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PERVERSÃO E LAÇO SOCIAL: ENTRE O PERDE 20 PREDA

Nesse momento, recapitulamos que o perverso atua o que o neurótico fantasia. A respeito da perversão do laço social, Cunha discute a dupla face do desmentido na atualidade, entre o aniquilamento do outro e a felicidade em simulacro, na qual considera a perversão ou a montagem perversa “produzidas não em função dos históricos singulares dos indivíduos, mas como resultado de sua inserção em um contexto cultural de recusa generalizada da lei e da castração” (2014, p. 46-47). Ou seja, como adjetivo,

para designar a prevalência do desmentido como operador em destaque no funcionamento psíquico dos sujeitos contemporâneos que faz com que a perversão retome o centro da cena, embora não necessariamente como classificação diagnóstica e sim como categoria descritiva do tipo possível de relação com o outro na atualidade (2014, p. 47).

O termo tanto é utilizado para designar uma das três estruturas psíquicas teorizadas por Freud 20

como saídas do Édipo, quanto para designar um modo de funcionamento psíquico que em psicanáli- se está muito associado à ideia de burla ou denegação da norma, da lei e do limite, do outro enquan- to esse limite. Tentativa de negação da castração.

DOR

O autor compreende o desmentido como mecanismo necessário à perversão de fato, que permeia a regulação do laço social. Revisa a bibliografia para dar o nome de perversão do laço social à dificuldade de reconhecimento do outro como humano e dotado de desejo.

Evoca o significante “predador” como aquele que não se contenta apenas com a vitória, mas somente com a eliminação do outro, que é reduzido a um corpo- cadáver (sem eros).

[…] o predador contemporâneo não é propriamente um assassino, mas encontra-se capturado pelo fascínio do aniquilamento do outro. Ancorado em uma crença absoluta na divisão do mundo entre vencedores e perdedores, sem poder de barganha, ele se submete ao funcionamento automático do extermínio. Ao recusar o lugar da vítima, ele sabe que sua única escolha é tomar o lugar do carrasco e, nesse sentido, a encenação do ato é o fantasma que lhe serve de guia e determina a sua posição no mundo. (CUNHA, 2014, p. 52).

O autor nos lembra que, ante uma realidade insuportável podemos: modificar a percepção que se tem dessa situação por meio da ilusão; podemos, também, tornar a percepção inconsciente por meio de uma alucinação negativa; podemos reconhecer e recusar a realidade pelos mecanismos da renegação e perceber o que não existe por meio de uma alucinação positiva.

Ao retomar Mannoni (1969) com sua lapidar expressão: “eu sei, mas mesmo assim…”, para elucidar o sentido do desmentido como mecanismo psíquico próprio ao processo primário (inconsciente), que permite aos sujeitos afirmar sua realidade psíquica singular, contrapondo-se à dita realidade objetiva, regulada pelo discurso do outro. Esse mecanismo aproxima-se do conceito de simulacro para Baudrillard“fingir, ou dissimular, deixa intacto o princípio da realidade: a diferença continua a ser clara, está apenas disfarçada, enquanto que a simulação põe em causa a diferença do ‘verdadeiro’ e do ‘falso’, do ‘real’ e do ‘imaginário’.” (1991, p. 9-10)

Ao associar as reflexões dos autores com o nosso atual contexto de hiper-realidade, a espetacularização da vida, tão bem denunciada por Debord (1961/1997), ficamos com a nítida impressão de que o desmentido tem sido a base metapsicológica das microexistências que comungam da contemporaneidade.

Sem direito a futuro eles se instalam em um presente radical e de modo paradoxal, negam a morte para que possam morrer. […] É, portanto, a partir de sua instalação no mundo como simuladores que eles podem revelar o

que há de simulacro no próprio ideal hegemônico de felicidade, fundado na cúmulo e relação de imagens. (CUNHA, 2014, p.57)

O modelo de felicidade que se faz hegemônico funda-se, a um só tempo, e, de modo paradoxal, na percepção da própria insuficiência, paralelamente à inevitabilidade da transgressão. Assim, ao contrário do perverso típico, o perdedor- predador transgride a lei para afirmá-la e, por meio dela, também a supremacia do seu próprio desejo, de sua própria lei. Logo, recusa a lei em resposta à constatação de que esta o exclui e ignora. Recusa a realidade porque nela não encontra lugar para si mesmo e para a colocação em movimento do seu desejo. Como ser fora da potência, recorre à onipotência pela morte, como se a mínima fraqueza pudesse minar completamente sua existência como sujeito.

Perversão e reconhecimento

Em parte decorrente do universo semântico dos autores em tela neste estudo, e em parte decorrente dos modos de funcionamento de cada um, o fato é que há sujeitos que respondem às suas idiossincrasias pelo funcionamento narcísico e há sujeitos que respondem a uma montagem perversa. A perversão é um conceito mais explorado pelas escolas lacanianas - mas não exclusivamente - as quais o compreendem como um modo de funcionamento pelo qual o sujeito substitui a lei pelo seu desejo.

Freud (1905/2016; 1923/1996; 1924/2011) definiu o funcionamento perverso como o de um sujeito que evita a experiência da castração a todo custo, mantendo-se na posição alucinada do Ego ideal (narcisismo primário), não passando para a experiência da intersubjetividade que pressupõe o reconhecimento do outro, ou passando de forma frágil. Ocorre que os excessos do autoinvestimento narcísico, especialmente próprios de nossos dias, reforçam esse fenômeno, fragilizando a existência e importância do outro, que assume o lugar de fetiche, de um corpo para ser usufruído e devastado pela apropriação perversa, na qual o desejo do outro não pode ser reconhecido e, tampouco, valorizado.

Para Cunha (2014), o significante “perversão” é uma tentativa da psicanálise de nomear tudo aquilo que escapa ao entendimento do ordenamento civilizatório e, logo, do animalesco que existe em nós, como tentativa de dar um lugar ao ininteligível.

O autor denuncia, ainda, a “ausência de mecanismos institucionais e jurídicos capazes de dar lugar à esperança de que possa existir uma organização política legítima, isto é, capaz de transformar as regras do gozo predatório instituído” (BIRMAN, 2007, p. 285). Nesse sentido, critica o psicologismo e o psicanalismo que marcam as explicações da violência apenas pelo intrapsíquico, mesmo quando se busca o social.

Já Birman (2007, 2012, 2014) e Costa (1998a; 2004) por compreenderem a ordem simbólica como fundamental para a tessitura do sujeito na rede social, a reconhecem como, da forma como se encontra organizada, promotora de defesas narcísicas, com especial ênfase para o funcionamento perverso, haja vista a fluidez e fragilidades do momento atual.

Para Birman (2007), na ausência do desejo, próprio do funcionamento perverso, restam os objetos dóceis da lógica do consumo, com seu imperativo do gozo pleno e ininterrupto. Resulta daí uma homogeneização das massas, depauperando os emblemas simbólicos por meio da racionalização das práticas sociais e da burocratização das instituições, negando aos sujeitos suas especificidades, docilizando os corpos e apassivando as subjetividades.

Essa montagem perversa, que é das principais explicações da violência em nossos dias, encontra ancoragem, também, no processo educativo, que vem sendo feito por pais que desejam mal, pouco ou não desejam, mantendo os filhos no lugar de objeto de seus desejos, como seus falos, impedindo o sujeito de ter o falo, haja vista sê-lo para seus pais (FERRETI, 2004). Assim, os pais, na condição de primeiros e mais importantes avatares do outro, permanecem como promotores e mantenedores dos plenos desejos dos filhos, o que será exigido dos demais outros.

Onipotência e reconhecimento: (T/S)er

Outra importante contribuição sobre a fragilização do laço social é feita por Szpacenkopf (2011), para quem a “perversão social” encontra suporte no contexto sociopolítico-cultural, que favorece a exclusão por meio da lógica do consumo. O reconhecimento na condição de afirmação e garantia da existência do outro é destacado pela autora como uma posição terceira, caminho simbólico capaz

de favorecer a formação de vínculos sociais, recuperando “o que de humanidade ainda nos resta” (2011, p. 29).

A autora compreende os processos de subjetivação como a produção e invenção que cada um empreende no trabalho de enfrentar e escapar às técnicas de sujeição. Logo, também uma forma de resistência às manifestações de poder atuantes, que se faz por meio de criatividades singulares de existir, possibilitando o alargamento e a distensão de fronteiras impostas pela repetição de valores e padrões já dados.

As subjetividades buscam configurações que, apesar do esforço para não sucumbirem às demandas e exigências calcadas em ideais, que parecem pertencer a um mundo de promessas virtuais, acabam alcançando formas de existência fragilizadas como num falso self, numa produção em massa de sujeitos vazios (SZPACENKOPF, 2011, p. 24).

A prioridade do investimento libídico deixa de ser, então, a questão da identidade, para voltar-se à potência do reconhecimento, que passa pelo reconhecimento da potência como fator influente nas formas de subjetivação. Ser, saber-ser e querer-ser aproximam-se da identificação com imagens, num esforço performático, que leva ao esgotamento. Assim, seres-imagens, “representantes do vazio da era do consumo, transitam sem a ancoragem necessária, refletida enquanto ego ideal, e, pela performance, apresentam uma existência vaga e errante, com prejuízo na capacidade criativa e de fantasiar.” (SZPACENKOPF, 2011, p. 26).

Já Debord (1961/1997) nos houvera denunciado e decifrado elementos da sociedade do espetáculo, na qual a aparência, o representável e a imagem, de acordo com os ditames estéticos do momento, passaram a ser a vestimenta e o invólucro perseguido, idolatrado e usado como padrão aceitável de existência.

Assim, a violência, como importante analisador de nossos dias, pode ser encarada como reação, gozo e resistência. É uma forma de subjetivação que encontra na onipotência resposta à impotência imposta pela relação de injustiça sustentada pelo Estado.

Debord diferencia a perversão individual-estrutural da social, compreendendo por perversão social “a pulsão de dominação, na dessubjetivação e na instrumentalização do outro” (1997, p. 11); a substituição de todas as leis pelas leis próprias, próprias, enquanto a estrutural é a resposta psíquica à castração, por meio de um desmentido de algo que precisa ser evitado, escamoteado,

desembocado no desafio e na transgressão à lei (do pai) e à instrumentalização do outro.

Assim, para Szpacenkopf (2011), ser, ter e reconhecer conjugam-se nas subjetividades, visto que, para ela, “os sujeitos, as subjetividades, as identidades e as singularidades esforçam-se para emergir ou pelo menos, para evitar o risco de submergir” (2011, p. 76). A imposição do virtualmente possível ante a vacuidade do ser sustenta os falsos-selfs. “Sou porque tenho, tenho para ser, terei para ser ou tive e não sou” (2011, p. 78).

A violência é, assim, a via da qual se utiliza a perversão que dessubjetiva o outro, pois, sabendo que o perverso é o semblante do paranóico, podemos percebê-lo como aquele que optou por impor medo ao invés de senti-lo, no qual a fragilidade é substituída pela esperteza. Como elucidam Hardt e Negri, “o medo é um dos elementos fundamentais a ser comunicado pelo espetáculo - funciona como possibilidade de ordem social e é o mecanismo principal de controle da sociedade do espetáculo.” (2000, p. 2014)

Também a espetacularização da violência, para Szpacenkopf (2011), vem sendo utilizada como tentativas de negação ou suspensão do luto da perda e da falta. A autora evoca a análise que Judith Butler faz do discurso de Bush, em relação ao 11 de setembro, na qual percebe a tristeza como algo temido e exige uma ação ou um impulso para soluções rápidas, no afã de restaurar a perda por meio de uma tentativa de retornar o mundo à fantasia de uma forma satisfatoriamente organizada do passado.

Fazer barulho, como ressalta Honneth, fazendo com que metaforicamente a presença renegada passe a ser remarcada e notada, provoca-se a reação do outro, e dessa forma sua existência torna-se percebida. Por outro lado, a falta de reação só serve para confirmar a invisibilidade” (SZPACENKOPF , 2011, p.158).

Na sociedade do medo, todos somos suspeitos a priori, visto que um dos mais presentes ingredientes é a perda de confiança no ser humano diuturnamente explorado pela mídia de massa. Consequentemente, baixa-se o nível de tolerância e fé em relação ao outro e aumentam-se as distâncias como proteção em relação a aquele que, afinal, é um agressor em potencial. A cultura do medo aliena as pessoas umas das outras, uma vez que “além de perigoso, estranho, diferente, é alguém a ser evitado” (SZPACENKOPF, 2011, p. 150).

Fugindo ao que denomina como psicologismo, a autora reitera que perversão, violência, onipotência e narcisismo ancoram-se nessa política de mercado que prostituiu-se ao consumo instituído como lei, tendo a indústria do marketing - para usar aqui uma expressão de Lasch (1983) - um eficiente meio de comunicar valores que lhes interessa. Assim, num mundo onde “só é quem tem”, a autoestima, o autorrespeito e a dignidade de cada um são gratificadas ou recusadas de acordo com os princípios do mercado, no qual o produto assume o lugar do falo.

Pensemos a força dessa discussão especificamente para o adolescente que negocia com o contexto sócio-histórico sua identidade e potência, que passa, inevitavelmente, sobretudo para eles, pela questão do reconhecimento que não seja do estigma da violência, transgressão e problema. Reconhecimento de suas potências criativas.

Exclusão e (não) reconhecimento

Ante o que foi exposto nos capítulos anteriores sobre a condição adolescente, o que temos discutido neste sobre os mediadores culturais e o que será retomado na discussão de nossos resultados, o caminho da exclusão precede o do ato infracional. Exclusão social que se reproduz numa Escola quando não atenta a essas lógicas.

Varikas (2001) elucida com brilhantismo que “a igualdade não é incompatível com as diferenças, mas com a diferenciação hierárquica, vale dizer, com… a desigualdade.” (p. 358) A ordem perversa do sistema capitalista invisibiliza socialmente (conscientemente ou não) como recusa aos sujeitos que não atendem aos padrões instituídos do ser. Essa postura é compreendida pelo excluído como desprezo social e renegação, recusa, tornada sem efeito. Para Szpacenkopf (2011), esse processo opera segundo o conceito freudiano de uma clivagem do Ego (FREUD, 1938/1996), fetichismo (FREUD, 1927/2014). Dentro daquilo que Mannoni (1969) magistralmente sintetizou como: “Eu sei, mas mesmo assim…”.

Falamos de estratégias de ação pela via da perversão social dentre as quais o não-reconhecimento faz parte: eu sei que o outro existe, mas… mesmo assim eu não o reconheço … retratam o medo da existência do outro - o outro, no caso, não deixa de ser percebido: ele é renegado … a pessoa atribui a este outro um perigo que na verdade está muito mais em si mesma (SZPACENKOPF, 2011, p. 82).

Na negação, o mecanismo dirige-se à representação, na renegação, a atuação é no sentido da não existência, já que o desmentido é do que é percebido.

Em um momento que assistimos a uma onda contra os programas sociais e contra a pobreza, relembramos com Freud (1924/2011) que negar algo por meio de um julgamento severo nos fala de um também severo recalcamento. O estranho é uma parte nossa que foi recalcada e com a qual se perdeu o contato, de tal modo que, ao reaparecer, faz surgir a angústia de um encontro que não deveria acontecer, de um retorno do recalcado.

Um contraponto à lógica citada na seção anterior estaria no reconhecimento da potência de cada um, entendendo por isso o

respeito e dignidade da condição humana em sua vulnerabilidade, por meio de um movimento de atravessamento das barreiras narcísicas em direção ao outro, visando disponibilizar um acesso à questão da potência de cada um em relação ao seu próprio desenvolvimento. (SZPACENKOPF, 2011, p. 12).

Para Szpacenkopf, “por meio de um olhar que descubra o humano, eu também me humanizo” (2011, p. 83). O reconhecimento passa pelas relações de confiança (primárias): amor e amizade/maus tratos e violação e relações de respeito (jurídicas): direitos/privação de direitos, comunidade de autoestima (valores): solidariedade, degradação e ofensa.

Pelo viés filosófico, a pesquisadora dialoga com Honneth, que busca na produção de Hegel anterior à Fenomenologia do Espírito da qual depreende que todo

sujeito é fundamentalmente dependente do contexto de troca social organizado segundo princípios normativos do reconhecimento recíproco. […] O desaparecimento das relações de reconhecimento desemboca em experiências de desprezo e humilhação que não podem ser consideradas em consequências para a formação do indivíduo (SZPACENKOPF, 2011, p. 45).

Outro autor com o qual dialoga é Spinoza para destacar a alegria do reconhecimento pelo outro.

Assim, mais do que produzir identidades, apostar no reconhecer relaciona- se ao direito à potência, ao singular, ao estranho, àquilo que nos escapa enquanto território conhecido - é dirigir-se ao fora do território narcísico em direção ao outro, que pode e deve existir, acreditando no direito à existência individual, política e social de si mesmo e do outro. (Szpacenkopf, 2011, p. 58)

A potência do reconhecimento funciona como caminho para o reconhecimento da potência, visto que toda potência é igualmente impotência, pois, como assinala Agamben“não seria autenticamente livre nem o que pode cumprir tal ou tal ato, nem simplesmente o que pode não cumpri-lo, mas aquele que, em se mantendo em relação com a privação, pode sua própria impotência ”(2006, p. 236).

Por essa lógica, ‘poder-não’ é diferente de ‘não-poder’, posto que implica potência tanto quanto poder.

Pereira (2008) já percebera a força do não reconhecimento na trajetória de adolescentes que se entranham com o tráfico de drogas. Enquanto a criança depende essencialmente do reconhecimento dos pais para sua saúde sócio- emocional, como bem estudou Erikson (1968/1987), o adolescente depende mais ainda do (re)conhecimento do social e, na sua ausência por parte das instituições socializadoras, resta o crime como possibilidade de lhe dar um lugar social (re)conhecido.

Adolescer na pós-modernidade

Lipovetsky (1997) compreende que o estilo de vida lúdico-estético- hedonista-psicologista-posmidiático minou as utopias revolucionárias num movimento recursivo e recorrente, o que estimula o culto da salvação individual e da vida imediata; sacraliza a felicidade privada e o pragmatismo das atitudes; rompe as solidariedades e as consciências de classe, como bem já havia destacado Lasch (1983).

Reiteramos a discussão já feita em Evangelista (2012), de que a ênfase dada aos fatores promotores de vulnerabilidade, sobretudo para os adolescentes, foi no sentido de fazer frente ao discurso comum de muita cobrança e pouca oferta a essa população. Contudo, é preciso relativizar conforme Khel (2004), sintetizando tantos outros pensamentos presentes em outras obras, a responsabilidade social na construção do que temos.

Do diálogo com os autores, resta para nós a compreensão de que a pós- modernidade é um tempo adolescêntrico que cola e reforça nos adolescentes um funcionamento narcísico-perversa ao tempo em que cobra deles, sobretudo, o que os próprios mediadores culturais ensinam e impõe. Tempo de desamparo ao qual se

responde com um autocentramento individualista, hedonista, imagético, performático, de inconstâncias, e atuativo. Para o qual o consumo, o adoecimento, as drogas e a violência apresentam-se como caminhos comuns sobretudo para as novas gerações, especialmente para os adolescentes que somam fatores internos com o desamparo, não reconhecimento e exclusão a que estão expostos por uma lógica (de mercado) perversa. Aos adolescentes excluídos não restam muitas alternativas que não seja o de tentar conquistar seu lugar ao sol pelos recursos que lhe estejam ao alcance.

Não restam dúvidas para nós de que precisamos repensar a ordem econômica e promover espaços de reconhecimento de si e do outro. Espaços e recursos de alteridade que nos permitam retomar o caminho da intersubjetividade tão evocado pelos ideais humanos, ainda que, para isso, precisemos reforçar a importância das pactuações coletivas.

No capítulo 5, buscaremos com auxílio da econometria ilustrar um pouco do que temos discutido, até então, de forma teórica, seja do desamparo adolescente, seja da importância social da Escola como instituição capaz de contribuir com o laço social mesmo quando a família não tenha tido muito êxito em seu objetivo de socialização.

CAPÍTULO 4