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O perfil da escola e da professora C

2. Procedimentos de leitura dos professores de História em sala de aula

2.5. O perfil da escola e da professora C

Esta escola chamada C está localizada na periferia de Guarulhos, também a oito quilômetros do Aeroporto Internacional de São Paulo. Possui uma quadra poliesportiva, uma cantina, biblioteca (com uma funcionária designada para o atendimento de alunos), sala de informática, pátio com refeitório e outras acomodações de praxe na rede pública.

Na avaliação de leitura do SARESP obteve aproveitamento de 55%, no período matutino, média um pouco superior a Diretoria de Ensino Guarulhos- Norte, que foi de 53,5%.

Durante a entrevista a professora informou que trabalha na Educação há seis anos e. nesta unidade escolar, há quatro anos. Ela possui licenciatura plena em História e não tem especialização.

Sobre o que é texto, respondeu que “é um conjunto de informações, informações diversas”. E sobre Leitura disse que “está relacionada ao texto. Para você entender o texto, tem que ler. Para mim é isso, leitura de um texto, qualquer tema. Para se chegar a uma interpretação, a leitura seria o veiculo”.

Quando ela trabalha a leitura em sala de aula, o mais importante é “a interpretação do aluno. Para isso, acho fundamental saberem o significado das palavras. Como já havia dito, anteriormente, sempre peço para eles trazerem mini-dicionário. Às vezes, eu mesma pego na direção. Para que à medida que

eles forem procurando o significado, irem aprofundando conhecimento para conseguirem interpretar”.

A avaliação da leitura é sempre realizada. Ela esclareceu que a leitura é “avaliada, dou nota de zero a dez. Então, tem aluno que adora ler, eu chego e ele já pede para ler. Por outro lado, existem aqueles, que mesmo eu pedindo, se recusam a ler. Mesmo dizendo que vão ficar com zero, eles não se importam. Não sei se é timidez ou, muitas vezes, não sabem ler e têm vergonha de assumir que não sabem ler. Para estimulá-los, eu costumo, à medida que vou explicando, fazer perguntinhas. Então, a cada pergunta que eles acertam, dou meio pontinho, esse meio pontinho deixo para somar na média, eu não divido. É uma maneira que encontrei de incentivá-los”.

Ficou evidente que, em parte, a professora se preocupa com a interpretação, porém sua visão de leitura está vinculada à alfabetização e a informação. Por isso, ela usa o dicionário sempre.

Após a insistência sobre a avaliação da leitura, ficou explícito tratar-se da fala do aluno. Aqueles que lêem em voz alta são avaliados. Como ela esclarece: “Eles lendo... A leitura se é boa, regular, ótima vale de 0 a 10. Já as perguntinhas, referentes ao texto, são para verificar se eles conseguiram interpretar, entender”.

Ao ser questionada se essa é única forma de avaliação, disse: “Não, dou trabalho de pesquisa e também as atividades de reflexão que o próprio livro traz, que são diversas”.

Sobre o livro didático, esclareceu que utiliza textos diversos, que traz de casa, e também os textos do livro, porém as atividades relacionadas ao assunto tratado são realizadas, pelo livro, bem como, outras atividades que ela própria cria.

As dificuldades que mais encontra em sala de aula também revelam uma “noção de leitura, vinculada à alfabetização”, como diz Orlandi (op.cit.). São dificuldades ligadas à decodificação e ao sentido literal, encontrado no

dicionário: “Dificuldades de interpretação de textos, eles têm dificuldades. Acredito que seja por não saberem o significado das palavras”.

Essa dificuldade de interpretação também tem outra hipótese formulada pela professora: “Às vezes, é preguiça. Eles respondem qualquer coisa, só para dizer que responderam. Aí, quando leio está tudo errado. Há falta de interesse”.

A superação dessas dificuldades está relacionada à avaliação: “Como disse, dou nota para ver se isso estimula, mas infelizmente, às vezes, não funciona. Aquele aluno que não está a fim de estudar pouco se importa”.

Acreditamos que o uso do dicionário pode auxiliar a leitura dos educando ao longo de todo o processo de leitura, porém nesta proposta não há espaço para eles descobrirem os sentidos inferidos e não somente literais.

2.5.1. A proposta de leitura C

A proposta entregue pela professora inicia com um esclarecimento sobre seu modo de pensar e agir sobre a Leitura, em sala de aula, entremeados ao esquema da aula.

a) A professora esclareceu que sua metodologia de ensino, inclui solicitar aos alunos, que tragam sempre às aulas um mini-dicionário de Português. Independentemente, se são do ensino fundamental, do ciclo II, ou do ensino médio, e também da série em que estão cursando.

b) Nesse item, a professora esclarece sua concepção de Leitura, a qual se não conseguimos compreender o que estamos lendo, fatalmente não conseguiremos aprender. Também comenta que desde que lhe impuseram adotar livros didáticos, de História, para o ensino fundamental, do ciclo II, não teve mais argumentos e acabou cedendo.

c) Ela passou a dar nota de leitura. A cada frase ou parágrafo, pede uma pausa ao aluno e vai esmiuçando, enfatizando sempre o significado das

palavras, seus sinônimos, conceitos, que derivam de determinados verbos. Indaga “onde está o sujeito oculto” (sujeito desinencial ou implícito), brinca que está “testando a Língua Portuguesa”. Também entra na área de Matemática, ensina o cálculo entre quantidade de anos e séculos, através de operações simples para calcular quantos anos viveu determinada personagem da História, o tempo que ela viveu fora de seu país, a porcentagem de terras ociosas no Brasil, entre outros.

d) No caso da carta de Olga Benário Prestes para o marido Luís Carlos Prestes, primeiramente pede que a leiam e juntos. Analisa e questiona trechos, explica o significado de Gestapo, Comunismo, Nazismo, Fascismo e os relaciona com a ditadura militar no Brasil, mais precisamente o governo de Getúlio Vargas.

e) A proposta encerra-se com a solicitação de um trabalho de pesquisa: ler ou assistir a biografia de Olga.

2.5.2. Análise da proposta C

Ao descrevermos a proposta como foi-nos entregue, confirmamos a concepção de Leitura vinculada à alfabetização, a uma decodificação da língua que nos levaria a compreensão de informações, como revelam os dois primeiros itens.

Em seguida, a professora demonstra consciência sobre a imposição de certas leituras, “instâncias ideológicas de economia”, através da distribuição e consumo de livros na escola. Acreditamos que há certa insatisfação com os conteúdos e qualidade dos livros, apesar de que não houve espaço para ampliar essa idéia.

A professora também demonstra preocupação em fazer um trabalho atualizado, interdisciplinar. No seu ponto de vista, os conceitos e conhecimentos de outras matérias são importantes, porém tudo é realizado por

ela mesma. Curiosamente, é no item c que percebemos algumas estratégias de leitura.

Nesse momento, mais rico de sua prática de leitura, demonstra que pára a leitura a cada instante, faz comentários, relaciona o significado das palavras ao texto, busca informações sobre qual é sujeito desinencial ou implícito, situa seu aluno no tempo, calculando os anos de diferença entre eles e a personagem.

Em seguida, no item d, há um bom momento em que a professora e alunos lêem o texto juntos. Ela explica o significado explícito de palavras importantes (Gestapo, Comunismo, Nazismo, Fascismo), relacionando texto a contexto.

A professora desconsidera os significados implícitos, como “(29) Antes de tudo”, no início da carta de Olga, que se refere ao contexto político que a protagonista está inserida e devido à censura não pode ser criticado. Esse implícito na carta relaciona-se a Gestapo, Comunismo, Nazismo e Fascismo.

Entretanto, esses últimos itens perdem-se com a solicitação de um trabalho de pesquisa: ler ou assistir a biografia de Olga. Do nosso ponto de vista, ficam vagos os objetivos da leitura. E antes da leitura instaurar-se como

processo acaba em leitura de outros textos.

O final dessa proposta desconsidera os conhecimentos prévios e inferências que os alunos podem ativar e revela uma tentativa de que eles sozinhos construam uma interpretação, bem como, não há relação ao gênero textual.

A concepção de leitura como alfabetização, no final das contas, limita todo o processo de leitura do texto. Seus pronunciamentos também revelam a falta de identificação dos alunos com a leitura e aproximam-se dos comentários da professora anterior.

Sobre esses fatos há, novamente, presença da “magicização da palavra” e falta de “adentramento” e de “inquieta procura” na construção de uma

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