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PERSPECTIVAS ATUAIS DA RELAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE

No documento O TEATRO NA RELAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE (páginas 31-33)

CAPÍTULO 1: A RELAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE

1.4 PERSPECTIVAS ATUAIS DA RELAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE

A partir de 1980, algumas perspectivas educacionais começam a girar em torno dos princípios de uma educação crítica que pudesse dar conta de reverter o atraso educacional no qual a escola estava imersa. Surge a possibilidade de uma Gestão Democrática, como “condição necessária da reforma educacional brasileira.” (GADOTTI; ROMÃO, 2001, p.18). Inicia-se, com isso, um novo momento para a relação escola-comunidade.

O movimento em prol de uma gestão democrática ganha respaldo na Constituição Nacional de 1988. Através desse dispositivo a gestão democrática do ensino público é identificada como um dos preceitos no qual a educação deve ser gestada. Os argumentos dessa lei, promovendo o fim do analfabetismo, a universalidade do ensino fundamental e melhorias na qualidade da educação declaram que a “ educação, direito de todos, e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade(...)”9 (CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA,1988, p.91). Essa proposta de Gestão parte de uma

9 Item selecionado do Capítulo III Da Educação, Da Cultura e Do Desporto – Seção I da Educação –Artigo 205.

Constituição Brasileira, 1988. Os Conselhos de escola são considerados como um avanço da gestão escolar, é canal criado com função deliberativa no Estado de São Paulo em 1983 . É aprovado na Assembléia Legislativa depois de ter sido encaminhado como Projeto de Lei pelo Deputado estadual Paulo Frateschi.

tentativa de renovar as relações dentro da escola, para tornar o ambiente mais favorável ao ensino, tornando a sociedade civil também responsável pelo ensino público. Sob os princípios de autonomia, descentralização e da participação de todos os membros componentes da comunidade escolar: pais, alunos, professores, direção e demais funcionários, a gestão democrática passa a ser compreendida como um movimento que privilegia as peculiaridades de cada estabelecimento. Portanto o Estado oficialmente é o mantenedor da escola, mas através da participação dos vários segmentos internos e externos a ela, as particularidades de cada estabelecimento devem ser respeitadas.

A implementação da gestão democrática animada pela constituição brasileira promoveu a incorporação de elementos próprios de um processo democrático. Vários canais institucionais são criados para a efetivação dessa proposta. A eleição para diretores de escola, como forma de democracia representativa10 é um desses elementos. O PPP - Projeto Político Pedagógico da escola faz parte de um trabalho inovador, porque entre outras concepções apóia-se no envolvimento de membros internos e externos à escola (GADOTTI, 2001, p.33) Foi criado para que as ações realizadas na gestão democrática possam ser sistematizadas, avaliadas, redefinidas nessa nova perspectiva educacional.

Outro canal institucional, criado para efetivar a gestão democrática, são os Conselhos de Escola - CE ou Conselhos Deliberativos11 – CD, também sob a forma de democracia representativa.

Os Conselhos ou Colegiados de escola podem ser considerados como um avanço em relação às propostas anteriores de aproximação da comunidade com a escola, devido à sua função deliberativa, podendo agir sobre os destinos da instituição pública. Foi proposto por um deputado do PT (Partido dos Trabalhadores) paulista em 1983, e aos poucos outros Conselhos Estaduais de Educação absorveram a idéia de um Conselho formado por membros internos e externos da escola: o diretor, pais, alunos, professores e funcionários do estabelecimento educacional, eleitos por voto, com o poder de deliberar sobre os assuntos ligados à unidade escolar. A implantação dos CDs partem da necessidade de um novo instrumento de aproximação entre a escola e a comunidade, já que as APMs mostravam-se ineficientes, não atraíam os pais a participarem. Todavia as APMs continuam asseguradas, com a função de ampliar e manter o equipamento escolar. Cabe notar que, por mais que esses

10 Referente ao pensamento de BOBBIO (1986, p.44) a expressão “democracia representativa” significa

genericamente que as deliberações coletivas, isto é , as deliberações que dizem respeito à coletividade inteira, são tomadas não diretamente por aqueles que dela fazem mas por pessoas eleitas para essa finalidade.

canais tenham evoluído, a participação dos pais, nos moldes da educação libertador, continua distante da realidade educacional da maioria das escolas.

Numa leitura crítica sobre o assunto, o prof. Vitor Henrique Paro diz que depois de duas décadas de propostas e averiguações os canais institucionais criados especificamente para garantir a participação dos vários setores internos e externos à escola, como os Conselhos Deliberativos, têm-se apresentado como “instrumentos imperfeitos”, não correspondendo de modo satisfatório aos objetivos previstos na sua formulação: congregar opiniões para a resolução dos problemas educacionais (PARO, 2001, p.12).

Uma hipótese levantada por Spósito (2002) é que a democracia representativa possui paradoxos. Mecanismos formais e ritualistas da representação podem distanciar do processo decisório a vontade dos demais representados, colaborando para a exclusão das reais necessidades da comunidade escolar.

A prática democrática não se resume na indicação de representantes que imediatamente se desligam de seus representados. Como já comentamos anteriormente, a democracia não se resume no direito ao voto. Democracia é também uma disposição para ouvir os argumentos e considerar o ponto de vista de outro. Como vivemos em uma sociedade que se diz democrática, mas que ainda precisa de muito esforço para efetivá-la, acreditamos que a democratização do ensino, ainda está sendo construída.

Assim, torna-se evidente que a idéia de gestão democrática deveria potencializar os movimentos de participação popular, mas para isso se concretizar alguns obstáculos precisam ser superados. Fatores que entravam a participação no cotidiano da escola precisam ser reavaliados, para que conquistemos a abertura de novos espaços de participação, mais adequados à situação de cada estabelecimento de ensino.

1.5 ENTRAVES PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA RELAÇÃO MAIS DEMOCRÁTICA

Face à situação de calamidade em que ainda se encontra a escola pública, uma das alternativas apontadas para minimizar os problemas educacionais brasileiros é a articulação de movimentos que façam pressão em todos os níveis e instâncias da sociedade civil. “Somente com a participação da população – profissionais ou não da educação – é que propostas, estratégias e procedimentos ganham substância epistemológica e política (...)” (ROMÃO, 2000, p. 74). Juntos, alunos, professores, funcionários, vizinhos da escola poderão constituir

No documento O TEATRO NA RELAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE (páginas 31-33)