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4. Uma leitura de Olga

4.2. Uma leitura

A paternidade não é um acontecimento sem importância. Ainda mais para um homem que historicamente sabemos ser idealista, e nesse momento da história está preso e sem notícias da família. Não chega até Prestes uma notícia qualquer, chega uma notícia vital, porém há uma série de barreiras. “A notícia (1)” é um alento à vida em cárcere, um alento que vai sendo reconstruído pelos laços familiares e ideológicos.

Que notícia é essa? É uma notícia subordinada, censurada às questões políticas e de cárcere. Assim, como a construção sintática do início do texto. A oração principal é “a notícia (...) encheu de esperanças um Prestes às portas da condenação por um tribunal de exceção”, numa relação hipotáxica estão às orações subordinadas: de que era pai, de que Olga estava viva, de que a mãe e as irmãs estavam bem, num procedimento de paralelismo sintático de coesão recorrencial.

A subordinação está marcada pela preposição de. Esta introduz, normalmente, um adjunto nominal, sendo neste trecho acompanhada pelo pronome relativo que, transpondo o extrato de subordinação e revelando o afastamento de Prestes em relação às pessoas que ama e são fundamentais em sua vida.

Essa reiteração parafrástica denota o atraso e a demora daquelas notícias. Vão despertando a idéia de barreiras e um estado de prolongamento daquele triste momento até a chegada da carta.

Em contrapartida, na oração principal o verbo (4) encheu, no pretérito perfeito, revela que algo surgiu e rompeu com a idéia de mesmice. O narrador privilegia a ação em que algo novo aconteceu àquele homem: encheu, ou melhor, foi preenchido um vazio. Uma ação concluída e transformadora. Esse verbo também contribui para a coesão seqüencial do texto. Há nele uma progressão da estrutura da narrativa.

Há um complemento verbal: “um Prestes”, que revela toda a fragilidade da personagem. No trecho a respeito da notícia que chega para (6) “um Prestes”, o uso do artigo indefinido constrói um sentido para o substantivo subseqüente. Esse artigo constrói a idéia de desiludido, solitário e sem perspectiva e, sobretudo, um homem retratado até esse momento do texto. Há também um adjunto nominal: “de esperanças”, fundamental, que complementa a idéia da multiplicidade de Prestes.

Ele sequer conhecia o destino de Olga. A identidade dessa personagem, citada logo no início do texto (2), é revelada pela sua importância na vida de Prestes. Essa importância pode ser notada quando o substantivo próprio Olga, modaliza-se para (9) mulher. Esse substantivo comum mulher, já caracteriza as relações amorosas estabelecidas entre eles. Não se trata de uma mulher qualquer, mas a Olga de Prestes, a mãe de sua filha. É comum, entre nós, o uso desta palavra mulher para se referir à esposa.

Ela “estava viva” (2), então, inferimos a possibilidade de morte. O que levaria Olga à morte? Passamos analisar a gravidade das circunstâncias daquele momento, o adjetivo “viva” remete-nos à morte. Nesta carta não interessa se ela está bonita, feliz, mais magra ou mais gorda, se o parto foi natural ou cesariana como ocorre com qualquer mulher que comentamos no nosso cotidiano.

Após essa gestação, o crucial é a sobrevivência, a notícia que chega prova que Olga sobreviveu (foi presa, enviada para a Alemanha, sob tutela da Gestapo, submetida a torturas e trabalhos braçais). Sobre sua mãe e irmãs (3) consta que estavam bem, talvez seguras, e não exatamente bem, porque bem nenhuma família fica quanto um dos seus está preso. Um singelo bem-estar

devido às circunstâncias, principalmente, porque não estavam presas como ele.

Prestes também vislumbrava a morte, (7) “às portas de um tribunal de exceção”, um fim na prisão. A esperança contagia Prestes mesmo sendo iminente seu julgamento, porém não enfrentará um tribunal comum, e sim “um tribunal de exceção” (8). Esta locução adjetiva caracteriza a justiça da época. O que nos leva a exceção? O senso comum nos diz que a justiça é igual para todos, mas com Prestes estava sendo diferente. Nossa atual constituição diz que “todos são iguais perante a lei”. A constituição da época, como quase todas, contém a preservação dos Direitos Humanos.

Que crime ele cometeu para não enfrentar a justiça comum e igualitária? De antemão já sabemos de sua condenação, porém o julgamento ainda nem aconteceu. Naquele momento de sua vida, restava-lhe somente o julgamento. Já era dada como certa a condenação e o pouco direito à defesa, porque vivíamos no ditatorial governo de Vargas.

Agora, no momento vivido por Prestes, renovam-se as forças com as leituras daquelas preciosas notícias. Fica nítida a importância daquela correspondência e a infinidade com que foi lida através da hipérbole: (9) “ele releu dezenas de vezes”.

Além de tão vitais aquelas notícias, o que mais faria Prestes num cubículo (10)? O uso do substantivo cubículo em vez de cela já nos dá a dimensão do pouco espaço, das mínimas condições da carceragem.

Há quanto tempo estaria preso? No texto fica evidente que ele “continuava preso” (11), o pretérito imperfeito, de aspecto durativo, dá uma noção de ação prolongada, que ainda não chegou ao seu fim.

O advérbio de tempo quando (12) remete-nos a novo momento do texto, há uma progressão textual, e entra em cena mais uma personagem: “(12)

Quando Sobral Pinto (13) informou-o de que tinha obtido autorização para que respondesse à correspondência de Olga” (14).

Sobral Pinto era o advogado que “tinha obtido a autorização” (14). Esta voz passiva do verbo demonstra a fragilidade da ação. Seu sujeito é agente recebedor da autorização, lhe foi dada, concedida e revela a ação daquela justiça. Não foi um direito assegurado pelo advogado, mas uma benevolência do regime político da época.

Ciente de que se tratava de uma benevolência e não de um direito, Prestes responderia a Olga em alemão! Era o momento de mais uma vez resistir. Ele “fez uma exigência” (15), na verdade Prestes não estava em condições de exigir nada daquele regime governamental, porém pretendia resistir, brigar, dar trabalho, mostrar sua ideologia. Provar que era capaz de incomodar, mostrar-se múltiplo.

Podemos inferir, primeiro, que Filinto Müller seria humilhado por não conseguir ler a correspondência em alemão. Segundo, “pela polícia de Felinto Müller” (16), a preposição de revela-nos a origem desse aparato público. Não era a polícia do Estado, (17) do Brasil, mas uma polícia personificada num proprietário. Um opositor, neste momento antagonista de Prestes. É sabido que Felinto Müller liderava as forças de repressão de Getúlio Vargas.

A Gestapo (18), a polícia alemã, não lhe meteria medo. Ao situarmos no texto pessoas, local e instituições (Felinto Müller, Brasil e Gestapo) já percebemos, implicitamente, que essa censura não era exclusividade brasileira.

O trecho seguinte revela o pensamento de Prestes sobre a polícia brasileira: Em “Pelo menos os nazista daqui (...)” (19), nazista é um termo associado à Gestapo, porém para Prestes tínhamos nazistas aqui (Brasil) e lá (Alemanha). O advérbio aqui evidencia a ideologia vigente no contexto histórico.

É evidente a intenção da personagem em dar trabalho à polícia de Filinto Müller para lerem sua correspondência. Mostra sua resistência na finalização do trecho: “desafiou” (20). Ele não tinha fluência na língua alemã, porém o pouco conhecimento seria suficiente.

Resistira “munido” (21), verbo que nos remete ao léxico de guerra; bem como “os rudimentos” (22) seriam suas armas: apenas dois livros, fechando o cerco bélico. Dessa forma, consolida seu ethos de soldado resistente. O mesmo, que anos antes comandou a Coluna Prestes, um movimento contra o domínio político oligárquico, e um dos motivos de seu aprisionamento.

A exceção era a marca daquela época. A primeira resposta de Olga chega (“semanas depois receberia” (23)), talvez, quinze, trinta ou quarenta dias. Não sabemos, precisamente, quantos dias. Entretanto, já imaginamos uma infinidade de dias, seguido pelo verbo no futuro imperfeito que prolonga ainda mais esta idéia.

O tempo voa e hoje a tecnologia, com toda a sua rapidez, fazem algumas pessoas se esquecerem do longo percurso de uma carta, naqueles tempos. Atualmente, apesar dos cerceamentos ainda existentes, temos modernas e ágeis agências de correios; um celular que propicia comunicação até entre presos comuns de dentro dos presídios brasileiros, burlando a polícia local.

Além de tudo isso, ainda há a Internet, quebrando dezenas de barreiras e suscitando tantas outras por parte de governos receosos e restritivos. Essa ferramenta veloz e direta é capaz de conectar pessoas em qualquer parte do planeta. Hoje uma mensagem pela Internet permite agilidade. É provável que até o extremista Bin Laden tenha tido a sua conexão para calcular e comandar as ações terroristas ao World Trade Center, nos Estados Unidos.

Situação bem diferente do primeiro bilhete de Olga. Melhor, “um bilhetinho” (24). Diminuto, carinhoso e frágil, contudo sua importância não está em seu tamanho e, sim, em seu conteúdo. O bilhetinho, não mais a “correspondência”, como o narrador cita no início do fragmento, foi lido e aprovado pela Gestapo, enviado à Cruz Vermelha, em Genebra, repassado à França, onde se encontrava dona Leocádia, esta que o remete ao advogado Sobral Pinto, no Rio de Janeiro. Somente depois de lido e, novamente, aprovado foi entregue a Prestes.

Uma correspondência que veio de longe, depois de muitos caminhos e vigilância acabou “pousando” (25), na cela (26), e não mais no cubículo. O restrito universo de Prestes alcançou novos horizontes, graças à modalização de cubículo para cela, ampliando horizontes.

Até esse ponto, o texto revela a mesmice e a demora para Prestes conseguir algo. Contribuem para essa idéia a utilização de um parágrafo extenso, construído, principalmente, por verbos no imperfeito.

Evidencia-se nessas situações a intencionalidade do autor em criar e recriar valores semânticos no contexto histórico–político da época em que viviam as personagens retratadas na biografia de Olga.

Como caberiam naquele bilhetinho (24) os sofrimentos e as privações da prisão e da vida? Para uma militante bem treinada, como Olga era, é uma missão simples escrever uma mensagem. Saberá encolher bem as palavras, sem se esquecer dos que amam. Na situação em que se encontrava, ela pôde comentar muitos detalhes sobre aquele momento de sua vida. Deveria ser breve, esta carta não teria privacidade. Mesmo sendo breve, num bilhete, não se desvencilhou de sua ideologia.

Sabemos que o gênero textual carta, é uma correspondência, ligeira, com o propósito de mencionar ocorrências de grande ou pequena importância. Uma carta revela certa dose de formalidade, quanto à sua estrutura (local, data, saudação, emprego do vocativo, mensagem, saudação final e assinatura). Pode ser usada para a troca de confidências entre os amantes; avisos restritos entre políticos ou entre funcionários de uma empresa; entre pais e filhos para relembrar obrigações domésticas, e tantas outras finalidades.

Este, como qualquer outro gênero textual, é uma atividade humana discursiva, que revela nossas atividades, papéis e relações sociais por meio da linguagem (Meurer op. cit). É através da comunicação que o ser humano transgride, refuta, concilia e critica o mundo em que vive. E marca suas posições ideológicas relacionando o gênero, o léxico, o contexto e o seu interlocutor.

Olga inicia sua correspondência situando-se no tempo e no espaço: “Berlim, abril de 1937(27)”, como o gênero exige. Escolhera bem as palavras porque sabe que a correspondência será lida por muitas pessoas, e ela e Prestes estão presos.

Ela está bem distante do Rio de Janeiro, mas o início da correspondência evidencia o grau de intimidade e afetividade entre os interlocutores “Meu Carli (28)”. Não se trata de um Carlos qualquer, e sim de um Carlos específico, como oferece o pronome possessivo. Convém salientar que, apesar desta nomenclatura, Olga emprega o pronome com caráter afetivo, como foi dito anteriormente, e não como idéia de posse.

O que vem em seguida já nos leva a inferir o profundo sentido das dificuldades vividas pelo casal: “Antes de tudo (27)”. É o implícito na voz de Olga. Este estrato gramatical está numa propriedade de hipertaxe, eleva-se de uma simples de locução adverbial para uma idéia fundamental dentro do texto.

Se alguém quiser saber o que de fato acontece, terá que inferir o significado desse “antes de tudo”. No discurso, essa superordenação anuncia a censura pela qual a carta era submetida, e não será revelada. O texto segue abordando somente as questões sentimentais em relação à família. Da separação dos laços não só familiares como ideológicos.

A locução prepositiva “antes de” coloca-se como marcadora do tempo, sua axiologia temporal, antes do momento presente em que se encontra a personagem quando redigia sua correspondência. Distancia-se do passado e revela somente o momento em que vive, conforme a preposição de com seu traço semântico, dinâmico de origem em relação a “tudo”. E que será esse

tudo, a origem de tudo?

A garra e resistência de Olga ficam nítidas neste enunciado. Será que primeiro falaria que o mais importante era a filha e depois o “tudo”? Esse “tudo” é tão vital, que está implícita a questão político-ideológica e não será revelada, obviamente.

Como falar da família sem situar-se no mundo em que vive? Esse “tudo” de Olga é indefinido, como a vida dela nesse momento! Ficará a cargo de sua biografia determinar seu “tudo”, porque não serão reveladas na carta as suas últimas impressões sobre o mundo que a cerca. As relações de poder existentes entre ela e seus adversários ficam registradas, subentendidas, porque a forte censura da prisão não permitiria a Olga situar-se como sujeito ativo de seus ideais e crenças.

Um aprofundamento neste “antes de tudo”, sucinta: o que viveu essa mulher antes desta carta? Esse “tudo” revelaria sua origem, desde sua adolescência em que preferiu a luta pelos direitos dos trabalhadores alemães ao invés de levar uma vida tranqüila e alheia à sociedade injusta em que vivia. Como esqueceria a adolescente militante e comunista em Munique, Alemanha, sua terra natal?

Ela e seus jovens amigos que foram capazes de resgatar em pleno tribunal, na prisão de Moabit, seu antigo namorado Otto Braun, acusado de “alta traição à pátria”, em 1928. Foi assim que Olga adquiriu respeito e notabilidade entre os seguidores do partido comunista para planejar e executar ações. Iniciava, então, uma vida clandestina que culminaria com a chegada a Moscou, Rússia.

O partido comunista russo, na época, sonhava transformar a sociedade, recrutava e financiava jovens de todas as partes do mundo que pudessem levar adiante a causa comunista, como Olga Benário. Lá, em território russo, recebeu rigoroso treinamento militar. E destacou-se a tal ponto que foi convocada a escoltar e a proteger um jovem brasileiro, Luís Carlos Prestes, também treinado pelos comunistas.

Esse “antes de tudo” seria, talvez, desde quando os dois se passaram por um jovem casal de portugueses, recém-casados, em lua-de-mel pelo mundo com destino final no Brasil? Uma missão que virou romance. Apaixonados, planejariam e executariam a tomada pelo poder. Um ideal que Prestes acalentava desde a Coluna. A viagem até o Brasil uniu para sempre a vida dos dois.

O movimento arquitetado pelos comunistas brasileiros fracassou devido a pouca adesão, traições políticas e forte contra-ataque do Governo Vargas. Prestes e Olga foram presos quando ela nem sabia que estava grávida. Para vingar-se de Prestes o governo entrega Olga aos alemães.

Ela não se nega a felicidade da maternidade, nesse momento, mais do que nunca, único. Valoriza tanto a maternidade como o amor pelo companheiro. Todavia sua mente engajada e lutadora situa desde o início sua frustração com o mundo que a cerca.

Na carta seria impossível traçar qualquer paralelo entre o presente e o passado se não investigássemos as marcas lingüísticas. O futuro incerto estava na figura da filha que acabara de nascer. E Olga afirma: “quero falar da nossa menina (30)”. Não seria um assunto proibido, sendo, também, de suma importância para o casal.

Fica clara a distância que envolve o casal: “já tem mais de quatro meses” (31) que a criança nascera. Como um pai não acompanha a gestação e muito menos o nascimento da filha? Ela o trata de forma tão carinhosa e, portanto, a distância, então, não seria fruto de uma brigaconjugal.

Não há como negar a comoção que as palavras de Olga carregam. Acreditamos que em muitas pessoas desperta a emoção que traz o nascimento de um filho. Como Olga, qualquer família busca encontrar semelhanças e diferenças naquele pequenino ser que chegou. É um momento superior, antes

de tudo, que não pode ser furtado nem proibido. Os laços familiares não se dão

neste trecho da carta somente por mera formalidade, sobretudo há afinidade política e ideológica. A prisão representa a separação de todos esses laços.

A fragilidade da situação, refletida também em sua filha, que ainda não conhece o pai. A mãe sonha com o primeiro encontro familiar. Nesse momento, a mãe vive numa pequena cela com seu bebê, a comida é racionada. As colegas de prisão, às escondidas, colaboram com a alimentação de Olga para que o aleitamento se prolongue ao máximo, retardando a separação fatal entre mãe e filha.

A falta do companheiro é compensada com a personificação dele no sorriso da criança, é o alento para Olga suportar esse momento mais angustiante de sua vida.

Todo esse momento de privação humana levar-nos-ia a crer que Olga não possui nada. Ela, entretanto, enumera suas posses enfatizando sempre ser possuidora de algo, ou melhor, de alguém, e utiliza mais pronomes possessivos em relação à filha. “Tem os cabelos escuros como os teus, a tua boca e a tuas mãos (32)”.

Faz comparações, como “tem os olhos azuis (33)”, não como os dela, uma mulher notadamente corajosa, porém um “azul de violetas (34)”. Seria esse todo o legado do pai à filha? Não, porém era o que poderia ser mencionado. Seria equivalente a dizer essa pequenina é Prestes também, como tua Olga. Somos um só coração, uma mente, uma crença, uma visão de mundo.

Surge novamente o uso da palavra tudo. “(...) nos leva a esquecer tudo o que há de ruim neste mundo (35)”! A filha seria uma luz por tudo que estava sendo vivido no campo de concentração alemão. O trabalho pesado, as humilhações e o destino incerto, fatal.

Só lhe restam os pensamentos, e estes ninguém pode censurar ou privar. Ela imagina (36) e muito as brincadeiras entre pai e filha. A família, mesmo que separada, é o bem que Olga possui. Curioso quando ela diz: “puxando-lhe, tenho certeza, os cabelos alegremente arrepiados (37)”. O que são cabelos alegremente arrepiados? São os cabelos rebeldes, que por mais que a dona tente domar agem como nasceram.

A rebeldia é o traço mais marcante da personalidade de Olga contra todo o sistema político da época. É alegre ser rebelde, porque assim concebe e vive o mundo à sua volta.

Era uma rebelde com causas a defender, preocupava-se com os trabalhadores explorados e com a política sem solução. Nunca se furtou em pegar nas armas para mudar o mundo e torná-lo mais justo. Se o mundo hoje não é mais justo, como Olga idealizava, salientamos que a missão dela era

gigantesca. Certamente, ainda não está como ela queria, contudo houve quem vivesse e lutasse contra aquele poder dominante.

Olga possui uma mãe, em comunhão com Prestes. É evidente o tratamento carinhoso dado à sogra: “Nossa mãe mandou-me tua fotografia (38)”. Dona Leocádia resume o ideal político e familiar, de uma união marcada não só pelo amor como pela admiração ideológica. Esta senhora envia a foto de Prestes, que lhe serve de esperança naquele local tão aterrorizador.

Seu momento profundamente solitário mostra-lhe uma janela: a própria maternidade e a adoção de uma mãe. Uma mãe biológica era algo já esquecido e deixado aos quinze anos, em Munique, onde a adolescente Olga abraça a causa comunista e corta vínculos familiares.

A mãe de Olga, em sua biografia, era uma judia burguesa totalmente avessa à atuação política da filha que, mais tarde, não se sensibilizou com os apelos de dona Leocádia para livrar, pelo menos, a neta da prisão. O pai era um advogado justo e atencioso às causas dos menos favorecidos, porém na ocasião já estava morto.

Olga sabe que esse futuro é incerto. Cita o nome da filha Anita Leocádia: “É freqüente eu passar horas, com nossa pequena Anita Leocádia no colo, a olhar a foto, como se estivesse ao seu lado (39)”. A filha e a foto de Prestes é uma presença constante.

A escolha do nome da filha demonstra o quanto ela é de luta, o quanto queria mudar o mundo com sua garra feminina. Valoriza a história daqueles que lutaram por um ideal. Além de militarmente preparada para acompanhar Prestes, Olga demonstra também conhecimento e admiração pelas causas brasileiras.

Anita Garibaldi6 era o nome da companheira do italiano Giuseppe

Garibaldi, um dos líderes da Revolução Farroupilha. A brasileira Anita

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