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Fluxograma 1: Cadeia produtiva de carne bovina

3. Políticas Públicas e Zoonoses: análise dos programas de

3.2. Programas de sanidade animal

3.2.2 Programa Nacional de Controle de Raiva

3.2.2.3. Raiva

A raiva é uma zoonose relevante para a saúde pública, não somente por sua drástica letalidade, como pelos seus impactos socioeconômicos A doença causa prejuízos anuais de centenas de milhões de dólares na América Latina, tanto pela morte de animais quanto por gastos com vacinas e tratamentos pós-exposição de pessoas que tiveram o contato com animal doente (THOMAZ, 2006; BRASIL, 2009).

O caminho percorrido pelo vírus, desde sua entrada no organismo, ocorre geralmente através de lesões, como mordida de um animal infectado que esteja em seu período de virulência (eliminando o vírus pela saliva). Ocorre também por feridas e soluções de continuidade da pele, quando em contato com a saliva e outros órgãos de animais infectados. A transmissão pode acontecer ainda por meio de fezes, leite, urina, mas estas vias de transmissão são remotas (BRASIL, 2009; KOTAIT, 2009).

A transmissão oral é possível, entretanto não foi devidamente explicada. Porém, uma das formas usadas por países considerados desenvolvidos para a imunização é a ingestão de iscas contendo vacinas a partir de vírus atenuado. Casos de infecção por via nasal são descritos em cavernas e laboratórios com material infectado. No ser humano, já foram descritos casos de raiva em transplante de córnea e de outros órgãos quando a doença desenvolveu nos pacientes receptores (KOTAIT, 2009). A transmissão da doença ocorre de várias formas e está ligada diretamente ao tipo de espécie. Cães e gatos eliminam o vírus através da saliva, de dois a quatro dias antes do aparecimento dos sinais

clínicos, e se mantêm eliminando até a morte, que ocorre de cinco a sete dias após o aparecimento dos sinais. Desse modo, cães e gatos devem ser observados 10 dias depois da data de agressão. Em animais silvestres, não existem estudos aprofundados, no entanto, relatos demonstram a eliminação do vírus em morcegos Desmodus rutundus por 202 dias, sem sinais aparentes da doença (THOMAZ, 2006; BRASIL, 2009; KOTAIT, 2009).

O sinal inicial que os bovinos e bubalinos demonstram é o isolamento, por se afastarem dos rebanhos, mostrando ainda certa apatia, indiferença ao que passa ao seu redor juntamente com perda de apetite. Depois surgem outros sinais, como o aumento de sensibilidade de todo o corpo ao toque, prurido na região da mordedura (quando houver), mugidos constantes, hiperexcitabilidade, aumento da libido, salivação abundante e viscosa e dificuldade de engolir. Com a evolução da doença, o animal passa a apresentar sinais de dificuldades locomotoras (dificuldade de caminhar), movimento desordenados da cabeça, tremores muscular, ranger de dentes, midríase com o aumento do reflexo pupilar, incoordenação motora, andar cambaleante e contrações musculares involuntárias. (CORREA, CORREA, 1981; THOMAZ, 2006; KOTAIT, 2009).

Uma vez iniciado os sinais clínicos da doença nada mais se pode fazer, a não ser isolar os animais e esperar a sua morte ou sacrificá-los na fase agônica. Como os sinais da doença podem ser facilmente confundidos com outras doenças que apresentam encefalites ou ainda com acidentes, é preciso que se realize diagnóstico laboratorial diferencial (BARROS, 2003; THOMAZ, 2006).

A manipulação de animais infectados ou de carcaças de animais mortos pela doença oferece riscos elevados, principalmente para médicos veterinários e outros trabalhadores como tratadores de animais e funcionários da indústria da alimentação e de seus derivados. Geralmente, confunde-se os sintomas iniciais da doença com outras ocorrências, como objetos estranhos na garganta, que fazem com que os médicos veterinários e trabalhadores ao procurarem vestígios se contaminem (THOMAZ, 2006; KOTAIT, 2009).

Diante do exposto, as características de infecção, forma de evolução da doença, bem como a grande variabilidade dos quadros sintomáticos e de sinais clínicos da raiva complicam a realização de ações normativamente coordenadas. Ou seja, o controle institucional desse tipo de doença, via programas oficiais, dificulta a construção de políticas publicas. Não é tarefa simples tratar de tantas especificidades da enfermidade em algumas instruções normativas, e, quando se obtém

êxito, colocá-las em prática, a campo, pode ser difícil. Assim, a complexidade dos fatores envolvidos no controle da raiva é tão grande que dificulta a construção de políticas públicas.

Em humanos, os sintomas e os sinais clínicos da raiva podem ser descritos em três períodos: prodrômico, que dura em torno de dois a dez dias e se caracteriza por dor de cabeça, febre, náuseas, fadiga e anaroxia. No segundo estágio, ocorre a excitação sensorial, é conhecida pelo período denominado de neurológico agudo e persiste de dois a sete dias. Neste período, ocorre comportamento bizarro com extrema agressividade, ansiedade, aumento da libido, formigamento, priapismo, hipersalivação, aerofobia, fotofobia, reação ao barulho, contração muscular e tendência a morder e a mastigar. O terceiro estágio, denominado de raiva paralítica é caracterizado por coma e paralisia, confusão mental, alucinações, perdas cardíacas e respiratórias, paralisia de pescoço ou da região próxima ao ponto de inoculação. O paciente pode entrar em coma e falecer em poucos dias. Humanos com sintomas devem ser encaminhados sempre aos serviços de saúde e as autoridades devem ser imediatamente notificadas (CORREA, CORREA, 1981; THOMAZ, 2006; KOTAIT, 2009).

Em bovinos não se sabe de maneira exata o período em que o animal elimina o agente causador da doença - o vírus. Segundo o Código Sanitário para os Animais Terrestres, não existem estudos aprofundados. Porém, o período de infecciosidade, ou seja, o período no qual começa a eliminação do vírus, é de 15 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos e termina com a morte do animal (THOMAZ, 2009). A profilaxia principal da raiva consiste na imunização dos animais sensíveis. A Instrução Normativa nº. 5 detalha as exigências do Estado brasileiro para o controle da raiva dos herbívoros (BRASIL, 2002). Porém, no caso de cães e gatos, as normas a serem seguidas são as preconizadas pelo Ministério da Saúde.

O diagnóstico pode ser clínico ou laboratorial. O primeiro não é um diagnóstico definitivo, permite apenas suspeitar da doença, porque os sinais clínicos nos animais e os sintomas também não são específicos da doença. Além de os sintomas variarem quanto à espécie. Para esta infecção, não se deve apenas tomar por base as observações clinicas e epidemiológicas, visto que outras doenças, acidentes (como corpo estranho no sistema digestivo), intoxicações alimentares, bem como distúrbios genéticos e nutricionais apresentam sinais clínicos semelhantes (BRASIL, 2002; 2009)

Quanto ao diagnóstico laboratorial, também não existe um teste definitivo e conclusivo, contudo há procedimentos laboratoriais

padronizados internacionalmente e realizados a partir da morte dos animais, geralmente feitos a partir do tecido nervoso central (THOMAZ, 2006; BRASIL, 2009).