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2.4 O MUNICÍPIO DE VILA PAVÃO

2.4.3 O PERFIL DO TRABALHADOR DA EXTRAÇÃO DE GRANITO EM VILA

Dentro do universo demonstrado por Moulin e a partir dos dados contidos em DATAUFES (2004) e NESTH (2008), podemos apontar transformações no campo de trabalho, emprego e renda no município estudado.

A mineração ainda não se configura como principal atividade econômica de Vila Pavão. Esta ainda está ligada à agricultura familiar, em especial ao cultivo de café e à agropecuária. Nos últimos anos “As atividades agrícolas e agropecuárias, entretanto,

estão passando por um momento onde figuram graves entraves ao desenvolvimento produtivo, principalmente pelas prolongadas estiagens” (DATAUFES, 2004, p. 23).

Associando o crescimento da mineração às atuais condições naturais, à crença na possibilidade de maiores ganhos, e ao valor agregado ao sentido social atribuído ao trabalho, os trabalhadores do campo têm deixado sua atividade de origem e caminhado em direção às pedreiras.

Na região norte, tendo tradicionalmente na agricultura a principal atividade na geração de emprego e renda, os constantes períodos de secas contribuíram para a maior valorização do setor de exploração nesses municípios, tendo em vista o recrutamento de trabalhadores rurais com salários superiores aos recebidos na agricultura (DATAUFES, 2004, p. 12).

Os estudos localizados, que tratam sobre temáticas afins a esta pesquisa, nos orientam na tentativa de traçarmos, em uma perspectiva geral, o perfil dos trabalhadores que compõem a força de trabalho das pedreiras do município de Vila Pavão.

De acordo com o NESTH (2008), existe predominância masculina de 98,2% nas pedreiras de Vila Pavão, sendo que 57,9% dos mineiros são casados, enquanto 32,5% se declaram solteiros e apenas 9,6% se classificam em outro estado civil (NESTH, 2008, p. 91-2). Um dado relevante levantado pela pesquisa foi à constatação da preferência pela contratação de homens entre 18 e 30 anos (58%). Os outros trabalhadores envolvidos no setor 35%estão na faixa etária entre os 31 e 40 anos, e apenas 7% encontram-se com idade entre 41 e 50 anos (NESTH, 2008, p. 92).

Um dos trabalhadores da empresa pesquisada nos ajuda a compreender a razão da escolha de homens jovens para o trabalho. Conforme o mesmo, o serviço exige muito do corpo humano, pois as tarefas na pedreira são pesadas e degradantes à saúde. Sendo assim, os homens mais jovens apresentam melhores condições físicas para a execução do trabalho. O trabalhador explica que:

A pedreira você sabe baqueia a gente. Eu já furei muita pedra assim, no pó! Nesses exames que eu fiz, nunca deu nada, mas eu sinto que de uns tempos atrás eu, o esporte que eu mais pratico é jogar bola, eu sinto hoje em dia pra eu correr, eu não estou correndo mais como antigamente! Da canseira. E aqui cê sabe que a saúde da gente, a gente aqui sabe que acaba mesmo! Que é peso o dia inteiro. Cê sabe que costuma dar câimbra, eu sei de marteleteiro antigo que costuma sofrer muito de câimbra, que tem vez que cê pega o dia inteiro aquele peso, põe aqui, tira aqui, põe aqui e tira aqui, o dia inteiro com peso. E quando você não esta no martelo, cê tem que tirar aqueles aços grandes pra fora. Aço de 7, 8 metros, 10 metros, é pesado, só que ai nós tira em dois.

Outro aspecto que atrai os trabalhadores para a indústria das rochas é o fato da mesma não exigir alto grau de formação profissional e de escolaridade. NESTH (2008) aponta a ausência de analfabetos no setor, entretanto, constata que apenas 24,1% concluíram o ensino fundamental, enquanto 39,2% declaram não ter concluído o mesmo, ainda, é possível constatar que somente 19,6% concluíram o ensino médio, enquanto 17,0% não concluíram esta etapa do processo formal de educação (NESTH, 2008, p. 93). Mesmo que os dados apontem para a existência de trabalhadores com escolarização formal, os mesmos refletem a baixa escolaridade destes trabalhadores. Neste caso, os próprios trabalhadores reconhecem que as pedreiras e a roça são as opções que se tem em razão do pouco estudo. “É isso! Achei melhor era o serviço que

tem um pouco a ver com a gente. A gente era acostumado trabalhar assim, na dureza. E pagava um pouquinho a mais e estudo pra um serviço mais leva a gente num tem”.

O pagar “um pouquinho a mais” representa rendas que variam entre um e cinco salários mínimos por mês. Conforme NESTH (2008, p. 101) apenas 4% dos trabalhadores declararam ganhar um salário, outros 13% informam que recebem até cinco salários e 83% afirmam que seus ordenados estão entre um e três salários. Conforme a mesma fonte, 99,1% dos trabalhadores recebem seus vencimentos através

do proprietário ou da empresa para qual prestam serviço e apenas 0,9% têm seus pagamentos efetuados através de cooperativa (NESTH, 2008, p. 101).

O relatório informa que apenas 13% dos mineiros realizam outras atividades para complementação de renda. Dentre os trabalhadores que afirmaram ter outra fonte de renda, ficou evidenciado no documento que 86.7% conseguem aumentar sua renda através da lavoura (NESTH, 2008, p 94). Além da renda provinda de outras atividades econômicas parte dos trabalhadores contam com ajudas externas no acumulo da renda familiar. São elas: ajuda de custo aos mineiros pela empresa 2% dos trabalhadores; ajuda fornecida pelo governo através de programas sociais 9,1%;auxílio através de anotação na carteira de trabalho 55%; outros 1% (NESTH, 2008, p. 105).

O relatório informa ainda que 77,4% dos trabalhadores são naturais do estado do Espírito Santo. Já em relação aos nascidos em Vila Pavão, Nova Venécia e Barra de São Francisco, a fração é de 58,3% (NESTH, 2008, p. 93). No que diz respeito à documentação de identificação como, carteira de identidade (92,2%), de trabalho (99,1%), CPF (99,1%), Título de Eleitor (99,1%), a maioria dos trabalhadores declarou os possuir. NESTH (2008) ressalta ainda que 41,7% declararam ter outros documentos, sendo que o segundo documento mais citado foi a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) (NESTH, 2008, p. 94).

Em relação à função que ocupam dentro das pedreiras, 0,9% se apresentam como donos do empreendimento, 30% se declararam operadores de máquinas, 37% como operando trabalhos manuais e 32,2% afirmam executar outra função no trabalho (NESTH, 2008, p. 96). Destaca-se ainda que nenhum dos trabalhadores se declarou como proprietário do terreno.

As informações trazidas pelo DATAUFES (2004)12 apontam que, na região pesquisada no estudo, a divisão do trabalho seguia a seguinte distribuição: 52,6% dos trabalhadores atuam na função de marteleteiro; 11,9% na de ajudante geral; 8,9% tinha como ocupação a operação de maçariqueiro; 7,4% de operadores de máquinas; 6,7% atuavam como cortador/riscador; 3,7% como fiorista; 3,0% como encarregado; 2,2%

12

Lebramos que o DATAUFES (2004) foi um estudo realizado envolvendo três municípios da região noroeste do Espírito Santo (Barra de São Francisco, Nova Venécia e Vila Pavão) e o NESTH (2008) aconteceu apenas em Vila Pavão

como serrador; 1,5% eram ajudantes de maçarico; 1,5% desbastador; e 0,7% manobrador (DATAUFES, 2004).

O estudo realizado por NESTH (2008, p. 108-9), indica que 90,1% dos mineiros estão filiados a sindicato ou cooperativa, sendo que os 9,9% restantes declaram não estarem filiados e nenhum tipo de instituição dessa natureza.

Em relação ao uso dos Equipamentos de Proteção Individual – EPIs, 95,7% afirmam utilizar capacetes, 77,2% luvas, 89,6% protetor auricular, 80% máscara de pó, 64, 3% óculos, 94% botinas, 3,5% nenhum e 54,8% outros. Entre os outros equipamentos declarados estão: cinto de segurança, uniforme, cerca de proteção, mascara de solda, avental e bracelete (NESTH, 2008, p. 106). No que tange à utilização de algum EPI: 1% se refere ao capacete, 1% à luvas, 0,0% ao protetor auricular, 1% à máscara de pó, 3,9% outros, 82,5% nenhum e 5,8% outros. Os dados ainda apontam que 99% dos EPIs são fornecidos pelas empresas contratantes e que 1% não cumprem esta norma prevista na NR22. Pode-se verificar no diagnostico produzido pelo DATAUFES (2004) números semelhantes na região. Sendo que 94,8% declaram receber equipamentos das empresas, enquanto 5,2% informam o contrário.

Conforme o DATAUFES (2004, p. 55) entre os 94,8% dos trabalhadores que afirmam receber EPIs das empresas, mais de 70% relatou fazer uso dos mesmos. Porém, parte significativa dos trabalhadores declarou não receber qualquer tipo de informação ou formação para a utilização do aparato de segurança disponível. Quanto ao uso, 73,8% afirmaram sempre usar os EPIs, enquanto que 15,1% usa a maior parte do tempo, 10,3% utiliza muito pouco e 0,8% não faz uso nunca (DATAUFES, 2004, p.54).

No que diz respeito à percepção dos trabalhadores sobre os equipamentos de segurança e utilização dos mesmos, alguns defendem que existe excesso de equipamentos, e que nem todo o aparato disponível é necessário. Este é um dado que chama atenção para a necessidade do desenvolvimento de medidas, por parte da classe empresarial em conjunto com os órgãos competentes, além dos fabricantes, voltadas para a busca por razões causadoras da insatisfação por parte dos operários. Defendemos que questionamentos devem ser feitos em torno das razões que levam os trabalhadores a “rejeitarem” os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

Por fim, podemos verificar que os trabalhadores das pedreiras de Vila Pavão contam em 58% dos casos com assistência médica, 75,4% com alimentação, 54,4% com transporte fornecido pela empresa, 78,9% com a disponibilização de EPIs, 4,4% com outros tipos de assistência, e 0,9% não fornecem assistência nenhuma.

2.4.4 SOBRE O SENTIDO E O VALOR DO TRABALHO NA