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O cenário que envolve a Reserva Biológica Estadual do Aguaí e os municípios é bastante diverso do que ocorre entre o Parque Nacional de Aparados da Serra e

Parque Nacional da Serra Geral e os municípios. A reserva, apesar de ter sido criada em 1983, vinte e três anos depois ainda não foi implantada.

Segundo informações disponibilizadas pela Fatma, no ano de 2006 será criado o Plano de Manejo para a Reserva Biológica do Aguaí, com recursos do Projeto Kreditanstalt Für Wideraufbau (KFW), Cooperação Financeira Alemã, Proteção da Mata Atlântica em Santa Catarina – Consolidar e Fortalecer as Unidades de Conservação. A instituição já estaria providenciando os trâmites legais para a licitação que contratará uma empresa de consultoria que ficará responsável pela elaboração do plano de manejo.

Quando realizamos os trabalhos de campo para efetuar as entrevistas nos municípios, no mês de novembro de 2005, os funcionários responsáveis pelas instituições ambientais dos municípios de Siderópolis, Treviso e Nova Veneza não sabiam da possibilidade de elaboração do plano de manejo para a UC, o que já coloca a falta de comunicação entre a instituição estadual e as instituições municipais em evidência.

Assim, a partir das entrevistas com os funcionários das Prefeituras, tentamos identificar a visão que eles possuem da UC e como eles vêem a implementação da reserva, e ainda identificar a relação ou não deles com a Fatma.

A Fatma, nos últimos anos, organizou alguns encontros em que a Reserva Biológica Estadual do Aguaí foi o tema. Esses encontros procuraram aproximar a instituição estadual e as instituições públicas e privadas municipais e regionais, e ainda a comunidade em geral. Segundo um entrevistado:

As reuniões que são organizadas para falar sobre a reserva, já houve, várias inclusive aqui em Siderópolis, é mais para apresentar a área. Alguns professores fazem palestras (inclusive uma proposta de ligar a RBA ao PNAS e PNSG – criar um corredor ecológico) mas não se fala em ações efetivas. (Funcionário de Siderópolis, 09/11/2005).

Ao que parece, a estratégia escolhida pela instituição estadual não tem aproximado as instituições municipais da Reserva Biológica, já que nos três municípios são inexistentes projetos que envolvam o município e a reserva, e a visão da instituição municipal de um dos municípios é a seguinte: “O município não tem nenhum projeto, pois a Reserva é estadual. O município limita-se a comentários nas escolas municipais quando o tema é tratado” (Funcionário Prefeitura de Treviso, 08/11/2005). Essa resposta retrata claramente que as instituições vêem a Reserva como algo distante e que não lhes pertence. Ela fica no território municipal, mas é do estado, é da Fatma. Logo, aparentemente, não há conflito nem cooperação; é como se o território da Reserva não fizesse mais parte do município. O município se ausenta da responsabilidade com a área, e a Fatma, que tem a gestão da área legalmente, por ficar fisicamente (sede administrativa) longe dela, acaba não conseguindo exercer sua função e deixa a área “abandonada”.

Quando questionados sobre a gestão participativa nas UCs, as respostas refletem as incertezas do município com relação ao tema:

Se existir a gestão participativa, ela como instrumento de implementação real da RBA é muito interessante para o município, desde que esta parceria seja efetiva, com a participação de todas as entidades envolvidas. (Funcionário Município Treviso, 08/11/2005).

[...] A reserva foi criada, mas está parado nisto, nada mais do que isto, não vou culpar os órgãos estaduais, o próprio município não tem feito uma articulação, ninguém toma a frente; como é uma reserva estadual, não sei se é competência somente do estado, ou se como está dentro do município, o município também pode intervir e tentar buscar algum trabalho. Por enquanto a reserva está somente no papel; não tem nenhum trabalho sendo desenvolvido, eu desconheço. Talvez esteja faltando algum município chamar para si a responsabilidade, chamar os órgãos ambientais e os outros municípios para trabalhar. Algumas coisas não precisam ser discutidas, por exemplo, demarcar a área e indenizar os proprietários, isto tem que ser feito e já tem legislação para isto. Demarcar e retirar as pessoas que estão lá dentro, este é o primeiro passo. Siderópolis tem cinco ou seis famílias que moram lá dentro, porém tem áreas onde não tem moradores mas tem proprietários. (Funcionário da Prefeitura de Siderópolis, 09/11/2005).

Por outro lado, os municípios possuem uma visão bastante positiva com relação à Reserva Biológica Estadual do Aguaí: acham que o município só tem a ganhar por abrigar em seu território a reserva:

Eu vejo que só temos ganhos com a reserva, até porque um dos mananciais para captação de água para abastecimento público fica ali próximo, a Barragem do São Bento. Perder não perde, são áreas com alta declividade, a agricultura ali é inviável, então só temos a ganhar: preservar as nascentes, fazer um trabalho com o pessoal do turismo e desenvolver o turismo no entorno, dentro daquilo que a legislação permite. (Funcionário de Siderópolis, 09/11/2005).

A Reserva Biológica do Aguaí é uma importante reserva de água, fauna e flora que deve ser preservada, por suas características e sua influência econômica e social nas comunidades próximas, o município só ganha com a presença desta reserva. (Funcionário da Prefeitura de Treviso, 08/11/2005).

É possível constatar através das entrevistas que os municípios desconhecem suas atribuições com relação à RBA e de que maneira podem participar da sua implementação. Esperam que a instituição estadual desenvolva os projetos e o planejamento, o que do nosso ponto de vista não é uma posição totalmente equivocada, já que cabe à instituição estadual desenvolver uma política para implementação do SNUC e do SEUC.

Esperamos que a Fatma não delegue à empresa de consultoria todas as responsabilidades para a elaboração do Plano de Manejo da Reserva Biológica, e sim que ela, mediante um planejamento, envolva as instituições municipais de forma participativa nos estudos e discussões, aproveitando para fortalecer as relações transescalares, o que para nós parece fundamental na gestão das UCs.

5.4 MUNICÍPIOS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA IMPLANTAÇÃO E