• Nenhum resultado encontrado

Fluxograma 1: Cadeia produtiva de carne bovina

4. Políticas públicas, rastreamento e zoonoses: análise do

4.2. Relação entre o SISBOV e zoonoses

4.2.1. Percepção sobre a situação e dilemas do

Sobre a situação da tuberculose, Dr. NIRVA, médica veterinária do serviço púlico, declara que existe a ocorrência da doença e que um dos empecilhos para o maior número de diagnósticos positivos é a não obrigatoriedade da realização de exames.

Olha a doença existe, mesmo se realizando exames regularmente. Agora, a situação não é fácil de resolver, porque não é obrigado fazer os exames. Só se realizam quando os criadores entram em algum programa que exige. No ano passado, foram feitos cem mil exames, de um total de quase 14 milhões de animais. Não existe uma obrigatoriedade, então faz quem precisa para alguma coisa. A tuberculose é uma doença que acontece mais em rebanhos de gado de leite, ou seja, onde existe mais contato com as pessoas (NIRVA).

Sobre a ocorrência da doença em animais e humanos, simultaneamente, ele manifesta que

“Pode acontecer isso, mas não é uma preocupação nossa, temos que combater a doença em animais” (NIRVA).

Sobre o reaparecimento da doença em propriedades que realizam exames periodicamente, a técnica menciona:

Bem, doenças que são crônicas e que muitas vezes demoram em mostrar seus sintomas são assim mesmo. Por isso, recomenda-se realizar três testes para ter a propriedade livre. Mas isso não quer dizer que vá se conseguir, pode aparecer. São fatos que temos que conviver (NIRVA).

Esta é uma doença bem complicada, aparece mais em rebanhos grandes. Também é uma doença para a qual não são obrigatórios os testes, então faz quem quer ou quem precisa. E os sinais da doença podem ser comparados a outras origens, como problema nutricional ou qualquer outra enfermidade que leve ao aborto. Também é uma doença que tem muito no Rio Grande do Sul (NIRVA).

Na declaração da responsável pelo controle da tuberculose está presente a dificuldade em controlar doenças crônicas e também que a doença aparece mesmo com o controle.

Para APOLO, gestor político, doenças que envolvem a saúde pública, como a tuberculose, a raiva e brucelose devem ser combatidas e as exigências internacionais devem ser seguidas. No entanto, o entrevistado explica a necessidade de se discutir algumas exigências internacionais, como o sacrifício de animais soropositivos.

O que precisa se entender é que estas medidas funcionam muito bem no papel, quando se coloca em pratica não funciona. Na Europa funciona porque a indenização é imensa, a preço de ouro. Mesmo assim, eles mataram mais de um milhão de ovelhas, arrumaram o problema da doença e criaram outros vários problemas [...]. Agora sobre doenças, eu acho que tudo que envolve saúde pública, como as doenças sobre as quais você trabalha, nós temos que seguir as normas internacionais. Tem que tentar erradicar essas doenças, tem que tentar combater. Não é fácil, eu acho que vai levar séculos, vai levar tempo, isso se for possível. Até você que esteve na Europa poderia me falar da vaca louca (APOLO).

Outro aspecto importante que surge na fala deste entrevistado, é que as apreciações sobre enfermidades das organizações internacionais devem ser seguidas, o que realça a concepção de que não existem alternativas para o corpo técnico e o que se entende por doença tem por base as definições da Organização Mundial de Saúde Animal.

Segundo GAITEIRO (médico veterinário da iniciativa privada responsável pelos diagnósticos de brucelose e tuberculose), a situação da brucelose e da tuberculose nas propriedades rurais brasileiras causam um grande problema.

Olha, está difícil trabalhar com essas doenças e a certificação de propriedades. Eu não dou mais laudo de propriedade livre da doença, cansei de me incomodar [...]. Você faz todos os exames, dali a pouco volta, você não sabe de onde veio, a propriedade está controlada. Você fica com a cara no chão. Tudo o que você aprendeu na faculdade e nos cursos dos programas vai para o

chão. Você segue tudo o que o MAPA te pede, e, de repente, aparece a doença novamente (GAITEIRO).

Este técnico, responsável pelo diagnóstico, demonstra a dificuldade de se implantar exigências técnicas aprovadas institucionalmente e reconhecidas pelas universidades quando se reporta ao ressurgimento de doenças até então controladas. No decorrer da entrevista, ele explicita um problema que teve:

Olha, em Palmeira das Missões me aconteceu a maior da minha vida. “18 surte clavada, 36 surte corrida”. Em uma propriedade de 35 animais, gado leiteiro, alta produtividade e linhagem genética. Primeiro resultado, 30% positivo, enviei para o abate sanitário. Repeti os exames dali 60 dias, mais 30%, mais animais para o frigorífico. Repeti dali 60 dias, o restante positivo. Pior, em nenhum animal foi encontrado lesões no matadouro [...] contatei o pessoal da área médica humana, fizeram exames no pessoal, nada (GAITEIRO).

Mais adiante na entrevista, o mesmo técnico menciona: “eu acho

que está todo mundo perdido. Ninguém sabe nada, nem o MAPA, nem nós. O pior é que não temos o que dizer para os produtores” (GAITEIRO). Esta situação demonstra a falta da clareza sobre os processos de emergência e reemergência de enfermidades em todos os setores envolvidos no rastreamento, bem como nas universidades em que os técnicos são preparados.

Como declara ZEUS (médico veterinário responsável por certificadora), as doenças, na atualidade, são problemáticas e de difícil solução:

Sobre doenças, é preciso diferenciar o que é uma barreira sanitária de sanções econômicas. E aí temos um problema, porque veterinários responsáveis por doenças não entendem muito de economia e economistas não sabem nada de doença, de transmissão e há algumas doenças que nós não conseguimos explicar direito, ou melhor, não sabemos nada, então quando é assunto que envolve o mercado internacional, sanções de doenças, é bem difícil. Tem que ter muita conversa. O problema é que às vezes não se tem tempo. É difícil (ZEUS).

A entrevista do responsável pela certificadora explicita a questão da interdependência entre as várias áreas de conhecimentos para resolver determinados problemas. Também esta entrevista referencia a situação das doenças e a definição do que se chama de “doenças emergentes ou reemergentes”. Porém, novamente surge um problema de difícil solução sobre a diferença entre uma barreira econômica e uma sanção econômica, e de quem vai tomar a iniciativa sobre isso, se uma

área técnica, econômica, biomédica, ou se vai ser uma decisão política. Para o entrevistado, implicitamente, as áreas técnicas não possuem saber suficiente para resolver esse problema.

Para D. DINHEIRO (produtor rural que deixou de certificar), doenças devem ser controladas e com rigor e as iniciativas também devem partir dos produtores:

Agora tem uma coisa, de repente é por que eu sou muito enjoado, meus exames estão sempre em dia e quando morre um animal vou direto à inspetoria, estou sempre incomodando. E daí o “povo” da inspetoria veterinária vem. Eles vêm direto na minha propriedade

4.2.2 Percepção sobre a situação e dilemas no controle da raiva