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CAPÍTULO 5 A PESQUISA NA ESCOLA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

5.1 Análise dos momentos e documentos: registros coletivos dos processos

5.1.4 Pré-conselho e Conselho de classe e ciclo: uma nova realidade

Segundo o Regimento Comum das Escolas Municipais de Presidente Prudente, em seu artigo 39: “os conselhos de classe, Ciclo e de termo, colegiados são responsáveis pelo processo coletivo de acompanhamento e avaliação de ensino e da aprendizagem” (p. 14). E em seu artigo 40 define quem poderá participar desse processo: “os Conselhos de Classe, Ciclo e de termo, presididos pelo diretor de escola, serão constituídos por todos os professores do ciclo/classe e/ou termo, pelo orientador pedagógico e pelo vice-diretor” (p. 15).

Porém, o ano de 2006, passou a ser um momento de discussão a respeito dos problemas de aprendizagem dos alunos, realizado por professores, orientação pedagógica e direção da escola. E também a proposta de inclusão das famílias e representantes dos alunos do Ensino Fundamental e Educação Infantil. Essa proposta partiu de discussões realizadas com uma das Coordenadoras Pedagógicas da SEDUC.

Essa nova forma de organização foi discutida no planejamento inicial e aparentemente não causou boa impressão. Alguns professores sentiram-se incomodados com as atribuições propostas, ou seja, o levantamento das opiniões dos alunos sobre as aulas, os conteúdos trabalhados, as principais dificuldades da sala em relação à aprendizagem, o comportamento de seus coetâneos e as atitudes do professor em sala de aula. Esse momento, chamado de pré-conselho, é realizado na sala seguindo uma proposta de discussões que traz as seguintes questões:

Ensino fundamental

1. Quais as disciplinas que temos encontrado mais dificuldade? E quais são essas dificuldades?

2. O que mais gostaram na escola neste bimestre? 3. O que não gostaram na escola neste bimestre?

4. Sugestões para melhorar o ensino? Educação infantil

1. O que a escola tem feito de bom para ensinar?

2. O que a escola não tem feito para atender os alunos na escola? 3. Sugestões.

Para os professores

1. Temos atendido às necessidades dos alunos que estão sendo citadas nas avaliações de conselho de Classe? Justifique.

2. Pontue o que tem conseguido realizar e o que não tem conseguido realizar.

Todas essas questões e suas respectivas respostas foram registradas pelos professores e tornou-se um documento que foi entregue à orientadora pedagógica no dia do Conselho de Classe.

A primeira reunião de Conselho de Classe, nesses moldes, foi realizada em maio de 2006. Nesta primeira reunião também estiveram presentes duas mães.

As crianças foram dispensadas e só vieram para a reunião os representantes de cada sala. A sala estava organizada em semicírculo, com a orientadora pedagógica sentada a mesa, no centro da sala. A orientadora pedagógica iniciou a reunião com uma pequena fala a respeito da importância daquele momento para o trabalho na escola. E começou chamar os professores e alunos da Educação Infantil para se pronunciarem. Vieram somente os alunos do pré III e pré II. A leitura das opiniões foi realizada pelas professoras, acompanhadas dos olhares meio perdidos das crianças. Ao final da leitura, a orientadora pedagógica perguntou a cada criança se era aquilo, elas, sem exceção balançaram a cabeça em sinal de aprovação. As professoras da Educação Infantil também apresentaram alguns desenhos que as próprias crianças fizeram para representar a sua opinião a respeito do trabalho realizado pela professora e escola. A maior reivindicação das crianças foi o parque infantil. No mais, elas apresentaram opiniões positivas em relação ao trabalho das professoras e escola. Também foram apresentadas algumas reclamações em relação ao comportamento de uma criança que bate e morde as outras.

Os alunos do Ensino Fundamental apresentaram uma folha de papel com as opiniões do seu grupo e, assim que solicitados, fizeram a leitura do documento. Segundo as professoras, elas encaminharam os trabalhos da seguinte forma:

apresentaram as questões para a sala, discutiram uma a uma e as observações eram registradas na lousa para que o representante eleito copiasse para a apresentação na reunião do conselho.

Aluno e professora foram chamados pela orientadora pedagógica para que observações fossem feitas, no caso lidas. Assim como as crianças da educação Infantil, os alunos leram e quando questionados sobre se era aquilo mesmo, responderam de modo afirmativo.

Algumas vezes a orientadora questionou sobre o trabalho da professora, talvez por se sentirem intimidados, todos os alunos disseram que é bom.

Perceberam-se nesses momentos que alguns professores ficaram incomodados, os olhares se entrecruzaram e alguns até mudaram as expressões faciais.

De modo atento, as mães ouviram toda a reunião. No final disseram que não sabiam que uma reunião demorava tanto, que era muito interessante, disse uma delas:

[...] eu não sabia que vocês falavam de todos os alunos, sala por sala. São muitas coisas que vocês têm que fazer. Todos os pais deveriam participar para que dessem valor ao trabalho de vocês. São muitos alunos para cuidar e cada um tem um problema e cada professor conhece bem eles.

As mães sentiram segurança no trabalho que é realizado na escola, pois perceberam que os professores e a orientadora pedagógica têm uma preocupação particular, direcionada a cada aluno, se esforçam para entender os seus problemas e ajudá-los a avançar no processo de ensino e aprendizagem. O fato de acreditarem nisso e terem percebido a importância desse momento para seus filhos, fizeram com que desejassem a presença de outros pais, no sentido de valorizarem o trabalho realizado desenvolvido pela escola.

Foram realizadas quatro reuniões nesse formato durante o ano. Nas demais reuniões, as duas mães também compareceram, outros pais foram convidados, mas não compareceram.

Nas outras reuniões, alguns alunos começaram a se colocar, argumentando um pouco mais a respeito do documento que traziam em mãos, principalmente os do Ensino Fundamental, demonstrando assim um pouco mais de autonomia. Uma aluna chegou a dizer que acreditava que a professora deveria ser mais severa com um aluno que estava apresentando problemas de comportamento na sala, pois estava atrapalhando muito as aulas e ela queria aprender mais. Outro aluno disse

que a professora saía muito da sala e alguns de seus colegas aproveitavam para fazer bagunça. Todos os professores deram risada.

Nesse momento acreditamos que o riso teve o sentido de tentar amenizar a constatação do problema, já que a Diretora, de modo freqüente, questionava o fato de alguns professores saírem da sala para conversar no corredor.

Quando iniciamos esta pesquisa na escola, tínhamos esse momento do conselho de classe, de capital importância para o êxito do trabalho da escola, pois acreditamos que esse configura-se em um momento rico de avaliação, análise e reflexão sobre a prática pedagógica. E mais, para a valorização da opinião dos alunos a respeito do trabalho realizado em sala de aula e na escola como um todo.

Consubstancia-se em um momento rico para as discussões de avaliação do trabalho realizado a visão dos alunos e das famílias. Uma visão diferente da dos professores e da gestão da escola. Além de se configurar em um momento importante para o avanço dos alunos, no que se refere à construção de argumentos pertinentes a respeito do trabalho de ensino e de aprendizagem. Nesse ambiente, todos têm uma parcela de responsabilidade, ou seja, ao professor cabe ensinar e organizar o ambiente de aprendizagem, ao aluno cabe o empenho para que a aprendizagem se realize, à família cabe acompanhar a vida escolar de seus filhos incentivando e auxiliar nesse processo.

Em outras palavras, revela-se em um momento ideal para a construção e elaboração de conhecimentos a respeito da prática docente de um grupo que tem por meta o alcance qualitativo do ensino direcionado a seus alunos.

Nesse enfoque, as responsabilidades devem ser compartilhadas. Todavia, para que isso ocorra é de extrema importância a participação ativa no processo de avaliação, tanto dos alunos como de suas famílias. Nesse sentido, professores e gestores terão parâmetros para devida readequação dos trabalhos realizados, um re- planejamento freqüente e sistemático que dê conta de atender, pelo menos em parte, os problemas de ensino e aprendizagem e também os de comportamento (indisciplina).

Os problemas comportamentais são considerados por nós conteúdos atitudinais de aprendizagem, que precisam ser trabalhados nesses níveis de ensino. Esse problema da indisciplina é uma reclamação muito grande de algumas professoras e também de alguns alunos que participaram dos conselhos. É um desafio para os professores, um desafio para a escola. E como nos aponta Tardif (2002, p. 130-131),

[...] a ordem na sala de aula ou na escola não corresponde a uma qualidade ontológica das situações. A ordem “não impregna” as situações, mas resulta de uma negociação/imposição das atividades dos professores ou dos outros responsáveis escolares diante das atividades dos alunos. E é porque eles são forçados a ir á escola que essa dimensão de atividades ou de liberdade dos alunos se torna importante: a escola não é escolhida livremente, ela é imposta, e isso, inevitavelmente, suscita resistências importantes em certos alunos. Os professores [...] devem inculcar-lhes a convicção de ir à escola por vontade própria e de lá estar “para o seu próprio bem”: a obrigação relativa à escola deve transformar-se em interesse pela escola; pouco importa que esse interesse seja obtido e mantido por meios extrínsecos (notas) ou intrínsecos (motivação e produção de sentido). (grifos do autor)

Nesse sentido, partimos do pressuposto de que a disciplina deve ser uma conquista do grupo e depende invariavelmente do sentido que os alunos estão conseguindo dar ao trabalho em sala de aula, ao trabalho da escola. Esse grupo tem algumas pistas oferecidas pela a avaliação advinda dos pais e alunos e, a partir daí, pode construir conhecimentos a respeito de novas práticas docentes e/ou novas atividades a serem desenvolvidas pela escola, como até propuseram os pais, no momento de avaliação que apresentaremos a seguir.