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4 3 Peticionários de datas, sesmarias e ofício camarário

Nas petições e cartas de data registradas na Câmara de São Luís no início do setecentos, constam poucas informações acerca dos requerentes. As limitações das fontes se devem, neste caso, à própria natureza desses documentos, que não visavam o registro de dados sobre a população. Essa documentação possuía certo padrão e finalidade bem definida, compreendendo o registro das solicitações de chãos feitas pelos moradores, o deferimento dos oficiais e o registro da carta de data e sesmaria. A narrativa restringia-se a indicar o nome do requerente e, às vezes, a sua condição social, as justificativas apresentadas, as localizações dos terrenos e as obrigações atreladas à concessão e manutenção da posse.

Há, portanto, uma escassez de dados sobre os peticionários e demais pessoas citadas eventualmente nas petições e cartas de data como parentes, vizinhos e outros moradores da cidade. Sem embargo, é possível identificar que o perfil dos indivíduos que solicitavam a posse de chãos em São Luís incorporava, de um lado, os que visavam aumentar seus lotes requerendo mais algumas braças de terra e, de outro, os que aparentemente não tinham terreno algum ou eram identificados como muito “pobres”. Entre os peticionários, havia indivíduos ligados a ofícios mecânicos, militares, sujeitos denominados “cidadãos desta cidade” e vários simplesmente designados como “moradores”, além das mulheres (tanto viúvas como solteiras)430.

430 Chama a atenção os casos em que mulheres recorreram à Câmara de São Luís para solicitar terrenos na

cidade, inclusive, as de condição social mais baixa, denominadas como “pobres” e, por vezes, até mesmo solteiras e com filhos. O acesso à terra pela população feminina colonial tem sido discutido por pesquisas recentes que, no entanto, têm privilegiado o caso das mulheres pertencentes a uma condição social mais elevada, geralmente, denominadas como “donas”, em detrimento das mulheres designadas “pobres”. Além disso, os trabalhos têm dado atenção, sobretudo, à segunda metade do século XVIII em diante e às concessões das sesmarias “clássicas”, em detrimento das terras concedidas no âmbito do Concelho municipal. Ver, por exemplo: CAMPOS, Marize Helena de. Senhoras Donas: economia, povoamento e

vida material em terras maranhenses (1755-1822). 2008. Tese (Doutorado em História) – Universidade de

São Paulo, São Paulo, 2008; SILVA, Ana Gomes da. As mulheres e suas sesmarias: espacializações

coloniais – Mato Grosso (1748-1799). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Mato

Grosso, Cuiabá, 2015; SILVA, Maria Beatriz Niza da. Donas mineiras do período colonial. São Paulo: Editora Edusp, 2017.

Antonia da Mota e José Mantovani apontaram para o segmento do “morador, ou simplesmente, ‘cidadão” como a categoria de habitantes que mais teria recebido lotes de terras em São Luís a partir da década de 1730431. Embora tanto o termo “morador” como

“cidadão” fossem usados quando não é mencionado nenhum tipo de atividade profissional, convém destacar que não eram sinônimos, pois, não designavam a mesma “qualidade” de pessoas432. Não obstante, conforme expressão corrente na documentação

camarária, nota-se que indivíduos de qualquer qualidade recebiam cartas de data e sesmaria de lotes urbanos em São Luís.

No tocante aos peticionários que aparecem como “pobres” ou vivendo “muito pobremente”, entre outras referências à sua baixa condição, pode ser ainda mais difícil obter informações, mesmo em outros tipos de fontes. Em geral, pessoas ligadas a ofícios mecânicos, pequenos lavradores e demais indivíduos menos privilegiados tanto em termos sociais quanto econômicos, não figuram, por exemplo, entre aqueles que possuíam sesmarias nos sertões da capitania do Maranhão (considerando que tais concessões, mais extensas, implicavam na capacidade produtiva dos beneficiários). Ou, ainda, entre os indivíduos com passagem pelo Senado da Câmara (principalmente nos postos de juiz, vereador ou procurador que, à princípio, deveriam ser vetados aos que não faziam parte do rol de “cidadãos” da cidade).

Registros dessa natureza, por exemplo, podem ajudar a definir o perfil socioeconômico de alguns moradores que estavam pleiteando ou já ocupavam lotes urbanos em São Luís no início do setecentos. Todavia, este caminho dificilmente contemplaria indivíduos pertencentes à “qualidade” mais baixa, como aqueles que se autodenominavam “pobres” ou que eram assim designados pelos camaristas, embora eles estivessem entre os moradores que recebiam cartas de data e sesmaria na cidade, conforme exposto ao longo do capítulo.

Cruzando nomes de peticionários das cartas de data examinadas com informações sistematizadas por outros pesquisadores, foi possível identificar pelo menos treze nomes coincidentes, com possibilidade de tratarem-se dos mesmos indivíduos.

431 MOTA, Antônia da Silva; MANTOVANI, José Dervil. São Luís do Maranhão no século XVIII, op. cit.,

p. 24. Convém lembrar que os autores não analisaram petições e cartas de data dos anos anteriores à década de 1730.

432 No espaço colonial, em geral, gozavam da condição de “cidadão”, os indivíduos que faziam parte de

uma “nobreza da terra”, muitas vezes ligada aos cargos da administração local. Tratava-se de um título alcançado por meio do nascimento, merecimento, por via institucional ou por herança, que evidenciava as desigualdades sociais próprias de uma sociedade de Antigo Regime. BICALHO, Maria Fernanda B. O que significava ser cidadão nos tempos coloniais. In: ABREU, M.; SOIHET, R. (Orgs.). Ensino de história:

Destes, sete pessoas, em algum momento, mantiveram relação com a câmara municipal. Duas podem ter sido proprietárias de sesmarias, enquanto que as outras quatro constam tanto nos dados sobre sesmarias como sobre os nomes ligados ao ofício camarário.

Entre os peticionários que possuíam ou viriam a possuir algum tipo de ligação com a Câmara de São Luís (onze indivíduos), alguns ocuparam de fato postos da administração municipal, outros não se sabe exatamente que cargo podem ter exercido ou que tipo de relação mantiveram com a Câmara. Já no caso das duas mulheres identificadas, sabe-se que suas ligações com o poder municipal se constituíram por meio de terceiros, isto é, por meio dos homens pertencentes às suas famílias.

Referido como alferes e “morador nesta cidade”, o pleiteante Luís Lansarote Coelho recebeu data de dois chãos devolutos em julho de 1710433. Posteriormente, ele é

computado entre as pessoas ligadas à Câmara entre 1715 e 1735, conforme o quadro construído por David Silva Feio, no qual foram arrolados os nomes relativos a este recorte por meio das assinaturas constantes na documentação camarária434. Luís Lansarote

Coelho aparece nos anos de 1717, 1727, 1732 e 1733, embora seja possível verificar que ele já atuava como escrivão camarário em 1711435. Tratava-se, evidentemente, de um

indivíduo letrado que, embora não tenha sido declarado “cidadão” quando requereu data e sesmaria, possuía “qualidades” necessárias para inserir-se nos cargos da municipalidade.

Na data concedida em 1710 ao capitão Antonio Gomes de Andrade, ele é referido como “da nobreza desta cidade, e cidadão dela”, o que já indicava a sua aptidão para os postos da governança local436. De fato, ele fazia parte do rol de elegíveis do

Senado da Câmara, pois, através das eleições de pelouro, foi eleito procurador da Câmara em 1710 e juiz ordinário em 1712 e, além disso, foi arrolado na lista de nomes relacionados ao Senado no ano de 1718 e por duas vezes em 1725437. Quando solicitou

data e sesmaria de uns chãos “para a banda da fonte da olaria”, já possuía terreno e casa construída em São Luís.

433 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1710 a 1715, 2 de julho de 1710, fl. 12-12v.

434 Segundo o autor, foi necessário recorrer ao exame das assinaturas devido à ausência dos “Termos de

Abertura de Pelouro” para o período em questão. O nome de Luís Lansarote Coelho aparece no ANEXO B – Nomes relacionados à Câmara de São Luís (1715-1735). FEIO, David Salomão da Silva. O nó da rede

de ‘apaniguados’: oficiais das câmaras e poder político no Estado do Maranhão (primeira metade do século XVIII). 2013. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade

Federal do Pará, Belém, 2013, p. 51.

435 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1710 a 1715, 26 de julho de 1711, fl. 44. 436 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1710 a 1715, 22 de novembro de 1710, fl. 20. 437 FEIO, David Salomão da Silva. O nó da rede de ‘apaniguados’, op. cit. p. 52 e ANEXOS A e B.

Do mesmo modo, Antonio Dutra de Andrade e Manoel Inocêncio Bequimão, também desejavam acrescentar algumas braças aos lotes que ocupavam na cidade em 1713 e 1711, respectivamente438. Ambos também se inseriram no ofício camarário. O

primeiro foi procurador do concelho em 1713, enquanto que o segundo esteve ligado ao Senado em 1732, sendo eleito vereador em 1743439. Possivelmente, faziam parte do grupo

dos “principais da terra” ou “cidadãos” da cidade. Convém destacar que este último termo é o mais usado na documentação camarária para identificar os sujeitos de maior “qualidade” no cenário local, os quais costumavam ter alguma passagem pelos cargos da municipalidade.

Outros dois peticionários que solicitaram cartas de data e sesmaria em 1715 e 1723, respectivamente, Rodrigo de Abreu e Carvalho e João Duarte da Costa, foram listados no rol de pessoas com alguma relação com a Câmara. Embora não se saiba o tipo de vínculo que tiveram com a instituição, o primeiro aparece arrolado no ano de 1717, e o segundo no ano 1724 e, por duas vezes, no de 1730440. Na documentação municipal

também consta um registro de que Rodrigo de Abreu e Carvalho recebeu a patente de capitão de ordenança em 1715, sendo referido como “filho e neto de cidadãos, e de uma das mais nobres e principais famílias desta cidade de São Luís”, o que reforça sua ligação com os cargos da municipalidade anos depois441.

Na petição de Antonia Arnaut Vilela consta que, devido à falta de chãos, ela não possuía “casas em que morar”442. Não obstante, o sobrenome da suplicante indica seu

pertencimento a uma das famílias mais influentes do contexto local, cujos membros “detinham certo controle sobre os cargos da Câmara de São Luís, que podiam ser facilmente utilizados para atender os interesses da parentela”443. Ao que parece, este

sobrenome esteve ligado aos cargos do poder municipal desde meados do século XVII, adentrando o século seguinte.

Sabe-se da existência do sargento-mor Antonio Arnaut Vilela (eleito vereador no ano de 1646 e juiz da Câmara em 1654)444. Posteriormente, tem-se os nomes do alferes 438 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1710 a 1715, 21 de janeiro de 1713, fl. 62-62v; 30 de

setembro de 1711, fl. 44, respectivamente.

439 FEIO, David Salomão da Silva. O nó da rede de ‘apaniguados’, op. cit., ANEXOS B e C.

440 Ibidem. Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1714 a 1722, 1º de junho de 1715, fl. 25; Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1723 a 1736, 15 de maio de 1723, fl. 7v-8v, respectivamente. 441 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1714 a 1722, 20 de setembro de 1715, fl. 32. 442 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1714 a 1722, 4 de junho de 1712, fl. 57. 443 FEIO, David Salomão da Silva. O nó da rede de ‘apaniguados’, op. cit., p. 51.

444 Ibidem, p. 60. Além de ter ocupado cargos camarários, o sargento-mor foi um dos personagens

Basílio Arnaut Vilela (eleito juiz ordinário em 1703 e juiz dos órfãos em 1707) e de José Arnaut Vilela (eleito vereador em 1707). Além dos sujeitos com passagem pelo Senado da Câmara de São Luís, David Feio identificou o nome de Ignacio Arnaut Vilela que, por sua vez, esteve ligado à Câmara de Belém (1734, 1742 e 1743), demonstrando a circulação de membros dessa família entre as duas principais cidades do Estado do Maranhão445. Desse modo, supõe-se que a referida Antonia Arnaut Vilela possuía laços

de nascimento ou casamento com uma das famílias mais importantes da região, costumeiramente dedicada às funções burocráticas e também militares.

O sobrenome “Moraes Rego”, por sua vez, também pertencia a “umas das mais conhecidas e influentes famílias que se estabeleceram no Maranhão no século XVII”, cujos membros teriam exercido importantes cargos no Estado até o oitocentos446. Entre

os nomes identificados por David Feio, o de Gabriel de Moraes Rego consta como juiz eleito em 1707 e com passagem pela câmara também em 1731447. Além disso, seu nome

compõe a primeira Lista do Livro da Companhia da Nobreza (1686-1710), onde estão arrolados os indivíduos reconhecidos como “cidadãos” de São Luís nesse período448.

É provável que este “cidadão” fosse parente de Jacinto de Moraes Rego que, em 1723, requereu aos oficiais camarários uns chãos contíguos às suas casas na travessa “a que chamam das mercês”. Em sua petição, foi registrado como “cidadão desta cidade”, o que já indicava a distinção social da qual gozava449. Anteriormente, seu nome aparece

ligado à Câmara nos anos de 1715 e 1720450, além de constar como um dos beneficiários

das sesmarias concedidas pelo governador Cristóvão da Costa Freire entre 1707 e 1718. Jacinto foi agraciado com uma sesmaria no Rio Pindaré no ano de 1714, na qual pretendia Jesus a respeito do acesso à mão-de-obra indígena no Maranhão. CHAMBOULEYRON, Rafael.

Portuguese colonization of the Amazon region, 1640-1706. 2005. 344 f. Tese (Doutorado) – University of

Cambridge, Inglaterra, 2005, p. 128.

445 FEIO, David Salomão da Silva. O nó da rede de ‘apaniguados’, op. cit., pp. 59 e 64 e Anexo A e D. 446 SANTOS, Arlyndiane dos Anjos. “Gente Nobre da Governança:(re) invenção da nobreza no Maranhão Seiscentista (1675-1695). Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2009,

p. 80.

447 É provável que tenha exercido algum cargo na Câmara em 1675, além de ter sido eleito por pelouro

como juiz ordinário em 1692. FEIO, David Salomão da Silva. O nó da rede de ‘apaniguados’, op. cit., p. 59.

448 Gabriel de Moraes Rego é o quarto nome da “Lista dos cidadoes desta cidade” no Livro de Lista da Companhia da Nobreza nº 1, 1686-1710, fl. 4. Além disso, ele foi arrolado entre os nomes relacionados à

câmara em 1707 e em 1731. Entretanto, é curioso observar que o mesmo nome é referido na petição de data e sesmaria de Francisco da Silva Barboza, quando são dadas as coordenadas da localização dos chãos solicitados pelo requerente – “entre o canto das casas que foram do defunto Gabriel de Moraes Rego (...)”. Portanto, à época do registro, em dezembro de 1710, um Gabriel de Moraes Rego que possuiu casas em São Luís já era falecido. Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1710 a 1715, 29 de dezembro de 1710, fl. 28-28v.

449 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1723 a 1736, fl. 1.

“cultivar” e criar gado451. Portanto, além da posse de terrenos na cidade, concedida pelo

poder municipal, ele também foi proprietário de terras nos “sertões” da capitania do Maranhão.

Maria de Moraes Loba, por sua vez, possuía doze braças de chão em São Luís, na rua que ia do Carmo ao Desterro (onde estava as outras duas braças que solicitava na petição de 1723), mas, posteriormente, conquistaria uma sesmaria em outra paragem. Além disso, verifica-se que ela possuía laços com os “Moraes Rego”, sendo sogra de um Gregório de Moraes Rego (também ligado à Câmara de São Luís, em 1723), junto do qual solicitou uma sesmaria ao governador João da Maia da Gama, concedida no ano de 1726 na região do Rio Munim452.

Na petição e carta de data, Maria de Moraes Loba é identificada como “Dona viúva que ficou do defunto Manoel Martins da Costa”453. Convém destacar que o termo

“Dona” não era atribuído indistintamente à todas as mulheres pois, ao contrário, poderia indicar a distinção social de certas mulheres e/ou chefes de família de condição mais elevada que, em geral, opunha-se à situação das mulheres caracterizadas “pobres” e, desse modo, sem cabedais e sem ligação com famílias ou linhagens proeminentes.

O uso dessa expressão, que conferia um tratamento diferenciado a certas mulheres, advinha de um parentesco masculino ligado aos pais, avós ou maridos454.

Marize Helena de Campos analisou a trajetória de mulheres consideradas “donas” no Maranhão da segunda metade do século XVIII. Para este período, destacou que esse tratamento costumava ser dado àquelas que desempenhavam um papel de coesão e de comando no âmbito de um grupo familiar, enquanto “chefes de família” que poderiam ser, inclusive, proprietárias de terras e escravos. Entretanto, eram geralmente referidas como viúva de alguém, indicado a necessidade de “situar a linhagem e ou importância daquela determinada senhora dona”455.

451 ROLAND, Samir Lola. Sesmarias, índios e conflitos de terra na expansão portuguesa no vale do

Parnaíba (Maranhão e Piauí, séculos XVII e XVIII). Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2017, p. 82.

452 Ibidem, p. 160.

453 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1723 a 1736, 29 de janeiro de 1724, fl. 13v-14.

454 No mundo luso, de um modo geral, o termo “Dona” costumava diferenciar as mulheres de origem

“nobre” das “plebeias”. Contudo, “enquanto do lado ‘de cá’ do Atlântico, a expressão era reservada àquelas consideradas brancas e ricas, no litoral africano, especialmente na região de Angola, dos séculos XVII a XIX, as “Donas”, quase sempre mestiças ou negras, eram assim tratadas por concentrarem poder e exercerem papéis de comando, tanto no mundo dos negócios como na direção da família”. CAMPOS, Marize Helena de. Senhoras Donas, op. cit., pp. 40-41.

Sobre Maria de Moraes Loba pode-se ao menos Inferir que o fato de ser tratada como “Dona” se devesse a sua ligação com uma família influente, bem como à sua condição de “matriarca” e, provavelmente, à sua situação socioeconômica. Além das braças que possuía em São Luís (considerando-se que o tamanho das concessões na área concelhia costumava ser menor), ela também foi agraciada com uma sesmaria em outra localidade.

Outros indivíduos que possuíam terrenos na cidade podem ter sido proprietários de terras em outras partes do Maranhão. É possível que Manoel Ferreira da Silva que, em 1713, pediu “cinco braças de testada e quinze de vão de quintal” para “acrescentar a sua casa” em São Luís, seja o mesmo que vendeu umas terras à Gabriel Soares da Mota nas margens do rio Parnaíba por volta de 1732456. Do mesmo modo, que o padre Antonio da

Cruz Pinheiro que recebeu de Cristóvão da Costa Freire uma sesmaria para criar gado no Mearim em 1707, seja o mesmo “clérigo presbítero morador nesta cidade” que em 1723 recebeu umas “sobras” próximas ao chão que ocupava na rua que ia para o prédio dos mercedários em São Luís457.

Não deveria ser incomum que os mesmos indivíduos proprietários de sesmarias nos sertões ou paragens próximas aos principais rios da capitania, mantivessem lotes e casas em São Luís, onde também eram tidos como “moradores”. Quando pediu meia braça de chão para acrescentar às suas casas em 1724, Francisco Vieira foi registrado como “morador nesta cidade”, mas, é possível tratar-se do mesmo sujeito cujo nome consta na confirmação de uma sesmaria em abril do mesmo ano. Um Francisco Vieira também consta entre os indivíduos relacionados à Câmara de São Luís no ano de 1725458.

Entretanto, tratando-se de um nome comum, não se descarta a hipótese de homônimos. Gregório de Andrade da Fonseca, por sua vez, era figura relativamente conhecida dentro do cenário local. Além das terras que possuía dentro da cidade e da sesmaria nos sertões, há registros de que ocupou alguns cargos na burocracia local no início do século XVIII. Trata-se de um peticionário sobre o qual é possível reunir maior número de informações. Em primeiro lugar, no Livro de Registro da Câmara de São Luís

456 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1710 a 1715, fl. 78v-79; ROLAND, Samir Lola. Sesmarias,

índios e conflitos de terra, op. cit., p. 128.

457 Ibidem, p. 151; Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1723 a 1736, fl. 14v.

458 Livro de Registro da Câmara de São Luís de 1723 a 1736, 29 de janeiro de 1724, fl. 13-13v; ROLAND,

Samir Lola. Sesmarias, índios e conflitos de terra, op. cit., p. 256; FEIO, David Salomão da Silva. O nó da

(1710-1715) verificam-se duas petições e cartas de data e sesmaria relacionadas a Gregório de Andrade.

Na primeira diz-se que ele possuía casas “na rua do Carmo”, mas, requeria as “sobras” que lhe eram confinantes, que teriam onze braças de comprimento e quinze de “vão de quintal”. Na segunda, ele é referido como “senhor” de “dezoito braças e meia de