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1.3 INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO

1.3.2 Perspectivas do Interacionismo Sociodiscursivo

De acordo com Bronckart (2008; 2012), é a partir dos princípios dos estudos dos autores das Ciências Sociais supracitados e, principalmente, a partir da obra de Vigotski que se desenvolve o quadro teórico do ISD, ao considerar a linguagem como fator fundamental do desenvolvimento humano. Seguindo esses pressupostos, Bronckart (2008) propõe o programa de pesquisa no qual se desenvolve o ISD, organizado a partir de um método de análise descendente que envolve três etapas: a análise dos principais componentes dos pré- construídos específicos do ambiente humano; o estudo dos processos de mediação sociossemióticos; e a análise dos efeitos dos processos de mediação e de apropriação na constituição da pessoa dotada de pensamento consciente e seu desenvolvimento ao longo da vida.

A análise dos elementos específicos do ambiente humano é o primeiro trabalho a ser desenvolvido e possui quatro elementos principais: 1) atividades coletivas: são as condutas dos membros da espécie humana que vão além das exigências imediatas de sobrevivência, uma vez que organizam os aspectos das relações entre os indivíduos e o meio, sendo divididas, portanto, em atividades não-verbais (ou praxiológicas) e atividades linguageiras; 2)

formações sociais: são as formas concretas de organização da atividade humana, geram as

regras, normas, valores etc. As formações sociais podem ser conflituosas, uma vez que organizam as classes sociais e determinam o papel dos indivíduos na sociedade; 3) textos: produções empíricas das atividades de linguagem a partir da exploração dos recursos de uma língua natural. Os textos se distribuem em gêneros e são socialmente indexados; 4) mundos

representados (mundos formais): são produtos de operações de descontextualização e

generalização que se aplicam aos textos e aos conhecimentos que eles veiculam. Inspirado em Habermas, Bronckart (2008; 2012) propõe a hipótese de que eles são de três tipos: o mundo objetivo, o mundo social e o mundo subjetivo.

A análise dos processos de mediação sociossemióticos diz respeito aos processos desenvolvidos pelos grupos humanos para assegurar a transmissão e a reprodução dos pré- construídos coletivos (BRONCKART, 2008). Esses processos são apresentados em três conjuntos: 1) processos de educação informal: por meio do qual os adultos integram os recém-chegados aos grupos sociais, abrangem as normas, os valores sociais e transmissão de conhecimento sobre os mundos formais; 2) processos de educação formal: referem-se à dimensão didática e pedagógica, abrangem os conhecimentos e a formação das pessoas, 3)

processos de transação social: se desenvolvem nas interações cotidianas, permitem as

interações entre as pessoas, bem como evoluem as práticas e conhecimento de cada indivíduo a respeito dos pré-construídos coletivos.

É importante destacar e relacionar aqui que a formação inicial de professores de inglês, contexto do estudo de nossa pesquisa, envolve os três conjuntos dos processos de mediação sociossemióticos apontadas pelo ISD. No que tange aos processos de educação informal e transações sociais, o professor aprende de forma natural, ou seja, constrói conceitos espontâneos através da observação das práticas de seus professores enquanto aluno já em seus primeiros anos na escola; enquanto que, nos processos de educação formal, o professor se apropria de conceitos metodológicos e científicos, a fim de desenvolver-se como profissional para atuar em seu campo de atuação. Vigotski comenta que desde as primeiras explorações no mundo, a criança desenvolve conceitos e percepções espontâneas a seu respeito, contudo, é a partir da observação da natureza, de sua experimentação e interpretação rigorosa é que se chegam aos conceitos científicos; tais conceitos, por sua vez, são perpassados a partir da mediação do outro, que incorpora a criança no mundo em um complexo processo (CARAÚBAS, 2010). Assim, para Vigotski, desde a mais tenra idade, estamos inclusos em um movimento dialético de aprendizagem e desenvolvimento que nos acompanha por toda a vida, seja em casa com os nossos pais ou responsáveis, aprendendo a

comer, a falar, a caminhar; na escola, aprendendo a ler, a escrever, conhecendo os objetos de estudos das mais diversas disciplinas; na universidade, continuando os estudos teóricos e práticos e desenvolvendo aptidões profissionais; e também na relação com as outras pessoas, conhecendo, compreendendo e convivendo com outras formas de pensar, de agir, de viver, em que todos esses aspectos somados às nossas experiências nos capacita e nos desenvolve cada vez mais.

O terceiro e último nível de análise envolve os efeitos que a transmissão dos pré- construídos produzem no desenvolvimento das pessoas, distribuídos em três campos de investigação: 1) condições de emergência do pensamento consciente, resultante da interiorização dos signos linguageiros, tais como o meio humano os apresenta; 2) análise das condições de desenvolvimento posterior das pessoas, isto é, o desenvolvimento do pensamento, do conhecimento e das capacidades de agir; 3) análise dos mecanismos por meio dos quais cada pessoa contribui para a transformação dos pré-construídos coletivos.

Importante salientar, que, conforme aponta Bronckart (2008), esses três níveis de análise estão inseridos em um movimento dialógico permanente, isto é, os pré-construídos humanos, ao mesmo tempo em que desenvolvem as pessoas em particular, permitem que estas alimentem, modifiquem, contestem continuamente os pré-construídos coletivos. Além disso, o modelo de análise acima exposto vai muito além da capacidade de pesquisa do ISD, pois envolve problemáticas que já foram tratadas por outros autores (BRONCKART, 2008). Para além da análise em sua dimensão epistêmica supracitada, Bronckart (2008) também apresenta uma dimensão ergológica, isto é, voltada para a dimensão das práticas. Assim, o autor amplia suas discussões no que se refere a aspectos voltados à interpretação do agir, a partir da análise do trabalho, da linguagem e do desenvolvimento humano. Bronckart (2006) propõe um quadro nocional geral que descreve os termos relativos ao “fazer” humano, no que se refere ao agir, atividade, ação.