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Percurso da escola escolhida no Observatório da Cultura Infantil (OBECI)

4 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA DAS TRANSIÇÕES

4.2 APRESENTANDO O CAMPO DE PESQUISA

4.2.1 Percurso da escola escolhida no Observatório da Cultura Infantil (OBECI)

eu participo desde 2013, surgiu a partir de carta-convite pelo professor Dr. Paulo Sérgio Fochi. No início, o grupo formou-se por poucas escolas. Essas instituições aceitaram o convite por possuírem o “interesse particular na reflexão e transformação de seus contextos” (FOCHI, 2017, p. 23). Das cinco escolas convidadas, em 2013, quatro compareceram no primeiro encontro em que foi apresentada a proposta do trabalho e três deram continuidade a ele. No segundo e no terceiro ano, as demais escolas fizeram contato solicitando a participação no grupo. Hoje, o OBECI reúne cinco

instituições. O grupo constitui-se de “uma comunidade que, inicialmente, formou-se pelas equipes gestoras - diretora e coordenadora pedagógica” (FOCHI, 2017, p. 23).

Importa dizer que essas escolas aceitaram “reunirem-se, sistematicamente, para voltarem-se às instituições implicadas, pensando a respeito das dinâmicas do cotidiano, da ação pedagógica, do lugar das crianças e do papel do professor” (FOCHI, 2017, p. 23). Por isso, “essa comunidade, de autogestão, foi se ampliando e, hoje, envolve cinco instituições, além do trabalho formativo que também se alargou, abarcando seus professores” (FOCHI, 2017, p. 23). Para Fochi (2017, p. 23), idealizador e coordenador desse grupo:

O OBECI pode ser entendido como uma comunidade de apoio ao desenvolvimento profissional que, (i) enquanto uma estrutura social, gera aprendizagem para e com seus participantes; (ii) espaço de formação a partir dos pressupostos da abordagem da documentação pedagógica; (iii) organiza- se com a finalidade de ser um espaço/tempo para o compartilhamento de dúvidas; (iii) propõe-se a promover comunidades de prática; (iv) espaço de reflexão e retroalimentação sobre e para o cotidiano praxiológico; (v) a construção da qualidade dos contextos de aprendizagem das crianças e dos profissionais.

Seguindo esses pressupostos, pode-se dizer que, como participantes desse grupo formativo, direcionamos o interesse no observar, refletir, tomar consciência das escolhas pedagógicas que estamos fazendo e que projetamos a partir de decisões que coloquem a criança como centro do projeto educativo e reposicione o adulto, dando aos dois um lugar de importância na construção da relação educativa (FOCHI, 2017, p. 49). Nesse sentido, a escolha da escola dessa investigação se justifica por ela participar de um grupo que está em processo de desnaturalizar práticas tidas com crianças pequenas.

A proposta de partilhar dados da pesquisa, que proponho a seguir, corrobora essa ideia. Ainda destaco que, por fazer parte desse grupo, desde 2013 até 2014, como coordenadora pedagógica de EMEI e atualmente como assessora pedagógica, consigo acreditar no seu potencial e acompanhar a caminhada de cada espaço que dele participa. Esse fato fica claro quando Fochi (2017, p. 50) salienta:

Identificar os modos como pensamos e fazemos a ação pedagógica é um processo longo e bastante complexo. Envolve a tentativa de estranhar o familiar, ou ainda, de identificar as matrizes teóricas que reproduzimos tanto no trabalho pedagógico, como no processo formativo.

Além disso, assim como nessa pesquisa que almejo, que questiona como desnaturalizar as práticas cotidianas automatizadas no contexto da creche, o OBECI possui como objetivo:

[...] responder à pergunta “como construir qualidade para as crianças e os adultos”, tanto do ponto de vista formativo, como da ação pedagógica, os professores e gestores (i) produzem evidências do cotidiano a partir dos observáveis19 e confrontam com pares (dentro das escolas; no OBECI), (ii) retroalimentam o cotidiano através da interpretação dos observáveis e com isso, (iii) vão-se construindo os pensamentos que mobilizam a ação nas instituições. (FOCHI, 2017, p. 50).

Ademais, esse grupo existe e possui sua importância por ser “[...] um espaço de legitimidade da dúvida e do confronto que, ao mesmo tempo que qualifica o espaço de questionamento que está sendo feito por cada instituição, provoca às demais a pensar sobre os próprios processos” (FOCHI, 2017, p.51). Dessa forma, essa proposta do Observatório o torna um “lugar legítimo para o debate ampliado e de confronto a respeito das práticas educativas”, além disso, contribui para “despertar no adulto a sua capacidade para ver criticamente a pedagogia latente nas escolas, reveladas por aquilo que está em curso no cotidiano da instituição”. Com isso, esse grupo corrobora o que me proponho realizar nessa investigação, pois, assim como eu, esse observatório, no qual aprendi muito, busca, “[...] compreender e interpretar as atuações das crianças para, então, saber planejar e projetar a continuidade do seu próprio fazer enquanto professor” (FOCHI, 2017, p.51). No entanto, saliento que concordar com essa

19 No OBECI observáveis significam “registros feitos a partir de observações do cotidiano e que garantem a possibilidade de serem utilizados para refletir. Os observáveis são, necessariamente, materiais concretos, físicos: fotografias impressas, arquivos de fotografia, arquivos de vídeo, anotações do professor, exemplares de produções das crianças. Em outras palavras, algo que se possa observar posteriormente ao momento em que ocorreu” (FOCHI, 2018, p. 157).

metodologia para a transformação das práticas pedagógicas da escola diferencia-se do percurso que assumo ao pesquisar com crianças. Isso pode ser afirmado, porque, no caso de minha pesquisa, os elementos investigativos estão no que dizem as crianças (por meio de suas ações e relações) a respeito de seus modos de vida no contexto da creche, e a geração de dados será de minha responsabilidade.

Por fim, vale destacar que esse grupo, como uma comunidade de apoio profissional, foi explorando, nesses quatro anos de estudos, de encontros, de reflexões, aspectos do cotidiano das escolas, que foram sendo compartilhadas em reflexões entre as instituições para que pudessem contribuir para a tomada de decisões em um nível de consciência diferenciado (FOCHI, 2017). Em razão disso, esse foco no cotidiano se deu por crermos “no valor educativo das coisas de cada dia”. Acrescenta-se a essa posição o quanto acreditamos que: “O modo como as coisas acontecem na cotidianidade da escola representa um valor importante na vida das crianças, especialmente se pensarmos em seu bem-estar” (FOCHI, 2017, p. 60), porque todos os momentos da vida cotidiana merecem ser acolhidos no seu valor educativo, como, por exemplo: “Comer, descansar, andar pela escola, encontrar os amigos, fazer amigos, brincar, ir para a caixa da areia, descobrir por onde passa a água em um conjunto de canos” (FOCHI, 2017, p. 60). Nesse contexto, esse posicionamento do OBECI auxilia minha pesquisa, me faz acreditar ainda mais na importância de realizá-la e, especialmente, reforça a escolha do lugar dessa investigação, mesmo que, nessa proposta que apresento, o foco estará nas perspectivas das crianças. Por esse motivo, apresento, a seguir, as características do grupo investigado.