESTÃO DA CEGUEIRA

1.2. CEGUEIRA E SEUS EFEITOS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

1.2.3. A Percepção do deficiente visual

Charles S. Peirce também defende que o conhecimento advém da percepção. É através dessa mediação da realidade que o homem desenvolve a linguagem, num processo de compreensão e aprendizagem sobre o mundo entorno.

A aptidão do cérebro humano para categorizar as sensações e para perceber bilhões de estímulos caóticos, diferentes de pessoa para pessoa e muitas vezes não identificáveis, garante a criação de um mundo perceptual e semântico próprio de cada

indivíduo, de onde emergem o pensamento e a linguagem. (MEYER, 2002, p. 17)

Nossos sentidos se caracterizam, portanto, como a ligação entre o mundo exterior e interior. Mas a mente também possui seu papel de elaboração, de compreensão, para gerar um significado ao que está sendo percebido. Ou seja, os sentidos se colocam como um receptor e o circuito nervoso veicula a informação para o cérebro, que por sua vez a registra.

Os órgãos sensoriais funcionam, consequentemente, como janelas abertas para o exterior. Nessa medida, esses órgão são superfícies, passagens, capazes de explicar alguns fatores, os mais propriamente sensórios da percepção, mas não conseguem explicar porque toda percepção adiciona algo ao percebido, algo que não está lá fora, no mundo fenomênico, e que não faz parte, portanto, da estimulação. (SANTAELLA, 2012, p. 6)

Sobre a questão argumenta Gibson (1974, apud SANTAELLA, 2012, p. 6):

Se tudo o que percebemos nos chega mediante a estimulação de nossos órgãos sensoriais, e se, apesar disso, certas coisas não têm contraparte na estimulação, é necessário assumir que estas últimas são, de algum modo, sintetizadas. Como essa síntese ocorre, é o problema da percepção.

Assim sendo, são os sentidos humanos os responsáveis por levar ao cérebro as informações do mundo que os rodeia. São um acesso, uma porta, para a realidade.

Gibson parte aí de um axioma, provavelmente irrefutável, de que nossos órgãos sensoriais, ou seja, nossos sentidos, são meios pelos quais se estabelece a ponte entre o que está no mundo lá fora, ou, pelo menos, o que nos chega como estrangeiro, e o mundo que, na falta de um nome melhor, chamamos de mundo interior. Os órgãos sensoriais funcionam, consequentemente, como janelas abertas para o exterior. Nesta medida esses órgãos são superfícies, passagens, capazes de explicar alguns fatores, os propriamente sensórios da percepção, mas não conseguem explicar por que toda a percepção adiciona algo ao percebido, algo que não está lá fora, no mundo fenomênico, e que não faz parte, portanto, da estimulação. Nesse ponto, é a mente que entra em cena, pois é dela a tarefa da síntese, vem dela a elaboração do que chamamos de compreensão ou significado tanto do que está lá fora quanto da estimulação que é produzida como efeito. A correspondência entre o resultado perceptivo e aquilo que o

provoca não é, portanto, ponto a ponto. Há uma diferença, há um descompasso, ou melhor, algo se perde e algo se acrescenta. Isso que se acrescenta, especialmente, e que ocorre na passagem dos órgãos sensoriais para o cérebro por enquanto ainda não é observável ou mensurável. Aí se localiza, exatamente, a questão da percepção. (SANTAELLA, 2012, p. 6-7)

É a partir da atividade perceptiva e sensório-motora, que o indivíduo estrutura o mundo em sua mente por meio de representações.

Os sentidos estão aí para informar o cérebro sobre os acontecimentos do meio ambiente e sobre suas mudanças. Eles representam nas espécies vivas um elemento de vida e de sobrevivência, assinalando desde os níveis mais simples do reino animal as fontes alimentares e os perigos. A representação mental do meio exterior acompanha naturalmente o desenvolvimento cerebral e constitui do homem um dos pilares da consciência e da inteligência. (MEYER, 2002, p. 87).

Para conhecer qualquer coisa, ou seja, estando diante de qualquer fenômeno, a consciência produz um signo, isto é, um pensamento como mediação entre os homens e os fenômenos. Isto é o que se denomina percepção. “Perceber não é senão traduzir um objeto de percepção em um julgamento de percepção, ou melhor, é interpor uma camada interpretativa entre a consciência e o que é percebido” (SANTAELLA, 2005b, p. 51)

Em outras palavras, a percepção é o canal de veiculação e acesso às informações que serão, posteriormente, utilizadas para construção das representações do indivíduo sobre o mundo.

Todas as nossas experiências sensórias, o que vale para as sensações visuais, auditivas, gustativas, olfativas e somestésicas (ou seja, o tato, a pressão, o calor, o frio, a dor e a angulação das articulações), são levadas a partir dos órgãos dos sentidos responsáveis por tais sensações até certas áreas determinadas do córtex cerebral. É aí que a maior parte do material sensível armazenado converge para uma área interpretativa comum. (OLIVEIRA, 2002)

Sobre a importância dos olhos e dos ouvidos, defendidos como principais sentidos utilizados pela percepção argumenta Santaella (SANTAELLA, 2012, p. 2):

Em linguagem técnica da comunicação, eles não se constituem apenas em canais para a transmissão de informação, mas em verdadeiros órgãos codificadores e decodificadores das informações emitidas e recebidas, de modo que, parte da tarefa, que seria de responsabilidade do cérebro realizar, já começaria a ser realizada dentro de dois órgãos para se completar no cérebro.

Segundo Santaella, quando se fala em percepção, há uma dominância do sentido da visão sobre os demais.

(...) provavelmente devido a razões de especialização evolutiva, 75% da percepção humana, no estágio atual da evolução, é visual. Ou seja, a orientação do ser humano no espaço, grandemente responsável por seu poder de defesa e sobrevivência no ambiente em que vive, depende majoritariamente da visão. Os outros 20% são relativos à percepção sonora e os 5% restante aos outros sentidos, ou seja, tato, olfato e paladar. (SANTAELLA, 2012, p. 1)

Isto seria, ainda segundo a autora, decorrente ao desenvolvimento de poderosos meios de extensão do sentido visual, tais como máquinas fotográficas, televisão, imagens computacionais em 2 e 3D e etc.

No caso em questão, os deficientes visuais precisaram se adaptar ao quotidiano sem o recurso da imagem. Sua percepção ocorre através de outros sentidos, em especial da captação sonora e dos estímulos táteis.

Imagens, em sentido mais amplo, podem ser configurações de distinta natureza, em diferentes linguagens: acústicas, olfativas, gustativas, táteis, proprioceptivas ou visuais. Portanto, neste sentido, já a maioria delas é invisível e pode apenas ser percebida por seus vestígios ou pelos outros sentidos que não a visão. (BAITELLO JR., 2007, p.1)

Ao terem acesso à notícia televisiva, os deficientes também estão em busca de informações para que possam perceber a realidade que os cercam. Isto porque a TV possui uma narrativa não apenas imagéticas, mas também oral. Neste sentido:

No texto do telejornalismo, caminham juntas a narrativa verbal, a narrativa da imagem e a narrativa de recursos gráficos, como arte, mapas, esquemas, que, junto com a sonoplastia e os sons ambientes, aumentam e sublinham o efeito emocional e compõem os sentidos da notícia. A narrativa pela imagem, apresentando um acontecimento, corre paralelamente ao texto falado ou off, do repórter. Este off tem uma característica própria porque, em geral, é um texto escrito com características

de oralidade, ou seja, um texto escrito para ser falado, como uma narrativa do acontecimento apresentada pelo repórter. (MOTA, 2008, p. 1-2)

Neste sentido, o código sonoro emitido pela televisão é entendido como signo, capaz de causar um efeito interpretante na mente do deficiente visual, no intuito que este possa compreender o que está sendo repassado.

No documento Camila Portella Neves.pdf (páginas 56-60)