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CAPÍTULO 5 A PESQUISA NA ESCOLA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

5.1 Análise dos momentos e documentos: registros coletivos dos processos

5.1.3 Planejamento e avaliação na/da escola

Esse momento foi conquistado pelos profissionais da educação do município, professores, orientadores pedagógicos e coordenadores, a custa de muitas discussões e movimentos de luta. Direito esse tanto das crianças como dos profissionais para construírem uma educação de melhor qualidade.

São reuniões regulamentadas pela SEDUC na homologação do calendário escolar e garantidos durante o ano letivo. O planejamento inicial tem duração média de dois a três dias. Nesses dias sob a coordenação da gestão (direção, vice- direção e orientador pedagógico) são discutidas as reformulações no projeto político pedagógico como: traçar as metas e ações para o ano que se inicia. E mais, partindo das diretrizes da SEDUC, são organizadas pela equipe técnica de coordenadores pedagógicos, psicólogas, assistentes sociais, entre outros.

Essas diretrizes trazem recomendações sobre os seguintes aspectos: organização dos encontros de reuniões com os professores e ADI’s; organização dos primeiros dias de aula: recepção dos alunos, período de adaptação, entrevistas com os pais, organização do trabalho com as famílias e a reunião de pais, o movimento na escola (Educação Física) e ainda orientações para a elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola.

Os gestores da escola encaminham os encontros e possuem um papel definido em cada encontro. A parte administrativa fica sob a responsabilidade da diretora e sua vice, e a parte pedagógica fica com a orientadora pedagógica.

Os trabalhos são encaminhados ora coletivamente, com a apresentação da pauta para os encontros, estudos e apresentações por parte dos gestores, ora em pequenos grupos, para análise e reconstrução das etapas do Projeto Político Pedagógico.

Os planos anuais dos professores são construídos em pequenos grupos, divididos por série e/ou ciclos. Cada grupo organiza o seu plano tendo em mãos as avaliações dos alunos do quarto bimestre organizadas no ano anterior. Todo esse material serve de apoio para que seja construído um plano real, ou seja, um plano que seja possível de ser trabalhado em classes com problemas e avanços no ensino e aprendizagem, para alunos que possuem uma realidade familiar e social conhecida pela escola, pelo menos em sua grande maioria, já que a maioria dos alunos da escola é matriculadas na Educação Infantil e segue até o Ensino Fundamental.

A princípio, os professores montam a estrutura desse Plano Anual com base no que já construíram no Projeto Político Pedagógico e têm um prazo de entrega de aproximadamente dois meses. Esse prazo serve para que sejam feitas novas entrevistas com as famílias, a avaliação inicial que na escola é chamada de Sondagem Inicial. Só assim são finalizados os Planos Anuais.

No que se refere à reunião de avaliação final, trata-se de um momento de avaliação de todo o trabalho realizado pela equipe no decorrer do ano letivo. Nesse momento é apresentado pela orientadora o resumo do desenvolvimento e aprendizagem dos alunos do ano todo para que se tenha uma visão geral dos avanços das crianças e as maiores dificuldades apresentadas em cada série, com base no material tabulado nas reuniões de conselho de classe e ciclo.

A parte administrativa é apresentada pela diretora e vice-diretora. Essas também apresentam um balanço do ano que se está encerrando, as maiores dificuldades e avanços.

São discutidos também os problemas que foram ocorrendo durante o ano no que diz respeito às relações interpessoais no grupo; problemas levantados pelas famílias, ou seja, críticas ao trabalho da escola e/ou professores e/ou funcionários. Esses problemas que vão ocorrendo durante o ano são resolvidos pelos gestores, convocando os envolvidos para conversas e esclarecimentos. No caso de um problema mais sério, como relatou o gestor 1

[...] quando percebo uma situação conflitante, convoco logo uma reunião extraordinária, que pode ser dentro de um período (manhã ou tarde) ou coletiva, para que se resolva ou pelo menos amenize o conflito. Precisamos apagar logo essa fogueira, para que ela não atrapalhe o trabalho da escola.

Também se apresentam os maiores desafios da escola que são: melhorar a qualidade da educação de todos os alunos, ou seja, que todos os alunos avancem no que diz respeito ao desenvolvimento da aprendizagem; diminuir a indisciplina nas salas de aula; conscientizar as famílias a respeito da importância do seu acompanhamento na vida escolar de seus filhos.

Alguns professores trazem também seus avanços e frustrações a respeito do ano que se encerrou. O que salta aos olhos é que a maioria se sente incomodada com a presença de alguns alunos que não aprendem em suas salas de aula. E aparecem alguns comentários, como

[...] o “fulano” não aprende, mas também fica o tempo todo na rua. Sua mãe não fica em casa, não cuida dele. Ele só come quando vem para a escola. Ele esta revoltado. Não liga pra nada. Não quer ficar na sala e sai o tempo todo para ficar perambulando pela escola. Eu não sei o que fazer. (grifo nosso) [...] esse “menino” é irmão “daquele”. A família toda deu problema. Eles não conseguem aprender. (gripo nosso)

[...] eu já fiz tudo, mas ela não avançou. É muito imatura, desinteressada. Não consegue aprender. Só quer ficar brincando.

Essas falas revelam uma problemática, alguns professores não estão conseguindo lidar com crianças que fogem ao padrão de aluno ideal, que possui uma socialização primária, ou seja, que a família já o educou para o convívio social, que tem uma vivência que consolidou valores em relação à importância da escola. Esse fato remonta a democratização do ensino, os professores estão diante de uma nova realidade escolar e, como nos aponta Tardif (2002, p.129), os alunos de hoje

[...] não possuem as mesmas capacidades pessoais nem as mesmas possibilidades sociais. As suas possibilidades de ação variam, a capacidade de aprendizagem também, assim como as possibilidades de se envolverem numa tarefa, entre outras coisas. Ao se massificar, o ensino passou a se deparar cada vez mais com alunos heterogêneos em termos de orientação social, cultural, étnica e econômica, sem falar das importantes disparidades cognitivas e afetivas entre os alunos. Essa questão levanta o complexo problema da eqüidade dos professores em relação aos grupos de alunos que lhe são confiados.

Os professores não estão conseguindo lidar com as crianças que chegam à escola e não vêem sentido algum nela, que não aprenderam que tem que respeitar o professor unicamente porque ele é o professor. Que tem que permanecer em suas salas de aula porque essa é sua obrigação. Que não vêem na escola uma

possibilidade de sobrevivência na sua realidade social, onde a cada dia têm que lutar pelo seu alimento e sua sobrevivência, mesmo que sejam crianças de quatro, seis ou dez anos de idade.

Esse ainda é um dos maiores desafios dessa escola: que todas as crianças sejam incluídas, ou melhor, que sejam integradas e respeitadas em suas diferenças. E que todas consigam o acesso ao conhecimento, para que se desenvolvam em seu aspecto global - cognitivo, emocional, afetivo e cultural.