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CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

4. DELIMITAÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.6 Planejamento Docente

Sobre a temática “Planejamento e Adequação ao Perfil dos Educandos”, foram obtidas respostas diversas. Ficou evidente na fala de todos os entrevistados, que não há pesquisa sistemática e organizada sobre o perfil dos alunos que freqüentam a EJA em cada escola e em cada comunidade. As informações que os professores têm derivam de conversas informais com os alunos. Alguns alegaram que não há tempo para tal pesquisa formal, outros ainda, afirmaram que nem planejam as aulas.

Para planejar as aulas de Química para a EJA, os entrevistados separam-se, praticamente, em dois grupos: um deles, 40% de freqüência das respostas, considera o tempo de aula e conteúdo a ser ministrado, prendendo-se ao material didático e ao que lá está listado. Essa prática é caracterizada por Freire como tendo dois momentos:

O primeiro, em que ele, na sua biblioteca, no seu laboratório, exerce um ato cognoscente frente ao objeto cognoscível, enquanto se prepara para suas aulas. O segundo, em que, frente aos educandos, narra ou disserta a respeito do objeto sobre o qual exerceu o seu ato cognoscente. (FREIRE, [1968] 2005, p. 79).

Esse grupo, que planeja suas aulas a partir do tempo da aula e do conteúdo a ser desenvolvido, fica evidenciado com a fala do professor:

Levo em conta, primeiro o tempo que vou ter para trabalhar os conteúdos com eles, e tento aproveitar o tempo para passar o essencial para eles, pois acredito que ele vai realmente aprender e ter aplicabilidade para ele. Não adianta passar, encher a aula de muita coisa que não vai levar a nada. É o que tento da melhor forma enxugar e passar o essencial para ele, não sei se consigo. (Professor(a) RE)

Outro grupo, 56% dos entrevistados, considera o que ele crê ser importante ou essencial para a vida dos alunos, para que ele possa entender os fenômenos e o que despertaria o interesse dos mesmos. Assim, parece revelar, novamente, um nível de Consciência Ingênua, por acreditar que seja possível inferir sozinho, sob o ponto de vista só do professor, o que é importante para alunos adultos. Dessa forma, “o objeto que deveria ser posto como incidência de seu ato cognoscente é posse do educador e não mediatizador da reflexão crítica de ambos.” (FREIRE, [1968] 2005, p. 79). Como externa o professor AC:

(...) levo em conta a necessidade deles, principalmente no futuro. (...) Que eles estejam tomando posse de informações que vão ser relevantes depois para eles. (Professor(a) AC)

Porém, ao questionar como eles fariam isso, deixam à mostra, novamente, o Professor “Quimiquizante” no tratamento dos conteúdos de Química.

(...) antes de começar o conteúdo vou fazendo perguntas e eles vão respondendo. (...) e vão se interessando pelo assunto. Por exemplo, no conteúdo substâncias puras, misturas, levo os alunos a perceberem a importância da água, aí eu começo a questionar, começo a perguntar e é uma forma de fazer com que eles se interessem por aquilo. (Professor(a) RE)

(...) as minhas aulas de EJA (...) sempre gostava de trazer curiosidades (...). Pensava sempre em usar vários tipos de recursos num mesmo momento, para não ficar no tradicionalismo do quadro e do giz. Então, numa mesma noite, eu usava o retro-projetor, fazia experiência, tirava da cartola alguma curiosidade para incentivar os alunos. Trazia exercícios, pensamentos para atrair eles. (Professor(a) ML)

Quando os professores foram questionados sobre a identificação de dificuldades de aprendizagem distintas entre grupos sociais diferentes e ainda, se utilizavam metodologias diferentes caso detectassem tais dificuldades, todos responderam não observar diferenças de aprendizagem significativas, ou seja, as

dificuldades entre os diversos grupos sociais eram as mesmas. Assim, o encaminhamento dado a essas dificuldades se resume, na maioria das vezes, em repetir o conteúdo coletiva e individualmente e/ou estimular a formação de grupos de estudo entre os alunos.

A partir da fala dos entrevistados, grupos sociais específicos com características próprias não são identificados nas escolas onde atuam. Também não se detectou formas metodológicas distintas para os alunos que estejam em diferentes momentos de aprendizagem de conteúdos determinados. Mas é importante destacar a fala de um professor, sobre a forma de organização do tempo para os estudos, entre alunos agricultores e alunos trabalhadores da indústria.

[As dificuldades de aprendizagem] São semelhantes. Mas, (...) os agricultores se esforçam muito mais e aprendem muito mais. (...) eles têm aquele ritmo de trabalho, eles têm o tempo deles de estudo, eles se organizam muito (...). E os nossos alunos que são de indústria, eles não têm esse tempo (...) é muito corrido é muito “estressante”. (...) quando tem uma prova tira umas duas “horinhas” (...).

[Os agricultores] Conseguem dosar melhor. (...) choveu hoje, então vou estudar, e o pessoal que trabalha na indústria (...) chegam cansados (...) temos vários alunos que vêm até de macacão da indústria, porque não dá tempo de trocar, troca aqui no banheiro, vem com uma “roupinha” na mala e troca aqui. (Professor(a) AE)

Em relação ao Planejamento Pedagógico e ao Perfil do Educando, dimensões que se imbricam, o pensamento dos professores de Química da EJA tem o entendimento apresentado na tabela 4, seqüente. Cabe observar que os grupos que foram evidenciados a partir da análise das entrevistas, não são comuns a todos os participantes da pesquisa, também que o mesmo professor pode pertencer a mais de um grupo, portanto os valores percentuais não correspondem ao total dos entrevistados.

Tabela 4 – Relação entre Conteúdo, Metodologia para EJA e para o Ensino Regular e Planejamento Docente

Grupo Elementos Caracterizadores %

Mesmo Conteúdo e Diferente Metodologia 44% Mesmo Conteúdo e Metodologia 12% Mesma Metodologia com Conteúdos Reduzidos e/ou Simplificados 24% Perfil do Educando e sua relação

com o Conteúdo e a Metodologia empregada

Diferente Metodologia e Conteúdos Reduzidos e/ou Simplificados 20% Planeja de acordo com o conteúdo a ser ministrado e o tempo de aula 40% Planejamento Docente Leva em conta, na visão do professor, que

conteúdos caberiam a cada grupo de

aluno 12%