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2.2 O Hábitat Popular no Uruguai

2.2.5 Plano Quinquenal de Vivenda: estratégia e objetivos

Os objetivos das Políticas Públicas de vivenda poderiam ser representados num gráfico como este, e ilustram o espírito da Lei Nacional de Vivenda do ano 1968.

Figura 8: Mostra como os objetivos se retroalimentam uns aos outros. Fonte: Elaborado pelo autor, 2014.

14 Fonte: Ministerio de Vivienda, Ordenamiento Territorial y Medio Ambiente – Plano Quinquenal de

Vivienda 2010-2014: “Mi lugar entre todos”. Disponível em: <www.mvotma.gub.uy> Acesso em: 21 mar. 2014.

Entre os objetivos do Plano Quinquenal de Vivendas encontramos:

a) desenhar e estruturar ações e programas tendentes a reverter os processos de segregação social e fragmentação territorial;

b) ajustar a oferta habitacional às necessidades reais da população através de diversas ferramentas e programas que atendam tanto para regularização do estoque existente como para a geração de novas unidades que aumentem a oferta habitacional;

c) obter e administrar os recursos públicos que efetivem estas políticas e orientar a poupança privada num sentido convergente com este objetivo; d) desenvolver mecanismos de gestão com outros organismos do Estado

para o desenvolvimento de políticas de hábitat à escala nacional, departamental e local;

e) articular as ações do Estado com os agentes privados e organizações sociais com incidência na problemática habitacional.

Como podemos ver, os objetivos a que se propõe o Plano Quinquenal para transformar as condições habitacionais da população estabelecem uma meta extremadamente ambiciosa. Supõem, em primeiro lugar, que a política de vivenda atue sincronizada com o conjunto de transformações sociais, culturais, econômicas e institucionais, coordenadas de tal forma, que sua implementação permita aproximar-se a um país com prosperidade econômica e justiça social.

Nos aspetos socioculturais, o Plano Quinquenal da Esquerda Uruguaia propõe “mudanças que favoreçam as formas de convívio e a tolerância entre setores sociais heterogêneos – recompor a consciência pública, social regimentada pela ética da solidariedade, que contribua a reconstituir o tecido social”.15

Para logra-lo, são necessárias mudanças nas pautas culturais e de consumo. O Plano propôs-se a promover a poupança e o pagamento pela vivenda em todos os casos. Coloca o cuidado com a vivenda e seu entorno como parte das responsabilidades coletivas, e considera esta uma obrigação imprescindível para ascender a uma solução habitacional.

Isto significou a promoção e o desenho de novos instrumentos de política habitacional, construídos na base da trilogia: esforço próprio (ajuda mútua ou

15 MVOTMA. Plano Quinquenal de Vivenda 2010-2014 – Fundamentos para o debate no Congresso.

“Mi lugar entre todos”. Disponível em: <www.parlamento.gub.uy/indexdb/.../ListarDistribuido.asp?.../ camara/>. Acesso em: 7 maio 2013.

poupança), subsídio e crédito.

Os instrumentos adotados têm como principal objetivo assegurar o direito constitucional dos uruguaios de ascender a uma vivenda digna, possibilitar o acesso à vivenda àqueles setores da sociedade que – por si mesmos – não tem condições de resolver o seu problema de vivenda, mas fundamentalmente garantir a permanência das famílias em sua nova vivenda. Isto é uma novidade a que atribuímos uma importância relevante já que a permanência na vivenda tem sido um grande desafio dos programas de habitação social.

A questão mais difícil de responder para os atores que desenham as políticas públicas de vivenda no Uruguai é como garantir o direito a vivenda e ao hábitat16,tal como o determina a Constituição da República17, para todos os seus cidadãos. Como fazê-lo e garantir este direito em condições de sustentabilidade para aquelas famílias que nas atuais condições do mercado imobiliário não podem exercê-lo por seus próprios meios? A resposta não é simples, implica a utilização de recursos econômicos e instrumentos de política pública que estejam na mesma linha dos objetivos propostos.

O Plano Quinquenal de Vivenda (2010-2014), responde a esta pergunta através de três instrumentos básicos: o empréstimo, o esforço próprio dos destinatários e o subsídio total ou parcial.

 Empréstimo: o destinatário do financiamento habitacional paga o empréstimo em 25 anos com um juro de 5% ao ano;

 Subsídio: é a quantidade que não se devolve. É aportado pelo Estado através do Fundo Nacional de Vivenda e beneficia aquelas famílias que não podem pagar total ou parcialmente o parcelamento do empréstimo. O subsídio pode ser de três tipos: de capital, de juro ou de parcelamento. No caso específico das Cooperativas de Vivenda, estas o recebem do Estado e repassam o benefício aos sócios;

 Esforço próprio: é um recurso econômico porque substitui parte importante da mão de obra contratada pela mão de obra dos próprios interessados, diminuindo os custos da construção e facilitando o acesso a este direito a vastos setores da população;

16

Conceito expresso no Art. 45 da Constituição da República do Uruguai.

17

O Art. 45 da Constituição da República vai além do enunciado e atribui ao Estado à responsabilidade de cumprir com esta determinação.

O subsídio como instrumento de distribuição da riqueza, o crédito hipotecário aos sectores economicamente mais carentes, como forma de democratizar o acesso à vivenda, e a poupança (seja em forma de trabalho, gestão ou capital) como contribuição do esforço individual ao projeto coletivo.

O crédito estatal, para a construção de habitação popular, contempla as condições socioeconômicas das famílias, e o parcelamento pode ser individual ou coletivo como nas cooperativas de vivenda. O valor a pagar em cada prestação não pode superar os 20% dos ingressos econômicos mensais do grupo familiar. Se a parcela for superior aos 20 % dos ingressos do grupo familiar, (coisa que acontece na maioria dos casos), o excedente é pago pelo Estado. Isto se chama subsídio de acesso à vivenda.

O subsídio ao parcelamento é um instrumento democrático de acesso à vivenda. Permite à família ou ao grupo de famílias, através da contribuição econômica complementar do Estado, acessar ao crédito hipotecário e assegurar que o valor do parcelamento esteja de acordo com a capacidade de contribuição financeira do grupo de famílias. Por esta via, o destinatário da vivenda pagará o parcelamento de acordo com seus ingressos econômicos do grupo familiar.

Retomaremos para aprofundar o tema dos subsídios no capitulo quatro, referido ao financiamento das Cooperativas de Vivendas por Ajuda Mútua (item 4.6).

3 Produção Social do hábitat pelo Mercado