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3.2 A pré-fabricação no Uruguai

3.2.1 Sistema de grandes painéis de concreto armado no Uruguai

A necessidade de dar resposta ao déficit habitacional endêmico do qual padece o Uruguai desde os anos cinquenta até hoje, obrigou o Estado a procurar respostas à demanda insatisfeita e promover a partir dos anos sessenta do século passado e até os anos oitenta, três linhas de ação:

a) importar vivendas pré-fabricadas;

b) promover a chegada de empresas construtoras provenientes de países com tradição em pré-fabricação de concreto armado;

c) promover a importação de máquinas para gerar as condições de implantação de indústrias orientadas à pré-fabricação de vivendas.

As políticas de promoção descritas não produziram os resultados esperados. As casas pré-fabricadas importadas foram de má qualidade, as construtoras transnacionais somente se interessaram em grandes conjuntos habitacionais, (excepcionais no Uruguai) e não foi possível implantar uma indústria da pré- fabricação de concreto armado, capaz de dar uma resposta massiva, concordante com a demanda da população. A pesar do fracasso destes objetivos, a partir da importação de maquinaria, foi possível desenvolver uma indústria de médio porte na produção de peças pré-fabricadas.

Figuras 16 e 17: Painéis pré-fabricados de concreto armado.

Fotos: Manual de montagem de Flasur S.A. – Obras realizadas em Montevidéu, Uruguai

Figuras 18 e 19: Montagem dos painéis pré-fabricados de concreto armado no Uruguai – Flasur SA. Fotos: Manual de montagem de Flasur S.A. – Obras realizadas em Montevidéu, Uruguai

O emprego de painéis pré-fabricados de concreto armado deu origem a alguns conjuntos habitacionais populares e de alta densidade em Montevidéu com resultados distintos.

O Conjunto Habitacional Euakal Erría começou a ser construído em 1982. O sistema construtivo utilizado foi o Utinorm (Concreto armado curado com altas temperaturas), de origem Francês, e constituiu a primeira experiência com esse sistema construtivo no Uruguai.

Figuras 20, 21 e 22: Fachadas do entorno do Conjunto Habitacional Euskal Erría. Fonte: Municipio E

O estado de conservação dos edifícios atualmente não é bom, há notória dificuldade para realizar a gestão nas áreas comuns e os problemas de convivência expressados em atos de violência são frequentemente manchetes nos jornais.

Figura 23: Localização do Conjunto Habitacional CH20 - Rambla e Cuarem. Fonte: Google Earrth

Figura 24: Conjunto Habitacional CH20 - Localização: Rambla e Cuarem, Montevidéu, Uruguai.

Fonte: Inés Guimaraes.

O Conjunto Habitacional CH 20 é da década de 1960 e foi executado com o sistema construtivo de grandes painéis pré-fabricados em piso e parede. No ano 2014, o prédio apresenta a patologias estruturais que são verificáveis através de uma simples inspeção ocular.

Figura 25: Conjunto Habitacional CH20: as patologias são verificadas a simples vista.

Fonte: Inés Guimaraes.

A Agência Nacional de Vivenda (ANV) realizou uma auditoria estrutural para avaliar as condições de uso do prédio e interditá-lo caso não estivessem sendo

cumpridos os padrões de segurança estrutural que são exigidos pelo regulamento de construção da Intendência de Montevidéu. O primeiro laudo técnico aconselhou a demolição do prédio.19

Outros conjuntos habitacionais venceram os desafios do tempo, experimentam uma eficiente manutenção e têm atualmente plena ocupação. É o caso do Conjunto Habitacional Parque Posadas, localizado no Bairro Aires Puros, em Montevidéu e projetado pelo Arquiteto Perez Noble no ano 1969.

Figura 26: Espaço exterior - Conjunto Habitacional Parque Posada. Fonte: Municipio C

Figuras 27 e 28: Conjunto Habitacional Parque Posada – As fotos ilustram a densidade habitacional do conjunto e a baixa densidade do entorno.

Fonte: El pais. Información

19

Uma variação do sistema construtivo de grandes painéis de concreto armado foi a utilização de formas deslizantes evitando os engastes entre peças pré- fabricadas. As utilizações de formas deslizantes para a habitação Popular permitiram dois tipos de soluções: por um lado, o enchimento das paredes com concreto colocado em loco e, por outro, a fabricação de vivendas em forma de monoblocos de concreto celular e transportadas na obra com guindaste.

Não é o objetivo deste trabalho analisar as patologias verificadas no desempenho dos sistemas que aqui descrevemos, portanto consideramos suficiente dizer que as patologias constatadas foram as responsáveis pelo progressivo abandono destes sistemas.

O aparecimento no mercado das formas deslizantes facilitou a construção dos monoblocos de concreto celular em projetos de vivenda popular. Com tecnologia Argentina nos anos 1990, no norte do Uruguai instalou-se uma fábrica de casas pré- fabricadas com concreto celular. A indústria implantou-se no canteiro de obra e as casas eram transportadas a seu lugar de destino e colocadas em seu local definitivo através de guindaste.

Este tipo de fabricação de vivendas enquadra-se no difundido anseio do movimento moderno de fabricar casas como se fabricam carros e cujo fundamento expressa-se na célebre frase imortalizada por Le Corbusier: “Uma casa é uma máquina para viver”.

No fim do século passado, o conceito de “casa transportável” ganhou força e foram várias as empresas construtoras que incursionaram no emprego desta tecnologia para fornecer vivendas populares.

Vale a pena, ainda que sucintamente, descrever algumas características desta tecnologia. O Concreto Celular compõe-se de areia, água, cimento e abundantes bolhas de ar cujos efeitos produzem uma significativa redução do peso próprio do concreto (para monoblocos de vivendas o peso está no entorno de 1200 Kg/m

3 ).

Figura 29: Mostra o tamanho das bolhas que caracterizam o concreto celular. Fonte: Wikipédia

Os sistemas de fabricação mais usados para gerar as bolhas de ar no interior da massa de concreto são dois:

a) mediante a utilização de aditivos químicos. Este procedimento construtivo é usado em grandes plantas de pré-fabricação e consiste em adicionar ao concreto compostos de alumínio. Este reage com o cimento Portland e libera hidrogênio conformando uma massa com alta presença de bolhas de ar. A quantidade de aditivo químico subministrado ao cimento Portland está relacionada com a redução do peso específico da peça de concreto celular. Esta redução do peso é acompanhada por uma sensível redução da resistência do concreto à compressão e é determinante para definir a esbeltes da peça;

b) injeção de ar mediante a incorporação de espumas à massa de concreto. O ar é colocado na massa através de equipamento mecânico propiciando o surgimento das bolhas. Este sistema de fabricação do concreto celular requer de cuidados especiais na hora da secagem da peça já que as bolhas de ar contribuem para retração rápida do concreto e, consequentemente, para o aparecimento de trincas.

Do anteriormente descrito, podemos concluir que a construção de vivendas usando o sistema de painéis de concreto pré-fabricados pode ser de dois tipos:

PESADOS (2000 a 2400 Kg/m3) LEVES (600 a 1500 Kg)

Concreto Armado comum. Concreto Celular

Sistema pré-fabricado de grandes painéis Monoblocos ou peças de concreto celular conformando painéis

Fabricação fora do canteiro de obra Fabricação no próprio canteiro de obra