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O Pibid/UFRPE e o olhar para o gestor escolar: a parceria em construção

O primeiro ponto que constatamos na análise do tema foi a ausência de dotação orçamentária, no desenho do Programa pela CAPES/DEB, para a oferta de bolsa aos gestores, pois destinam-se apenas a alunos de cursos de licenciatura plena e para coordenadores e supervisores responsáveis institucionalmente pelo Programa, conforme a Portaria N° 122, de 16 de setembro de 2009, que institui o Pibid no âmbito da MEC/CAPES. Situação esta, que é percebida por C 02, que participa da coordenação do programa. Diz a entrevistada:

[...] O desenho do programa, se você olhar, não está incluído a gestão, você tem o supervisor da escola que pode ser um professor, normalmente é um professor da escola e você tem os coordenadores de área, que vão à escola e os bolsistas, os alunos e professores. Então no desenho do Pibid a gente tem isso, a gestão não aparece, mas ela é fundamental.

O fato de termos professores da escola recebendo bolsa e o gestor não, pode, na perspectiva da organização do trabalho escolar e da tomada de decisões em última instância, em que o gestor, racionalizando recursos materiais e gerenciando recursos humanos com o objetivo de alcançar os objetivos definidos pela instituição escolar, provocar um desinteresse por parte do mesmo. Isso se olharmos para o fato de caber aos gestores coordenar o trabalho coletivo, inclusive em abrir espaços para o diálogo, na perspectiva da gestão democrática.

A referida coordenadora esclarece que, embora a gestão não apareça no desenho do Pibid, “[...] é fundamental [...]”, de forma que segue pontuando os motivos da sua assertiva:

[...] Primeiro, quem vai abrir o acesso à escola? É a gestão. Quem é a primeira pessoa que a gente procura na escola? É o grupo gestor, é direção,

é a vice direção, é o coordenador da escola; então, é o primeiro, digamos assim: é a porta de entrada do Pibid na escola é a gestão. (C 02).

Constata-se que a presença do gestor é mencionada em momentos de reuniões com bolsistas do Programa. A Portaria 96, em seu artigo 39, diz que o Coordenador Institucional deve “[...] promover reuniões e encontros entre os bolsistas, garantindo a participação de todos, inclusive de diretores e de outros professores das escolas da rede pública e representantes das secretarias de educação, quando couber” (BRASIL,2013). Este mesmo texto, consta no artigo 13 do Regimento Interno do Pibid/UFRPE, sinalizando para uma participação em reuniões, no âmbito do Programa, que não são abertas aos gestores, apenas, quando couber a estes.

Importante lembrar, que estes bolsistas são professores da educação básica, que precisam da liberação do seu gestor, e que para haver a liberação, é preciso toda uma articulação interna, no sentido de garantir o dia letivo ao aluno, uma vez que as escolas não dispõem de professores substitutos para cobrir as faltas.

G 03, diz que: “[...] convite eu só tive um, inclusive eu não pude ir, foi um dia que não dava e flor (nome fictício) acabou indo sozinha, foi no final do ano passado. Isso eu sinto falta, o pessoal de lá da Universidade também não vem, não vem até aqui e eu acho isso ruim, isso é uma parte negativa”. O gestor da Escola Passarinho (G 01), falando sobre esses momentos de reuniões diz que “[...] é difícil participar desses encontros, quando acontecem dentro da própria universidade, fora da escola, até porque, eu tenho também outra agenda, de gerência, na secretaria de educação”.

A percepção dos entrevistados vai no sentido de que estas reuniões não têm atendido aos interesses dos gestores das escolas conveniadas e, desta forma, aos objetivos do Programa. O sujeito C 03, rememorando os anos em que está no Programa diz: “[...] Eu lembro que essa relação mais íntima, entre a gestão e o Pibid, ela acontece no primeiro ano de implantação do Pibid na escola, depois é como se o Pibid fosse incorporado na rotina da escola e os supervisores é que tocam o programa”.

Infere-se que as reuniões do Pibid/UFRPE com os gestores das escolas conveniadas, não têm tido a devida participação. Desse modo, entendemos que se dá pelo baixo número de reuniões planejadas que contemplem os gestores, ou mesmo pelas dificuldades em se deslocar, tendo que sair da escola e deixar os afazeres diários relacionados à gestão da Escola, uma vez que estas acontecem, na maioria das vezes, nas dependências da UFRPE.

A coordenação do Pibid/UFRPE, no tocante a este acompanhamento nas escolas, e a busca do fortalecimento da parceria, reconhece que não é uma tarefa tão simples: “[...] não é uma matemática fácil, porque nós temos vinte e quatro escolas parceiras” (C 01). A mesma

entrevistada fala da dinâmica usada para dar conta do acompanhamento dessas escolas: “[...] aqui na Sede, [...] cada escola tem uma dupla de coordenadores, que é a dupla responsável por acompanhar todas as áreas naquela escola, então são eles que estão, efetivamente, mais próximos desse cotidiano escolar” (C 01).

No entanto, C 03 ao referir-se à interlocução do Programa com gestores das/nas escolas tem a percepção de que “[...] há momentos pontuais onde a gestão ela pode participar de algumas reuniões de algumas conversas, mas de fato o que tem acontecido no Pibid da Rural é que os supervisores é que fazem essa mediação com a escola, com a gestão escolar”.

[...] lá em Garanhuns, os dois coordenadores fazem esse acompanhamento, inclusive, na última reunião, que nós tivemos lá em Garanhuns, em março, o professor Cravo (nome fictício) disse: olha! A gente agora teve uma nova ideia, uma nova forma de acompanhar. Porque eles estavam levando muito os supervisores para a Universidade, agora eles resolveram que as reuniões vão ser feitas nas escolas, isso é legal, os supervisores ficaram muito animados, os gestores também; porque quando a gente junta todo mundo na Universidade termina virando uma reunião mais geral de formação ou de questões administrativas. A reunião na escola ela tem a possibilidade de dialogar com as questões especificas daquela escola. (C 01).

O entusiasmo, com que C 01 refere-se às novas estratégias experienciadas por coordenadores do Pibid e por professores da educação básica, que já estão sendo usadas e têm contribuído para um maior envolvimento de professores e gestores na/da escola, na cidade de Garanhuns/PE. É um relato que nos traz surpresa, pois temos o entendimento de que estas metodologias já estão previstas nos documentos que orientam a implementação do Pibid, como também, apresentam-se como necessárias para uma maior e melhor integração com a comunidade escolar.

Esta é a percepção dos próprios coordenadores do programa, inclusive quando a mesma entrevistada em outro momento de fala, sobre o acompanhamento da escola pelos dois coordenadores, diz que: “[...] são eles que estão, efetivamente, mais próximos desse cotidiano escolar”.

Este entendimento é reforçado quando coordenadores do Programa demonstram em suas falas já saberem das dificuldades que encontrariam, no que se relaciona à disponibilidade dos atores da escola em se deslocarem até a universidade para participarem das atividades no âmbito do Pibid/UFRPE.

[...] a primeira coisa que aconteceu, quando a gente foi aqui falar com a pessoa que seria responsável por isso; foi até aqui na Várzea, nessa GRE, a primeira coisa que ela deixou claro foi: olhe, professor não pode se afastar de sala de aula. Porque, por exemplo, o supervisor da escola precisa participar da formação, não é? Pelo menos uma vez no semestre e ela disse

logo, a gente não vai liberar não. Se isso for condição dele ser supervisor da escola, então, ele não vai ser, porque a gente não vai liberar. (C 02).

Compreende-se, ao observamos as competências dos coordenadores de área no Regimento Interno do Programa, quando no artigo 15 usam-se as expressões: “[...] acompanhar atividades previstas nos subprojetos e orientar os bolsistas ID conjuntamente com os supervisores” e, na fala de C 01, coordenadora institucional, ao referir-se ao formato de acompanhamento das escolas.

No que se relaciona à ação mais voltada à competência exclusiva do gestor escolar, existe a previsão de “termo de adesão de cada dirigente de escola da rede pública, concordando em participar do Projeto Institucional” (BRASIL, 2009a, p. 10).

De forma que o Regimento Interno apresenta a seguinte redação:

Art. 6º - As Escolas Participantes devem concordar, por meio de Termo de Acordo (Anexo I) assinado por seus dirigentes, em receber em suas dependências os licenciandos bolsistas e os professores coordenadores dos subprojetos Pibid ao longo de sua execução, bem como possibilitar a realização das atividades do Pibid no âmbito escolar.

O referido termo de acordo13 deve, então, ter as assinaturas do gestor escolar, do representante da Secretaria de Educação e do Coordenador Institucional do Pibid/UFRPE. Constata-se ser este um instrumento importante para o Programa, não apenas a Instituição UFRPE, mas a todos os envolvidos, quer seja no âmbito da universidade, da escola ou da secretaria de educação, pois chama todos a conhecerem o Programa e assumirem responsabilidades com o mesmo. Porém, as falas dos entrevistados nos mostram que a distância entre o que se desenhou no Programa e o que tem acontecido ainda é significante.

Um dos entraves está relacionado à distância mantida do Pibid pelos representantes das secretarias de educação. Em relação a este particular a atual coordenadora institucional do Pibid/UFRPE fala que, “[...] é outra dificuldade que eu apontaria, aproveitando essa lembrança, a nossa relação com a Secretaria de Educação. Eu acho que é uma dificuldade também”. Ainda, sobre este distanciamento, outro entrevistado diz que,

[...] desde que eu entrei no Pibid em 2012 eu nunca vi nenhum representante da secretaria de educação, então, na verdade há momentos, há poucos, pouquíssimos momentos de presença; às vezes, o Pibid faz eventos, convida pessoas responsáveis pela gestão do ensino médio para falar, para fazer uma palestra dentro do evento do Pibid, como já aconteceu, mas não há, apesar da Rural ter demandado uma participação mais efetiva da secretaria de educação, mas me parece que o Pibid não é prioridade. (C 03).

A ausência de representantes da Secretaria de Educação, seja ela municipal ou estadual, em espaços que o Pibid/UFRPE reserva a estes atores, deixa o gestor escolar em situação delicada quando precisa posicionar-se sobre questões relativas à liberação de professores para participarem de eventos promovidos pelo Programa na UFRPE, ou mesmo, no tocante à dinâmica adotada por cada subprojeto na escola, sobretudo, nas escolas em que há o Ensino Fundamental e o Ensino Médio – tendo em vista, muitas terem adotado o formato de intervenção através de oficinas.

Neste caso, fica a cargo da gestão estas articulações que, para além da percepção de um dos entrevistados, que entende que, “[...] o que se espera da escola é muito pouco, se espera que a escola tenha espaços mínimos para que os alunos possam investir oito horas semanais na construção de atividades didáticas” (C 03).

Entendemos que não sejam tão simples e nem tão pouco o que se espera da escola, isto levando-se em conta a complexidade do cotidiano escolar e, também, no caso das escolas pesquisadas, um modelo de gestão da educação implementado no governo de Pernambuco em 2008, pelo então governador Eduardo Campos (PSB), este que fora reeleito para o período de 2010 a 2014. Pois,

[...] dando continuidade às medidas de modernização administrativas já adotadas no campo educacional desde 2008, com o Programa de Modernização da Gestão Educacional (PMGE/ME). Com o PMGE/ME, a educação do Estado de Pernambuco passa a estabelecer metas educacionais tendo como foco a gestão por resultados, para tanto, estabelece “parcerias” com o setor privado. (ROCHA; PIZZI, 2013, p. 5).

Ambas as escolas pesquisadas têm o Programa de Modernização da Gestão Educacional (PMGE/ME) sendo executado e, não coincidentemente, ambas são geridas por governantes do PSB. Nas escolas é feito o acompanhamento sistemático através de visitas de técnicos das Secretarias de Educação, que a nosso entender tiram a autonomia do gestor e funcionam como mecanismo de controle do trabalho docente (ROCHA; PIZZI, 2013).

Observe o que o entrevistado C 03 fala acerca do gestor escolar:

[...] a gente espera que o gestor, que a escola abra espaços efetivos para planejamentos de intervenção. A gente espera que o gestor ele precisa assinar um documento concordando que o Pibid vá para a escola. Ele precisa assinar um documento concordando que seus professores se tornem supervisores. (C

03).

O documento assinado tem sua importância. No entanto, observa-se que na atuação do gestor escolar, as decisões que o mesmo precisa tomar, vão além deste. É o que nos apresenta

a fala da nossa entrevistada, ao detalhar a metodologia (oficinas) utilizada pelo Pibid/UFRPE em escolas estaduais e o posicionamento da Secretaria de Educação em relação ao tema.

[...] então, na verdade, na hora daquela oficina ou parte dos alunos estavam com os bolsistas ou na verdade todos os alunos estavam com o bolsista, porque era o bolsista que fazia a intervenção, isso também não foi permitido. Então como é que a gente ia dialogar com a gestão da escola se a gerência não permitia? Aí vem a questão da sensibilidade da gestão da escola. (C 02).

A entrevistada segue dizendo,

[...] teve um gestor da escola que bateu o pé e disse: não! A GERE não quer; então, não tem, e teve gestor que, se a GERE não está aqui, né, faz! E a coisa andou. O gestor da escola, a visão pedagógica que ele tinha é que o professor estava em uma atividade pedagógica e ponto final. Aquele gestor que não tinha essa visão pedagógica dizia: não! Se a GERE não permite, não é feito!

(C 02).

Evidenciamos, nas falas dos entrevistados, a situação delicada em que o gestor escolar se encontra, uma vez que a escola é parte de um sistema maior, tendo normas e orientações emanadas de uma direção central, que mesmo se utilizando do discurso da descentralização, na verdade o que se tem é a desconcentração das atividades, mas, mantem-se a centralização do poder decisório. É neste viés que Rocha e Pizzi (2013, p. 5), referindo-se a tendência gerencialista implementada pelo governo de Pernambuco na Secretaria de Educação, traz a compreensão que esta, “[...] difere do controle tradicional e burocrático, centralizado na regulamentação, e caminha para uma forma mais flexível em relação ao processo educacional com visível centralização do interesse do sistema na melhoria dos resultados escolares (AUGUSTO, 2011, p. 175).

7.2 O Pibid e a gestão escolar: desafios e avanços encontrados na formação inicial e

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