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CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

4. DELIMITAÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.4 Os Objetivos, a Organização e o Desenvolvimento do Ensino e o

4.4.2 Tendência à Consciência Crítica

Aproximadamente 24% dos entrevistados, especialmente os que participaram de diversos cursos, tiveram ou têm atividades profissionais educacionais além da docência, selecionaram, da relação que lhes foi apresentada, objetivos diferentes para serem associados aos conteúdos de Química.

Esses docentes também indicaram como objetivos mais difíceis ou complexos de serem desenvolvidos, aqueles que estão de acordo com o que foi escolhido para ser trabalhado com os alunos. Tal coerência na seleção parece mostrar que há um encaminhamento para a Consciência Crítica. Este movimento, de uma Consciência para outra, pode ter sido estimulado, em parte, pela participação em cursos diversos, inclusive nos de formação continuada e especialmente pelas distintas atividades profissionais desenvolvidas ao longo da história de cada docente.

É o caso do professor AE, que tem formação superior em um curso técnico, adequando sua formação em cursos de complementação pedagógica. Além de ter participado na maior parte dos cursos de formação continuada promovidos pela SEED/PR antes de 2003, se especializou em Educação Ambiental e coordena cursos técnicos numa escola de pós-médio. Ele indicou o objetivo “Compreender a divulgação da ciência e as notícias divulgadas pelos meios de comunicação de massa”, como sendo o que escolheria para desenvolver junto aos conteúdos de Química, e ainda exemplificou como poderia implementar atividades que viabilizassem a participação ativa do aluno na sociedade.

(...) sempre trabalhava com eles aonde encontrar dentro do jornal a informação científica. (...) na EJA é difícil, mas poderia ser trabalhada também, a questão informativa, internet, computador, (...) obter informação científica, utilizá-la e ser capaz de comunicá-la a outras pessoas, (...) passar essa informação cientifica, daria

possivelmente trabalhar na questão de debates em sala de aula. (...) um trabalho que eu faço com eles, (...) aquele jogo da internet (...) aonde você tem um problema ambiental e você vai fazendo entrevista em vários, isso é no computador. Eu adaptei aqui para nossa realidade aqui em forma de debate, a gente divide o grupo (...). (Professor(a) AE)

Como o professor em questão participou de muitos cursos de formação continuada que discutiram avaliação de currículo, a sua forma de compreender como se dá o processo avaliativo a partir do objetivo anteriormente destacado, parece ter sido aprimorada por aquelas discussões.

Têm alguns que você só conseguiria avaliar depois ele saísse daqui, depois de um bom tempo, não tem como você avaliá-lo através de uma prova, ou de, de qualquer metodologia de avaliação, (...).

(...) eu consigo ver que o aluno conseguiu, (...) porque eu tenho alguns alunos que são do curso técnico. Então lá, você vê realmente se eles tão aplicando, principalmente a questão do saber obter informação, porque ele sai daqui com uma formação. (Professor(a) AE)

Apesar de declarar que trabalharia com todos os objetivos apresentados, o professor observa ter certa dificuldade para desenvolver os objetivos que se concretizam na capacidade de expressão do aluno, bem como os que exigem a participação social dos educandos, demonstrando, assim, que compreender a divulgação científica feita pelos meios de comunicação não garante a sua participação na sociedade. Essa talvez seja uma coerência que demonstre certo grau de transição para a Consciência Crítica.

(...) obter informação científica e utilizá-la, talvez a princípio trabalhando com adultos que muitas vezes são retraídos, (...) alguns não participam, alguns não querem falar, alguns não querem se expor, é difícil você trabalhar com a pessoa (...). É característica da pessoa mesmo, e essa G [item da pergunta] aqui, ser capaz de usar a ciência na vida cotidiana e participar democraticamente na sociedade civil para tomar decisões sobre... Porque é uma coisa muito ampla, em pouco tempo, de repente você não consegue (...) observar. (Professor(a) AE)

Já o professor MM, demonstra acreditar que todos objetivos têm que ser desenvolvidos em conjunto, pois se interpenetram.

(...) esses objetivos (...) não podem ser trabalhados separadamente, (...) porque em todo o conteúdo de Química eu vou ter como objetivo desenvolver todos eles, por exemplo, “saber obter informações sobre ciência”, (...). eu posso trabalhar em todos os conteúdos, mesmo dentro do termo Química até atomística, energia, como obter informações, ah eu tenho um celular, mas o que é a bateria de um celular? Onde que eu vou procurar sobre a bateria de um celular, porque é importante, então é saber obter informações. (...) Eu coloco sempre para os meus alunos que a primeira coisa que a gente tem que aprender a fazer, nas primeiras aulas principalmente, é ter essa curiosidade, é ser curioso, é buscar, não somente usar o celular, mas, como é que funciona? De onde que vem? Como foi desenvolvido isso. (Professor(a) MM)

Esse discurso demonstra a visão de interdependência entre diversas áreas do conhecimento. Entendimento que pode ter sido formado pelas atividades de gestão, junto ao Núcleo Regional de Educação e dos cursos, com destaque ao de Especialização, o qual foi caracterizado, pelo professor entrevistado, como tendo uma proposta interdisciplinar de organização e de desenvolvimento.

Para avaliar os alunos, identificando se os objetivos foram compreendidos, aponta a necessidade de um acompanhamento mais duradouro, para além do universo escolar, demonstrando não estar mais plenamente vinculada ao nível de Consciência Pedagógica Ingênua, como foi caracterizado anteriormente.

(...) para a gente realmente avaliar isso daqui tinha quase que conviver com eles né, mas eu acho assim, a forma como a gente trabalha é buscando, (...) procurar desenvolver ele, participar democraticamente na sociedade, não ser uma pessoa acomodada. Fica um pouco complicado a gente avaliar se esse objetivo foi atingido. (Professor(a) MM)

Por fim, ainda o docente observa que teria maior dificuldade de desenvolver o objetivo: “Ser capaz de usar a ciência na vida cotidiana e participar democraticamente na sociedade civil para tomar decisões sobre assuntos relacionados com a ciência e tecnologia”, exatamente pela dificuldade encontrada em avaliar, considerando a sua amplitude extra-escolar. Isso, de certa forma, indica uma caminhada mais adiantada de seu nível de Consciência Pedagógica Crítica. Neste nível, o fazer pedagógico além de se integrar à vida cotidiana dos alunos, busca garantir a aprendizagem do conhecimento científico.

Eu acho que justamente por essa dificuldade que a gente tem de avaliar, de saber se eles realmente atingiram ou não, né?. (Professor(a) MM)

O que se pode evidenciar, a partir da análise das falas dos entrevistados, são elementos que podem indicar que a forma de entender e desenvolver o ensino de Química para os alunos da EJA, está vinculada, em grande parte, às diferentes atividades, docentes ou não, que o professor desenvolve ou já desenvolveu em determinado momento de sua vida, fator reconhecido em, aproximadamente, 20% dos participantes da pesquisa.

Quanto mais técnicas são tais atividades parecem ter seus Estilos de Pensamento muito próximos de como foram formados nos cursos de formação inicial, como destaca MALDANER (2003). É o caso dos professores que trabalham como Químicos em empresas e laboratórios, também os especialistas, mestres e doutores com estudos aprofundados somente em Química e sem relacionamento com as questões pedagógicas – que atuam ou atuaram muitos anos no ensino regular de forma tradicional ou técnica.

Por outro lado, mesmo professores formados em cursos bastante técnicos, mas que participaram de cursos de formação continuada por área do conhecimento, com temáticas próprias da EJA, como o caso do professor AE, parecem ter um Estilo de Pensamento mais crítico, estabelecendo relações com o todo pedagógico e social, identificando melhor a importância de se ensinar Química.