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Nesse momento, faz-se necessário mostrar as conclusões advindas do estudo com relação ao perfil do consumidor disruptivo, termo escolhido para definir o consumidor da pós- modernidade, e que já vem sendo traçado ao longo desta pesquisa. Pode ser definido como um indivíduo que está em constante evolução, ou seja, interrompe o seguimento normal de um processo para alterar e romper padrões, com o objetivo de construir uma nova realidade ou contribuir com ela. É um consumidor que participa da transição moderna, pois faz parte de uma geração independente, consciente e tecnológica. Anseia mais dos produtos, das marcas e das pessoas e testa novas maneiras de se relacionar esteticamente com o mundo. Valoriza mais a produção local, tendo menos tendência ao hiperconsumo. Experimenta novas relações de trabalho, educação, produção e consumo. Os consumidores disruptivos são, ao mesmo tempo, criadores e consumidores da nova economia. Sustentabilidade ambiental, social e cultural não são mais uma questão de ideologia, e sim de necessidade.

A classificação do consumidor por idade, renda, sexo ou etnia, incontestável até pouco tempo atrás, deixou de fazer sentido diante do novo contexto social no qual a sociedade se encontra. Apesar dos traços comuns, o mercado hoje se tornou muito mais fragmentado. O estilo de vida, as ideologias, as vontades, sonhos, ambições e a individualidade de cada ser se tornaram um fator decisivo na decisão de compra. Dessa forma, metaforicamente, pode-se dizer que se vivencia a era do consumidor “camaleão”, pois este concentra dois ou três estilos de vida e adota um ou outro conforme o momento e a necessidade (Simões, 2005). Como afirmam Lewis e Bridges (2004), a realidade dos novos consumidores, termo escolhido pelos autores para descrever o novo perfil do

um processo desconstrutivo, pois classifica os consumidores de acordo com rótulos como idade, classe social, frequência de uso do produto, renda, entre outros. Esse processo é utilizado há mais de 70 anos, porém, na pós-modernidade, esse sistema fracassa com frequência quando aplicado ao consumidor disruptivo.

Com a velocidade crescente e vertiginosa com que o cenário social tem se modificado a partir da internet e das tecnologias a ela relacionadas, surge um novo panorama, repleto de possibilidades, conexões e ampliação do potencial humano (Gabriel, 2010). No entanto, quando se retrata o recorte por idade, vê-se que os consumidores disruptivos são constituídos, em sua grande maioria, pelo grupo de gerações Y e Z, por suas características, ainda que não se exclua a participação de outras gerações. De acordo com Lewis e Bridges (2004), com o advento da tecnologia e da informação, é possível encontrar, dentro desse recorte, pessoas de outras gerações, pois também são influenciadas por essa nova cultura. Ainda que essas pessoas não impactem o cenário de uma maneira significativa, vivem essa mudança e são influenciadas por essa nova cultura.

Consumidores disruptivos são consumidores móveis, sem muito tempo disponível, pois vivem em ritmo acelerado. Para eles, tudo deve ser simultâneo e poupar tempo. São nativos digitais, quando querem tomar uma decisão de compra, buscam imediatamente em seus dispositivos móveis as informações de que necessitam, o que lhes permite tomar decisões a qualquer hora e em qualquer lugar. Apesar de experientes na internet, gostam de experimentar as coisas fisicamente, valorizam o envolvimento na interação com as marcas. São também comunicativos e confiam uns nos outros (Kotler, 2017).

Dessa forma, esse consumidor só tem olhos para produtos ou serviços que lhe ofereçam claramente algo muito relevante e de valor pessoal (Simões, 2005). O tempo, a atenção humana e a confiança constituem a escassez da nova economia, e esses aspectos, embora distintos, são ligados e indissociáveis, ou seja, a falta de tempo resulta em períodos de atenção reduzidos, o que por sua vez torna os novos consumidores menos dispostos a confiar, intolerantes e infiéis às marcas que consomem. A atenção humana virou a

commodity mais importante dos novos tempos (Lewis e Bridges, 2004).

Pode-se, assim, concluir que se trata de uma geração pós-demográfica, pois não cabe mais dentro dos parâmetros que antes eram definidos pelos aspectos como idade, gênero, localização geográfica ou status usados tradicionalmente para definir uma geração. Estão em todos os lugares, tem todas as idades, gêneros, não há mais limites ou barreiras que

impeçam o acesso. De acordo com Morace (2018), são indivíduos que assumem comportamentos baseados em valores e práticas de sustentabilidade social e ambiental. Querem conhecer a biografia daquilo que consomem, como a origem efetiva, as histórias das comunidades envolvidas, o envolvimento ambiental e social no decorrer do percurso.

No entanto, é importante destacar que, atualmente, os consumidores já esgotaram, em grande parte, os objetos de que necessitam e estão focados no que querem comprar, ou seja, buscam oportunidades e experiências que proporcionem uma vida mais feliz, mais rica e recompensadora. A importância econômica adquirida pelos novos consumidores demonstra atitudes, aspirações e padrões de compra distintos. Além de estarem habituados com produtos de alta qualidade, sua atenção é conquistada mais facilmente por produtos e serviços que ofereçam adicionais mais elevados, inovadores e originais, Estes, quando considerados autênticos, ganham sua preferência (Lewis e Bridges, 2004).

As pessoas procuram cada vez mais a autenticidade, seja pela espiritualidade, seja pela “terapia do varejo”. A espiritualidade se tornou uma definição para tudo que as pessoas sentem estar faltando em suas vidas, no lugar do que esperam descobrir. Um sintoma que motivou essa busca foi o crescente desencantamento dos indivíduos com os valores do materialismo e um desgaste da ciência, que “desvendou” todo o mistério da existência. Também, vive-se em uma sociedade em que ideais comuns e decisões políticas têm sido substituídos, em grande parte, por significados partilhados que giram em torno de nomes de marcas e imagens de propagandas, fazendo com que o ato de ir às compras não signifique exclusivamente adquirir coisas, mas comprar identidade (Lewis e Bridges, 2004).

Então, pode-se concluir que o perfil do consumidor disruptivo é composto por uma personalidade individual, autêntica e independente. São engajados, ativos, bem- informados e agem sozinhos ou em grupos. São sensíveis, conscientes e atentos aos discursos das marcas que consomem. São aptos a discernir produtos autênticos de artigos produzidos em massa, que apresentam diferenças sutis. A demonstração de uma originalidade pessoal de ser está intimamente relacionada à autenticidade daquilo que consomem (Lewis e Bridges, 2004).