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Foto 7 – Aquecedor solar com garrafas PET II

2 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM MODELAGEM

3.3 PESQUISA COOPERATIVA E TRABALHO COLABORATIVO

Em lugar de se considerar que o investigador é capaz de se colocar de um ponto de vista exterior, como observador da realidade, se aceita que não há a possibilidade de se estabelecer uma separação nítida entre ele e aquilo que vai estudar. Toda a investigação é vista como apresentando necessariamente marcas de quem a realizou. Mais do que falar em objetividade ou subjetividade, faz sentido, sobretudo, falar em intersubjetividade, resultante da interação que se estabelece entre o investigador e os participantes no estudo. Ainda, a questãonão é separar objetividade da subjetividade, mas controlar a segunda. Desse modo, neste trabalho, adotamos uma postura de observação participante, trabalhando em cooperação e colaboração com as professoras envolvidas no estudo.

Nesse sentido, efetivou-se essa pesquisa sob uma postura cooperativa e de trabalho colaborativo entre professores-professores, professores-estudantes, estudantes-estudantes, pesquisador-professores e pesquisador-estudantes. Segundo Fiorentini (2006), há uma dispersão semântica envolvendo os termos: o trabalho coletivo, trabalho colaborativo, trabalho cooperativo, pesquisa colaborativa, colegialidade artificial, comunidade de prática etc., tanto em âmbito nacional como internacional. Esses termos ora são empregados como sinônimos, ora como se possuíssem múltiplos sentidos. Essa polissemia, segundo esse autor, vem afetando não apenas a forma de organização e de trabalho de grupos colaborativos, mas também o modo de investigá-los ou de mobilizá-los coletivamente em processos investigativos.

Para introduzir uma discussão sobre essa problemática, Hargreaves (1998) faz uma distinção entre quatro formas gerais de cultura docente: o individualismo, a colaboração, a colegialidade artificial e a balcanização. Para o autor, nem todo trabalho coletivo é colaborativo e, para tanto, desenvolve os conceitos de colegialidade artificial (colaboração não espontânea nem voluntária) e de balcanização (colaboração que divide). Uma cultura docente balcanizada caracteriza-se pela divisão do corpo docente em pequenos subgrupos, que pouco trocam e interagem entre si, podendo, às vezes, serem adversários uns dos outros.

Segundo Fiorentini (2006),

A cultura docente balcanizada pode engendrar: a formação de grupos isolados que sejam mais confortáveis, cômodos e complacentes; conformismos em algumas pessoas, deixando de produzir individualmente e de buscar caminhos próprios; a formação de colegiados burocráticos, improdutivos e controlados administrativamente, podendo configurar-se como artifício administrativo e político (co-optativo) de defesa de interesses particulares. (FIORENTINI, 2006, p. 51).

Para ser uma pesquisa colaborativa, segundo Fiorentini (2006), todo o processo de pesquisa – definição da pergunta, escolha da metodologia, coleta e análise de dados, bem como a construção da base teórica – teria que ser decidido e compartilhado pelos envolvidos, no caso, pesquisador, professores e estudantes. E mais, que a escrita e a autoria do relatório final também sejam compartilhadas. A pesquisa colaborativa implica parceria e trabalho conjunto. Nesse sentido, uma tese acadêmica nunca poderá ser considerada uma pesquisa colaborativa, pois a concepção, planejamento, desenvolvimento e análise do estudo, escrita e autoria do relatório final, são tarefas de uma única pessoa, o pesquisador. O que temos então é uma pesquisa cooperativa, na qual os participantes cooperam com o pesquisador na realização da pesquisa acadêmica, ou seja, uns ajudam os outros, executando tarefas cujas finalidades geralmente não resultam de negociação conjunta do grupo.

Todavia, para Fiorentini (2006), em uma pesquisa cooperativa não significa que o trabalho que acontece no coletivo não seja colaborativo. Os participantes podem fazer um trabalho colaborativo. Assim, nesta pesquisa cooperativa e trabalho colaborativo, o planejamento das etapas da pesquisa, a definição da questão e objetivos, a metodologia e análise de dados, bem como a escrita do relatório final são da alçada do pesquisador. Entretanto, as atividades que aconteceram em sala de aula, os planejamentos e as discussões dos resultados, foram realizadas em conjunto com os professores, num espaço em que puderam participar, opinar e ajudar no direcionamento dos trabalhos.

Conforme já dito, o paradigma interpretativo pretende desenvolver e aprofundar o conhecimento de uma dada situação num dado contexto. Em vez de se ter, inicialmente, um conjunto de hipóteses a testar, procura compreender o comportamento dos participantes no seu contexto (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Essa problemática está diretamente relacionada à questão já antiga sobre a construção da teoria. A esse respeito, se faz necessário distinguir as dimensões indutiva e dedutiva e as implicações do papel da teoria na investigação. Os métodos indutivo e dedutivo são reconhecidos como métodos legítimos de criação de teoria, há séculos. Usando o método dedutivo, o investigador procura dados empíricos que se ajustem à teoria. Seguindo o método indutivo, parte-se de um conjunto empírico de dados e busca desenvolver uma teoria ou encontrar uma teoria que se lhe adapte. Por meio de sucessivas análises de fenômenos semelhantes e distintos vai-se construindo uma teoria que explique o que se vai estudando.

Nesse contexto, o presente estudo segue uma via essencialmente indutiva, pois o método indutivo é aquele que obtém conclusões gerais a partir de premissas individuais. Trata-se do método científico mais usual, que se caracteriza por quatro etapas básicas: a observação e o registro de todos os fatos, a análise e a classificação dos fatos, a derivação indutiva de uma generalização a partir dos fatos e a constatação/verificação. Significa que, após uma primeira etapa de observação, análise e classificação dos fatos, apresenta-se uma hipótese que soluciona o problema. Uma forma de levar a cabo o método indutivo é propor, com base na observação repetida de objetos ou acontecimentos da mesma natureza, uma conclusão para todos os objetos ou eventos dessa natureza.

Um contributo nesse sentido é também dado pela Teoria Fundamentada (Grounded Theory) e pela Etnografia. Porém, para esse estudo, utilizou-se uma abordagem que mais se aproxima da abordagem mista proposta por Miles e Huberman (1994) e descrita por Laperrière (2008), que tenta fundir os objetivos da Etnografia com os da Teoria Fundamentada, ou seja, se apropria de algumas características da Etnografia e de algumas características da Grounded Theory. Conforme Laperrière,

Opondo-se tanto aos positivistas quanto aos fenomenologistas radicais, Miles e Huberman optam por uma perspectiva epistemológica mista, em que reconhecem, simultaneamente, a objetividade do mundo social e suas regularidades, assim como o papel central que aí desempenham as significações construídas pelos atores sociais. Eis aí, como se nota, uma perspectiva epistemológica compartilhada por vários pesquisadores, tanto do lado da teorização enraizada, quanto do lado da etnografia, mas que não lhes é, contudo, exclusiva. (LAPERRIÈRE, 2008, p. 372).