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SANFONA DE OITO BAIXOS E TRADIÇÃO NORDESTINA

CAPÍTULO IV – ESCOLA NORDESTINA DE ACORDEON

4.4 SANFONA DE OITO BAIXOS E TRADIÇÃO NORDESTINA

O acordeon diatônico, nome clássico do instrumento que recebe diversos apelidos, alguns mais populares como sanfona de oito baixos, pé-de- bode e gaita ponto (na região Sul), é um instrumento que possui tradição em todas as regiões abordadas por essa pesquisa, porém, na região Nordeste esse instrumento tem algumas particularidades que chamaram a atenção, durante o percurso da pesquisa. De modo geral, o acordeon é um instrumento que se passa com a hereditariedade, dentre os casos abordados no seriado OMSL, a maioria aprendeu o instrumento com o pai, ou viu o pai tocar ou algum parente próximo, seja tio, irmão, avô. No Nordeste, grande parte dos sanfoneiros tiveram essa influência pela sanfona de oito baixos, por exemplo, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Marcos Farias, Zé Calixto, Luizinho Calixto. A lista é imensa. Mas atualmente a realidade é inversa. O acordeon diatônico, está cada vez mais em desuso.

Mas se é tudo sanfona, tudo é acordeon, por que tanta diferença entre esses instrumentos da mesma família?

A diferença entre a sanfona de oito baixo para a sanfona de teclado, é que a sanfona se você toca numa tecla daquela, abrindo é um “dó”, fechando é o mesmo “dó”. Tanto faz pra lá ou pra cá (abrindo ou fechando), a oito baixo é diferente, abrindo é um som, fechando é outro (Arlindo dos Oito baixos. Ep. Família Calixto, OMSL).

No vídeo, Arlindo faz uma demonstração no qual abrindo a sanfona apertando um botão (tecla) é a nota Ré e fechando no mesmo botão (tecla) é a nota Dó. Uma diferença em relação à “gaita ponto” gaúcha, é que os gaúchos compram o instrumento e tocam do jeito que vem da fábrica, já os nordestinos adaptam para o seu jeito de tocar.

Na gaita ponto tradicional, a gaita diatônica tradicional, essas notas que são abrindo, elas repetem fechando, algumas, quase todas, todas as notas do teclado você tem ela abrindo, e as fechando são repetições e não são todas que tem a repetida. E no caso dessa nordestina, que eles fizeram adaptação no nordeste, eles ao invés de fazer fechando a adaptação, eles foram colocando essas notas, que não tem normalmente na gaita ponto, então foi fazendo uma gaita com todas as notas, que invés de fechar o fole, repetir uma nota que já tem no outro botão abrindo eles colocaram outra nota. Então na realidade ficou uma gaita que existe todas as notas, dependendo abrindo ou fechando.(Renato Borghetti. Ep. Familia Calixto, OMSL)

Ou seja, segundo Renato Borghetti, a “gaita ponto” tocada no nordeste, é adaptada, na qual se criou outros recursos não existentes no instrumento feito originalmente.

Se, quando o assunto é ensino de acordeon a piano, dependendo do nível técnico, e onde espera chegar com o estudo, não temos tanta profundidade e oferta como um instrumento popular como violão, ou viola caipira. Quando se fala em acordeon diatônico fica mais complicado ainda.

Se tratando de sanfona de oito baixos a informação é muito pequena, o instrumento ainda é marginalizado, porque as pessoas ainda olham e diz ‘mas... faz alguma coisa com isso?’ Faz alguma coisa com isso? (Repete com ar de indignação) (Luizinho Calixto. Ep. Família Calixto, OMSL).

Luizinho Calixto confirma a diferença de afinação do instrumento. segundo ele, os nordestinos conseguem tocar na afinação gaúcha, lógico que não com a mesma performance, mas conseguem tirar som, já o pessoal gaúcho não consegue desempenhar na afinação nordestina, deixando a entender que a afinação nordestina seria mais complexa. Na afinação nordestina, Luizinho toca todos os estilos de música. Analisando os vídeos do documentário, o instrumento possui algumas diferenças, por exemplo o instrumento que Arlindo dos Oito

Baixos, Geraldo Correia e Zé Calixto aparecem tocando possui realmente 8 baixos, a sanfona de Luizinho Calixto já é de 12 baixos, já a que Renato Borghetti toca é de 40 baixos além de ter alguns botões a mais do lado direito. Portanto o instrumento “acordeon diatônico”, embora tenha o nome popular de sanfona de oito baixos, podem ter em outros tamanhos, no caso, 8, 12, 24 e 40 baixos, segundo Renato Borghetti no livro O Brasil da Sanfona.

Durante os episódios, temos relatos de músicos que tentaram tocar o acordeon diatônico e não tiveram êxito. Como são os casos de Epitácio Pessoa, Adelson Viana e Beto Ortiz. Adelson disse que não conseguiu tocar nem

Parabéns pra você. Beto conta de uma aposta que fez com Arlindo dos Oito

Baixos, que propôs que se ele (Beto) tocasse certa música proposta por Arlindo, de melodia simples, em tonalidade menor, que ele daria a Beto, a chave do carro e a sua própria casa. Segundo Beto, tentou por dias e não saía nada, diante de tamanha dificuldade.

Beto Ortiz faz um comentário interessante, sobre a dificuldade de popularizar o instrumento, novamente. Segundo ele, é difícil hoje em dia se ver jovens interessados pela sanfona de oito baixos, muito pela estética, e pela dificuldade de execução do instrumento, e pode-se acrescentar a falta de mídia como um fator que dificulta a sua popularidade. Hoje, no Brasil, temos um grande representante a nível internacional que é Renato Borghetti, Luizinho Calixto como um grande representante, mas em uma abrangência mais regional nordestina. Dos demais citados no OMSL, apenas Zé Calixto está vivo, na época da redação desta dissertação, com 85 anos de idade. No estado do Paraná, por influência de Hermeto Pascoal que lhe presenteou com um sanfoninha, o acordeonista João Pedro Teixeira também aparece como um novo nome no cenário, embora João toque os dois instrumentos (diatônico e a piano), a 8 baixos sempre está presente em seus shows e gravações. Para os nordestinos, Luizinho Calixto tem trabalhado para ensinar, criar métodos, porém segundo o próprio Luizinho, todos os sanfoneiros de oito baixos que ele conhecia (pelo menos até a filmagem do documentário), nenhum estudou teoria musical, todos aprenderam de ouvido, então ele criou métodos didáticos a partir dos métodos de acordeon, para incentivar e ajudar a propagar a cultura dos oito baixos.