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Fluxograma 1 A Organização do Território do Desenvolvimento Local Eixo Horizontal

VII. PLANO DE AÇÃO PARA O OESTE BAIANO

A presente tese de doutorado defende abordagens criativas que encorajam novas lideranças nos arranjos inter-organizacionais, colocando novos papéis ao setor público, aos agentes econômicos e às instituições locais, visando especialmente à articulação de políticas nos diferentes níveis de governo.

O maior desafio está em criar e/ou reconhecer estratégias de planejamento territorial baseadas no aproveitamento ótimo das potencialidades de um determinado território e com a participação ativa dos agentes e instituições locais, sem perder de vista o respeito às questões ambientais e à sociedade, como pré- condição ao desenvolvimento sustentável.

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A articulação de políticas inicia-se pela construção de pontes. A proposta é promover um amplo processo de explicitação de políticas de desenvolvimento, capacitando atores e instituições locais na busca por uma ação interdependente, não autônoma, de construção coletiva. Há políticas formuladas pelos governos federal e estadual, incidentes sobre territórios selecionados, que precisam ser reconhecidas; evidenciando-se a necessidade de criar pontes entre a oferta e demanda por investimentos nos municípios brasileiros, trabalhando, sempre, nas duas pontas. De um lado, na promoção das ações do Estado, ou seja, fazendo com que a oferta de financiamento e crédito (da União, do Estado ou de outras fontes) alcance os municípios, pela eliminação de gargalos e facilitação do processo; e, na outra ponta, junto aos municípios, pela capacitação de atores locais para o pleno acesso aos recursos e financiamentos existentes.

Na construção de políticas públicas de desenvolvimento, há uma necessária análise da dimensão político-institucional, onde estão presentes as hierarquias verticais tradicionais e as redes de caráter horizontal. A organização do território do desenvolvimento é pautada por uma ação endógena, onde os atores e as instituições locais são protagonistas, em um processo de descentralização dos níveis de decisão política, econômica e financeira. Agentes que atuam em um eixo

de articulação simultaneamente horizontal e vertical, tendo como base geradora o desenvolvimento endógeno, a gestão compartilhada, a governança regional e os arranjos inter-organizacionais.

Os princípios que norteiam este arranjo são a participação e a colaboração mútua, onde diferentes agentes, sem abrir mão de seus interesses ou, mais precisamente, partindo deles e de suas visões específicas sobre a realidade, sensibilizados por uma situação que os afeta (ou afetará) positiva ou negativamente, sejam capazes de discutir, elaborar e colocar em prática ações coletivas baseadas na cooperação mútua. E, tendo ainda como premissa, a conformação de um arranjo institucional flexível, por oposição à rigidez institucional; capaz, portanto, de responder às demandas mutáveis num cenário de grandes e rápidas transformações.

A abordagem pretendida busca reforçar três importantes funções do planejamento territorial. Uma função espacial que se traduz no território com identidade local/regional, potencialidades e capacidade de cooperação de atores locais, em um ambiente de confiança, criativo e atrativo. Uma função política que se traduz na explicitação de políticas públicas e na politização do território, pela busca de um projeto comum num espaço controlado localmente. E, por fim, uma função institucional que se traduz em animação social, utilizando-se de redes locais para intervir, com vontade de promover o desenvolvimento e a utilização de recursos.

A proposta de planejamento territorial objetiva, na sua essência, dirigir um adequado processo de conscientização, capacitação e politização de atores e instituições locais, ancorado nos conceitos de sustentabilidade ambiental e governança regional, tornando-se capaz, portanto, de caracterizar-se como promotor de mudanças e transformações. Existe uma positividade inegável aos processos de concertação ao nível local, pois essas experiências pressupõem a valorização da participação dos atores locais, onde o que está em jogo é a coordenação entre agentes interdependentes, de forma a lidar com as questões da ação coletiva e da cooperação. A politização e a conscientização são entendidas como uma ação continuada, pela forte presença de um processo de capacitação com enfoque essencial para o desenvolvimento, pela adoção de uma política de socialização e

consciência de cidadania. Incluem-se aí noções de responsabilidade, ética, compromisso, participação e consciência coletiva.

No esforço de planejamento territorial proposto, visualizam-se três importantes instrumentos para apoio às ações de planejamento: um observatório de políticas públicas, redes de animação social e escolas de planejamento territorial, aliando-se a ação técnica e a ação política.

Dentre os instrumentos previstos, está a construção de um observatório de políticas de desenvolvimento, pela implementação de um processo contínuo de avaliação e monitoramento, com a estruturação de uma base de dados e indicadores de desempenho de gestão. Este observatório vem consolidar a proposta de criar uma linha específica de acompanhamento e avaliação periódica e sistemática dos resultados alcançados, a partir de um processo de diálogo e interação entre os envolvidos nos diversos programas. A proposta de acompanhamento e avaliação considera que os resultados de projetos envolvendo a sociedade nunca são uma certeza, mas um investimento e uma aposta no sentido de alcançá-los. Não havendo certezas, é necessário construir meios de verificação que contribuam para perceber o rumo das mudanças que se pretendem produzir. Este observatório de políticas públicas se constitui em um espaço de investigação do presente e de elaboração de perspectivas do futuro sobre questões relativas ao desenvolvimento local. Respeitando a diversidade de posições dos diversos agentes, pretende ser um instrumento estratégico para subsidiar ações e a formulação de políticas públicas. O observatório é um instrumento construído para responder ao desafio de olhar o presente e ver nele as possibilidades do futuro.

Um segundo instrumento é a constituição e a consolidação de redes de animação social, onde se promove o reconhecimento de novas institucionalidades (agências, câmaras, comitês, institutos e/ou fundações), dentro de um ambiente propício à constituição de alianças e parcerias, com a formação de agentes catalisadores e mediadores nos conflitos de interesse. Refere-se à função de animação social, pela atuação no processo de organização social e política do território do desenvolvimento local, visando a mobilizar, endogenamente, energias e recursos latentes nas economias locais, não mobilizados, por falta de estímulos e incentivos econômicos ou, ainda, ausência de incentivos psicossociais na

coordenação das ações de desenvolvimento. O objetivo é o de ampliar a participação da sociedade civil organizada, não apenas na concepção, elaboração, acompanhamento e avaliação constantes dos programas e ações que se implementam no território, mas também ampliar e promover os seus recursos na viabilização das ações de desenvolvimento econômico, social e ambiental.

O terceiro e último instrumento visa à institucionalização de sistemáticas de capacitação de agentes e instituições locais através de escolas de planejamento territorial, aliando-se a ação técnica e a ação política, instituindo-se um sistema de aprendizado, com vistas a facilitar o fluxo de conhecimento e idéias e o aumento da capacidade de governança local.

Na presente proposta, o maior impacto pretendido é dotar agentes locais de mecanismos adequados para competir pelo comando do processo de desenvolvimento local.

VII.2. U

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ARREIRAS

Uma prática piloto de planejamento territorial foi iniciada em Barreiras, em Julho de 2005, seguindo a proposta sugerida pela presente tese.

Esta prática tem por objetivo orientar um amplo processo de planejamento territorial da região de Barreiras, que se inicia com o engajamento dos agentes e instituições locais que visam o desenvolvimento. A proposta de atuação e articulação entre agentes e instituições locais tem os seguintes principais objetivos: a) reconhecer a região de Barreiras, seus agentes e instituições locais e as políticas incidentes sobre este território; b) atuar na construção de uma política articulada de desenvolvimento local; c) criar um ambiente político-institucional com capacidade de aprender e de se articular com outras instituições, de modo a atrair parcerias, mobilizar energias e gerar efeitos sinérgicos; d) fortalecer institucionalmente os governos locais, qualificando-os para o compartilhamento do controle do processo de desenvolvimento; e, por fim, e) instrumentalizar agentes e instituições locais, ao longo de todo o processo, para estes se tornem um agente catalisador, capaz do “fazer acontecer”, e com uma atuação sustentável, não somente porque perene, mas principalmente porque exitosa, geradora de resultados.

Basicamente, são sete as tarefas propostas, pautadas por uma ação de construção de uma política articulada de desenvolvimento local, promotora de um processo contínuo de planejamento participativo, e cuja concertação dos interesses públicos e privados nas ações locais se dá através da representatividade dos seus agentes.