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PERCEPÇÃO SOCIAL DO INSTRUMENTO NOS CENTROS URBANOS A PARTIR DOS ANOS

CAPÍTULO V – ESCOLA COSMOPOLITA DE ACORDEON

5.2 PERCEPÇÃO SOCIAL DO INSTRUMENTO NOS CENTROS URBANOS A PARTIR DOS ANOS

Na década de 1940, diante da popularidade de Luiz Gonzaga e Pedro Raimundo, houve uma presença maior da música regional nos grandes centros. Com isso o instrumento se tornou bastante procurado por jovens da classe média. Havia muitos conservatórios especializados para o ensino do acordeon, a maioria destas escolas seguiam o padrão dos métodos da academia Mário Mascarenhas, que após uma temporada nos Estados Unidos e Argentina – países que também passavam por esse modismo, porém cada qual com seus processos específicos – Mário Mascarenhas implantou seu próprio conservatório. Todos esses fatores fizeram do acordeon um dos instrumentos mais populares no país durante a década de 1950.

Com o aparecimento de outros estilos como o rock, a jovem guarda e a bossa nova, o acordeon passava por momento de desgaste, inclusive sendo repudiado por muitos críticos das época. Rui Castro – jornalista – diz que João Gilberto despertou interesse nos jovens, colocando fim “aquela infernal mania nacional pelo acordeão”.

Hoje parece difícil de acreditar, mas vivia-se sob o império daquele instrumento. E não era o acordeão de Chiquinho, Sivuca e muito menos o de Donato – mas as sanfonas de Luíz Gonzaga, Zé Gonzaga, Velho Januário, Mário Zan, Dilu Melo, Adelaide Chiozzo, Lurdinha Maia, Mário Gennari Filho e Pedro Raimundo, num festival de rancheiras e xaxados que parecia transformar o Brasil numa permanente festa junina (CASTRO, 2008, p.194).

Rui Castro elogia o acordeon moderno de Chiquinho do Acordeon, João Donato e Sivuca, e critica as linguagens mais tradicionais, evidenciando o momento turbulento que a música regional passaria nas próximas décadas, como no caso do baião de Gonzaga, narrado no capítulo anterior. E o acordeon, por estar ligado às regionalidades, automaticamente passou por esse período de declínio.

Isso nos leva questionar até que ponto foi bom ou ruim essa popularização proposta por Mário Mascarenhas e “suas” academias, ou melhor, as academias que levavam o seu nome e metodologia. Gilda Montans, acordeonista, fala sobre esse momento em uma entrevista à revista online REVIDE.

Teve seu auge nas décadas de 50 e 60. Nesta época, o ensino do instrumento se espalhou pelo Brasil afora. O responsável pela façanha foi o músico acordeonista carioca Mário Mascarenhas. Ele montou escolas para todo lado, formou professores com uma metodologia facilitada, o que provocou a banalização do instrumento. Por outro lado, em São Paulo, o ensino era sério, um órgão do Governo do Estado, Fiscalização Artística de São Paulo, era responsável pela qualidade dos conservatórios. Instalou-se um comércio de instrumentos e em quase todas as casas tinha um acordeom. Mas, lamentavelmente, até por conta desta massificação, passou a ser considerado um instrumento de segunda categoria. (REVIDE, 2014)

Segundo Lucas Kleber, em seu artigo Distintos ventos dos foles: dos

primeiros fonogramas ao modismo do acordeão na década de 1950 no Brasil, o

Rio de Janeiro, que já havia sido considerado a cidade dos pianos no início do século, recebeu um grande número de sanfonas. O preço acessível do instrumento na época – hoje a realidade é bem diferente –, sua portabilidade e a popularidade de seus representantes, fizeram com que o acordeon tivesse grande aceitação. Edmar Miguel de Assis, regente da Orquestra Sanfônica

Ronaldo Cunha Lima, da Paraíba, relembra em uma entrevista concedida à

Revista de História da Biblioteca Nacional:

Antes mesmo de Luiz Gonzaga, o acordeão era o instrumento mais difundido nas Américas. E o Brasil, como país continental, acabou por receber uma grande influência. No Rio de Janeiro, então capital federal, havia escolas com mais de mil alunas! E digo alunas porque a sanfona era, nessa época, considerada um instrumento mais para mulheres que para homens. Tocava-se de tudo: polcas, valsas, mazurcas, rancheiras, jazz. Ou seja, o instrumento estava longe de ter a conotação regional que tem hoje. (ASSIS, 2008, p.31).

O relato de Edmar Miguel de Assis sobre o repertório demonstra que nessa época o instrumento não tinha a ligação com a regionalidade com a qual ficou associado posteriormente no imaginário nacional. O que nos faz pensar na hipótese desse vínculo menos regional do acordeon ter se rompido.

O método de Mascarenhas foi um fenômeno de vendas, e, apesar de algumas limitações, segundo Lucas Kleber “o método trouxe a prática da leitura musical e foi responsável pela musicalização e alfabetização musical de muitos músicos que passaram direta, ou indiretamente, por aqueles conservatórios” (2018). Até os dias atuais o método continua sendo bastante difundido.

Enquanto isso, nomes como Chiquinho do Acordeon, Sivuca, Orlando Silveira, Mário Gennari Filho e Mário Zan passaram a ter mais espaço nas grandes gravadoras brasileiras. Observando algumas discografias, nota-se que a década de 1950 foi bastante profícua para os acordeonistas.

Chiquinho gravou dezesseis discos de 78 rpm, cinco LP’s, além de inúmeras gravações com outros artistas. Orlando Silveira gravou vinte discos de 78 RPM, e quatro LPs. E Sivuca dez LP’s, tornando-se o acordeonista nordestino mais famoso com a exceção de Gonzaga, que além de instrumentista era cantor. Depois de 1960, Sivuca, Orlando e Chiquinho gravaram bem menos, demonstrando uma tendência de declínio. Com baixa procura do público, o interesse das gravadoras diminuiu e os artistas gravaram cada vez menos. Orlando voltou a gravar apenas em 1978, que foi seu último disco. Chiquinho ficou 23 anos sem gravar trabalho solo – de 1961 à 1984 –, apenas fazendo gravações para outros artistas. E Sivuca ficou 13 anos fora do país, foi morar no

Estados Unidos, e nesse período chegou a gravar discos tocando somente no violão.