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5.2 OS PARQUES NACIONAIS DE APARADOS DA SERRA E DA SERRA GERAL COMO

5.2.2 Plano de Manejo: Consolidação da Gestão Participativa?

O Plano de Manejo do Parque Nacional de Aparados da Serra e do Parque Nacional da Serra Geral começou a ser elaborado em junho de 2002 e teve seus trabalhos concluídos pela contratada em 2004. O Ibama publicou a Portaria nº 46/04/N em 28 de abril de 2004 como data de criação do Plano. A última versão do plano de manejo elaborada pela Empresa Socioambiental Consultores Associados Ltda. foi entregue para o Ibama/DF em 22 de setembro de 2004.

Analisamos a seguir a participação dos municípios de Praia Grande e Jacinto Machado no seu processo de elaboração e, posteriormente, no processo de implantação do plano de manejo, no que tange às regras e diretrizes estabelecidas por este aos municípios citados. Nossa análise é pontual dos momentos em que as instituições públicas locais aparecem como atores no processo e de que maneira

isso foi ou não importante para a elaboração do plano de manejo e para a implementação dele.

Na elaboração do plano de manejo, evidenciaram-se os embates entre as instituições locais e o Ibama, e também a distância, a falta de planejamento e de cooperação entre as instituições, o que caracteriza a administração pública brasileira. Em junho de 2002 a Empresa Socioambiental, responsável pela elaboração do plano de manejo, reuniu-se com representantes do Ibama nas diferentes escalas: NUC/RS, DIREC/DF, chefe das UCs e representantes da Empresa Transmissora de Energia Elétrica do Sul do Brasil S.A.16 (Eletrosul) para a primeira reunião técnica e planejamento dos trabalhos a serem desenvolvidos. É importante lembrar que não houve representação oficial do Núcleo de Unidades de Conservação do Ibama/SC e que apenas um funcionário dele se fez presente na seqüência das discussões de elaboração do plano de manejo por iniciativa individual:

Quando soube da elaboração do plano de manejo dos Parques, liguei para Brasília e falei que Santa Catarina teria que participar. Participei de oficinas e reuniões técnicas com a equipe da Socioambiental, empresa responsável pela elaboração do plano de manejo. (Funcionário do Ibama/SC, 02/08/2005).

A metodologia usada para elaboração do Plano foi o Roteiro Metodológico de Planejamento para Unidade de Conservação, elaborado pelo Ibama (2002). Entre os meses de agosto de 2002 e março de 2003, a empresa Socioambiental e consultores por ela contratados desenvolveram estudos de diagnóstico das UCs. Esses estudos englobaram o meio biótico, através da Avaliação Ecológica Rápida, o meio físico através da climatologia, geologia, geomorfologia, pedologia e hidrologia, hidrografia, e o meio socioeconômico.

Foi somente em fevereiro de 2003, com a apresentação do diagnóstico dos Parques para o Conselho Consultivo, que as instituições públicas locais entraram

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O plano de manejo foi realizado com recursos da Compensação Ambiental do Empreendimento Linha de Transmissão Itá-Caxias, da Eletrosul.

nas discussões sobre o plano de manejo. Como já abordamos no item sobre o Conselho Consultivo, as reivindicações dos municípios de Praia Grande e Jacinto Machado foram no sentido de pedir maior participação das comunidades do entorno dos Parques nas discussões sobre o plano de manejo junto ao Ibama e à empresa Socioambiental. A participação dos municípios foi “real” quando da realização da oficina de planejamento realizada no município de Cambará do Sul, entre os dias 7 e 10 de maio de 2003. Entre as diversas instituições públicas e privadas presentes na oficina, queremos destacar as instituições públicas de Praia Grande e Jacinto Machado. Foram apenas dois representantes, um da Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio, de Jacinto Machado, e o outro da Secretaria da Agricultura, Indústria e Meio Ambiente, de Praia Grande. Entre um número elevado de itens que abordam os pontos fracos e fortes dos Parques levantados até o final da oficina, alguns nos interessam, pois demonstram a falta de relações transescalares:

a) ausência de políticas de desenvolvimento integrado entre os municípios de entorno, órgão e agências governamentais e os Parques;

b) dificuldade de comunicação do Ibama, ausência de diálogo do Ibama com a comunidade;

c) conhecimento insuficiente por parte da comunidade do plano de manejo dos parques; e

d) falta de parceria entre Estado, Ibama e Prefeituras (MMA/Ibama, Plano de Manejo – Encarte Nº 4).

A participação dos municípios de Praia Grande (09/04/2003) e Jacinto Machado (22/07/2003) nas discussões sobre a zona de amortecimento dos Parques ocorreu através das reuniões do Conselho Consultivo dos Parques, que nas datas citadas acima. Na medida do possível, os municípios reivindicaram maior participação e discussão com a comunidade, porém, como vimos anteriormente, não tiveram suas reivindicações atendidas.

Assim, a análise demonstra que houve participação das instituições locais de forma pontual no processo. O diálogo entre Ibama e Prefeituras foi mediado pelo Conselho Consultivo, e a participação de técnicos e funcionários das Prefeituras na

elaboração do plano de manejo, formalmente, não existiu. Por outro lado, o plano de manejo contemplou algumas diretrizes, justamente com o propósito de aumentar as interações entre os municípios e as UCs. O plano criou as áreas estratégicas externas (AEE): são áreas consideradas relevantes e, portanto, estratégicas para a interação da gestão dos Parques com seu entorno e que merecem foco específico de manejo, mesmo estando situadas fora das UCs (MMA/Ibama, Plano de Manejo Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral).

No município de Jacinto Machado sugeriu o:

AEE – Centro Temático da Mata Atlântica consiste em um centro de interpretação ambiental (atributos naturais e históricos culturais da mata atlântica da região) que receberá os turistas ainda no entorno dos Parques, preparando-os para um melhor aproveitamento da visitação e os direcionando aos atrativos, roteiros e atividades disponíveis pelo programa de uso público. Objetiva disponibilizar várias opções simultâneas aos visitantes, distribuir os fluxos de forma a integrar e não sobrecarregar os atrativos, roteiros e programações, e estimular o desenvolvimento de um “cluster” de serviços e produtos turísticos ambientalmente amigáveis. Vai integrar elementos de educação, entretenimento, estética e imersão (Plano de Manejo dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, 2004).

Em Praia Grande, o AEE Centro Temático da Serra Geral:

Consiste em um centro de interpretação da história evolutiva geológica e ambiental (a paisagem natural e seus elementos mais marcantes) da Serra Geral, desde a formação dos arenitos da base até os derrames basálticos, intemperismo, processos erosivos e conformação da paisagem atual, e projetando inclusive as tendências futuras. Ao longo das simulações dos processos geológicos e geomorfológicos, deve-se explorar também os efeitos sobre as comunidades bióticas e seus processos colonizadores e/ou contemporâneos. Esta AEE deve funcionar da mesma maneira que o centro Temático da Mata Atlântica (Plano de Manejo dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, 2004).

No entanto, já se passaram dois anos da elaboração do plano de manejo e as ações para implantação dessas e de outras diretrizes que esse delineou ainda não saíram do papel. Na entrevista com um funcionário do município de Jacinto Machado, ele nos disse:

[...] o plano de manejo tem a proposta de criar centros temáticos nos três municípios o que é muito interessante, mas ainda está só na proposta. Nosso projeto é criar parcerias com o parque e implantarmos as estruturas sugeridas pelo plano, não esperarmos pelo Ibama e o Governo Federal, vamos criar o Fundo Municipal de Turismo e o Plano de Desenvolvimento do Turismo em Jacinto Machado com oficinas de planejamento participativo. (Funcionário da Prefeitura de Jacinto Machado, 29/07/2005).

Em Praia Grande também não existe nenhum projeto ou ação concreta que vise à criação da AEE Centro Temático da Serra Geral.

Sendo assim, podemos inferir que o processo de criação do Plano de Manejo dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, mesmo seguindo a metodologia desenvolvida pelo Ibama, que prioriza a participação dos diferentes atores, se mostrou falho nesse aspecto. Um outro ponto que nos chama a atenção é que o Ibama não exercita na sua política interna a participação e cooperação entre os diferentes setores e níveis administrativos, ou seja, os núcleos responsáveis pelas UCs do Ibama do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina nunca se reuniram oficialmente para conversar e estabelecer um planejamento na gestão dos Parques que estão em territórios dos dois estados, e envolvem dois municípios do estado de Santa Catarina. É inconcebível que a participação de um funcionário do Ibama/SC na elaboração do plano de manejo dos Parques tenha ocorrido devido a uma atitude individual dele e que isso não seja uma rotina padrão dos funcionários de uma instituição que tem no seu discurso oficial a propagação e a defesa da gestão participativa como modelo de gestão. Fica claro ainda que as diretrizes delineadas pelo plano de manejo para aumentar a participação dos municípios não foram concretizadas.